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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-30

VIA YIN-YANG 1979

79-05-30>

VIA MACROBIÓTICA: ALTERNATIVA À DESTRUIÇÃO

É mais um texto (publicado) que procura a interface entre ecologia e alimentação (ecologia alimentar), entre biocosmologia yin yang e cosmologia restrita que é a ecologia tout court. Serviço Nacional de Saúde que significa apenas Serviço Nacional de Doença surge, talvez pela primeira vez, nesse texto. Está hoje, 20 anos depois, mais actual do que nunca: estamos a pagar todas as consequências desse equívoco de chamar saúde ao que é apenas doença e proliferação logarítmica da doença. Este texto comprova de como o yin-yang foi uma rampa de lançamento para o estudo generalizado e sistemático das energias (baptizado já nos anos 90 de Noologia). Aliás a ideia de economia energética - necessária à sobrevivência planetária - surge bem nítida neste texto. Estava encontrada uma das chaves da ecologia alimentar, chave por sua vez da ecologia e do ecologismo em geral . Presente também a ideia-chave de que certas coisas - como a fome, a poluição,a doença em geral e o cancro em particular, o desemprego - nunca terão solução porque há muita gente a lucrar com a fome, a poluição, a doença, o desemprego. O desperdício alimentar e energético em geral é outra ideia deste texto que nunca conseguiu vingar nos meios ditos ecologistas, mais atentos à casuística da anti-poluição e outras questões marginais acidentais. Sem dar por isso mas este texto foi fortemente influenciado pelo relatório do senador Mc Govern, que então tinha sido divulgado em tradução portuguesa, através de um folheto ainda hoje histórico, e já difícil de encontrar. Não sei se recuperei algumas ideias deste texto para o projecto que redigi sobre Tecnologias Leves no Eco-desenvolvimento de Cabo Verde. (3/Setembro/1999)

30/Maio/1979 ( In «A Capital» e «Jornal da Via macrobiótica»?) - Reconverter consumos e adoptar novos hábitos alimentares não é apenas uma questão higiénica ; não é apenas uma solução terapêutica para evitar doenças e curar outras; não é apenas uma questão estética e de bom senso ou bom gosto; não é apenas uma maneira de o homem ser cada vez menos macaco, menos porco ou menos vaca e mais a substância de energia pura e clara que está condenado a ser; é também uma necessidade imposta pela economia doméstica , pela economia agrícola do país e do mundo; e, finalmente, uma necessidade imposta pela sobrevivência do próprio ecossistema Terra.
Mais: adoptar novos hábitos e consumos alimentares é a única maneira de fazer mudar, em três campos fundamentais, a estratégia económica que nos governa e oprime. A escalada da destruição.
Podemos, por uma prática macrobiótica consciente e cada vez mais crítica, determinar mudanças radicais na política de saúde, na política alimentar e na política agrícola.
Daqui resulta a importância decisiva do movimento macrobiótico:
num Serviço Nacional de Saúde que não seja o actualmente previsto Serviço Nacional de Doença;
numa política alimentar que não seja uma política de (crescimento da) fome;
numa política de produção agrícola que não sejam todas as actuais e preconizadas políticas de ruína agrícola e desertificação nacional.
Mais do que manjedoura de arroz, a macrobiótica pode ser a revolução biológica de que fala Michio Kushi.
É tempo de os macrobióticos começarem a ver porquê, como, onde, para onde e com quem, assumindo o papel que lhes cabe nessa revolução.

FOME, DESEMPREGO E DOENÇA: SÃO NECESSÁRIAS AO SISTEMA PARA QUE O SISTEMA EXISTA

Escolher uns alimentos e rejeitar outros, não é só questão de gosto ou paladar, não é só medida profiláctica e preventiva, não é só uma questão de saúde e de higiene pessoal.
Escolher os alimentos é saber que energias queremos e que uso fazemos das energias que temos.
O que queremos e podemos fazer com essas energias.
É por causa desta questão - a economia energética - que a espécie humana e o Planeta Terra dependem de nós: da mudança ou reconversão nos hábitos e consumos alimentares.
Não é possível , não é física e materialmente possível continuar , como até aqui, emborcando pipas de bebidas, comendo carne e peixe, atolando-se de açúcar, refinando farinhas e grãos de cereal, manipulando, industrializando e frigorificando alimentos.
Não é materialmente possível - o Planeta não aguenta, nem os ecossistemas, nem a economia - a irracionalidade do sistema desalimentar actual.
A macrobiótica não será o sistema perfeito e definitivo: mas é até agora o sistema que satisfaz, conjuntamente, o maior número de condições: desde as higiénicas e estéticas até às económicas e energéticas.
Pondo a tónica nos valores qualitativos, ela acaba por ser a única resposta aos problemas quantitativos do grande problema mundial da fome.
Não manipula. Não desperdiça. Não estraga. Não refina. Não fomenta as pragas nas plantas nem as doenças nas pessoas.
Nem sequer um osso ou espinhas deixa no prato...
Quanto mais mastigado for o grão, menos quantidade necessita.
Um regime integral e biológico tende cada vez para menos quantidades. Muitas perturbações de macrobióticos são devidas a comerem demais e mal mastigado.
O problema da fome não é, portanto, técnico. A solução existe. Basta que se desperdice menos, distribua melhor e racionalize não só a produção como o consumo. Trata-se de gerir o capital alimentar que existe: mas os interesses dos exploradores impedem que tal solução seja imediata e universalmente aplicada.
A fome - como o desemprego e a doença - interessa muito mais aos dominadores e imperialismos do que pode parecer. Doentes, mal alimentados e desempregados os homens são muito mais domesticáveis e reivindicam muito menos. Essa a explicação. Uma das possíveis explicações, pois há outras.
Por um lado refinam-se farinhas - mas por outro lado vendem-se suplementos vitamínicos e alimentos adicionados de suplementos proteicos.
Por um lado diz-se que a macrobiótica, regime de alimentação integral, pode criar carências - mas por outro lado não se temem carências de um regime de alimentos desvitalizados, manipulados, refinados, descascados, triturados, empalhados, embalados e levados à quintessência do zero energético.
Por um lado grita-se que não há alimentos - mas por outro é a orgia de desperdício que todos sabem e conhecem.
Queiram ou não, os praticantes da macrobiótica têm a seu cargo uma responsabilidade.
Não é só ter a verdade e explorá-la em proveito próprio do nosso corpinho. A verdade obriga-nos a intervir e a pressionar os poderes públicos.
No âmbito da Unimave ou no âmbito do Jornal da Via Macrobiótica, temos de pensar a sério no Programa Alimentar que estamos obrigados a sugerir ao Governo, programa que não se pode dissociar de um programa de saúde e de um programa agrícola.
Isto para começar.
Alguns pontos do programa que a macrobiótica tem que apresentar ao Governo:
apanha, secagem e embalagem de algas
unidades produtoras de energia solar
unidades-piloto para a produção biológica em geral e em particular dos macro-alimentos que são: soja, azuki, sésamo, painço, milho, beterraba e outras culturas até agora menosprezadas
reciclagem dos lixos orgânicos dos meios urbanos para fertilizantes
reciclagem dos excrementos animais das zonas rurais, com o objectivo de obter gás metano e, ao mesmo tempo, fertilizantes orgânicos da melhor qualidade
ainda a reciclagem : Michio Kushi , no seu ensaio sobre agricultura natural, sugere que os caules de arroz, depois de colhido, sirvam de palha, esteiras, cordas, etc.
Com base no serviço de informação alimentar e ecológica, espera-se que grupos de trabalho queiram constituir-se para ir delineando o que poderá ser o contributo dos macrobióticos a uma eco-civilização digna desse nome, já que a outra está literal e fatalmente condenada.
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