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2006-05-30

MACROBIÓTICA 1979

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30-5-1979

A MACROBIÓTICA E A CLASSE MÉDIA

Palavras-chave deste texto:

Contrários complementares
Descolonização cultural
Dialéctica taoísta
Discernimento
Espiral da criação cósmica
Higiene pública
Intercâmbio energético
Medicina preventiva
Ordem do universo
Polaridade
Princípio único
Reconversão de consumos
Sabedoria popular
Técnicas de autosuficiência
Violência médico-cirúrgica


«Diz-me o que consomes, dir-te-ei quem és»

30/5/1979 - Se o homem é o que come , como afirma a macrobiótica e Michio Kushi reafirmou mais uma vez nas conferências que realizou a convite do movimento macrobiótico português, teremos de saber em que medida essa expressão é uma metáfora.
Se tomarmos o «alimento» no sentido estrito, isto é, o que, depois de cozinhado, se tira do prato e mete à boca, afigura-se arriscado afirmar que o homem é apenas o que come, porque o ser vivo e por maioria de razão o homem em sociedade, é função do meio em que vive, dos constrangimentos ambientais (favoráveis ou adversos) e do comércio biológico, do intercâmbio energético que se estabelece entre ele e o Ambiente.
Sem tomar aquele provérbio à letra, deveremos então traduzi-lo por outro: «Cada indivíduo ou cada povo é aquilo que consome». E ficaremos mais próximo da verdade, subentendo nos consumos o que o ser vivo retira do ar envolvente, do ambiente electromagnético, das radiações e vibrações, das ondas curtas, longas e médias, etc...
Em uma das suas lições mais interessantes, Michio Kushi falou de comida fisicalizada (legumes, cereais, vegetais, frutos, carne, ovos, etc) e falou de comida não fisicalizada: mas ambas as categorias são alimento.
«Diz-me o que consomes, dir-te-ei quem és» e «pela boca morre o peixe» - eis dois aforismos da tradição popular portuguesa livremente adaptados aos tempos modernos e à tradição taoísta que Michio Kushi ensina . Nesse veio de sabedoria popular temos um dos pontos radiais da doutrina alimentar ou dietética mais aberta e tolerante que se conhece. Mais de acordo com a ordem do universo.

NADA É PROIBIDO TUDO SE PAGA

Sempre zelosos de proibir alguém de alguma coisa, pretendem alguns puritanos e puristas - vegetarianos, carnívoros e assim-assim que a macrobiótica é a arte de pribir una alimentos e autorizar outros.
Nada mais falso e errado. A grande via da dialéctica taoísta não proíbe nada, a não ser aquilo que entra no campo do puro homicídio: a química , o conservante, o corante, o refinado, o alimento industrializado, etc.
De resto, a macrobiótica deixa ao discernimento de cada um escolher a dieta que lhe serve, na certeza de que, segundo a lei do Karma, «tudo neste universo se paga pelo justo preço.» Tudo.
Para os que acreditam na ordem do universo e nas leis imutáveis da natureza, para a macrobiótica zen e para Michio Kushi - a mais estável e evoluída expressão de síntese entre Oriente e Ocidente - as leis desta ordem do universo são imutáveis e as infracções a essas leis não se chamam «pecado» - como na teologia cristã ou na moral de Confúcio - mas chama-se doença. A infracção à ordem do universo é a doença. Logo, recuperar a saúde é reaproximar-se de novo dessa ordem da qual nos afastámos por ignorância, arrogância, orgulho, sofística.
A punição, portanto, não é de ordem moral nem legal, é física, psicosomática, material. A punição é a doença. E todos, portanto, têm o direito de estar doentes, se é esse o seu desejo, se é esse o seu grau de discernimento cósmico (quer dizer, ecológico).
Cada qual - indivíduo ou povo - é o que consome e cada qual (indivíduo ou povo) é livre de consumir o que lhe dão, impõem ou ele conquista.
Talvez a idiossincrasia do povo português possa ser explicada, em grande parte, pelos consumos aqui predominantes ao longo de séculos e ao longo dos últimos anos: batata, cerveja, vinho, cereais refinados, frutos quimificados, etc, podem perfeitamente compor um quadro do nosso carácter colectivo, dos nossos problemas, das nossas contradições e até de certos maioritarismos que se exibem como bandeira quando, no fundo, e à luz de uma óptica rigorosamente científica, são apenas dramáticos handicaps nossos. Consumindo o que consumimos - futebol, batata, publicidade, fado - não admira ser o que somos.

Para a ética macrobiótica não existe nenhuma noção ou tentação moralizante: existe, sim, um jogo dialéctico de contrários complementares, de antagonismos complementares, yin-yang, as duas forças do universo.
É jogando com esses complementares, é apoiado pelo princípio único que o ser humano progride na espiral da criação cósmica , na espiral da evolução. Depois de saber que alimentos são mais yin e que alimentos são mais yang, e como se distribuem essas duas emanações de energia ki sobre toda a biosfera, o ser humano possui a bússola para se orientar na dialéctica dos contrários, para seguir através das tempestades não às cegas mas com os faróis do discernimento.
Daqui resulta uma outra noção - a de polaridade - fundamental nos ensinamentos de Michio Kushi.

CONTRA A MANIPULAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM

Acusados embora de elitistas pelos que só entendem a reivindicação operária a nível de exigências salariais e outras exigências de carácter quantitativo - aliás justíssimas - eis que os «grevistas» ao supermercado dos consumos perigosos, à indústria alimentar, aos tóxicos da sociedade de consumo, aos refinados, corantes e conservantes, significam um importante movimento de contestação, partilhada principalmente por uma classe média até agora mais sensível ao cancro médico, à exploração da indústria médica e aos absurdos do consumo médico.
O operariado - mais sujeito à tirânica política das caixas de previdência e dos serviços médico-sociais, mais na dependência e na beata ou incrítica adoração do médico - tem acordado mais lentamente para uma reconversão dos consumos em geral e dos consumos alimentares em particular, para a descolonização do seu corpo.
Não quer dizer, porém, que entre as associações macrobióticas hoje existentes em Portugal não se encontrem trabalhadores que já descobriram a burla da medicina e que procuram na cosmologia materialista dialéctica do taoismo yin-yang um caminho de autosuficiência em geral e de autocura em particular.
Alguns acusam de elitistas os seminários realizados em Lisboa por Michio Kushi, vindo de Boston, e para burguês o custo de frequência do curso, afinal um curso completo contra a alienação e contra a exploração do homem pelo homem.
Deveriam antes acusar a inépcia, a ignorância e a malevolência das autoridades ou entidades sanitárias e de higiene pública em Portugal, ou a total inoperância da medicina preventiva que muito coerentemente não apoiaram nem poderiam apoiar a vinda de Michio Kushi, dado o carácter subversivo do sistema por ele proposto, dada a importância das técnicas de libertação e auto-suficiência que ele ensina e dado o carácter revolucionário, de radical e profunda descolonização cultural, que o self government terapêutico-alimentar ensinado pela macrobiótica, coadjuvado pela massagem iatsu, pela acupunctura, etc. promove.
Acham caro um curso de Michio Kushi, ele que ensina a técnica da libertação.
Mas não acham caro pagar por uma consulta a eminente especialista o mesmo preço (o facto de as caixas pagarem não modifica em nada o fundo do problema, pois será sempre o povinho contribuinte a pagar essas e outras) para ficar mais doente, mais escravizado à medicina e possivelmente sem algum órgão vital, dos muitos órgãos que a medicina está sempre pronta, via cirurgia, a extirpar-nos.
Pagar trinta contos para ficar sem rins é um progresso da ciência e ai daquele que estiver contra o progresso, porque lhe tiram então os dois rins.
Pagar mil escudos para se libertar de toda essa carniceria e carnificina, para construir um mundo novo sem bisturis, sem cirurgiões, sem violências médico-cirúrgicas é um abuso burguês só para benefício de burgueses.
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