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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-07-30

TESTAMENTO AC 1973

visor-1> scan segunda-feira, 24 de Junho de 2002

30-7-1973

VISOR - Por: JOSÉ DE MÁTOS-CRUZ - OS GASTOS E OS GESTOS – I (*)

(*) Esta 1ª parte da entrevista dada por Afonso Cautela a José Matos-Cruz, foi publicada no «Diário de Coimbra», em 30/7/1973

Trago-vos, hoje, o vibrante e sempre amigo depoimento de Afonso Cautela - sobre alguns dos pontos básicos de seu propositar, indeclinável e vidente...
Num vértice pontificante de princípios e occídios (em que domésticos horizontalismos se plasmam e amachucam), receber a labareda - ferida e sem balizas - de clamor, apresta e empertiga-nos à mais iniciática (humanizante) celebração de praticar valorativo.
- Náufragos e testemunhos dum caos arrostado e terreal, que se preite e atacar permita um tal empenhamento - respirável, fascinante, unível - de construir (produtiva) opinião...
JOSÉ DE MATOS-CRUZ

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- Afonso, não será a Ecologia uma última desculpa (aparentemente científica) para o idealismo ideológico, para o abstencionismo político, para o niilismo moral?
-Teríamos de saber, primeiramente, o que é idealismo, abstencionismo, niilismo...
Se quiseres dizer com isso que a política a curto prazo só me interessa depois, que as disputas e contendas de blocos, ideologias e ismos me impacientam, é isso mesmo o que sinto e penso. Sem menosprezar a importância que todas essas coisas têm para quem as vive e sofre, permito-me também, numa sociedade de peritos, tão ciosa de especialidades estanques, incomunicáveis, ter a minha.
Julgo que um. certo abstencionismo ao nível imediato não invalida, no entanto, um engagement político muito claro e nítido a mais longo prazo. Penso, com efeito, que todos os políticos de hoje se encontram fundamentalmente absorvidos com suas conquistas, entretidos a digerir suas vitórias ou a encobrir seus fracassos, ocupados portanto com um presente muito próximo, sem se aperceberem das mutações de fundo que num futuro muito próximo (também) irão tornar obsoletas e anacrónicas essas chegadas e imediatas ocupações: as independências recentemente conquistadas, necessariamente eufóricas com a vitória conseguida a partir de zero - (ou menos que zero), estão demasiado eivadas com a própria reconstrução nacional para se ocuparem com o destino do globo nas próximas duas décadas; as revoluções socialistas a caminho da estabilização, demasiado cegas pelo dogmatismo do sistema adoptado e não tendo tempo nem oportunidade para se preocuparem com o que daqui a 10, 20 ou 30 anos nos estará acontecendo a todos; os imperialismo andam, como sempre, demasiado entusiasmados com os seus últimos uísques para saberem sequer que são os últimos e que preço (destruição acelerada dos recursos naturais) custaram; revoluções radicais como a chinesa têm uma tarefa demasiado ingente de sobrevivência imediata e de desenvolvimento, e a sua explosão demográfica é para eles um problema capaz de ofuscar em urgência e importância qualquer previsão de ecocídio; lutas como a que se trava na Indochina têm em si mesmas uma magnitude e arrastam consigo soma tal de destruição e sofrimentos que, ao pé delas, toda e qualquer preocupação a médio prazo parece não só abstracta mas mesmo cínica e até criminosa. Cuba, por exemplo, tendo tão próximo o seu Inimigo, não pode perder tempo nem energias prevendo o futuro ou ocupada. a investigar o que será a totalidade do globo nos próximos 10 erros; enfim, toda a América Latina luta justamente por emergir de um sub-desenvolvimento humilhante e ca-da Continente, cada Bloco, cada País tem as suas razões próprias para estar mergulhado no presente, apenas no presente e considerar o futuro um luxo de ociosos...

Nós próprios, portugueses, diremos (e teremos razão) que a renda da casa: o custo de vida, os impostos, a segurança profissional,- a assistência médica, a educação e a melhoria do nível de vida, a inflação e a migração estão em primeiríssimo lugar na escala de prioridades, sendo um luxo ofensivo debater problemas de contaminação atmosférica, enquanto outros problemas de infraestrutura, de emergência e urgência, de primeira instância e de primeira necessidade, se encontram longe de solução. Ora bem: faço questão de estar tão consciente de toda esta realidade premente (e opressiva) como o que se considera e classifica de realista.
Mas faço questão, também, de não admitir a nenhum desses realistas que considerem quimera, traição, escapismo, idealismo ou abstenção, a noção igualmente realista e igualmente premente e opressiva desses outros factores e factos que são os de uma antropolítica, transpolítica ou política planetária, oomo se queira: os factos e -factores de Contaminação, é destruição dos recursos naturais, e irreversibilidade do processo depredatório, de desgaste; - a aceleração suicida e criminosa imprimida pela industrialização e à Industrialização e da ofensiva, à escala mundial, movida contra o próprio globo que habitamos.
A curto prazo e a médio prazo existem problemas . Mais importantes uns do que os outros? Duvido. Diria antes: tão importantes uns como os outros .... Exigindo, uns e outros, diferentes graus de prioridade, não deixam por isso de ser problemas e graves. Se os políticos do imediato elegeram por definição, os problemas do imediato, de prazo curto, nós outros, políticos do mediato, temos todo o direito de viver os problemas a médio prazo do campo que elegemos, da especialidade que preferimos, que é exactamente e de não ter nenhuma.

-Mas essa preferência não é marca de uma subjectividade?
-Não, antes pelo contrário; esta preferência impõe-se independentemente do capricho de fulano e beltrano, impõe-se pelos próprios factos, impõe-se por uma realidade em processo aviltatório cada vez mais acelerado, premente e gritante...
O que me atira para a Ecologia não é o facto (aliás lícito) de ser um velho descontente desta civilização, seus mitos, erros, vícios, crimes, manias, abusos e absurdos. De facto, o pendor romântico que não oculto (e de que me não envergonho), pouco tem a ver com uma profunda e enérgica consciência ecológica. O amor da Natureza é uma coisa, de que não abdico, aliás, a verificação de que a técnica degradará a Natureza é outra. Por acaso coincidem. Mas apenas por acaso... Mesmo quem não ame a Natureza terá que reconhecer os factos da contaminação, sob pena, então, de escapismo, de traição, de abstencionismo e abstraccionismo, de puro e criminoso idealismo.
O facto desse escapismo se dar em nome da política imediata e entre os do imediato não o torna mais lógico ou mais lícito. O facto de serem realidades prementes a política imediata e os genocídios actuais, não explica nem desculpa a pretensa inconsciência dos problemas que vêm imediatamente e seguir e que são os da Ecologia: os eeocídios já hoje também perpetrados.
Entre nós, portugueses, o pior homicídio é o da Estupidez: que se acoberta numa falsa ciência, numa falsa moral e numa falsa noção de responsabilidades. De facto, o crime mais grave é o que determinado estado de dogmatismo é barbárie perpetra, em nome do progresso e de ideologias progressistas... No fundo, o que tais dogmáticos querem é beber o seu vodka tranquilamente, o seu (último) uísque e o resto que se lixe. Tão cínicos uns como outros...
Quem se preocupe com o destino das gerações futuras, ou com o futuro das gerações presentes, tem fatalmente que juntar, a uma consciência política do imediato, a consciência ecológica que é a política do mediato, do médio prazo, de imediato amanhã. Essa preocupação não é egoísta nem subjectiva. Não é niilista nem abstencionista. Não é idealista nem escapista.
Se lamento, hoje, a contaminação das águas e a rarefacção do ar respiráveis, não é tanto pelo que isso já representa de grave para nós, gerações de hoje aliás, já totalmente estropiadas; é o que representa de catastrófico para a geração seguinte, tão catastrófico como as florestas do Vietname, ontem e hoje arrasadas pelos desfolhantes e tudo o que, nessa terra mártir, representa simultaneamente de genocídio e ecocídio.
Em que é que uma coisa desdiz a outra, eis o que a Estupidez dos dogmáticos ainda não conseguiu explicar...
(CONTINUARÁ)
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(*) Esta 1ª parte da entrevista dada por Afonso Cautela a José Matos-Cruz, foi publicada no «Diário de Coimbra», em 30/7/1973
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CURRICULO AC 1995

1-2 - 95-07-30-ac-ci> ac – ciclo de iniciação - 8.192 bytes cdm-1> = curriculo do monitor

O MONITOR PARA A ÁREA DE RADIESTESIA PRÁTICA

[30-7-1995]

Jornalista na pré-reforma, A C decidiu, aos 65 anos de idade, consagrar-se inteiramente ao trabalho com o pêndulo de radiestesia. Os vários caminhos que percorreu, sempre como autodidacta, se nunca o levaram a uma formação académica relevante e lucrativa, conduziram-no, no entanto, ao mesmo ponto: o estudo das energias, nas suas diversas formas e manifestações.
O interesse pelo estudo das energias e das bionergias, levou A C a contactar algumas disciplinas teóricas e práticas - ecologia humana, termodinâmica, acupunctura, macrobiótica, yoga tibetano, ----- sem se ter fixado, como especialista, em nenhuma delas: em princípio, ele entendia e entende que as energias são um mundo demasiado vasto e hierarquizado para poder constituir matéria de especializações. E ainda hoje encara, com justificada desconfiança, os «especialistas» em ciências sagradas, que se encontram no mercado profissional: astrólogos, acupunctores, cartomantes, curandeiros, magnetizadores, massagistas, ecologistas,
Fazer profissão das energias e, portanto, do sagrado, constitui para ele uma contradição ainda não resolvida. Entende, no entanto, que todos devemos ser professores de nós próprios, primeiro, e depois todos devemos transmitir aos outros o pouco ou muito que (já) sabemos.
Ao descobrir o Pêndulo e o método de Radiestesia que ele intitulou de «método da mão esquerda», A C compreendeu que as Energias não permitem especializações e que, conforme os egípcios da época de ouro as compendiaram, as 12 ciências sagradas, a começar na Alquimia, deverão ser praticadas em simultâneo, por cada pessoa, dentro de um projecto global de desenvolvimento do ser humano, mediador entre céu e terra.
É disso que se trata - desenvolver as potencialidades escondidas de cada um - quando se pega no pêndulo e se inicia o trabalho de radiestesia segundo o método da mão esquerda.
Este método foi para A C o ponto de convergência de todos os caminhos que até então o tinham preocupado: ecologia humana, análise energética, termodinâmica, física quântica, holística, acupunctura, medicina psico-somática, [---]
Com o método da mão esquerda, era possível ter acesso rápido e não manipulatório às démarches e disciplinas que habitualmente hoje ocupam o mercado das energias, nomeadamente as artes ditas adivinhatórias: a interpretação do Tarô e do I Ching, por exemplo, torna-se rotina para o método da mão esquerda. Todas as artes de profecia e previsão se potencializam.
Na palavra «teledetecção» está, para A C , contido tudo o que o pêndulo de radiestesia pode realizar no campo da intercomunicação e da interinformação, desde a diagnóstico médico até à previsão de acontecimentos (premonição) ou à comunicação da informação à distância (telepatia).
Segundo A C , o 6º sentido da radiestesia permite o acesso gradual e por etapas aos outros 6 sentidos que, segundo a sabedoria egípcia, o ser humano pode desenvolver nesta incarnação. É aquilo que a chamada parapsicologia inclui nos «dons naturais» e nas «capacidades de prodígio».
Defendendo um estilo de trabalho imparcial, sem beatismo de ordem religiosa ou filosófica, A C aponta também para essa disciplina-chave que é a Numerologia ou Aritmosofia, bem como para a Ciência dos Símbolos, duas outras ciências sagradas.
Democratizar ou não democratizar o ensino da Radiestesia Holística é ainda hoje a sua grande perplexidade: de facto, por algum motivo as ciências sagradas se chamaram de ciências «ocultas» e «esotéricas». Por algum motivo se teve de ocultar a sabedoria do sagrado. Os 41 mil anos de queda da humanidade explicam, provavelmente, que a maioria ainda hoje procure orientar-se no sentido materialista, ainda que em nome do espírito e dos caminhos do espírito.
Sempre desconfiado das técnicas manipulatórias da Bionergia, com intervenção directa do manipulador sobre o paciente ou «manipulado», sempre distanciado dos processos que implicam o que ele chama a «promiscuidade energética», A C sentiu-se compensado da sua busca e confirmado na sua desconfiança, quando descobriu que a mais poderosa técnica energética - a Teleradiestesia - opera à distância e quanto mais à distância melhor opera.
Estava, finalmente, erradicado do trabalho energético todo o lastro de promiscuidade, vampirismo e parasitagem. Quando A C encontrou o pêndulo de radiestesia holística, foi obrigado a fazer um balanço de todos os anos perdidos na busca de um método que, de facto, nada excluindo da ordem do universo, funcionasse entre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, tal como sempre quiseram os alquimistas e outras correntes da grande tradição.
No percurso curricular de A C , assinala-se, nos anos 70, uma activa participação no movimento ecológico, tendo chegado a ser um dos fundadores, em Fevereiro 1975, da associação «Movimento Ecológico Português», mais tarde «Amigos da Terra».
Em [---], nas eleições autárquicas, participou nas listas de independentes apresentadas pelo PPM, tendo sido eleito para a Assembleia Municipal de Lisboa, lugar que viria a ser desempenhado por Henrique Barrilaro Ruas.
Entre 1974 e 1980, publicou, inteiramente à sua custa, o jornal «Frente Ecológica» (15 números), tendo animado em Paço de Arcos um grupo com o mesmo nome, que editou dezenas de opúsculos com ideias mais ou menos polémicas sobre ecologia humana e bionergia.
Entre 19 [---] e 19[---], frequentou cursos de acupunctura, tendo sido aluno de Araújo Ferreira, Reinaldo Baptista, Comandante Araújo de Brito e Vítor Cunha, no Instituto Médico-Naturista.
Entre 19 e 19 [---], chefiou a redacção da revista «Saúde Actual», da empresa Natiris, tendo colaborado com Maria Lucinda Tavares da Silva, Serge Jurasunas e Carlos Carvalho.
Entre 19 [---] e 19 [---], participou, como presidente, na direcção da Sociedade Portuguesa de Naturologia, onde actualmente dirige o Gabinete de Orientação Alimentar.
Desde 1993, durante 12 anos, manteve uma crónica de temas ecológicos num diário da tarde, onde, quase sempre em discordância com as tendências dominantes, defendeu os princípios polémicos de uma ecologia humana radical.
Durante cinco anos, coordenou, no mesmo jornal, uma secção semanal intitulada «Guia do Consumidor». E entrevistou dezenas de personalidades ligadas ao meio naturopático português.
Em 1994, deixou-se convencer novamente para coordenar o «Guia do Consumidor» na revista consumista de grande expansão «Teleculinária», onde teve que suportar, ainda que à distância, o mau hálito de um tal Mário Frota, subitamente herói da defesa do consumidor em Portugal.
Mas o que verdadeiramente o polarizou, entre Março de 1992 e os dias de hoje, foi o «método da mão esquerda», uma radiestesia como fio de acesso à eternidade e ao infinito.
As dezenas de páginas que escreveu sobre o referido método não lhe conferem, evidentemente, nenhuma «formação académica» especial, mas atestam de que ele fala do que sabe e sabe do que fala.
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LIBERDADE 1983

1-5 - manifesto-2> os dossiês do silêncio – ecorealismo – temas recorrentes

MANIFESTO ALTERNATIVO - O DESENVOLVIMENTO DA LIBERDADE(*)

(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 30/7/1983

30/7/1983 - «Desenvolvimento» e «liberdade» são duas palavras que, em abstracto e de tão repetidas, já pouco ou nada significam. Queimadas pelo uso e abuso, esvaziaram-se como balões nem sequer coloridos.
Ao ligá-las, porém, ambas remoçam e ganham súbita consistência. Se desenvolvimento for o «desenvolvimento da liberdade», têm outra vez conteúdo, sentido claro e concreto.
Se desenvolvimento for o «desenvolvimento das tecnologias que fomentam a liberdade» de indivíduos e grupos, mais força ainda ganham aqueles até agora descoloridos conceitos.
É todo um programa político, ao mesmo tempo simples e revolucionário, de propostas alternativas ao sistema, à engrenagem, à crise, aos becos, impasses e buracos actuais.

T. A.' S: TECNOLOGIAS APROPRIADAS = TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS

Acupunctura é alternativa, não só porque cura pelas causas em vez de abafar a doença pelo sintoma, mas também porque liberta o doente e lhe faculta uma margem de independência relativamente ao monopólio médico em vigor.
Biogás é alternativa, não só porque é uma forma de energia barata, reaproveita desperdícios, porque produz riqueza e energia a partir de resíduos - matéria-prima nacional, não importada - mas também porque contribui para a autosuficiência e autonomia energética das explorações do sector agro-pecuário.
Yoga é alternativa, não só porque reequilibra e melhora, age simultaneamente no psíquico e no somático sem dividir a indivisível realidade do ser humano, mas também porque dá ao seu praticante o autodomínio sobre si próprio e por isso reforça a sua independência, a sua liberdade.
Karate é alternativa, porque põe nas mãos de quem o pratica uma forma própria de autodefesa, que dispensa arma, faca ou canivete.
Bicicleta é alternativa, não só porque é um meio de transporte limpo, leve, ágil, um bom exercício de ginástica, oxigena os pulmões sem poluir o ar, arruma-se com facilidade em pouco espaço, mas também porque reforça a auto-suficiência e o auto-controlo do seu utilizador.
Cooperativismo é alternativa, não só porque defende os interesses económicos do cooperante - produtor ou consumidor - vincula o trabalhador ao que produz, mas também porque liberta (contribui para libertar) o cooperativista de um sistema de mercado e de economia que o escraviza e porque, nesse aspecto, contribui para a auto-suficiência, a autonomia e a independência.
Casa ecológica (solar) é alternativa, não só porque utiliza energia limpa, recicla materiais em circuito fechado, integra formas diversas e complementares de energia localmente produzida, é económica, útil e bela, mas também porque reforça a liberdade, a independência, a autarcia da vida doméstica, contribuindo para a libertar das servidões e escravidões que o sistema energético ou o mercado de habitação impõe.

Colector solar é alternativa, não só porque aquece a água doméstica do banho com energia não poluente, significa um investimento amortizado pelo uso e acabando este por ficar pago, descentraliza e personaliza o consumo, aproveita uma fonte nacional e gratuita, mas também porque emancipa o consumidor do sistema energético central, garantindo-lhe uma margem de independência e autarcia quando o sistema central falha ou aumenta preços.
Enfim, o colector solar é tecnologia alternativa para o desenvolvimento, porque desenvolve liberdade.
Mas o que se diz para a energia solar aplica-se com igual propriedade às outras energias limpas, gratuitas e infinitas, além de nacionais: vento, ondas, biomassa, resíduos/desperdícios, etc.
Métodos biológicos em agricultura são alternativa, não só porque respeitam a natureza e não poluem o ambiente, defendem, conservando, a saúde do consumidor, garantem a qualidade e riqueza nutritiva dos alimentos, mas também porque dispensando a dependência do sistema agro-químico - adubos químicos e pesticidas - reforçam a autonomia do agricultor.
Enfim, porque desenvolvem liberdade.
A pequena horta familiar é alternativa, porque, com os alimentos que produz, ajuda a dispensar o intermediário, dando ao consumidor alimentos de auto-subsistência mais baratos e mais frescos. Neste último caso, ajuda-o a dispensar os sistemas de conservação e refrigeração prolongada. Enfim, a pequena horta familiar ajuda ao desenvolvimento porque desenvolve liberdade.
Artesanato do linho é alternativa, não só porque aproveita um recurso natural nacional, produz tecidos saudáveis e de valor estético, mas também porque ajuda o produtor-trabalhador e o consumidor a resistir ao monopólio dos têxteis artificiais e plásticos.
Enfim, na perspectiva do produtor-trabalhador e do consumidor, o artesanato em geral é alternativa porque desenvolve liberdade.
Reciclagem de resíduos em geral, ou o biogás em particular, é alternativa, não só porque reaproveita o desperdício, limpa o ambiente, imita a natureza e garante os equilíbrios naturais, mas também porque significa auto-abastecimento, incentivo das micro-economias locais e regionais.
Enfim, a reciclagem em geral e o biogás em particular é alternativa porque desenvolve liberdade.
Regionalização é alternativa, não só porque respeita a identidade humana e geográfica das regiões, protagoniza o papel das populações, mas também porque, tendendo ao autocontrolo e à autogestão, quebra o monopólio dos serviços centrais e de Estado, desenvolvendo o desenvolvimento, desenvolvendo liberdade.
Alguns exemplos mais se podiam dar de Tecnologias Apropriadas que são, por isso mesmo, alternativas ecológicas e, por isso mesmo também, tecnologias libertadoras, criadoras de auto-suficiência e de maior independência para pessoas e grupos.
Para que tenha algum sentido, desenvolver só poderá significar desenvolver as tecnologias apropriadas, alternativas ou libertadoras, e por isso desenvolver a autonomia, a independência, a liberdade.
António Sérgio dizia o mesmo da Educação: educar, para ele, era educar para a liberdade. Quem sabe se não estará neste seu conceito-chave, um dos motivos que explicam a actualidade, o sortilégio e a premência do seu pensamento?
Com ele continuaremos a dizer que desenvolvimento é o desenvolvimento do «self-government», das iniciativas de base, do sector cooperativo, dos movimentos sociais independentes, da ética e da responsabilidade, da imaginação criadora e do espírito crítico.

O DESENVOLVIMENTO DO SUBDESENVOLVIMENTO

Os indefectíveis defensores do «desenvolvimento como religião» de ateus, à esquerda, à direita e ao centro, discursando em função de mitos e não de ideias, de fantasmas e não de factos, mostram-se de facto pouco rigorosos e nada científicos.
Não se esquecendo de vituperar os que, em nome da Ecologia, desejam as cavernas e querem deixar intocáveis os recursos naturais, forjando dos ecologistas uma caricatura que só afinal os caricatura a eles, pretendem afirmar-se, perante as «massas», defensores do desenvolvimento que as «massas» querem.
É que o desenvolvimento, tal como todos eles, à esquerda e à direita o advogam e praticam, é apenas o desenvolvimento da destruição, da poluição, do cancro, da doença, da morte, do biocídio, enfim, é antes um contradesenvolvimento como a prática comprova, as estatísticas confirmam e uma simples análise energética demonstra.
Que faltará ainda para pôr à mostra a irracionalidade do sistema?
Não há um só caso em que o famigerado desenvolvimento não criasse, logo ao lado, ou não aumentasse, a destruição, o desemprego, a desabitação, o caos urbanístico, a poluição, a carência de água potável, o bairro da lata, a incomodidade, a desqualidade de vida.
Desenvolvimento tem sido sinónimo de antiqualidade de vida.
Por ter sido de inspiração capitalista – dirá o convicto marxista. Mas quando as nacionalizações socializaram as principais indústrias poluidoras do «desenvolvimento» português - quem engoliu os fumos das fábricas e bebeu os esgotos?
Ou desapareceram por milagre da Nossa Senhora?
O que os adeptos dos famosos «indicadores» económicos até hoje nunca explicaram é porque o chamado «desenvolvimento», injectado em tão grandes doses em áreas extensas do nosso território, em nada contribuiu para melhorar a nossa vida, o nosso nível de vida, a nossa qualidade de vida.
Porque raio os 40 mil hectares da área de Sines, por exemplo, não se traduziram, «ipsis verbis», em progresso, bem-estar, alegria, prosperidade, poder de compra, etc para o povo português?
Porque é que apesar de tantas cimenteiras, celuloses, petroquímicas, siderurgias, planos de desenvolvimento, apesar de tanta poluição (sinal de «prosperidade»), de tanta destruição dos ecossistemas, de tanto biocídio e ecocídio, estamos em 1983, à beira da catástrofe, segundo dizem os adeptos dos famosos indicadores que servem para classificar os povos em desenvolvidos, subdesenvolvidos, meio desenvolvidos e etc
Desde os exemplos locais de economia regional até aos chamados grandes empreendimentos, é interminável a lista de casos comprovativos desta lei que até agora tem regulado o sistema: desenvolvimento tem significado empobrecimento, progresso tem significado retrocesso.
Espantoso, portanto, é que o tecnocrata, ajudado pelos ambientocratas da nova classe empresarial, finja não ver ou suponha que somos todos cegos.
A região de Setúbal, normalmente apontada como o pólo de desenvolvimento industrial mais importante depois de Lisboa, deu em resultado final e como qualidade de vida uma serra da Arrábida roída pela exploração de cimentos, o estuário sem peixe nem ostras, as praias contaminadas, o ar pestífero, o caos urbano, a construção clandestina e selvagem, a falta de água. As ostras que desapareceram das praias do Sado, onde havia outrora prósperos viveiros, acentuam a decadência da prosperidade, o empobrecimento do desenvolvimento.

SEGREDOS DE POLICHINELO – A DIFICULDADE DE FAZER SIMPLES

Enquanto os governos não puserem em prática certas acções que são verdadeiros segredos de Polichinelo, tanto mais eficazes quanto mais simples, e tanto mais óbvias quanto mais revolucionárias, é caso para desconfiar: no fundo, até parece que eles querem a crise, que a crise dá dividendos, que sem a crise ficariam sem assunto e sem pretexto para nos continuar governando.
Entre essas soluções ou segredos de Polichinelo, a redução geral do horário de trabalho é apontada, há muito, em toda a Europa, por sindicatos e ecologistas numa frente reivindicativa comum.
Se a não puserem em prática e enquanto a não puserem em prática, urbi et orbi, é pura e simples demagogia, balofa retórica, toda a choradeira que a nível do poder ou mesmo das bases manipuladas, se disser do desemprego, esse flagelo, etc., etc.
Se a não puserem em prática, dão razão aos que consideram o «desemprego» uma arma nas mãos dos governos, inerente ao sistema totalitário da macroeconomia, arma política que impede as pessoas de se libertar, ganhar tempo e disponibilidade, fugir ao stress e pensar dois minutos sobre o que as escraviza.
É com o desemprego, com o espantalho do desemprego sempre agitado no horizonte que, dentro das empresas, se pode institucionalizar a violência quotidiana até extremos tão semelhantes à negregada escravatura de outrora. Quem trabalha, temerá o desemprego como uma lepra, ou uma nova s. i. d. a.
Diminuir as horas de trabalho mantendo os salários era a «revolução» mais profunda e sem sangue que se podia fazer na sociedade industrial. E o melhor argumento contra as tentações estatais, colectivistas, que resolveram o problema do desemprego fazendo do trabalhador um funcionário do Estado as 24 horas do dia.
É inegável um certo odor a utopia que estas propostas alternativas podem ter, ainda que inspiradas pelo mais rigoroso realismo. Mas não será que elas soam a «utópicas» exactamente porque se quer dar como realista e sensata a utopia tecnocrática que nos autodevora?
Mas a «redução dos horários de trabalho mantendo o salário» é apenas uma reivindicação entre outras que sindicatos e ecologistas fazem.
Com tais consequências e repercussões, porém, de tal modo alterando de «fond en comble» esquemas e mentiras em vigor, que cinco só dessas reivindicações de fundo mudariam o mundo no próprio momento em que fossem tomadas.
É isso: libertem-se da engrenagem os cidadãos para que se auto-organizem e autogovernem, e todos os problemas do macrosistema (podre) desaparecem com ele.
Solucionar a famigerada crise é libertar - um milímetro que seja - dessa crise o cidadão. O que esquerda e direita, sindicatos e patrões, continuam fazendo, no entanto, é remeter e devolver de novo os cidadãos pare a violência, o redemoinho, a voragem e a podridão da engrenagem.
É que todos eles vivem de nos irem matando, chamando a isso crise. Mas outros preferem a designação mais correcta de canibalismo, a que se entregam estes antropófagos do século XX.

ENREDADOS NA ENGRENAGEM

A falência das soluções económicas postas hoje em prática, só virá a comprovar-se quando todo o edifício tiver ruído e nos tiver soterrado a todos. Enfim, quando as alternativas se tornarem de todo impossíveis e, então, sim, utópicas, pela razão simples de que estaremos a fazer tijolo debaixo dos escombros de uma guerra nuclear ou equivalente.
Este o drama e o verdadeiro alcance de uma «insensibilidade» ecológica nas medidas de ordem económica que os governos entendem continuar tomando para «combater a crise».
É que não há terapêuticas (políticas) certas com base em diagnósticos errados ou, pelo menos, insuficientes. E o diagnóstico da crise, feita por economistas «ortodoxos», é no mínimo insuficiente, erra por defeito: não foi tão longe quanto deveria ter ido. A análise económica sem análise energética limita-se a parâmetros tradicionais e ultrapassados, ainda que se jacte de grande progressismo.
Só a análise energética (a que outros preferem o sinónimo de análise ecológica) pode completar a análise económica e, portanto, um diagnóstico minimamente correcto.
De contrário, continuam os governos a marrar no vazio, a prometer a solução da crise que apenas se agrava cada vez mais e sem retorno.
O projecto ecológico preconiza uma solução simples, mas, ao mesmo tempo, difícil. (E daí que se fale, a propósito, de utopia).
Ele não impede que a macroeconomia proceda, maciçamente, à autoliquidação das sociedades, dos ecossistemas e do planeta.
Mas, enquanto isso - o holocausto - decorre, preconiza está coisa difícil, embora simples que, ao lado, à margem, talvez paralelamente ao macrossistema da economia vigente, se alargue - com a velocidade que a sobrevivência impõe - o sector alternativo da economia (ex: o cooperativismo) e a margem de segurança dos cidadãos.
Quer dizer: tudo o que restrinja a capacidade de autonomia e auto-organização dos cidadãos é não só antidemocrático, por definição, mas anti-económico e acelera a catástrofe.
Tudo o que provoca o desenvolvimento da autonomia, adia a catástrofe, possibilita o milagre, a utopia de uma saída para o beco actual.
Enleados na luta salarial, como fazem os sindicatos, é cada vez mais óbvio que os cinco tostões do aumento de ordenado conseguido hoje são comidos amanhã pelos dez tostões de aumento dos tomates.
Enredados neste ciclo infernal, com os sindicatos a dizerem que lutam pelos direitos dos trabalhadores, iremos tão longe – quer dizer, até ao fundo do abismo – quanto os patrões querem.
Com imediatismos dizem salvar-nos, com imediatismos nos matam.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 30/7/1983
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