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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-25

MEP 1998

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25-10-98-«FE» JULHO 1983

No âmbito de reuniões efectuadas em Lisboa, na sede da Base FUT - Frente Unitária dos Trabalhadores - e com vista à criação de um órgão ecologista designado «Ecologia em Diálogo» (que herdasse a dinâmica do apontamento radiofónico na Antena 1 com o mesmo título), foi elaborado um documento, entre outros, sobre a conjuntura ecologista nesse momento.
Divulga-se agora para ilustrar um pouco do que então, o ano de 1983, se passava quanto à independência do ecologismo e algumas cobiças que já se desenhavam com o desejo expresso de o controlar (ou controleirar, como então se dizia).

«A questão que se coloca aos ecologistas portugueses na presente conjuntura - Julho de 1983 - é a de mostrar ao poder que têm direito a ser ouvidos como sector representativo da vida e da opinião pública.
A verdade, porém, é que os ecologistas não têm neste momento meios objectivos de mostrar que possuem essa representatividade, enleados num ciclo vicioso que decorre do próprio sistema jurídico legal que regula e regulamenta a representação democrática de indivíduos e grupos.
Somos minoria numérica exactamente porque nos faltam meios de acesso aos órgãos de comunicação social que permitam amplificar a nossa voz e fazê-la chegar a uma potencial base de apoio . O direito de acesso a esses órgãos por seu turno, tem-nos sido vedado porque não somos nem um partido, nem uma classe profissional, nem um grupo de pressão suficientemente organizado e agressivo para impor ao poder esse acesso e esse direito .
A questão é que ter a razão e a verdade não dá automaticamente direito a difundir essa verdade pelos órgãos de comunicação social que a façam chegar a quantos nela estão potencialmente interessados.
A curto prazo não vemos saída para este bloqueio, a menos que o Governo cumprisse a promessa solenemente feita pelo Dr. Mário Soares , durante o almoço que ofereceu em 1 de Abril de 1983 a cerca de três dezenas de ecologistas.
Com efeito, quer Mário Soares, quer Jaime Gama, prometeram o acesso dos ecologistas aos grandes órgãos de comunicação social como a RTP e a RDP.

No que respeita ao ponto mais sensível da luta dos ecologistas - a energia electro-nuclear - é muito possível que o IX Governo vá cumprir o que prometeu no seu programa apresentado à Assembleia da República e que proceda a um debate público sobre a chamada «opção nuclear».
Mas além desse debate estar há muito anunciado e em curso, não sabendo os ecologistas que novidades lhe poderá imprimir o novo governo, não temos ilusões quanto ao perigo que oferecem estes métodos aparentemente democráticos de impor ao país a energia mais antidemocrática do mundo que é o nuclear.
Fala-se em debate no discurso oficial e é possível que se proceda a um seu simulacro mas apenas para que a decisão - certamente já tomada - tenha a cobertura «moral» de uma consulta popular.
Tão pouco temos dúvidas quanto ás fraudes que tal debate pode permitir. E tão pouco ignoramos a desigualdade de forças em presença. Com os meios de comunicação social a que o poder tem acesso de um lado e do outro os ecologistas sem um única publicação em que possam defender os seus pontos de vista, é evidente que não pode haver debate nem diálogo mas apenas monólogo . E enquanto esta relação de forças não for alterada - dando aos ecologistas meios de difusão pública que não têm - melhor será ao poder, por uma questão de primária deontologia, nem sequer falar em debate.
Se esta relação de forças quanto ao acesso da comunicação social se mantiver, o chamado esclarecimento da opinião pública para que decida sobre o nuclear será apenas mais uma ficção para acrescentar às restantes.
Um debate totalmente viciado à partida não pode conduzir a resultados que mereçam o nome de democráticos.

1/Abril/1983 - O maior «bluff» da história do movimento ecológico em Portugal foi, certamente, o célebre almoço que Mário Soares ofereceu, em 1 de Abril de 1983, dia das mentiras, a três dezenas de ecologistas e no qual, entre outras medidas, o Partido Socialista prometia abrir os grandes meios da comunicação social à voz e à razão dos ecologistas.
O Partido Socialista ganhou as eleições, foi poder (Governo) e nunca abriu os órgãos de comunicação social aos ecologistas.
Entre os convidados presentes na reunião de 1 de Abril, dia das mentiras, citam-se:
Carlos Almaça, da Faculdade de Ciências de Lisboa
Alberto Vila Nova, Arquitecto do Serviço de Estudos do Ambiente
Afonso Cautela, do grupo «Frente Ecológica»
Fernando Dacosta, do semanário «O Jornal»
José Manuel Vasconcelos, arquitecto do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico
Fernando Pessoa, arquitecto paisagista, da Secretaria de Estado do Ambiente e da Universidade de Évora
Francisco Abreu, da Reserva Natural da Serra da Arrábida
Viriato Marques, do jornal «Setúbal Verde»
Rui Freire Andrade, presidente da Liga para a Protecção da Natureza
Rui Cunha, das associações de estudantes e movimentos juvenis
António Balau, da página «Ecologia» da «Gazeta da Nazaré»
Carlos Robalo, do grupo «Eco-lógico» de Torres Vedras
João Evangelista, da Comissão Nacional do Ambiente
António Eloy, da Associação Portuguesa de Ecologistas «Amigos da Terra»
Tavarela Veloso, presidente da Associação dos Amigos do Parque Peneda Gerês ( Braga)
Nuno Oliveira, do Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem (Porto)
Cruz Júnior, almirante, da Direcção Geral da Protecção Marítima
Álvaro Penedos, da Faculdade de Letras do Porto
Nuno Lecocq, arquitecto, do Parque Natural da Ria de Aveiro
António Fonseca, do Comité Anti-Nuclear de Lisboa
Ribeiro Ferreira, Jornalista de «O Tempo»
João Luís Oliveira e Costa
Jorge Leandro, da Associação Livre de Objectores de Consciência
José Luís de Almeida e Silva, do semanário «Gazeta das Caldas»
João Santos Pereira, do Departamento de Silvicultura do Instituto Superior de Agronomia
José Almeida Fernandes, do Serviço Nacional de Parques e Reservas
Mendes Vítor, do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica


«ECOLOGIA EM MOVIMENTO»:PROJECTO CÍVICO DE INTERVEÇÃO POLÍTICA

Ecologistas hoje somos alguns. Amanhã - e se queremos que haja amanhã- teremos que ser todos.

16-19/Abril/1983 - «Pôr em marcha um projecto cívico de reflexão e intervenção sobre os graves problemas do Ambiente que afectam a população portuguesa» era o objectivo do grupo que, em 1983, lançou, sob a designação de «ecologia em Movimento» , uma série de iniciativas, entre as quais se destaca um ciclo de filmes e colóquios na Fundação Calouste Gulbenkian, entre 16 e 19 de Abril daquele ano.
Dizia o seu manifesto de apresentação :
«Ecologia em Movimento» agrupa pessoas que decidiram conjugar esforços para pôr em marcha um projecto cívico de reflexão e intervenção sobre os graves problemas de ambiente que afectam a população portuguesa:
Esta oficina de ideias, informação e prática tem como objectivo reunir pessoas interessadas em:
- diagnosticar a crise ecológica nas suas raízes e causas mais profundas
- propor soluções radicais ou medidas de reforma para resolver alguns desses problemas a curto e médio prazo
- propor alternativas aos sistemas e modelos de desenvolvimento macroeconómico que agravam a crise dizendo que a resolvem
- organizar dossiês informativos sobre os casos mais candentes da realidade ecológica portuguesa, para que os especialistas explorem com dados técnicos esses dossiês
- debater com o governo central e as autarquias as premissas ecológicas fundamentais das várias políticas sectoriais
- constituir-se como interlocutor , moral e tecnicamente válido, do poder central e do poder local no âmbito dos problemas do ambiente
- fazer circular a informação fundamental junto da opinião pública, com iniciativas de animação cultural-
- obter, coligir e sintetizar os dados científicos mais actuais sobre as grandes áreas da economia (energia, indústria, planeamento, regionalização)
- contribuir para uma leitura ecológica dos problemas quotidianos sofridos pelas populações e que afectam negativamente a sua qualidade de vida
- provar, através do estudo metódico e sistemático, que toda a acção política precisa de ser iluminada pelas ideias e pela actualização constante dos dados mais recentes e rigorosos fornecidos pelas ciências humanas e do ambiente
- através de seminários e reuniões de trabalho, preparar activistas e animadores de cultura ecológica, para que possam intervir, conscientemente e armados de argumentos seguros, em defesa dos princípios de ecologia humana e sua aplicação prática na vida quotidiana dos cidadãos
- através de correspondência, boletins internos e outros meios de intercâmbio informativo, manter a ligação constante com professores, alunos e grupos locais interessados em prosseguir um trabalho análogo de qualidade
- Organizar um fundo documental, com recurso a filmes, diaporamas, livros, publicações, fotocópias, exposições itinerantes, etc. e que possam auxiliar o trabalho de animação desses grupos.
Se te interessar este trabalho de pensamento, cultura, informação e animação ecologista, vem estudar connosco os dossiês mais urgentes.
Há trabalho para todos.
Queremos ser, como colectivo, uma voz independente e fazer das ideias uma arma, em defesa da vida e da natureza.
Sem desprezar a acção (imediata, não violenta) postulamos, na luta ideológica, a inteligibilidade crítica como o campo privilegiado do nosso trabalho.
Pensar a realidade e os problemas humanos dos nossos compatriotas é a nossa maneira cívica de fazer política.
«Ecologia em Movimento» não quer ser apenas um repetidor mecânico de slogans, cassetes, ideias feitas, frases ocas.
A imaginação também é para nós uma ferramenta de trabalho. Ultrapassar o bloqueio das dicotomias viciosas geradas nas ideologias de superestrutura que dominam o sistem, é a nossa meta e o nosso método.
Errando se caminha, por isso se caminha pondo à prova , na experiência, postulados geradores de acção.
Somos um desafio às instituições anquilosadas do poder, aos aparelhos e mecanismos corporativos.
Hipótese e experimentação - convém lembrá-lo - são duas operações do método científico. Ciência para nós é assim um esforço dialéctico de compreender a realidade em movimento para em movimento a transformar.
Entre a poesia e o rigor, o sonho e os factos, a utopia e o realismo, a estética e a política, «Ecologia em Movimento» será a dialéctica criadora, o desenvolvimento e o progresso que propomos.
Vem trabalhar connosco neste projecto de aventura e esperança.
Ecologistas hoje somos alguns. Amanhã - e se queremos que haja amanhã- teremos que ser todos.
16/Maio/1983
*
Integravam o grupo de lançamento de «Ecologia em Movimento», os seguintes nomes:
António Duarte
Afonso Cautela
António Eloy
António Fonseca
António Franco
Artur Tomé
Fernando Pessoa
Franklin Silva
Gertrudes Silva
João Reis Gomes
Joffre Justino
Jorge Leandro Rosa
Jorge Murteira
José Afonso Faria
José Manuel Lopes
Júlio Valente
Mário Cruz
Rocha Barbosa
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