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2006-06-04

ETANOL 1980

1-2 - 80-06-04-ie> = ideia ecológica

O ETANOL DE EURICO DA FONSECA

[4/JUNHO/1980]

A produção intensiva do Álcool Combustível Etanol foi defendida por Eurico da Fonseca no I Simpósio Nacional de Álcool Combustível, realizado na Estação Agronómica Nacional, em Oeiras.

Para essa produção agro-industrial, o orador chegou a preconizar a produção contínua de beterraba, no que foi contestado por engenheiros agrónomos presentes.
Segundo estes, ainda não é possível essa produção contínua, mesmo com recurso à estufa ou produção forçada que Eurico da Fonseca descreveu em pormenor, podendo concluir-se o seguinte da sua exposição:
a produção de etanol, pelos métodos clássicos e pelos métodos de conversão da celulose em glucose, parece preferível à produção de metanol ou à produção simultânea de metanol e etanol;
a produção de etanol pode contribuir para a estabilização da economia agrícola e para o desenvolvimento de algumas regiões do País, nomeadamente o Alentejo e a Cova da Beira;
a produção de etanol pode ser intensificada e pode conduzir a custos mais baixos se for feita em conjunto com as culturas forçadas com apoio solar, nomeadamente se este apoio for também usado para a produção de energia mecânica e eléctrica e calor de processo, para a conversão de celulose em glucose e para distilação.

Em face destes argumentos, Eurico da Fonseca não hesita em afirmar:
"A definição de um Plano Nacional de Álcool Combustível parece, pois, indispensável e urgente".
Quanto aos custos com o investimento necessário a esse gigantesco Plano, ele argumenta com o "custo das importações de petróleo'' que representarão apenas uma fracção do custo das importações de petróleo.

Por outro lado, o seu plano torna-se ainda mais claro quando refere que "se trata de algo cujo interesse excede de muito o plano nacional.”

Tal como aconteceu, no Brasil, trata-se, com efeito, de um interesse trans-nacional ou multinacional, que não hesitará certamente em investir aqui na beterraba, como investiu em cana de açúcar no Brasil, para transformar, em qualquer dos casos, a agricultura de cada um destes países em fornecedor de combustível que substitua a fúria do fuel.

Por isso também, já se reuniu um congresso de especialistas no Brasil para denunciar as trágicas consequências que poderá vir a ter, no plano alimentar interno destes países, as agriculturas industriais para fins combustíveis.
Se se prefere a fome endémica, então os planos apresentados por Eurico da Fonseca devem ser intensificados. E não faltará gasolina para os seus automóveis, como ele mostrou temer tanto.

O Simpósio foi moderado pelo Almirante Souto Cruz, que era ladeado na mesa pelo director geral da Energia, Eng.º Mário Silva, Eng. Miguel Mota, um representante da Sociedade de Ciências Agrárias e o próprio Eurico da Fonseca, da Sociedade de Energia Solar, que organizou o Simpósio.

O Eng.º Mário Garcia, da Direcção Geral da Energia, apresentou uma comunicação sobre as actividades desta Direcção Geral nos usos energéticos da Biomassa, enquanto o Dr.Rui Namorado Rosa (do Laboratório de Física e Energia Nucleares) falou dos aspectos gerais da produção de combustíveis líquidos a partir da biomassa.

O valor da beterraba sacarina para a produção de álcool "foi abordado pelo Eng.º Abílio Mendes Gaspar, da Estação Agronómica Nacional, enquanto o tenente-coronel Pastor Fernandes se referiu ao Metanol e Etanol em Portugal.

Finalmente, a utilização do álcool como combustível nos transportes rodoviários, foi preconizada por Nuno Vilarinho, da Wolkswagen, empresa que no Brasil fomentou o Plano
do Álcool que, como disse Eurico da Fonseca, ultrapassa o interesse nacional. De facto, tudo ficou agora mais claro, depois deste Simpósio.

ETANOL E OS ENGANOS DO "VERDE"

Também a França vai entrar na corrida dos combustíveis "verdes". Ao ler a notícia da ANOP (11.3.1980) poderia pensar-se que era o Biogás ou Gás Metano a partir de excrementos e detritos orgânicos, uma das formas mais revolucionárias de fornecer combustível ao agricultor e, simultaneamente, fertilizantes da melhor qualidade, especialmente aos meios rurais.

Mas não. Trata-se de outra exploração, mais rentável e mais coerente com a "lógica" do sistema, já que prossegue a (escalada da.) destruição do Ecossistema: o tal plano francês, com efeito, prevê a plantação gigantesca da cana do açúcar em França e daí extrair ... gasolina.

Em Portugal, sob o nome e a pretexto do Etanol, prevê-se a intensificação do programa de Beterraba Sacarina.

Ir para a reciclagem orgânica dos detritos e produzir biogás, desencadear campanhas para desenvolvimento de uma energia que já provou todas as vantagens, não se faz. Ela tem um defeito incurável: não alimenta o sistema a reproduzir a sua própria escalada. O Biogás é mesmo "revolucionário" e ameaça subverter a ordem económica vigente. Daí que a campanha "intox" em curso aproveite o rótulo "energia verde" para o ir identificando com "Etanol".

Pôr a Terra a produzir gasolina vegetal está de acordo com a lógica do absurdo de todo o sistema. Vão chamar-lhe Energia Nova. E possivelmente até vão dizer que é biológica e demonstra um grande amor à Natureza. Eles também são pelo "verde", afinal.
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito
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