RECICLAGEM 1979
1-3 -reciclagem-1> os dossiês do silêncio – notícias do futuro
EUROPA DESCOBRE ECONOMIA DA RECICLAGEM(**)
(**) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 26/5/1979
26/5/1979 - O desperdício já é rentável. E os obstáculos que hoje se põem à reciclagem sistemática de materiais e resíduos, já não são de ordem económica e muito menos tecnológica. É, pelo menos, o que se conclui de um estudo que a Comissão Europeia acaba de publicar com o título " A Economia da Reciclagem"(*) verdadeira reviravolta nos conceitos até agora consagrados nesta matéria. Conceitos que se verifica serem pré-conceitos e, na sua maioria, lugares-comuns sem conteúdo real...
De repente, a Comunidade Europeia pulveriza uma série de ideias feitas com que se tinha , até agora, tentado impedir uma verdadeira indústria de reaproveitamento e tentado justificar uma Economia absurdamente baseada no desperdício.
O relatório acumula dezenas de argumentos que contrariam tudo quanto até agora era clássico invocar contra o reaproveitamento de materiais, lixos, restos.
E a pergunta impõe-se: é possível reutilizar uma parte, ao menos, dos resíduos?
Ou - como até agora se dizia - a reciclagem implica "custos proibitivos" (sic)?
Para os países da Comunidade Europeia impõe-se dar uma resposta clara, já que a montanha do que se deita fora aumenta de dia para dia e coloca a Europa, neste momento, entre os campeões mundiais do Desperdício.
Eis alguns números apontados no relatório: 49 a 66 milhões de toneladas de escórias e refugos industriais; 40 a 60 milhões de lixos de origem alimentar provenientes quer de cozinhas domésticas quer da indústria alimentar e da agricultura; 160 milhões de restos de hulhas e carvões; 30 a 35 milhões de resíduos minerais; 5 a 10 milhões de escórias metalúrgicas e 10 milhões de toneladas de cinzas siderúrgicas: eis o que, cada ano, a Comunidade Europeia rejeita, joga fora, destroi, abandona, põe de parte, inutiliza, deita no ambiente, polui. Conforme muito bem definiu Mustafa Tolba, presidente do PNUMA (Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente) a Poluição, neste contexto, é apenas um recurso mal colocado e não reaproveitado.
Face à perspectiva - algo assustadora - de que certas matérias-primas estão em vias de se esgotar e face ao que custa cada vez mais consegui-las, compreende-se que a Comunidade Europeia tenha de enveredar pela via do bom senso e que tente responder de, maneira afirmativa, à pergunta:
- Será possível reutilizar ao menos uma parte dos resíduos?
A resposta dada pelo relatório é clara e de bom senso: é desejável e rentável lançar uma política de recuperação cada vez que o valor potencial do material reciclado promete ultrapassar o custo da reciclagem.
Os resíduos "produzidos" pela Comunidade Europeia atingem um valor potencial de 43 milhões de FF (295 milhões de FB). A sua recuperação permitiria economizar entre 20 e 30 milhões de FF (entre 137 e 305 milhões de FB) sobre a factura total da importação da Comunidade que sobe a 860 milhões de FF.
Logo - assegura o relatório - uma economia bastante apreciável.
Não é esta, no entanto, a única vantagem que se poderá tirar de uma tal política.
Há ainda a considerar economias notáveis de energia e uma redução dos prejuízos causados ao ambiente pela extracção de matérias-primas e a destruição ou o armazenamento dos resíduos.
Para atender estes objectivos conviria - segundo o relatório - tomar medidas fiscais ou reguladoras susceptíveis de tornar mais lucrativa a indústria da reciclagem. Sem esse incentivo dado aos industriais, o desperdício continuará.
No actual estado de coisas, os obstáculos que se opõem à realização de uma tal política de reaproveitamento são apenas conjunturais. Não há mais razões de fundo que injustifiquem a reciclagem.
De uma maneira geral, a indústria europeia não se encontra equipada para a utilização de materiais recuperados.
Por outro lado, as considerações técnicas militavam até agora contra uma tal utilização, impedindo uma eficaz recuperação de materiais. É preciso contar igualmente com problemas de organização e educação pública: como conseguir, por exemplo, que as donas de casa façam a necessária triagem entre materiais recuperáveis e irrecuperáveis, evitando que vá tudo para o mesmo balde do lixo?
As autoridades locais, por hábito e por seu turno, bem como os empresários e adjudicatários, pensam em termos de "destruição" e não de "recuperação": È ainda uma questão de mentalidade, de costumes e hábitos.
Apesar de reconhecer todas estas contrariedades, o relatório faz um certo número de recomendações com vista a estimular as actividades de reciclagem:
-Instaurar uma verdadeira política de aprovisionamentos com vista a aumentar a parte dos materiais recuperados na fabricação de produtos industriais;
-Fazer apelo à cooperação dos meios industriais para que seja fixada a especificação dos materiais recuperados e os diversos usos aos quais eles podem servir e, ao mesmo tempo, lançar campanhas de informação;
-Acordar vantagens financeiras para encorajar o prosseguimento das actividades de reciclagem. Se for necessário, convirá encarar a possibilidade de vantagens fiscais;
-Reunir e difundir todas as informações sobre a incidência do problema dos desperdícios e sobre os métodos de recuperação; sobre este assunto, o relatório sugere que a Comissão Europeia abra centros de informação especialmente destinados aos produtores e colectores de escórias e refugos, aos empresários de tratamento de desperdícios e aos utilizadores. Estes centros teriam por função fazer conhecer cada vez melhor as possibilidades de colecta, os métodos de recuperação e a existência de restos susceptíveis de ser recuperados;
-Promover investigações sobre os materiais de recuperação, nomeadamente no que respeita às técnicas de triagem e de melhoramento desses materiais assim como os sete diferentes usos.
Enfim, o relatório conclui que o problema da recuperação e reciclagem é bastante importante para cada um dos Estados-membros da Comunidade e para a própria Comunidade, para justificar a criação de um Comité que teria por missão pôr em actividade um programa ad hoc.
Efectivamente a Comunidade Europeia criou já um Comité de Gestão dos desperdícios, encarregado de favorecer as "trocas de resíduos" entre vendedores e compradores através das fronteiras dos países e aconselhar os industriais em matéria de evacuação de desperdícios.
Por outro lado, a Comunidade financia investigações no domínio da reciclagem do papel, assim como no sector da embalagem: utilização de materiais mais facilmente recicláveis, pôr em uso novos materiais de embalagem, reciclagem e reutilização de contentores, etc,
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(*) "The Economics of Recycling Environmental Resources Ltd'', Ed. Graham &. Trotmas Ltd for The Commission of the EC.
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(**) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 26/5/1979
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EUROPA DESCOBRE ECONOMIA DA RECICLAGEM(**)
(**) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 26/5/1979
26/5/1979 - O desperdício já é rentável. E os obstáculos que hoje se põem à reciclagem sistemática de materiais e resíduos, já não são de ordem económica e muito menos tecnológica. É, pelo menos, o que se conclui de um estudo que a Comissão Europeia acaba de publicar com o título " A Economia da Reciclagem"(*) verdadeira reviravolta nos conceitos até agora consagrados nesta matéria. Conceitos que se verifica serem pré-conceitos e, na sua maioria, lugares-comuns sem conteúdo real...
De repente, a Comunidade Europeia pulveriza uma série de ideias feitas com que se tinha , até agora, tentado impedir uma verdadeira indústria de reaproveitamento e tentado justificar uma Economia absurdamente baseada no desperdício.
O relatório acumula dezenas de argumentos que contrariam tudo quanto até agora era clássico invocar contra o reaproveitamento de materiais, lixos, restos.
E a pergunta impõe-se: é possível reutilizar uma parte, ao menos, dos resíduos?
Ou - como até agora se dizia - a reciclagem implica "custos proibitivos" (sic)?
Para os países da Comunidade Europeia impõe-se dar uma resposta clara, já que a montanha do que se deita fora aumenta de dia para dia e coloca a Europa, neste momento, entre os campeões mundiais do Desperdício.
Eis alguns números apontados no relatório: 49 a 66 milhões de toneladas de escórias e refugos industriais; 40 a 60 milhões de lixos de origem alimentar provenientes quer de cozinhas domésticas quer da indústria alimentar e da agricultura; 160 milhões de restos de hulhas e carvões; 30 a 35 milhões de resíduos minerais; 5 a 10 milhões de escórias metalúrgicas e 10 milhões de toneladas de cinzas siderúrgicas: eis o que, cada ano, a Comunidade Europeia rejeita, joga fora, destroi, abandona, põe de parte, inutiliza, deita no ambiente, polui. Conforme muito bem definiu Mustafa Tolba, presidente do PNUMA (Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente) a Poluição, neste contexto, é apenas um recurso mal colocado e não reaproveitado.
Face à perspectiva - algo assustadora - de que certas matérias-primas estão em vias de se esgotar e face ao que custa cada vez mais consegui-las, compreende-se que a Comunidade Europeia tenha de enveredar pela via do bom senso e que tente responder de, maneira afirmativa, à pergunta:
- Será possível reutilizar ao menos uma parte dos resíduos?
A resposta dada pelo relatório é clara e de bom senso: é desejável e rentável lançar uma política de recuperação cada vez que o valor potencial do material reciclado promete ultrapassar o custo da reciclagem.
Os resíduos "produzidos" pela Comunidade Europeia atingem um valor potencial de 43 milhões de FF (295 milhões de FB). A sua recuperação permitiria economizar entre 20 e 30 milhões de FF (entre 137 e 305 milhões de FB) sobre a factura total da importação da Comunidade que sobe a 860 milhões de FF.
Logo - assegura o relatório - uma economia bastante apreciável.
Não é esta, no entanto, a única vantagem que se poderá tirar de uma tal política.
Há ainda a considerar economias notáveis de energia e uma redução dos prejuízos causados ao ambiente pela extracção de matérias-primas e a destruição ou o armazenamento dos resíduos.
Para atender estes objectivos conviria - segundo o relatório - tomar medidas fiscais ou reguladoras susceptíveis de tornar mais lucrativa a indústria da reciclagem. Sem esse incentivo dado aos industriais, o desperdício continuará.
No actual estado de coisas, os obstáculos que se opõem à realização de uma tal política de reaproveitamento são apenas conjunturais. Não há mais razões de fundo que injustifiquem a reciclagem.
De uma maneira geral, a indústria europeia não se encontra equipada para a utilização de materiais recuperados.
Por outro lado, as considerações técnicas militavam até agora contra uma tal utilização, impedindo uma eficaz recuperação de materiais. É preciso contar igualmente com problemas de organização e educação pública: como conseguir, por exemplo, que as donas de casa façam a necessária triagem entre materiais recuperáveis e irrecuperáveis, evitando que vá tudo para o mesmo balde do lixo?
As autoridades locais, por hábito e por seu turno, bem como os empresários e adjudicatários, pensam em termos de "destruição" e não de "recuperação": È ainda uma questão de mentalidade, de costumes e hábitos.
Apesar de reconhecer todas estas contrariedades, o relatório faz um certo número de recomendações com vista a estimular as actividades de reciclagem:
-Instaurar uma verdadeira política de aprovisionamentos com vista a aumentar a parte dos materiais recuperados na fabricação de produtos industriais;
-Fazer apelo à cooperação dos meios industriais para que seja fixada a especificação dos materiais recuperados e os diversos usos aos quais eles podem servir e, ao mesmo tempo, lançar campanhas de informação;
-Acordar vantagens financeiras para encorajar o prosseguimento das actividades de reciclagem. Se for necessário, convirá encarar a possibilidade de vantagens fiscais;
-Reunir e difundir todas as informações sobre a incidência do problema dos desperdícios e sobre os métodos de recuperação; sobre este assunto, o relatório sugere que a Comissão Europeia abra centros de informação especialmente destinados aos produtores e colectores de escórias e refugos, aos empresários de tratamento de desperdícios e aos utilizadores. Estes centros teriam por função fazer conhecer cada vez melhor as possibilidades de colecta, os métodos de recuperação e a existência de restos susceptíveis de ser recuperados;
-Promover investigações sobre os materiais de recuperação, nomeadamente no que respeita às técnicas de triagem e de melhoramento desses materiais assim como os sete diferentes usos.
Enfim, o relatório conclui que o problema da recuperação e reciclagem é bastante importante para cada um dos Estados-membros da Comunidade e para a própria Comunidade, para justificar a criação de um Comité que teria por missão pôr em actividade um programa ad hoc.
Efectivamente a Comunidade Europeia criou já um Comité de Gestão dos desperdícios, encarregado de favorecer as "trocas de resíduos" entre vendedores e compradores através das fronteiras dos países e aconselhar os industriais em matéria de evacuação de desperdícios.
Por outro lado, a Comunidade financia investigações no domínio da reciclagem do papel, assim como no sector da embalagem: utilização de materiais mais facilmente recicláveis, pôr em uso novos materiais de embalagem, reciclagem e reutilização de contentores, etc,
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(*) "The Economics of Recycling Environmental Resources Ltd'', Ed. Graham &. Trotmas Ltd for The Commission of the EC.
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(**) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 26/5/1979
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