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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-07-26

P. LAFARGUE 1992

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ELOGIO DO TRABALHO E A REVOLUÇÃO TRANQUILA

26/7/1992 - Primeira prioridade de um realismo político radical que se não deixou levar nas ondas retóricas da antipoluição, o tema do trabalho é (re)colocado nos seus termos exactos pelo filósofo francês Paul Lafargue, recentemente reeditado em português, pela Teorema, com a sua obra mais célebre, «O Direito à Preguiça». Esta obra, de facto, veio na hora certa, ontem e hoje na hora certa. Leva a sério o que deve ser levado a sério -- a energia criadora do homem -- e goza o que deve ser gozado, a conjuntura capitalista, que há-de passar como também a lepra tem passado e é quase uma doença em vias de extinção.
Principalmente, Paul Lafargue goza a pretensão que o establishment económico continua a ter de relacionar produção e «prosperidade» económica com trabalho obrigatório, com horários longos, férias escassas, stress e opressão. Lafargue teve a intuição do que viria a ser demonstrado cientificamente anos mais tarde: não é por muito trabalhar que se amanhece mais cedo. E não é porque se tem mais horas de trabalho que uma economia produz mais.
Esta, que é uma verdade perene do evangelho libertador, e do mais elementar mas não primário anti-capitalismo que se quiser, um dogma da verdade que o sistema tem todo o cuidado em tapar das vistas profanas - para que o trabalhador nunca saiba e verdade do que o explora e oprime - já era tabu no tempo de Lafargue e tabu continua a ser, mais de cem anos depois deste manifesto da «revolução tranquila» ter sido publicado(1883). Afinal, temos a opressão que merecemos, enquanto tivermos os doutrinadores, os economistas, os políticos e os retóricos mentirosos que merecemos.
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NIILISMO 1973

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ECOLOGIA É QUESTÃO DE SENSIBILIDADE:OS NIILISTAS POR COMODISMO(*)

26-Julho-1973 - Creio que foram os dadaístas primeiro e certo tipo de surrealistas depois que puseram de moda, nos meios intelectuais e boémios, um novo pirronismo ou niilismo, que na esfera moral se traduziria por uma cínica indiferença - quiçá desespero - em relação à vida e à existência, aos valores da vida e da existência, quase sempre confundidos esses valores com "moral burguesa" (sic, hélas!).
Atitude mais snob do que verdadeiramente sentida, este cinismo nunca foi na prática o que se proclamou, mesmo quando alguns suicidas em gestos de humor negro colocavam dísticos humorísticos no seu próprio cadáver... No fundo, os super-homens que se diziam acima das tristezas, misérias e vanglórias humanas, estavam tão dependentes delas como os outros e temiam tanto como os vulgares mortais a doença, a morte, a dor.
O cinismo é sempre mais uma atitude intelectual do que um comportamento, uma prática.
Há também os desinteressados por angústia, mas esses diferem bastante do "niilista" profissional. "Não bato por maldade, bato por desespero" - dizia um personagem de Máximo Gorki.
Hoje, face à Ecologia e à moral exigentíssima que dela se deduz, surge inopinadamente uma nova onda de pretensos niilistas... por comodismo. E por ignorância, às vezes mesmo camelice pura.
Primeiro, confundem os objectivos últimos de uma ética ecológica com as vulgares medidas de prudência, prevenção ou profilaxia pessoal, com segurança egoísta ganha à custa da insegurança alheia; depois, vangloriam-se do que de facto não sentem: o desprezo que dizem ter pela morte, pela doença, pelo sofrimento, é apenas a mentira com que pretendem abafar a impotência perante um sistema homicida ao qual não vêm saída nem solução, e os hábitos mentais ou físicos que talvez saibam ruinosos mas dos quais, ainda por óbvio comodismo, não querem abdicar nem que os matem.

"Quero lá saber se o tabaco provoca o cancro. Hei-de fumar o que me apetecer e ninguém tem nada com isso. Que não me venham com sermões... ecológicos”.

1º - É ridículo confundir naturista com ecologista. O naturista foi talvez um precursor mas encara os factos com um certo romantismo e fala de Natureza onde tem que se falar de Biosfera;
2º - A Ecologia não predica nada e muito menos dá conselhos anti-tabágicos. Num contexto inteligente, aliás, o tabaco desempenha um papel de parcela a somar a muitas outras e no que respeita aos seus "perigos" nem são tantos como a propaganda insinua; há pelo menos centenas de outros poluentes tão criminosos e perigosos como esse mas de que raramente se fala;
3º - Se é verdade que a Ecologia parte de um respeito básico pela vida e por todas as formas e espécies vivas, não o faz por humanitarismo caritativo, mas por sensibilidade estética, por prazer cientifico, por amor à imaginação e aos valores que efectivamente se opõem à podridão dos consumos & companhia.
Ecologia é sempre mera questão de sensibilidade. O ódio ao ruído é apenas ódio à fealdade, à porcaria, a tudo o que é inestético, grosseiro, violento, estúpido. Não se preconiza a saúde das populações por amor cristão (sic) às populações, mas porque a doença é feia, grosseira, estúpida, violenta e inestética; e também por ódio ao homicídio sistemático que a Industriocracia exerce sobre as populações. É a sua ignorância, a sua alienação, a sua cumplicidade na porcaria que faz correr o ecomaníaco e o revolta. Ainda e sempre, por uma razão meramente estética.
Possivelmente ele acredita tanto nos homens como nos cães, mas é mais normal e menos aberrante gostar pessoas do que de cães...
4º - É contraditório atribuir-se ao ecologista a mania da predicação, quando o político, o economista, o moralista, o educador, o pai de família é que, normalmente, leva a vida a predicar; pois não se preocupam todos muito com o futuro dos filhos e com o futuro da Nação?
O tal cínico que diz não compartilhar os anelos humanistas da Ecologia - e que fumará até morrer, só por birra, mesmo que o tabaco provoque o cancro... - de certeza que faz projectos para si e para os seus rebentos, de certeza que lê o Expresso (Bolsa, Economia, Desporto, culinária), de certeza que acredita num mundo estável onde há-de comprar um terreno e uma casa (de campo, de praia), de certeza que aderiu a um partido político, de certeza que já se informou sobre o próximo plano quinquenal, de certeza que leva muito a sério o desenvolvimento económico, etc , etc.
No fundo, burguês e conformista, eis o cínico que diz estar-se nas tintas para o apocalipse ecológico.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, a que não retiro hoje uma vírgula, foi publicado no livro edição do autor, «Contributo à Revolução Ecológica», Paço de Arcos, 1976
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CONSUMIDOR 1994

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Lisboa, 26/Julho/1994 



O que unica e verdadeiramente me interessa escrever e produzir, neste momento, é uma revista (Almanaque, Anuário ou Agenda) para o ano 2000, chamada «Terceiro Milénio», aproveitando (e pondo a render) o «know how» milenarista que fui adquirindo ao longo de 61 anos de existência e 50 de resistência a todas as destruições, incluindo as da sociedade de consumo. Sei o que é preciso escrever (dizer, fazer, publicar) para ajudar as pessoas a ajudarem-se a passar esta terrível e difícil ponte para a Nova Idade de Ouro. Tenho 61 anos e acho que levei a minha vida toda a estudar como se passa para o outro lado, de pé e sem pagar portagem.


Estamos a um passo do Paraíso e da Nova Idade de Ouro mas não queremos dar esse passo. Que pena.

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MEP 1997

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ALGUNS AFLUENTES (INCLUINDO IDEOLÓGICOS)DO MOVIMENTO ECOLÓGICO EM PORTUGAL

É evidente que todos tinham razão, menos a «Frente Ecológica». Em democracia, a maioria tem sempre razão...

Lisboa, 26/Julho/1997 - Se o chamado «óbvio ululante», na feliz expressão de um brasileiro, constitui a matéria do ecologismo e das ecologias, não há dúvida que o Movimento Ecológico Português, quando nasceu, em Maio de 1974 e se legalizou em Fevereiro de 1975, vinha antecedido de algumas ideias óbvias e movimentos sociais que deram bastante brado.
Ser vivo e Ambiente constituem uma unidade indissociável: eis a mais óbvia de todas as coisas óbvias. Ninguém, por exemplo, pode viver sem respirar. Mas foi preciso chegar ao século XX para a nossa «civilização» ter pensado nisso.
O facto de a cultura ocidental nunca ter assumido nem compreendido este tipo de evidências básicas, terá levado, em boa parte, à catastrófica e em certos aspectos patética, crise ecológica actual. Crise que, antes do 25 de Abril, era apenas óbvia para alguns mas que hoje, sem ter decrescido um milímetro, ainda continua a não ser sentida por muito boa gente.

- O congestionamento das cidades modernas, ligado à macrocefalia urbana que atrofia e desertifica os campos, eis outra óbvia realidade que estando na base de muitos problemas modernos, conduziria a uma consciência que, por sua vez, o movimento ecológico procuraria traduzir, através dos múltiplos textos editados.

- A sintomatologia na Medicina, na Sociologia e na Política (as chamadas «sopas depois de almoço» ou aposteriorismo das soluções), provocaria necessariamente uma reacção adversa naqueles que, cultivando uma mentalidade simplista de ligação causa-efeito (outro óbvio ululante), perceberam sempre que as doenças, quer sociais quer individuais, não caem do céu e que a melhor forma de não as ter é prevenir, fazer profilaxia das ditas doenças.
Todas as doenças - sociais e individuais - estão no ambiente físico - ar, água, solos -, mas também sócio-mitológico - todo o sistema de manipulação do homem pelo homem que, desde a publicidade comercial à propaganda político-partidária, condiciona de raiz os comportamentos, conforma e deforma o cérebro humano.
Neste sentido, a poluição - a famosa e famigerada poluição - é atmosférica, é agrícola, é hídrica mas é também, como alguns perceberam, psíquica e moral.
Ou seja: não se trata de corrigir pontualmente o sistema mas trata-se de «mudar de sistema».
Este radicalismo, a que mais tarde se chamaria fundamentalismo, foi sempre muito mal visto por todos os quadrantes ideológicos, incluindo os próprios que se diziam ecologistas e ambientalistas.
Radicalizar posições era um propósito do movimento ecológico mas que nunca teve expressão real e só se manifestou nos múltiplos textos publicados pelas edições «Frente Ecológica».
Os excessos de linguagem, note-se, foram sempre e aliás, para certas boas almas, mais intoleráveis do que as mais abomináveis agressões ambientais.
A expressão «crime ecológico» e o neologismo «biocídio» foram utilizados, pela primeira e última vez, nas edições «Frente Ecológica».

- A dominante «catastrofista» da sociedade industrial foi outra realidade, bastante óbvia, que levaria necessariamente à ideia e à constelação ecologista radical.
Alguns dos que fizeram o M.E.P. nunca chegariam a reconciliar-se com a síndrome de catástrofe intrínseca à sociedade industrial. Ficariam sempre os eternos «inimigos da civilização», como premonitoriamente lhes chamou Freud.
O que não deixou de provocar uma patética acusação dos estalinistas que tinham como insulto predilecto contra os ecologistas, chamarem-lhes catastrofistas. Isto, até que eles próprios, com o Partido dos Verdes, se fizeram também «catastrofistas».

- Ao cerco sem saída da crise ambiental constatado pelo norte-americano Barry Commoner - os retrocessos do progresso, como se dizia na «Frente Ecológica» - chamou Herbert Marcuse «homem unidimensional». Foram marcusianos os estudantes de Maio 68 e marcusianos foram os que dotaram o M.E.P dos seus fundamentos ideológicos.
A «ideologia ecológica», porém, nunca teve qualquer expressão além dos textos, normalmente muito críticos e polémicos, da «Frente Ecológica».
Nesse sentido, o ecologismo português foi totalmente desmiolado. Embora Antero de Quental perguntasse, atónito: «Mas, meus senhores, será possível viver sem ideias?», Portugal dos últimos 500 anos prova que sim: que é possível viver sem ideias, ou seja, sobreviver. O que já não é nada mau, em tempo de sobrevivência planetária.
Termo-nos habituado a sobreviver em vez de aprender a viver, poderá ser outra subtil nuance que fundamenta a revolta de alguns ecologistas «avant la lettre». Ou seja, antes do 25 de Abril de 1974.

- Se é o sistema cultural que leva à crise ecológica, é óbvio (ululante) que a crise só pode ter solução mudando de sistema - o que leva ao chamado «fundamentalismo» ecologista e que, depois do 25 de Abril, na «Frente Ecológica», se chamou «realismo ecologista» ou «eco-realismo», para o distinguir das derivantes reformistas e utopistas.
Entre a Utopia e a Reforma, o ecorealismo das edições «Frente Ecológica» marcou uma posição solitária, sem companhias nem aderentes, tentando reafirmar, em vão, o primado do real, do quotidiano, face a todas as mitologias modernas, nomeadamente as do hedonismo consumista.
Em vão também, porque a lógica consumista e a economia de marketing, sendo intrínsecas à lógica do macrosistema são também intrínsecas à devastadora crise ecológica.
O caso do sistema médico rentabilizando a doença em vez de conservar a saúde (higiene holística), mostra a perversidade estrutural intrínseca do hedonismo consumista.
Se a doença dá dinheiro e lucros a tanta gente, a tantos profissionais que da doença vivem, a tanta empresa, é evidente que tudo será feito para que a doença progrida e nada para que a saúde se conserve.

- «Congestionamento» é uma das palavras-chave nos antecedentes mais antigos do movimento ecológico.
Congestionamento físico - nas cidades e nas sociedades - mas principalmente congestionamento de dados, de informação. E ainda não fora inventado o chafurdo da Internet.
A sensibilidade ao congestionamento de dados constituiu uma componente de um mal-estar que necessitaria uma atitude chamada movimento ecologista.

- A industrialização em geral e a industrialização da agricultura em particular (com adubos químicos, pesticidas e monoculturas gigantescas) dadas como tabu intocável por todas as ideologias no terreno - capitalistas e socialistas - foram as componentes que atrasaram, por medo às aparências, a eclosão das manifestações ecologistas e, portanto, do movimento.
Também a indústria nuclear, dita pacífica para a demarcar do átomo militar, sacralizada por todas as ideologias, blocos e superpotências mundiais, seria um terreno onde dificilmente surgiria qualquer contestação.
Neste sentido, o movimento ecologista era mesmo um movimento de alto risco para quem o proclamasse e assumisse.
Foi, portanto, necessário atingir o limiar do insuportável - onde aliás ainda estamos e continuaremos - para que alguns, muito poucos, se atrevessem a fazer as primeiras críticas:
a) Ao nuclear (dito) pacífico
b) À industrialização em geral e à agricultura química em particular
c) A ciência e à tecnologia
Os tabus mantidos por todas as ideologias em confronto, mostram duas coisas:
a) Embora aparentemente se digladiem em aspectos pontuais (guerras em que se disputa o mesmo bolo), no fundamental as ideologias e os blocos têm alguns mitos que se tornam seus alicerces de suporte, permanência e eterna auto-reprodução.
b) Como o ecologismo tem de começar por denunciar esses tabus ideológicos, ele próprio, enquanto movimento, se tornará também tabu, passando automaticamente à clandestinidade.

- Significativo, no aspecto da industrialização, é o título da colecção «Zero», da editora Arcádia, «A Indústria do Ruído».
Para o director da colecção e autor do prefácio do livro, o Ruído era uma das muitas manifestações que, pelas repercussões na saúde pública, tinha sido e continua a ser rentabilizada.
Se o Ruído é «fábrica de doenças», como nesse livro se procura mostrar, certamente que o Ruído não será eliminado e, se for preciso, irá ser fomentado. É o que tem acontecido até hoje, 26 de Julho de 1997.
Este «cinismo» eco-realista chocou muito algumas boas almas que se queriam e diziam ecologistas, amigas do ambiente como o Persil e sempre dispostas a perdoar ao chamado Progresso os crimes e artimanhas do Progresso.

- Ecologia da doença, Ecologia do Trabalho (Doenças do Trabalho), Ecologia Alimentar ( Doenças do ambiente alimentar) aparecem bastante cedo nos textos de pessoas que, mais tarde, pós 25 de Abril, integrariam o M.E.P, a «Frente Ecológica» , a «Esquerda Ecológica», a «Ecologia em Diálogo» e outros títulos que agitaram as águas no pós 25 de Abril.

- Mas o atrevimento eco-realista do chamado «grupo coordenador» (Paço de Arcos) do M.E.P, da «F.E.» e de outras «frentes», ia até ao ponto de contestar as apregoadas virtudes e a própria legitimidade da ciência ordinária, essa «vaca sagrada» das modernas sociedades tecnológicas, que não dão um peido sem primeiro ir perguntar à ilustre classe universitária se é científico.
A crítica à Tecnologia era, de facto, algo impensável.
E muito em especial se essa tecnologia implicava mortes maciças da população.
O caso do que, em Paço de Arcos, se chamou «sindroma sísmico-nuclear» - 30 anos de sismos provocados por rebentamentos subterrâneos de bombas termonucleares - é exemplar como fenómeno de dimensão planetária e como silenciamento total e totalitário sobre o maior crime de genocídio contra a Humanidade, ocultado em nome da ciência, do progresso tecnológico-militar e das conveniências da coexistência pacífica, tão em voga nos anos que precederam o 25 de Abril.
Foi talvez este «dossier maldito» - sismos provocados por bombas - o que mais cedo suscitou a revolta no espírito daquele(s) que, pós-25 de Abril, decidiram a reunião do 14 de Maio de 1974 para o lançamento do M.E.P.
O que não impede de ter ficado o mais maldito dos dossiês malditos, através de todos estes anos e até hoje, em que a frequência sísmica tem decrescido em resultado do decréscimo do número de bombas rebentadas nos poços de Semipalantinsk, Nevada e Muroroa.

- Pela positiva, o dossiê mais maldito é certamente o das eco-alternativas energéticas: Solar, Eólica, Maremotriz e Biogás.
Classificado como escândalo público o abandono a que todos - incluindo grupos ditos ecologistas - votaram a luta pelas alternativas energéticas, que é a luta pela sociedade paralela, única saída para a catástrofe, este dossiê das eco-energias é o barómetro que, só por si, dá bem o estado a que tudo isto - ecologistas e movimento ecológico incluídos - chegou.
O total silêncio e silenciamento sobre o crime nacional de Alqueva - só porque todos os partidos estão de acordo no crime - é outro dossier significativo do apodrecimento a que tudo isto - País, políticos, economistas, partidos e tutti quanti - chegou.
Não há fundamentalismo que nos livre desta neurose suprema.

- Sendo o diagnóstico da neurose totalitária um dos que induziram alguns carolas a sonhar, pós 25 de Abril, um 25 de Abril ecológico, esse facto diz bem e bastante da realidade que efectivamente se verificou: a clandestinidade do movimento e dos que nele podiam ter militado.

- Em autores de grande síntese - como Teilhard de Chardin, Arnold Toynbee ou Bertrand Russell - que podiam ter aberto a civilização ocidental a uma autocrítica e, portanto, a uma consciência ecológica profunda, foram assinaladas, no entanto, limitações estruturais por alguns precursores do movimento ecologista.
Relativamente às teses de Ivan Illich, adoptado pelo M.E.P. como seu farol e timoneiro, eram aqueles autores considerados reformistas dentro do sistema que vive de ir matando os ecossistemas.

- Os antecessores do M.E.P. foram buscar a um filósofo do materialismo dialéctico, Henri Lefèbvre, 2 noções-chave do movimento: o diferencialismo (o chamado «respeito à diferença» muito explorado pelos «hippies») e a «crítica da vida quotidiana», título de um livro de Henri Lefèbvre.
Uma «política do quotidiano» foi preconizada, pela 1ª vez, em textos da «Frente Ecológica». Pela 1ª e última vez, diga-se de passagem, sendo matéria de mais um dossier que ficou e continua maldito.

- A voga das «transplantações cirúrgicas» e o «boom» do cirurgião Barnard motivaram em alguns descontentes do Progresso um tremendo mal-estar.
Era o típico exemplo do progresso que não podia ser criticado, porque «salvava» vidas.
A demagogia do discurso científico e cientifista foi, com certeza, dos obstáculos a que o movimento ecologista nascente nunca saberia (nem poderia) dar resposta adequada.
Essa mesma demagogia verificar-se-ia, também, com o discurso dos sindicatos relativamente às indústrias mais devastadoras do meio ambiente ou aos empreendimentos mais calamitosos.
Tudo o que gera emprego (e todas as indústrias geram um emprego acrescentado - o de coveiro) é automaticamente bom e intocável.
Fosse a eucaliptação maciça do País (com os inerentes fogos de Verão), fosse a barragem de Alqueva (projecto salazarista, não o esqueçamos), fosse o encerramento de centrais nucleares, o alibi era e é sempre a criação de novos postos de trabalho.
Nunca o movimento ecologista poderia dar a volta a isto. O que significa, portanto, que a crise ecológica é irreversível e conduzirá inevitavelmente à catástrofe. Com todos a gritar «Vivó Progresso».
Catástrofe que evidentemente criará milhares de postos de trabalho - o de Coveiro.
A medicina das transplantações a salvar vidas e o industrialismo em geral, mesmo o mais catastrófico e mortífero, a criar postos de trabalho e a agricultura química a matar a fome mundial enquanto faz subir em flecha a incidência de cancros, são os dogmas da demagogia moderna, a Leste e a Oeste, à esquerda e à direita, a Norte e a Sul, que, à partida, o ecologismo teria de enfrentar. Claro que saiu literalmente derrotado.

- A rentabilização da doença, já citada, era apenas, bem vistas as coisas, um aspecto particular daquilo que, nos manuscritos de juventude, Karl Marx designou de alienação e que filósofos marxistas designaram de Reificação.
Uma página inédita de um diário, de 26/3/1971, assinala, em termos mais prosaicos e menos filosóficos, essa realidade de fundo que justificaria, mais do que nenhuma, o advento de uma «democracia ecológica», expressão que viria a aparecer, mais tarde, em escritos da «Frente Ecológica».
A alienação ou reificação marxista, alguém, em 1971, lhe chamava «patalogia administrativa», acrescentando: « Tudo se administra: o sexo, a educação, os tempos livres, a liberdade. Tudo se consome e se vende. Tudo se compra.»

- A crítica da agricultura química não se desligava do contexto mundial da Fome.
Ao contrário do que os agrónomos da F.A.O. e seus sequazes largamente defendiam, nos termos demagógicos que se conhecem, a agricultura química provoca mais fome em vez de a combater.
Mas esta afirmação precisava de uma demonstração autorizada que procedesse à desmontagem de 2 sofismas habilmente instilados na opinião pública:
1º sofisma - A fome decorre do excesso de população (teoria neomaltusiana a que, aliás, muitos alegados ecologistas, para não dizer todos, aderiram)
2º sofisma - Só com a agricultura química é possível matar a fome no Mundo.
O primeiro sofisma foi desmascarado pelo sociólogo brasileiro Josué de Castro, que demonstrou exactamente o contrário: a Fome provoca o excesso de população.
O segundo sofisma seria mais difícil de desmontar, embora sejam óbvias duas coisas:
a) Em 40 anos de agroquímica, a Fome alastrou em vez de recuar
b) Com a destruição dos solos pelas culturas químicas, a fome alastrará até aos países que até agora se julgavam imunes a ela.

Se houve fracassos estrondosos no movimento ecologista, este foi o maior: não ter conseguido fazer passar a verdade face aos sofismas e à demagogia generalizada sobre a Fome do Terceiro Mundo.
Em publicações da «Frente Ecológica» ler-se-ia que é o desenvolvimento que gera o subdesenvolvimento - heresia que, evidentemente, seria logo abafada pela retórica das multinacionais em geral e as do agrobusiness em especial.

- A reacção dita de esquerda às propostas ecologistas foi, sem dúvida e desde cedo, o sapo mais difícil de engolir pelo movimento ecologista nascente.
Em 1971, era bastante claro para alguns dos que viriam a dar forma ao M.E.P., esse flanco da reacção.
Com a crítica ao imperialismo norte-americano, a esquerda resolvia tudo: de um lado, os maus capitalistas, do outro lado os bons dos comunistas. Com este maniqueísmo se tentava calar toda a opinião que alinhasse pela alternativa.
Poluição era um mal do capitalismo e não da industrialização. Críticas ao industrialismo, portanto, eram automaticamente reduzidas ao industrialismo capitalista.
A denúncia de tudo o que era comum a leste e a Oeste, era considerado «inimigo da ordem e do progresso».
A denúncia da Bomba, da Poluição, da Burocracia de Estado, da Tortura, da Maratona termonuclear, da maratona olímpica, da maratona supersónica e espacial, do falhanço da medicina sintomática, etc, só tinha sentido se se inscrevesse tudo isso no rótulo geral de capitalismo. Tudo isso, a Leste, era o cúmulo da virtude.
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