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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-06-09

TAO 2002

02-06-09-ac-CF>

domingo, 9 de Junho de 2002

Assunto: Será desta?

C.F.: Depois de quase um mês de tempestuosas relações com o meu computador e os inestimáveis atrasos de vida que são os senhores vírus, agora que fui obrigado a instalar um segundo disco rígido, onde julgo deixar em alguma segurança os files de trabalho (menos os e-mails, que por enquanto não sei como fazer backups) estou mesmo com saudades de voltarmos à nossa habitual e normal correspondência. Vejo agora melhor como é importante para uma certa estabilidade neste quotidiano tão chato e depressivo. Se agora, em princípio, estou com menos risco de vírus (e tu também)vamos então fazer com que tudo o que provocou esta longa ausência não tivesse acontecido.
Voltei a consultar o Copernic e ando agora a pesquisar o que há sobre o I Ching, esse
insondável mistério, do qual brotaram coisas tão maravilhosas e definitivamente perfeitas como a acupunctura,a macrobiótica, as artes marciais, a cronobiologia, a sincronicidade, a alquimia chinesa (e provavelmente a alquimia universal), um germe de Kaballah (que pode ser o I Ching senão uma Kaballah ainda indecifrável?)e sei lá
que mais.
O obstáculo maior de penetrar no mistério do Tao é também a língua ou sistema de escrita em que o taoísmo foi gerado e concebido. O que deu todas as «adaptações» e traduções/traições com que modernamente nos vamos servindo e, o que é ainda
mais espantoso, com a maior eficácia prática.
Mesmo «adaptado» e «traído» o Tao continua a funcionar na perfeição. O enigma de um enigma.
Por mais que a ciência moderna encontre pontes de passagem para esta súmula sabedoria, ficará talvez sempre aquém. O caso do nosso Fritjof Capra, por exemplo, ou mesmo do nosso Etienne Guillé. Se a sua linguagem vibratória de base molecular é a língua universal, então talvez uma ponta do véu do enigma Tao possa ser levantada
pelo trabalho de Guillé. E o I Ching poderá ter a exacta tradução na linguagem vibratória inventada por Guillé. Seria então o grande encontro, que eu tento mas não tenho a pretensão de conseguir. É que nem sequer ainda consegui saber como testo os
hexagramas com o pêndulo.
Por hoje chega de filosofia.
Aguardo agora as tuas notícias, com esperança de
mais regularidade.
AC
***

VERDES 1991

almeida>cartas>

CARTA AC A ALMEIDA SANTOS

9/Junho/1991 - Nunca um texto aprofundara até às últimas consequências a problemática ecológica de fundo, como o faz o artigo do Dr. Almeida Santos, publicado em «Jornal de Letras», 4/Junho/1991, véspera do Dia Mundial do Ambiente.
Considerando-me o mais céptico dos leitores e o mais anarca dos políticos, o mais liberal dos socialistas e o mais socialista dos liberais, desconfiei sempre dos discursos político-partidários que em Portugal se têm colorido de verde, por moda, oportunismo ou estratégia eleitoralista.
É com verdadeira surpresa, pois, que leio a mensagem de Almeida Santos, que nada tem a ver com os múltiplos e variados oportunismos ditos «verdes» e pseudoecológicos aparecidos, como cogumelos, no meio ambiente português nos últimos anos.
É um depoimento exacto, corajoso em muitos sentidos, que leva às últimas consequências a lógica ecológica, sem qualquer tipo de cedências ou complacências às várias forças que, afinal, com a sua cumplicidade, têm permitido que a crise ecológica se tornasse (quase) irreversível.
Principalmente, com este texto fica demonstrado que o ecologismo radical-humanista e radical-reformista só pode inspirar e ser inspirado por uma ideologia política como o socialismo democrático: não há hipótese de conciliar o ecologismo com outra ideologia, de esquerda, direita ou centro.
Por isso, até agora, era a lacuna mais grave no seio do Partido Socialista: que ninguém aí se tivesse apercebido disso e que ninguém o compendiasse como trunfo principal de uma estratégia partidária. Lacuna que Almeida Santos acaba plenamente de preencher.
Têm aparecido, entre nós, vozes mais ou menos radicais como esta, e eu considero-me, para mal dos meus pecados, a voz mais radical de todas elas. Só que, regra geral, pertencem, como a minha, a pessoas sem influência, sem partido, sem poder e pouco eco, pouca repercussão podem ter, portanto, na opinião pública.
Almeida Santos, no entanto, goza de um prestígio quase absoluto na classe política, estando bem próximo, agora, depois deste artigo no «JL», daquele perfil que um dia, dentro de alguns anos, o País irá exigir para suceder a Mário Soares. Juntar a culminância do poder e do prestígio, à sinceridade veemente de um militante ecologista de base é o que no seu texto surpreende e, ao mesmo tempo, faz renascer uma nova esperança naqueles que, em terreno tão pantanoso como é a política (especialmente «verde») em Portugal, já desesperavam de encontrar um firme ponto de referência.
Faço apenas questão de saber se recebeu esta carta e se a mensagem de gratidão que nela lhe envio foi ouvida.
Com os melhores cumprimentos,
AC
***

PEE 1978

notícias da frente – documento 1978 – subsídios para a história do movimento ecológico em portugal

LIVRARIA PENINSULAR
R da Boavista, 57 - LISBOA

PROGRAMA ECOLÓGICO DE ESQUERDA(*)

+ 8 PONTOS

9 de Junho de 1978 - Até 9 de Junho de 1978, nada se modificou antes agravou, das circunstâncias que motivaram a proposta de um Programa Ecológico de Esquerda, as quais circunstâncias vou tentar resumir assim:
1 - A escalada do tecno-fascismo e do tecno-terrorismo vai ganhar novo ímpeto com a institucionalização do nazismo médico chamado Serviço Nacional de Saúde, a que já deram adesão, nomeadamente, o P.C.P. e a U.D.P., e com a entrada de Portugal para o Mercado Comum que é, evidentemente, a entrada de todas as indústrias hiperpoluentes e venenosas em Portugal;
2 - A passividade e abstinência programática dos que se dizem ecologistas mas que entendem fingir-se desentendidos perante tudo o que não seja a cómoda e popular frente anti-nuclear, a pretexto de que tudo o mais são temas e problemas melindrosos, não prioritários, a pretexto de não-violência gandhiana, a pretexto de objectividade informativa, a pretexto de eco-romantismo proteccionista e conservacionista, a pretexto de eco-marchismo (o atletismo do Dia Mundial do Ambiente), a pretexto de eco-fascismo (não digo o nome dos órgãos veiculadores ), a pretexto do ordenamento biofísico do território, a pretexto de anarco-puritanismo, anarco-libertarismo e anarco-palermismo, etc
3 - Para lá desta passividade crítica dos ecologistas à portuguesa, que não tocam na ideologia e só gostam de tecnologias leves, verifica-se o oportunismo de Esquerda a tomar o freio nos dentes: é sabido que a Esquerda só se aproxima da Ecologia quando lhe convém, quando dela tira dividendos para a respectiva organização partidária, quando as lutas ecológicas são um bom ornamento interno para mostrar externamente à Esquerda europeia que Esquerda portuguesa também ser gente e também estar à la page: M E.S., U.D.P, P.C.P. andam à cabeça deste eco-oportunismo abaixo-de-cão que, lógico e internamente coerente, se torna desenfreado com o encolher de ombros que os eco-teósofos e eco-macrobióticos entendem consagrar-lhe, à conta da tal não-violência;
4 - A propósito de eco-oportunismo, inesquecível é o papel eco-reumático da Imprensa dita responsável e dos órgãos da Descomunicação Social ditos nacionalizados ou estatizados, apenas e também, abaixo-de-cão. E o povinho a pagar, não só para os professores e alunos fazerem greve como para ter uma Imprensa altamente educativa que, de facto, e quanto a informação ecológica, é a imagem da Mentira e da Traição;
5 - Pessoalmente, nunca tive na gaveta tantos textos censuradas e sem qualquer canal ou viabilidade de tocar a opinião pública, o que me convence desses textos atingirem o máximo da heresia por levantarem apenas alguns dos problemazinhos que uma Ecologia Radical de Esquerda deveria , de rotina, levantar; melhor que os coronéis da Censura, a actual Imprensa é a imagem de Torquemada queimando os afonsos que ainda teimem em ter alguma cautela ecológica; uma das razões da inoperância (até agora e até quando?) do P.E.E. residirá, de facto, no ambiente concentracionário, de censura prévia, que já se consolidou em relação à mínima heresia ou denúncia efectivamente radical e efectivamente de esquerda, logo no suicídio ideológico a que as duas ou três pessoas verdadeiramente interessadas numa Ecologia Radical de Esquerda mais cedo ou mais tarde são constrangidas; o "exílio" do José Carlos Marques parece-me, neste contexto, o mais grave acontecimento posto à consciência ecológica dos militantes deste País que não sejam apenas palhaços oportunistas de undécima hora;
6 - Ainda pessoalmente, acho desagradável (malcriado) que as pessoas já nem sequer tenham a gentileza de responder quando, por dever cívico, alguém as consulta sobre um projecto como o P.E.E.; considero supinamante malcriado, pior do que cozido à portuguesa, que das 43 pessoas a quem foi enviada a circular com o ante-projecto do P.E.E., só houvesse 9 respostas aderindo e 2 mandando-me (gentilmente) à merda; para lá da abstinência programática e da passividade crítica, que me parecem flagrante colaboracionismo com a escalada do crime (cada vez mais descarado e impune) contra a Natureza, não era pedir demais, ao menos, o mínima de compostura cívica, quer dizer, de boa criação para com quem tem andado a gastar em selos o que ganha atrás do balcão de Livraria;
7 - Um Programa Ecológico de Esquerda pressupunha que as pessoas qua se querem ecopoliticamente mais conscientes, procurassem na Livraria Peninsular a informação minimamente necessária, ajudando assim a escoar, pelo preço da chuva, o resto da papelada que as ratos serão os únicos a ecologicamente aproveitar; essa voracidade informativa, porém, não foi muito além da procura sempre nervosa de autocolantes para a colecção, ponto máximo até onde parece querer ir aqui a Ecologia Radical de Esquerda, Amen;
8 - Fique dito: quando próximo das eleições 1980 se reactivarem os eco-oportunismos em que a Esquerda agora ausente a fazer o seu costumado tricot reivindicativo se aprestará na primeira linha para colher, maduro, o fruto que palermas como o José Carlos Marques e o Afonso Cautela andaram a semear nesta puta desta terra sáfara, quem vai haver então a dizer que o rei vai nu? A CLAPA , que já emite comunicados a dizer que as Nações Unidas a convidaram para celebrar em Portugal o Dia Mundial de Ambiente?
Quem irá ter coragem, amanhã como hoje, de dizer que o 2° Encontro Internacional de Juventude, a realizar em Ferrel, por iniciativa de uma organização política de Esquerda, é uma manobra golpista oportunista das mais reles, um insulto-escarro ao povo de Ferrel e um Enrabanço monumental sem vaselina de todos os ecologistas coerentes e resistentes desta terra?
Por mim e já que não vejo mais ninguém disposto a ladrar este protesto, recuso-me tanto ao supositório do Serviço Nacional da Doença como aos de UDP, FAPIR ou por aí, que aliás apoiaram o Serviço Nacional da Doença do Dr. Arnaut
E eu que até votei no Otelo, carago, quando a direita lhe chamava Robin dos Bosques!
9 de Junho de 1978
AC



PROGRAMA ECOLÓGICO DE ESQUERDA - O POUCO QUE SEI DO POUCO QUE SE FEZ

Em função das notícias aparecidas na Imprensa, algumas pessoas se têm dirigido à Livraria Peninsular solicitando informações sobre o Programa Ecológico de Esquerda.
Tanto quanto sabemos, a fase em que se encontra o P.E.E. é a de projecto à procura de uma fórmula organizativa. Mas essa é também a fase do País: um projecta à procura da rolha.
Além dos nomes que subscreveram o primeiro comunicado e que integram o grupo fundador do P.E.E., pouco mais, ate hoje, se avançou.
Ainda existem cópias do comunicado nº 1 -. de que os jornais apenas transcreveram breves extractos - que podemos enviar a quem mandar selos para o correio.
Alguns alvitres houve no sentido de cada um avançar no campo individual, dando conta aos restantes interessados do que vai realizando. Luís de Sá, um dos dez signatários, tem apelado de Matozinhos para uma reunião do grupo fundador, que não se concretizou até agora por total abstenção de notícias dos restantes signatários.
Alvitraram outros que o horizonte 1980 - ano de eleições - seria em Portugal a meta excitante para a Ecologia se definir face à Política e a Política definir-se face à Ecol ogia.
Se me é permitido opinar, nunca o P.E.E. poderia ou desejaria ser outra coisa.
Os escolhos e riscos de tal definição (reflexão) parece, porém, terem desencorajado mesmo os mais animosos militantes, não havendo ate agora notícias de trabalho em grupo preparatório dessa reflexão básica sobre os problemas ecopolíticos.

9 de Junho de 1970

AC

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(*) Este texto deve ter ficado, felizmente, inédito, na gaveta de quem lamentavelmente o produziu , o senhor AC, que o timbrava com o nome da Livraria Peninsular, onde esteve ao balcão alguns anos.
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UTOPIA 1983

ecorealismo-12> publicado ac 1983 – 5 estrelas – subsídios para a história da ideia ecológica – entre-partidos – lista de itens de ecologia humana

REALISMO E UTOPIA NO DEBATE DOS ECOLOGISTAS EM PORTUGAL(*)

9/6/1983 - O colóquio sobre "Ecologia em Portugal" que José Luís de Almeida e Silva orientou em Leiria, no âmbito da III Semana do Filme Ecológico que o Teatro da Columbina leva a efeito nesta cidade, teve o mérito de projectar o debate numa onda pouco habitual neste país.
É caso para nos congratularmos quando, como aconteceu, a conversa é, ao menos, colocada em pressupostos correctos, independentemente dos desvios que depois irá sofrer no aceso da contenda.
Discutir ecologia sem cair nos lugares-comuns, estereotipos e cassetes da anti-poluição, defesa escutista da vida selvagem, política de saneamento básico, em suma, os eco-equívocos e eco-palermices em que o nosso meio de confusões tem sido fértil, é um progresso importante. Devemos assinalar, com regozijo, o facto, quando alguém anima um debate propondo a análise ecológica do sistema industrial vigente e as consequências advindas deste sistema para a alienação humana.

I

É de questões fundamentais como esta que se ocupa o ecologismo e não das frivolidades que tantas vezes os ignorantes lhe atribuem. Só queria assinalar neste artigo os pontos em que o discurso de José Luís de Almeida e Silva (na linha , aliás, de algumas correntes de grande preponderância europeia) se demarca de um realismo ecológico que, desde há 10 anos, nos temos esforçado por pensar e definir, na "Frente Ecológica" (jornal, edições, etc) com a rara e preciosa ajuda de dois irmãos em S. Francisco: Ivan Illich e Michel Bosquet/André Gorz.
Gostaria , pois, que este artigo fosse não só um contributo de boa fé à "elevação" do diálogo sobre Ecologia entre nós, mas também uma homenagem ao José Luís de Almeida e Silva que, na sua tribuna da "Gazeta das Caldas", tem ajudado a elevar esse diálogo e aos que, embora numa linha de eco-utopia que já foi a minha e hoje não é, me ajudaram por contradição dialéctica, a passar de uma concepção moral , literária e romântica da ecologia para uma concepção realista. E não garanto que tenha havido progresso...

II

A análise ecológica não promete paraísos e amanhãs que cantam aos trabalhadores, como faz a demagogia sindical dos políticos e a demagogia política dos sindicatos.
Recusando a utopia de esquerda (anarco-comunista?) tanto como a utopia de direita (a uniforme paz dos cemitérios), o realismo ecológico da análise energética apenas pretende mostrar factos e os factos são, num sistema que vive de auto-multiplicar as suas próprias contradições para infinitamente se perpetuar, desmascarar estas contradições junto da opinião pública até que um dia todos percebam que, para solucionar os graves e grandes problemas que afligem a humanidade, basta fazer uma hora de greve geral universal planetária ao absurdo, à irracionalidade e à mentira mortal do sistema vigente. Até que um dia todos percebam o que hoje apenas alguns (ecologistas chamados) denunciam.

III

Inflação, desemprego, proletarização - são fenómenos que decorrem em linha recta do sistema instalado de produtivismo gratuito, que gira sobre si próprio num acto colossal e aberrante de masturbação planetária. Mas esses sintomas são não só efeitos da engrenagem tecno-burocrática do crescimento exponencial mas - e esta é a descoberta do realismo ecológico - condição sine qua non para que o sistema mantenha as engrenagens fabris em acção.
Todos os partidos em cena continuam, portanto, a sua piedosa obra de gerir o sistema, corpo gangrenoso dentro da sociedade. O realismo ecológico decorre da alienação como facto fundamental. Facto historicamente datado, a alienação ou proletarização é consequência do desenraizamento provocado pela chamada "revolução industrial" (que foi o princípio da grande Reacção), pelo assassinato que o sistema fez, e continua fazendo, dos ecossistemas rurais e valores de convivialidade/liberdade a eles ligados. A massificação está na massa do sangue da revolução industrial , da proletarização por ela sub-produzida e pelo desequilíbrio cidade/campo que origina todos os outros desequilíbrios.

IV

Poluição, desemprego, proletariado e lumpen-proletariado, inflação, angústia, solidão, criminalidade, suicídio, neurose, macrocefalia, bairros da lata, arranha-céus do Dallas-Abecasia, deserto de cimento armado, violência latente nas relações, divórcio, traumatização da juventude, droga, - tudo isto são sintomas mas - e isso é que é trágico - são condições necessárias e sine qua non para que o diabólico sistema da engrenagem industrial continue laborando e...garantindo postos de trabalho.
Trabalhamos todos para a nossa Morte, é o que é, e ninguém melhor para gerir esta patuleia do que os partidos, à esquerda e à direita de Deus Padre Todo Poderoso.

V

A análise ecológica da engrenagem visa para lá dessa contingência crítica - crise é a palavra mais frequente nos ideólogos do desenvolvimento, já que foram eles que a fabricaram - mas sem ignorar a génese histórica deste "complô" em que doença, cancro, poluição, inflação, desemprego, congestionamento, ruído, loucura, desprezo pela pessoa humana, solidão, ódio e até luta de classes não são erros corrigíveis pela técnica (sic) num futuro mais ou menos próximo mas factores intrínsecos ao próprio sistema que tem, na exploração do homem pelo homem apenas o antecedente histórico da manipulação do homem pelo homem, aquilo a que aqui, no realismo ecológico, tenho chamado "o homem cobaia do homem", tema específico da análise ecologista, já que mais ninguém lhe pega nem sequer percebe.
De facto este é um dos pressupostos específicos do realismo ecológico, que o demarcam de outras correntes do ecologismo mais viradas para o discurso moral e morigerador, para a exaltação do desejo e da subjectividade, para a utopia fourierista que assumia a utopia como palavra de ordem e até como programa político.
Que a utopia se viva como discurso literário, até como exaltante movimento estudantil-juvenil (Maio 68), talvez não venha mal ao mundo. Que imperceptivelmente se substitua a ou identifique com um discurso político, é que me parece um reforço da confusão que interessa aos partidos gestores da crise (são todos) alimentar.

VI

Recentemente este discurso idealista assumiu em Portugal a forma requintada do moralismo oportunista, a coberto de um poderoso aparelho totalitário. Belicistas defendendo a paz, violentos a proclamar não-violência, desenvolvimentistas a preconizar eco-desenvolvimento, adeptos da indústria hiper-poluente a fingir que querem um mundo solar, nuclearistas mascarados de geradores eólicos, aí está a farsa em cena.
O discurso moralista é, por definição, hipócrita. Mas a verdade é que a utopia à maneira de Maio 68 oferece o flanco não só a esses oportunismos de burocratas armados em defensores da natureza como se desarma ideologicamente frente aos exércitos de deserdados que cada vez gritam mais alto por justiça e pelo fim da opressão chamada proletariado.

VII

A luta de classes há muito que se engloba numa luta mais vasta de vida ou de morte entre gerações (as de hoje contra as de amanhã), a luta que os grandes blocos do holocausto nuclear neste momento movem ao Planeta e à Humanidade.
Esta engrenagem não é fundamentalmente criticável só porque e quando atafulha as pessoas e a sua alegria de viver com toda uma quinquilharia de consumos e subprodutos da engrenagem consumista - ponto onde José Luís polarizou a sua análise -esta engrenagem é criticável, na perspectiva do realismo ecológico, porque dizendo que desenvolve está, logo ao lado, criando sub-desenvolvimento, agravando injustiças sociais, fomentando o desemprego e a falta de habitação, enfim, auto-reproduzindo-se até ao infinito.
Na perspectiva do meu realismo, o que está em causa é a engrenagem que causa essa sintomatologia de alienante escravidão, a ideologia do desenraizamento, a grande conspiração contra a Terra e os homens da Terra. Não é porque abarrota de consumos uma classe (privilegiada) ou um país que esta engrenagem é desumana e criminosa: é porque tudo isso é feito fabricando, logo ao lado, miséria e morte e destruição. Desenvolver tem sido, afinal, destruir.

VIII

Do eco que esta tendência ecologista a que chamo realismo da frente tem tido entre os compatriotas e outros amigos da terra, escusado será dizer que não vale a pena falar: no deserto continuarei ladrando até que me farte. Sintoma significativo de que não consigo estar sintonizado com os meus compatriotas, é o teste que lhes fiz, há bem pouco tempo, com mais uma iniciativa ( à partida falhada) das minhas. Um prémio de Resistência Ecológica, cujo regulamento já mostrei a vários grupos e personalidades, ou nem sequer resposta mereceu, ou foi recebido com um encolher de ombros ainda mais eloquente. Irei continuar a ladrar no deserto?
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(*) Publicado no semanário «Gazeta das Caldas», 9/6/1983
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KARMA YOGA 1993

93-06-09-ac> = cartas a mim mesmo - karmaa-1>cartas>

CARTA AOS SUPEROCUPADOS SEMPRE NA SALA DE ESPERA

9-6-1993 - Esta carta de múltiplos destinatários é uma aberração em si mesmo, porque não tenho a quem enviá-la, por tantos serem aqueles a quem a teria que enviar. Sirva, todavia, de desabafo às minhas saturações. Não lhe vejo qualquer outra útil aplicação. Nem para descarregar o karma, que uma questão de karma deve ser este meu fatalismo de querer falar com quem e nunca ter com quem falar. São sapos vivos a mais, para que os possa digerir a todos. E a minha história é uma longa espera na sala de espera de pessoas, entidades, instituições, postos de socorros e assistência. A minha vida tem sido uma longa espera à espera que chegue quem marcou hora e local de chegar.
Sei bem que na era dos computadores e do programa Windows, última versão, revista e aumentada, ele me responde que não pode copiar ficheiros para «múltiplos destinos». No entanto, a anterior versão, menos sofisticada, podia. Mesmo assim, e por uma questão respiratória, insisto em escrever este desabafo que serve, praticamente, de carta colectiva à maior parte dos seres humanos que, para infelicidade deles e minha, tiveram que se cruzar comigo nesta incarnação.
Ou, melhor dito, com os quais me cruzei. Desde a querida menina a que chamo Ana Cristina, até ao meu irmão querido, a que chamo Zé e que Deus já tem à sua guarda, até ao meu terapeuta Manuel Fernandes (que me trata da saúde), passando pelo meu ex-AAA João, pelo meu sobrinho Zé, pelo meu compadre Zé (Matos Cruz), pelo [ ] levo a vida esperando que apareçam. O que eu tenho a dizer a todos, com todo o respeito e com todo o carinho, mas com toda a raiva também, é que estou farto de esperar. A sala de espera de um consultório simboliza este estúpido fatalismo, a minha cruz, o meu calvário, o meu karma, a minha expiação, merda estou farto.
De todos os ossos que já me custa roer, aos 60 anos, o mais duro é ter de enfrentar gente ocupada, gente superocupada, gente vip, gente sem tempo para a gente, gente que come de pé no snack, gente que está em reunião, gente que vai para Bruxelas, gente que ainda não chegou de Bruxelas, gente que está trabalhando até de madrugada para a tese de doutoramento, gente que quer ganhar o Prémio Nobel, gente que ainda não ganhou o suficiente para deixar aos filhos, gente de agenda a transbordar, gente trânsito congestionado, gente que dá dois minutos para a gente se vir, gente que manda esperar só 3 horas na sala de espera, gente que nunca está em Lisboa ao fim de semana, gente que tem sempre mais que fazer do que estar - porque anda sempre a voar -, gente que só com marcação um mês de antecedência, gente que vai no avião das 8, gente que já partiu no avião das 8, gente [ ]

Aquele simpático Joaquim que me anda a vender um Toshiba há 1 mês e ainda não conseguimos o orgasmo completo, aquele meu velho amigo Miguel que está reformado mas tem que trabalhar para sustentar a família, aquela minha sobrinha Maria José que nunca está para irmos ao Camping onde somos vizinhos, aquela [ ]

Desculpem, meus irmãos, meus amigos, meus inimigos, meus chefes, meus directores, meus auxiliares, meus [ ]

Macacos me mordam, se não vou já instalar uma linha telefónica com o slogan: «Telefone para ouvir e ser ouvido durante 5 minutos». Não vejo ninguém queixar-se, pelo que isto deve ser moléstia que só me ataca a mim! E nenhum deles é má pessoa, claro! São todos porreiros, já que tiveram êxito na vida e êxito na vida é estar sempre super ocupado (SSO), nunca ter tempo para ouvir um pardalito na árvore, nunca ter tempo para olhar gratuitamente um pôr do sol, nunca ter tempo para não se importar com o tempo, nunca ter tempo para viver, nunca ter tempo para morrer [ ]
Longe de mim querer mudar as coisas e fazer com que os meus amigos, irmãos, sobrinhos, chefes, subchefes, não sejam importantes, super-ocupados, vip's, longe de mim querer seja o que for. Eu queria era dizer apenas que estou farto de esperar, por mais iniciação que chame a isto, por mais karma que isto se chame, por mais argumentos que tentem justificar esta minha fatalidade de apanhar sempre pela proa um «agora não posso, estou de saída para o estrangeiro». Aliás, nada mais justo que as pessoas de sucesso andem a gerir o sucesso e não tenham tempo para falar com quem não teve sucesso. O problema não é deles, obviamente, mas meu, que não tenho, nunca tive, nem terei nunca sucesso: o diabo seja surdo, cego e mudo. O meu grande medo é se algum dia vou ser penalizado com uma vida superocupada de sucesso, por causa deste impropério.
Isto é karma meu, está visto. Se há coisas que de facto detesto são as situações podres. Os impasses que se eternizam. Os trabalhos que ficam por acabar. As tarefas que ficam por terminar. Os julgamentos que ficam por julgar. As promessas que ficam por cumprir. As expectativas que ficam por concretizar. As acções de despejo como aquela para me tirarem a casa, a qual acção de despejo me durou dois anos, com sete convocatórias a tribunal com o grupo de amigos que fizeram o favor de ser minhas testemunhas. Se há coisa que não suporto, são os atrasos. As promessas que não se cumprem. O «vou telefonar-te» só por dizer, sem intenção nenhuma de o fazer. Curiosamente, e até parece castigo, é o que tenho tido mais.
Levanto-me às quatro da manhã, habitualmente, mas se for necessário passo a levantar-me às 3, às 2, sei lá, passo a não me levantar, ou a levantar-me antes de me deitar. Mas claudicar eu próprio naquilo que mais odeio nos outros, vou resistir até poder. E que Deus não me castigue, caindo na tentação de fazer com os outros o que os outros fazem comigo. Por mais que me lixem o juízo com os eternos alibis de «agora não posso», «agora não estou», «agora, agora, agora». Nunca.
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ESTABLISHMENT

edita-1>manifesto>gabinete de ideias> - mein kampf 1997

EM DEFESA DA SAÚDE - A IGNORÂNCIA DOS GOVERNOS E A INDIFERENÇA DOS GOVERNADOS

+ 9 PONTOS

9/6/1997 - 1 - Técnicos de saúde em terapêuticas naturais deveriam ter-se começado a preparar para fazer face à invasão dos seus homólogos europeus, desde que em 1992 as portas ficaram abertas e vigente o direito de livre circulação de pessoas e bens no âmbito da Comunidade Europeia.
Mas à excepção do sempre imparável Reinaldo Baptista, que faz sempre mais por todos do que cada um faz por si próprio, não se verificaram grandes progressos na estratégia política seguida pela classe face aos sucessivos poderes e governos que continuam ignorando a medicina holística e respectivas terapias energéticas.

2 - Enquanto o movimento das novas e mais antigas terapêuticas assume hoje dimensão planetária, em Portugal o grupo dos principais responsáveis da chamada «saúde» finge que não nota, finge que não sabe, finge que não vê.
Não se elaboram leis que já deviam ter sido elaboradas há anos, ou elaboram-se leis do tempo da pedra lascada.
Nenhum movimento de progresso alternativo - ou nenhum movimento alternativo de progresso - parece sensibilizar os empedernidos responsáveis que temos, cada vez mais virados para um mundo e um modus vivendi que está morto e enterrado, do que para o próximo futuro que se anuncia e as alvoradas que - como se costumava dizer - já cantam.
Como caímos em tal mediocridade, quando os astros nos atribuem, como povo finisterra da Europa, um papel redentor já no próximo milénio, como profetizava o Prof. Agostinho da Silva, eis a questão que talvez só o ilustrado astrólogo Paulo Fernandes possa decifrar.
Eurocratas, burocratas e tecnocratas tomaram conta do País e da Vida. E das Alternativas de Vida à morte em que estamos, nada mais soubemos.

3 - O caso concreto das medicinas alternativas serve apenas de exemplo a um comportamento generalizado, por parte do poder, relativamente às alternativas de fundo que se esperam e necessitam para sobreviver e entrar de pé no Ano 2.000.
Em todos os campos onde a sobrevivência planetária depende das alternativas que forem criadas ao macrosistema que nos condena à morte no curto prazo, o poder político permanece mudo e quedo: não só não trava os planos megalómanos da destruição (em nome de um famigerado e mais do que condenado modelo de crescimento económico) como não mexe uma palha para recuperar alguns planos de ecoalternativas que até estiveram no terreno e que desaparecerem como por encanto nos últimos 10 anos de entorpecimento nacional.
O plano das energias renováveis é um desses silenciamentos que raiam o escândalo. Em contrapartida, prossegue o Plano Megalómano de Alqueva, um caminho, em linha recta, de suicídio nacional, beco sem saída e sem retorno que se teima em construir para as sacrificadas gerações de amanhã. Em nome do santo progresso e do santo desenvolvimento, claro, eternos alibis de todos os criminosos profissionais!

4 - As novas profissões de saúde (a que tem de se juntar a palavra «natural» como se toda a saúde, por definição, não tivesse que ser natural) não dispõem praticamente de nenhum suporte legal dentro de fronteiras, nem sequer sob pressão daquilo que a CE vai mandando fazer aos bem disciplinados agentes portugueses em Bruxelas.
Em Portugal, continuam a ignorar-se (a fingir ignorar-se) as actividades e vozes que internamente existem na área holística, enquanto fazemos involuntárias figuras de urso na comunidade europeia e internacional civilizada.
A poderosa imprensa dos «lobbies» faz mesmo gala em exibir essa ignorância como um galardão e como se o público português fosse um público de cafres.
Não dá sequer para encetar um diálogo civilizado entre o sector das ecoalternativas de vida e saúde (holísticas) e o poder, porque inclusive não há um interlocutor válido capaz.
Caso houvesse, alguns dos pontos da agenda de conversações deveriam necessariamente passar pelo tempo que já se perdeu por culpa da estupidez de quem manda.
As autoridades ditas de saúde em Portugal têm vivido num verdadeiro regabofe: não só ignoram (fingem ignorar) as vozes internas que das alternativas falam mas, inclusive, têm-se dado ao luxo de ignorar as próprias directrizes de organismos tão oficiais como a OMS, à qual - julgamos - a País pertence, embora muitos vezes não pareça.
As novas profissões de saúde, integrando os chamados cuidados primários, têm sido matéria em publicações da Organização Mundial de Saúde.
Antes e depois da conferência de Alma-Ata, em 1977, a OMS tem vindo a manifestar uma compreensão cada vez mais aberta às medicinas tradicionais de cada povo, recomendando que sejam urgentemente integradas essas tradições no sistema de cuidados primários de saúde.
E isto não só por razões de ordem ecológica, não só porque as medicinas suaves curam melhor e matam menos (não matam nada), mas principalmente por motivos de carácter económico, como foi o caso na China comunista de Mao Tse Tung ao recrutar os chamados «médicos de pé descalço.» Muito mais eficazes, como sabemos, do que muitos ocidentais de pé calçado.
Portugal social-democrata e agora Portugal socialista - laranja um, rosa o outro - têm-se dado ao luxo de fazer ouvidos de mercador aos apelos, recomendações, directrizes, conselhos e normas que emanam da OMS, da Comunidade Europeia ou mesmo dos organismos internacionais autónomos que federam ONG's de saúde. Note-se que até a dinossáurica CE já teve um lampejo de discernimento chamando de Comissão do Ambiente e de Saúde à comissão especializada destes assuntos interligados. Que nem cegos ignoram que estão indissoluvelmente ligados.
Nessa ignorância dos governos, partidos, jornais e telejornais, antes e depois do 25 de Abril, incluem-se questões tão despiciendas e desimportantes como: Ecologia Humana, Ecologia Alimentar, Saúde Ambiental, Saúde Ocupacional, Saúde Pública, Qualidade de Vida, Recursos humanos de saúde, Profilaxia natural, serviços básicos de saúde, equipas de saúde.

5 - A retórica desenvolvida por todos os partidos pró e contra o chamado Serviço Nacional de Saúde, em determinada fase do PREC, dá bem a medida da santa ignorância que a todos inspira em matéria de saúde primária.
E o próprio facto de toda a ênfase política e, portanto, mediática ser posta na sofisticação do sistema - cirurgia de ponta, transplantes, hospitais particulares sofisticados - diz-nos bem que estamos, neste como em outros ponto de vista, entregues à bicharada.
A ignorância dos «manda-chuvas» estende-se, é claro, às terapias energéticas, em que a medicina ortomolecular (ou metabolic medecine) ocupa lugar de relevo, seguindo-se a Floralterapia de Bach, a Homeopatia, a Acupunctura, a Oligoterapia e a Aromoterapia.
Como se pode esperar haver um «interlocutor válido» para as ecoalternativas médicas, se nem indo a correr ao dicionário as autoridades ditas de saúde sabem o que representa cada uma destas novas especialidades médicas, destas novas profissões de saúde?

6 - É bom lembrar que foram as organizações de medicina alternativa natural - através dos seus organismos representativos - quem ajudou o governo a sair de um impasse criado pela legislação aprovada - de cruz - na Assembleia da República.
É que o impasse surgiu quando o Ministério do Trabalho teve que atribuir carteira profissional aos terapeutas, de acordo com o decreto-lei 358/84, mas sem saber quem iria julgar sobre o valor e competência desses profissionais com prática em várias especialidades, nomeadamente Acupunctura, Homeopatia, Osteopatia, Naturopatia, Massagem de recuperação, Terapêutica ocupacional, etc.
O problema de então é que nenhuma instituição, classe, profissão ou escola superior tinha capacidade técnica para se erigir em júri dos naturoterapeutas e para atribuir as carteiras.
Os próprios serviços ou ministérios que inevitavelmente iriam ser chamados a pronunciar-se no acto de atribuição das carteiras, não tinham competência técnica para ajuizar das novas profissões que nem sequer de nome conhecem.
Foi perante este vazio, derivado da impotência das instituições implicadas para resolverem um problema do qual desconhecem as próprias premissas, que os novos profissionais de saúde decidiram enveredar por uma nova ofensiva: os cursos de reciclagem e valorização profissional que têm sido a grande arma defensiva da classe junto de autoridades e entidades. Só exigindo a si mesmos o maior rigor científico e técnico, os novos técnicos de saúde ganham direito a falar, de igual para igual, com aqueles que teimam em não reconhecer nessa classe o interlocutor válido.

7 - A política chamada de saúde tem sido até agora apenas uma política de combate à doença. Como o equívoco serve perfeitamente à sofismologia de que o sistema em geral e o sistema médico em particular se nutrem, nunca ninguém se deu ao cuidado de dizer que o rei vai nu e que há um abismo entre uma «política de saúde» - ainda por instalar e praticar - e uma «política de doença», há muito instalada e praticada, a única mesmo que se pratica.
Quando alguém apareceu a proclamar que a palavra holística era a palavra-chave para denunciar esse equívoco e essa hipocrisia do sistema, igualmente se pôs uma pedra sobre a palavra-chave.
Holística de facto trata da saúde.
Medicina de facto trata da doença.
Como se queria desde sempre mostrar e como não precisa de ser demonstrado por ser demasiado óbvio.

8 - O artigo mais omisso da Constituição da República Portuguesa - enquanto não é revista e enquanto não o revogarem, por desvergonha nacional - é o artigo 64, que num momento de inspiração do legislador até parece reflectir o espírito da conferência de Alma Ata, em 1977.
No parágrafo 1 deste artigo pode ler-se:«Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.»
Se há artigo que nunca foi à prática ao longo de 20 anos da política que deu à luz tão bela Constituição, o 64 é com certeza o mais arredado dos nossos hábitos e práticas. Embora esteja tão próximo do 69.
Quem porventura se atreva, por sua conta e risco, «defender e promover a saúde», própria e alheia, através dos meios naturais e óbvios a isso conducentes, cumprindo assim com um dever «constitucional», não só é altamente penalizado - a segurança social não lhe paga um tostão - como não poderá incluir na declaração ao fisco despesas fabulosas em medicamentos para suavizar o montante do IRS, como será olhado de soslaio e apontado como sabotador da economia nacional.
À luz deste artigo 64 da Constituição da República Portuguesa (ia a escrever das bananas...), a retórica que tem vindo a ser assoprada pelas companhias seguradoras contra aquilo que chamam a «bancarrota» do sistema, assume foros de insulto aos reformados em geral e de afronta aos que, como eu, há mais de quinze ou vinte anos que não gastam à caixa/segurança/estado/erário público/contribuintes um tostão em medicamentos.
Nunca, por isso, o Estado me amnistiou nem me baixou um tostão nos 35% que me rouba todos os meses para o fisco e mais outros para a dita, supradita segurança social.
Mais: o Estado negar-se-á a pagar-me o funeral, porque isso de morrer é um acto natural e pode vir inquinado de todos os venenos já denunciados pela revista «Teste-saúde» e pela revista domingueira da D. Isabel Stilwell.
O Estado é, assim, demissionário dos seus deveres constitucionais por 4 razões:
1) Porque não faz nada de concreto para desmistificar e desmascarar a campanha que teima, dia sim dia não, em proclamar a bancarrota da segurança social, assustando o principal alvo dessa campanha que é a classe mais desprotegida e desamparada dos reformados;
2) Porque, caso essa bancarrota do sistema seja realmente previsível, não faz nada para a evitar, cortando nos custos de uma medicina «curativa» e de uma cirurgia protésica que não cura e antes faz proliferar logaritmicamente as doenças mais variadas e desvairadas
3) Porque nada faz para incentivar os terapeutas e agentes que defendem alternativas holísticas de profilaxia e tratamento natural, com custos inevitavelmente muito mais baixos para o Estado e, portanto, para todos nós, contribuintes
4) Porque nada faz para subsidiar os tratamentos naturais - muito mais económicos -, antes se deixa enredar, provavelmente, nas diarreias demagógicas da revista «Teste-Saúde» ou nas da revista domingueira da senhora D. Isabel Stilwell, que sabemos muito bem a quem serve.

9 - Se há castelos bem guardados a sete chaves pela ordem estabelecida, na qual por definição manda a classe dirigente, o castelo dos títulos, doutoramentos, bacharelatos, diplomas é o mais estanque e mais bem guardado.
Mais do que o dinheiro, perecível e fungível, sujeito às contingências da inflação, o título é dinheiro em caixa, pode ser perene fonte de rendimento, é investimento para «toda la vida», dividindo a sociedade não em 3 classes - nobreza, clero e povo - mas em duas: os com diploma e os excluídos de diploma. Outra forma de segregação racista, é o dos automotorizados e o dos excluídos do automóvel.
Conversa morna de marxistas é ver ainda a divisão de classes e a luta de classes entre patronato e operariado.
Sendo o canudo um pilar tão importante do Establishment e o direito de acesso a ele, é natural não só que o sistema não abra mão dele como os que querem ter acesso ao establishment baseiam a sua luta na aquisição do canudo e no direito ao canudo.
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