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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-06-09

PEE 1978

notícias da frente – documento 1978 – subsídios para a história do movimento ecológico em portugal

LIVRARIA PENINSULAR
R da Boavista, 57 - LISBOA

PROGRAMA ECOLÓGICO DE ESQUERDA(*)

+ 8 PONTOS

9 de Junho de 1978 - Até 9 de Junho de 1978, nada se modificou antes agravou, das circunstâncias que motivaram a proposta de um Programa Ecológico de Esquerda, as quais circunstâncias vou tentar resumir assim:
1 - A escalada do tecno-fascismo e do tecno-terrorismo vai ganhar novo ímpeto com a institucionalização do nazismo médico chamado Serviço Nacional de Saúde, a que já deram adesão, nomeadamente, o P.C.P. e a U.D.P., e com a entrada de Portugal para o Mercado Comum que é, evidentemente, a entrada de todas as indústrias hiperpoluentes e venenosas em Portugal;
2 - A passividade e abstinência programática dos que se dizem ecologistas mas que entendem fingir-se desentendidos perante tudo o que não seja a cómoda e popular frente anti-nuclear, a pretexto de que tudo o mais são temas e problemas melindrosos, não prioritários, a pretexto de não-violência gandhiana, a pretexto de objectividade informativa, a pretexto de eco-romantismo proteccionista e conservacionista, a pretexto de eco-marchismo (o atletismo do Dia Mundial do Ambiente), a pretexto de eco-fascismo (não digo o nome dos órgãos veiculadores ), a pretexto do ordenamento biofísico do território, a pretexto de anarco-puritanismo, anarco-libertarismo e anarco-palermismo, etc
3 - Para lá desta passividade crítica dos ecologistas à portuguesa, que não tocam na ideologia e só gostam de tecnologias leves, verifica-se o oportunismo de Esquerda a tomar o freio nos dentes: é sabido que a Esquerda só se aproxima da Ecologia quando lhe convém, quando dela tira dividendos para a respectiva organização partidária, quando as lutas ecológicas são um bom ornamento interno para mostrar externamente à Esquerda europeia que Esquerda portuguesa também ser gente e também estar à la page: M E.S., U.D.P, P.C.P. andam à cabeça deste eco-oportunismo abaixo-de-cão que, lógico e internamente coerente, se torna desenfreado com o encolher de ombros que os eco-teósofos e eco-macrobióticos entendem consagrar-lhe, à conta da tal não-violência;
4 - A propósito de eco-oportunismo, inesquecível é o papel eco-reumático da Imprensa dita responsável e dos órgãos da Descomunicação Social ditos nacionalizados ou estatizados, apenas e também, abaixo-de-cão. E o povinho a pagar, não só para os professores e alunos fazerem greve como para ter uma Imprensa altamente educativa que, de facto, e quanto a informação ecológica, é a imagem da Mentira e da Traição;
5 - Pessoalmente, nunca tive na gaveta tantos textos censuradas e sem qualquer canal ou viabilidade de tocar a opinião pública, o que me convence desses textos atingirem o máximo da heresia por levantarem apenas alguns dos problemazinhos que uma Ecologia Radical de Esquerda deveria , de rotina, levantar; melhor que os coronéis da Censura, a actual Imprensa é a imagem de Torquemada queimando os afonsos que ainda teimem em ter alguma cautela ecológica; uma das razões da inoperância (até agora e até quando?) do P.E.E. residirá, de facto, no ambiente concentracionário, de censura prévia, que já se consolidou em relação à mínima heresia ou denúncia efectivamente radical e efectivamente de esquerda, logo no suicídio ideológico a que as duas ou três pessoas verdadeiramente interessadas numa Ecologia Radical de Esquerda mais cedo ou mais tarde são constrangidas; o "exílio" do José Carlos Marques parece-me, neste contexto, o mais grave acontecimento posto à consciência ecológica dos militantes deste País que não sejam apenas palhaços oportunistas de undécima hora;
6 - Ainda pessoalmente, acho desagradável (malcriado) que as pessoas já nem sequer tenham a gentileza de responder quando, por dever cívico, alguém as consulta sobre um projecto como o P.E.E.; considero supinamante malcriado, pior do que cozido à portuguesa, que das 43 pessoas a quem foi enviada a circular com o ante-projecto do P.E.E., só houvesse 9 respostas aderindo e 2 mandando-me (gentilmente) à merda; para lá da abstinência programática e da passividade crítica, que me parecem flagrante colaboracionismo com a escalada do crime (cada vez mais descarado e impune) contra a Natureza, não era pedir demais, ao menos, o mínima de compostura cívica, quer dizer, de boa criação para com quem tem andado a gastar em selos o que ganha atrás do balcão de Livraria;
7 - Um Programa Ecológico de Esquerda pressupunha que as pessoas qua se querem ecopoliticamente mais conscientes, procurassem na Livraria Peninsular a informação minimamente necessária, ajudando assim a escoar, pelo preço da chuva, o resto da papelada que as ratos serão os únicos a ecologicamente aproveitar; essa voracidade informativa, porém, não foi muito além da procura sempre nervosa de autocolantes para a colecção, ponto máximo até onde parece querer ir aqui a Ecologia Radical de Esquerda, Amen;
8 - Fique dito: quando próximo das eleições 1980 se reactivarem os eco-oportunismos em que a Esquerda agora ausente a fazer o seu costumado tricot reivindicativo se aprestará na primeira linha para colher, maduro, o fruto que palermas como o José Carlos Marques e o Afonso Cautela andaram a semear nesta puta desta terra sáfara, quem vai haver então a dizer que o rei vai nu? A CLAPA , que já emite comunicados a dizer que as Nações Unidas a convidaram para celebrar em Portugal o Dia Mundial de Ambiente?
Quem irá ter coragem, amanhã como hoje, de dizer que o 2° Encontro Internacional de Juventude, a realizar em Ferrel, por iniciativa de uma organização política de Esquerda, é uma manobra golpista oportunista das mais reles, um insulto-escarro ao povo de Ferrel e um Enrabanço monumental sem vaselina de todos os ecologistas coerentes e resistentes desta terra?
Por mim e já que não vejo mais ninguém disposto a ladrar este protesto, recuso-me tanto ao supositório do Serviço Nacional da Doença como aos de UDP, FAPIR ou por aí, que aliás apoiaram o Serviço Nacional da Doença do Dr. Arnaut
E eu que até votei no Otelo, carago, quando a direita lhe chamava Robin dos Bosques!
9 de Junho de 1978
AC



PROGRAMA ECOLÓGICO DE ESQUERDA - O POUCO QUE SEI DO POUCO QUE SE FEZ

Em função das notícias aparecidas na Imprensa, algumas pessoas se têm dirigido à Livraria Peninsular solicitando informações sobre o Programa Ecológico de Esquerda.
Tanto quanto sabemos, a fase em que se encontra o P.E.E. é a de projecto à procura de uma fórmula organizativa. Mas essa é também a fase do País: um projecta à procura da rolha.
Além dos nomes que subscreveram o primeiro comunicado e que integram o grupo fundador do P.E.E., pouco mais, ate hoje, se avançou.
Ainda existem cópias do comunicado nº 1 -. de que os jornais apenas transcreveram breves extractos - que podemos enviar a quem mandar selos para o correio.
Alguns alvitres houve no sentido de cada um avançar no campo individual, dando conta aos restantes interessados do que vai realizando. Luís de Sá, um dos dez signatários, tem apelado de Matozinhos para uma reunião do grupo fundador, que não se concretizou até agora por total abstenção de notícias dos restantes signatários.
Alvitraram outros que o horizonte 1980 - ano de eleições - seria em Portugal a meta excitante para a Ecologia se definir face à Política e a Política definir-se face à Ecol ogia.
Se me é permitido opinar, nunca o P.E.E. poderia ou desejaria ser outra coisa.
Os escolhos e riscos de tal definição (reflexão) parece, porém, terem desencorajado mesmo os mais animosos militantes, não havendo ate agora notícias de trabalho em grupo preparatório dessa reflexão básica sobre os problemas ecopolíticos.

9 de Junho de 1970

AC

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(*) Este texto deve ter ficado, felizmente, inédito, na gaveta de quem lamentavelmente o produziu , o senhor AC, que o timbrava com o nome da Livraria Peninsular, onde esteve ao balcão alguns anos.
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