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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-01-28

E. HUMANA 1992

6278 caracteres janº-30> j-c-m> cartas> leituras – notas de leitura – os dossiês do silêncio

MAIS UM PROBLEMA DE ECOLOGIA HUMANA - SÓ A VIOLÊNCIA É PRIORIDADE - IMPERATIVO CATEGÓRICO DO ECOLOGISTA

Lisboa, 30/Janeiro/1992 - O conceito de violência foi sendo substituído pelo de Agressividade. Behavioristas como Konrad Lorenz, Rémy Chauvin, Louis Millet, Skinner, usam predominantemente o conceito de agressividade, pondo no homem (na natureza animal do homem) o ênfase que dantes era posto no contorno ambiental, na sociedade, na circunstância, no meio.
Isto equivale a uma viragem de 180 graus na tese que até então prevalecera em correntes «ambientalistas» ou «mesológicas», incluindo sociólogos e psicólogos marxistas: a Violência -- diz essa tese -- estaria fundamentalmente na sociedade e o homem, motivado pelo Meio (Ambiente) reflecte, muitas vezes com efeito de «boomerang», essa violência instalada. Muitos «casos de ecologia Humana» poderiam assim ser estudados, por exemplo, na área da criminalidade e da delinquência.
Mas sabe-se que existencialistas como Sartre e Simone de Beauvoir, estiveram -- perversamente? -- muito interessados em demonstrar que o homem era intrinsecamente e instintivamente mau (violento), potencialmente carrasco de si próprio. Com o acento tónico posto no «instinto de agressividade», o etólogo Konrad Lorenz, o psicanalista Friedrich Hacker, o ornitólogo Rémy Chauvin e o psicólogo Louis Millet, colocam à Ecologia Humana um problema redobrado.
Se o mal (violência) está no homem (nos instintos animais da natureza animal que há no homem), que percentagem de violência lhe cabe (nos cabe?). E que percentagem cabe à organização social injusta, à polícia, à universidade, à ciência, à tecnologia, à indústria, ao trabalho, à economia do desperdício, à entropia, à sobre-exploração, à manipulação do homem pelo homem, aos «cartoons», à engrenagem da concorrência, à luta de classes, às incompatibilidades rácicas da epiderme, à intoxicação medicamentosa, aos distúrbios endócrinos por causas alimentares, às disputas políticas, à inveja social, ao mal estar da pobreza, à solidão no meio da multidão, mas principalmente aos «media», aos audio-visuais que alimentam, acordam, fomentam, multiplicam, ensinam e refinam a violência quotidiana, porventura inata na natureza humana? Sairá o capitalismo ileso, com as teses dos «comportamentalistas»? E a tecnocracia limpará como sempre as mãos?
Entre a explicação sociológica ou mesológica da violência (com suas sequelas) e a explicação biológica dos etólogos, psicólogos e ornitólogos (que preferem falar de «agressividade») talvez a Ecologia Humana tenha a recomendar uma pausa, uma terceira via, recorrendo ao conceito de interacção cármica herdado das filosofas místicas do extremo Oriente.
O efeito de «boomerang» que tem toda a acção humana, só é verdadeiramente reconhecido e levado em conta (contabilidade cósmica!...) pelo pensamento místico das fontes orientais. A Ecologia Humana poderá progredir (como forma prática de conhecimento) alguns passos na morigeração da Violência, se advogar as técnicas (alimentares, entre outras) que, como diria Albert Camus, têm apenas o humilde objectivo de «diminuir aritmeticamente a dor do Mundo».
Leia-se violência onde ele escreveu «dor». Em sentido lato, as tecnologias leves ou eco-tecnologias têm esse objectivo: «diminuir aritmeticamente a violência», ajudar quem quer que seja a defender-se dela, a minorá-la. Ao propor-se dispensar a violência dos medicamentos ou da cirurgia -- e das próteses em geral -- a macrobiótica, por exemplo, não é uma seita sectária como alguns dizem mas uma tentativa, uma tecnologia mais, ainda que modesta, de «diminuir aritmeticamente a violência do Mundo».
Zen e Tao, ao que se sabe deles, estão exactamente na mesma linha de acção. Foi Georges Bataille que, ao descobrir «la parte maudite» (sinónimo de Diabo na hagiografia cristã...), identificou esta «parte maldita» com a violência mas simultaneamente com a Entropia, antónimo de Energia, antónimo de Economia. É por isso que às medicinas naturais, «paralelas», «alternativas» se deve chamar mais correcta e simplesmente «medicinas não violentas». Quando se evidencia o carácter não violento das medicinas ecológicas, a fanfarronice médica defende-se com a troça, acentuando a «mariquice» dos ecologistas, acentuando que a violência não é em si mesma critério «científico» que distinga a qualidade de uma tecnologia, de uma técnica médica. Infligir dor e sofrimento é para a medicina normalíssimo e está justificado pela ética médica que, transformando os fins em meios, se rege, não por critérios de amor ao próximo mas de eficácia sintomatológica.
É o «preço a pagar» por um bem adquirido, diz cinicamente a respectiva retórica. Daí à violência intrínseca e institucionalizada da ciência, da tecnologia e da indústria pesadas, vai um passo de formiga. E o megagigantismo com que se violenta o meio natural é não só aceite como glorificado, face aos valores que então se enfatizam: eficácia, metas económicas, lucro, rentabildade, ascensão social, etc.
A Ecologia Humana -- decididamente ainda que menos cientificamente -- vem mais uma vez dizer que o rei vai nu, afirmando que a não-violência é também uma questão de prioridades e de valores.

IMPERATIVO CATEGÓRICO

Se nas democracias europeias e ocidentais se goza o mínimo de liberdade que nos permite escolher -- embora com diminuta margem de manobra -- as «tecnologias não violentas» (medicinas não violentas, alimentação não violenta) é profundamente lamentável que se não faça. O estado histórico ou político de escravatura (e toda a dependência) é duplamente odioso, porque é não só a negação da liberdade, mas porque não permite opções não violentas -- a violência da opressão tem que ser aceite sem hipótese de remissão, ou reclama maior violência. Quem tem a «sorte» de viver em (ainda que relativa e precária) liberdade política, tem a estrita obrigação de tudo fazer para não acrescentar violência à violência do mundo. Tudo fazer para a evitar. Só por isso a ecologia (humana) seria uma Ética, uma norma de vida, um Imperativo Categórico.

ECOLOGIA DA VIOLÊNCIA - BIBLIOGRAFIA BREVE:
«Marcuse», J.M.Domenach, A. Clair e F. Chiropaz, Ed. Moraes, 1970
«Agressividade», Friedrich Hacker, Ed. Bertrand, 1973
«A Agressividade», Louis Millet, Ed. Pórtico, s/data
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ECO-ALTERNATIVAS 1988

energia-1> os dossiês do silêncio

TECNOLOGIAS DE VIDA - DEPOIS DO «CRASH», O DILÚVIO»(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 30/1/1988

30/1/1988 - Retomando a tese defendida no livro «Depois do Petróleo o Dilúvio» - escrito sob a influência do primeiro choque petrolífero1973/74 e publicado poucos dias antes do 25 de Abril de 1974 - , verifica-se que o clima de estagnaflação que então se previa vir a verificar-se, gerado por esses anos deprimentes, tem muitos pontos comuns com o clima de acentuada depressão provocada pela drástica e generalizada baixa das principais bolsas mundiais.
«A depressão vem aí» - dizem alguns observadores em 1987, embora outros, mais optimistas, queiram corrigir o que consideram alarmismo, estabelecendo diferenças acentuadas entre esta crise e a de 1929.
Na perspectiva de uma análise ecológica, o essencial da questão é idêntico na depressão de 1929, no choque petrolífero de 1974 ou no abanão de 1987: intoxicado até aos gorgomilos (e nem só de poluição), o sistema abana-se para expelir toxinas, esmagando alguns com o abanão.
O imperialismo industrial tem as suas regras próprias de funcionamento e, mais ano menos ano, a crise purgativa ou «doença senil do capital-socialismo», manifesta-se em convulsões muito desagradáveis.
Por imperativo higiénico, o sistema vomita-se a si próprio.
2 - Como sempre nos momentos paroxísticos, haverá duas maneiras de ver o mesmo fenómeno: enquanto os porta-vozes do sistema se limitam a passar a certidão de óbito do próprio sistema que durante anos sustentaram, os activistas do contra-sistema, eco-alternativos e ecologistas radicais, dirão que, perante a derrocada, se toma inevitável recorrer às tecnologias de sobrevivência (tecnologias apropriadas ou TA) que eles andam a pregar desde que a realidade as impôs como única saída de emergência para os fantasmas e mitos da utopia tecnocrática.
Para as aflições da inflação, do desemprego, da estagnação económica, o movimento eco-alternativo propõe hoje o que sempre propôs, o desenvolvimento do sector alternativo da economia - o salto por cima - enquanto o macrosistema da macro-economia se convulsiona em crises periódicas, ou se afunda em «crashs» irreversíveis.
O desemprego, a inflação, a estagnação afectam o sistema de que são componentes intrínsecas: terão possibilidade de suportar e sobreviver à crise, os núcleos que tenham criado «bolsas» de resistência na autonomia, na auto-suficiência e no desenvolvimento das tecnologias apropriadas de sobrevivência, nas eco-alternativas de vida.
No minuto final, no momento da verdade, os sobreviventes do «holocausto» procurarão as soluções alternativas ao sistema económico em derrocada, mas fá-lo-ão desordenadamente, caoticamente.
O que os movimentos eco-alternativos autónomos andaram dizendo, sem que ninguém os ouvisse, estes anos todos de euforia altista, alternada de «sustos», «quedas» e «soluços», é que o menos e o melhor que se poderia fazer era preparar os «dias difíceis», desenvolvendo a liberdade, desenvolvendo o eco-desenvolvimento, desenvolvendo as tecnologias leves, desenvolvendo a autarcia e a autosuficiência de grupos e pequenas comunidades, desenvolvendo as artes práticas e artesanais, desenvolvendo o «faz tu mesmo», desenvolvendo as pequenas soluções (o «small is beautiful»), desenvolvendo os movimentos sociais independentes, os grupos e movimentos de cidadãos, utentes e consumidores.
É o que os eco-altemativos andam a dizer às pessoas sem que os surdos dos neo-capitalismos e neo-liberalismos eufóricos de triunfo balofo percebam seja o que for. Demasiado absorvidos a comer ratazanas vivas, andam, de facto, os megalómanos desenvolvimentistas, os defensores dos dinossauros industriais, os planejadores de complexos de indústria pesada, os autores e fautores do holocausto e que agora, perante os primeiros sintomas da derrocada, se limitam a dizer, como a EDP, que não sabem porque rebentam as caixas, ou, como a CP, que não sabe porque chocam os comboios.
A «falha humana» é, como se sabe, nomenclatura obrigatória em qualquer discurso que se preza.
4 - Se os escritores, profetas, ideólogos do eco-desenvolvimento não foram ouvidos, não foi porque dissessem asneiras, porque fantasiassem utopias, porque propusessem absurdos, porque contassem mentiras.
Não foram ouvidos porque falavam a verdade pura e simples da evidência, porque eram estruturalmente realistas e nunca alimentaram fantasmas de «ismos» e «logias», porque propunham a lógica indiscutível das soluções ecológicas.
Se a humanidade mergulhar em outra depressão económica, igual ou pior do que a de 1929, não será por falta de soluções e saídas eco-alternativas, por tecnologias de vida e de sobrevivência, por motivos de fé e de esperança na capacidade divina dos homens para criar e melhorar a obra da natureza.
Será pura e simplesmente por estupidez tecnocrática, por cegueira mental de gananciosos, por arrogância e pesporrência, por mania das grandezas, por cupidez do mais, mais, sempre mais até rebentar e partir a cabeça, por culpa dos cientistas vendidos aos impérios do lucro industrial, por culpa dos mercados da morte, da doença e da alienação, dos propagandistas da banha da cobra nuclear, por avidez dos «fazedores de dinheiro» e seus divulgadores nos «mass media».
Somem isto tudo e terão como resultado a «depressão» - para a qual, no entanto, os seus autores ou co-autores olham com ar de fingido espanto como se, de repente, tivesse caído do céu.
Com a depressão vai haver, se Deus quiser, muitos suicídios. Mas aqueles que, como eu, mais vezes se sentiram tentados a suicidar-se, na solidão de tantos anos a falar pró-boneco e a ladrar no deserto, na chatice de um quotidiano sem imaginação, sem paixão, sem qualidade, sem timbre, sem nada nem sequer perfume, talvez agora tenham um novo motivo de fé para lutar, «in extremis», pela sobrevivência e pela Terra de todos.
Pela sobrevivência de todos - digo - e também dessa meia dúzia de dinossauros que, finalmente, talvez estejam prontos a vomitar quanto engoliram, na grande farra que agora chega outra vez ao fim.
5 - «Depois do Petróleo, o Dilúvio» era o título de um ensaio escrito em 1973 e publicado em 1974, onde me permitia comentar as teses de Ivan Illich à luz dos acontecimentos recentes da guerra do Kipur e respectiva interrupção da torneira petrolífera.
Nessa altura, os ingénuos e bem intencionados acreditavam que era preciso exercer uma pedagogia intensiva no sentido de divulgar as alternativas à crise e permitir às pessoas desligar do circuito totalitário para ligar ao circuito convivial das auto-suficiências.
Suprema ingenuidade essa, com efeito. Divulgar as alternativas só serviu, afinal, para os donos do Poder mandarem vir rapidamente as bibliografias mais exaustivas e actualizadas, mandarem construir as suas próprias casas ecológicas, adoptar eles próprios os bons e suaves princípios das tecnologias leves, enquanto nas direcções-gerais, nos ministérios, na Assembleia da República, nos jornais, mandavam o escriba debitar o já crónico e habitual discurso, anterior a 1973, do expansionismo, da indústria- pesada, das vantagens que há de entrar no Mercado Comum, do crescimento e do desenvolvimento, enfim, do energivorismo paranoico.
De caminho, enquanto lhe plagiavam as teses e as ideias, mandavam calar o ecologista, cobriam-no de ridículo, acusavam-no de alarmismo, catastrofismo, dramatismo, etc
A mudança foi, para eles, vertiginosa e vantajosa. Enquanto os ecologistas se digladiavam entre si, os engenheiros pesados organizaram-se para se documentar sobre todas as energias limpas e tecnologias leves, onde os seus bancos poderiam investir com toda a segurança.
É o fenómeno mais interessante depois do 25 de Abril. Enquanto as campanhas para a industrialização e poluição do País, prosseguiam, enquanto a mentalidade energívora ganhava tons de ave canora e prima-dona em todos os areópagos científicos onde, em Lisboa, se fazem colóquios, enquanto a neurose expansionista passa a psicose e a histeria se transformava numa epilepsia desenvolvimentista, os próprios que discursavam nos colóquios e congressos para a entrada no mercado comum, já se preparavam para fazer a barbinha com água aquecida por colectores solares, planos.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 30/1/1988
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NUCLEAR 1979

gulag-2- inédito ac de 1979 - 5 estrelas – diário das siglas – eu inteiro entre partidos – os guardas do gulag

NUCKEAR E PARTIDOS EM 1979 (*)

0 P.S.D. INTERROGATIVO NO CONSELHO DA EUROPA

30/1/1979 - Nada se sabe da posição oficial que sobre a energia nuclear nutrem as forças representadas no  seio da Aliança Democrática.
Nem dos Reformadores, nem do CDS, nem do P.S.D.
Este remeteu para os seus órgãos de juventude o encargo de protestar contra as centrais nucleares... Em 16 de Maio de 1979, o semanário "Povo Livre", órgão daquele Partido, publicava uma moção aprovada em Conselho Nacional da Juventude Social Democrata, exigindo, no seu ponto 2, "que a construção da central nuclear de Ferrel não se inicie sem que se dê por concluído, por referendo, o debate nacional e público sobre alternativas energéticas para o desenvolvimento."
Esta a posição da Juventude Social Democrata. A nível das mais altas cúpulas do PSD, nada mais se sabe, até hoje, do que foi afirmado por Helena Roseta, deputada deste Partido na Assembleia da República, ao discursar , em Dezembro de 1977, numa reunião do Conselho da Europa sobre "aproveitamento da energia nuclear".
A ilustre parlamentar , com efeito, primou pela ambiguidade, dizendo:
" Ainda ontem, quando da minha inscrição para usar da palavra nesta sessão, perguntaram-me: a Favor ou contra?"
Intimada desta maneira a definir-se, Helena Roseta espraiar-se-ia assim:
" Falsa questão para mim, pois a opção nuclear não pode e não deve ser feita abstractamente, " a priori ", mas sim como resultado de uma reflexão séria, ampla, participada e, tanto quanto possível, desdramatizada no que se refere às vantagens e aos riscos que comporta e que variam evidentemente de país para país, de região para região.".
Sem dramatismos, portanto, Helena Roseta adensa-se na "reflexão séria e ampla do problema":
“A nossa capacidade de prever o futuro é muito limitada" - disse - " e o principal esforço a fazer, creio, ao nível dos cidadãos dos diferentes países europeus é um esforço sério de informação - sem o qual a participação democrática nas decisões será sempre falseada."
No final da sua intervenção, a deputada Helena Roseta mostra-se-ia relapsa a "profecias escatológicas” e a "respostas já feitas", ao formular quatro perguntas no sentido de saber se "uma opção nuclear se justificará entre nós".
No campo interrogativo das perguntas, deixava o PSD a sua posição, em pleno Conselho da Europa:
"Será realista prever uma taxa de crescimento económico elevado, exigindo desde já um compromisso irreversível no plano nuclear e a consequente concentração e centralização da produção, agravando o desequilíbrio regional existente?
" A dependência económica de países como o nosso não irá aumentar com a opção nuclear, tendo em conta a inexistência de tecnologia nuclear entre nós?
" A disponibilidade de uma matéria-prima como o urânio deverá ser um argumento bastante forte para nos determinar, tendo em conta o facto de que o urânio representa apenas 10% do custo final da energia nuclear?
" A pequena superfície e a extensão do nosso litoral não porão problemas de escala e dificuldades para a escolha dos locais de implantação das centrais?."

"O DIA" ABRAÇA (FINALMENTE!) O P.C.P.

A posição do CDS é igualmente impenetrável e apenas se pode perceber alguma coisa através de jornais que lhe são afectos, como " O Dia", onde, já por três vezes, o seu cronista de televisão se tem mostrado frontalmente adepto do Nuclear sem restrições
Vamos transcrever da secção "TV dia-a-dia", assinada pelas iniciais R.D.S., passagens suficientemente elucidativas:
Em 30 de Janeiro de 1980 escrevia aquele cronista de "O Dia”, em referência a um programa do canal 1 onde tinham prestado declarações a Adriano Cerqueira o ministro Álvaro Barreto e o investigador Eurico da Fonseca :
" Não houve praticamente uma palavra acerca da Energia Nuclear, a única que consideramos capaz de pôr cobro à chantagem dos países produtores de petróleo.”
E não deixando lugar a dúvidas sobre a sua persistência e coerência, o cronista R.D.S. sublinhava:
" De facto, de há muito que nos batemos, nesta coluna, pela instalação em Portugal de Centrais Nucleares. "
E tomando , como sempre, o ponto de referência P.C.P. , o cronista do jornal " O Dia" retomava o equívoco que ele e muitos se têm empenhado em alimentar, sabe-se lá porquê.
Pondo a sua própria posição pró-nuclear como termo de contraste, admoestava ele "o PCP quando este fazia cerrado ataque a tal hipótese e mobilizava a berraria do costume para que não fosse aceite pelos governos no pós 25 de Abril."
Isto afirma o articulista de "O Dia", que acrescenta:
" Na realidade, o nosso ponto de vista era e continua a ser simples: possuímos urânio e não nos é possível continuar a ceder, totalmente, à ganância dos que detêm as reservas de "ouro negro".
Mas todas estas suposições ficavam feitas em pó , no dia 29 de Janeiro de 1980, com a intervenção do deputado Sousa Marques (PCP) na Assembleia da República, que decidiu não dar mais pasto às ofensivas calúnias de muitos jornais da direita que teimavam em colocar o PCP no campo dos anti-nuclearistas.
De uma vez por todas, o PCP disse, repetiu e trizou que era a favor do nuclear, obrigando o próprio cronista de «O Dia» a confessar que se "enganara" , durante tantos anos, quando supostamente atribuíra ao PCP, malévolas intenções contra o Nuclear.
R.D.S. faz acto de contrição:
" Acontece que o PCP fez, há dias, uma viragem de 180 graus e apareceu , na Assembleia da República, pela voz de Sousa Marques, a defender ponto de vista igual ao nosso".
Sublinhando o regozijo com que o colaborador de "O Dia” vê finalmente as suas posições identificadas com as do P.C.P, R.D.S. entusiasma-se e avança:
" Mais: aquele deputado afirmou - e bem - que uma Central Nuclear pode ser construída de forma que, do seu funcionamento, não resultem danos para as populações."
E sem deixar lugar a quaisquer dúvidas ou zonas de sombra - tudo claro! - o cronista diário de "O Dia" rematava com júbilo:
"Dificilmente estamos de acordo com o P.C.P. mas, neste caso, muito nos agrada que tivesse mudado de ideias e viesse ao nosso encontro. "E isto porque a instalação de Centrais Nucleares, no nosso País, é de interesse nacional."
Em verdadeira apoteose, este abraço "nacional entre " O Dia" e o P.C.P. faz prever cenas comoventes na Assembleia da República em que, finalmente, iremos ver as bancadas tradicionalmente inimigas, dar as mãos e marchar, unidas, para o futuro nuclear e a bem do "interesse nacional".
Finalmente, e depois de tantos equívocos, de tantas calúnias, de tantos jornais terem atribuído ao PCP intenções que não eram nem nunca foram as suas, começa a fazer-se justiça e a dar o seu a seu dono. O nuclear ao PCP e o PCP ao Nuclear.
Aliás, só quem anda desatento, quem não acompanha os editoriais de "O Diário", quem não lê os proficientes artigos do eng. Frederico de Carvalho e do Dr. Fernandes Forte , ora no "Diário de Lisboa", ora na revista "Poder Local", ora nos vários órgãos sindicalistas que reflectem a linha C.G.T.P. - Inter, só quem não viu a monumental reprimenda passada pelo "O Diário" aos autarcas que se manifestaram em solidariedade para com os "alcaldes" que protestavam contra a central de Valdecaballeros, só quem não se arrepiou com o solene tau-tau do mesmo editorial contra a União de Sindicatos de Beja que, dias antes , igualmente se manifestara em solidariedade com os alcaldes, só quem anda, de facto, por outro mundo é que poderia ter dado crédito a essa pura inventona de jornais da Direita atribuírem ao P.C.P. intenções de campanha anti-nuclear .
Intenções que este prestigiado partido nunca teve nem podia ter, até porque desde cedo sentiu necessidade de se demarcar relativamente a essa "cambada" dos ecologistas e outros que tais.
Honra lhe seja feita, não só à sua coerência, mas também à sua firmeza de posições e ao seu indefectível patriotismo. Quando os outros se calam ou ficam no vai-vém das ambiguidades, o PCP tem sido claro, pão-pão, queijo-queijo.
O PCP tem sido o que mais vezes publicou, o preto no branco, a sua indefectível e lógica apologia da indústria nuclear em geral (noblesse oblige) mas também das centrais espanholas junto à fronteira portuguesa e, até, da central portuguesa de Ferrel, desde que do modelo canadiano (igual ao soviético) e desde que o Programa Nuclear Português enveredasse pela linha dos super-regeneradores, em que a União Soviética possui a tecnologia mais avançada do Mundo.
Uma central imperialista ianque - nunca . Mas uma central imperialista soviética - sim, sempre, já.
É pena que só agora o cronista de "O Dia" tenha reconhecido a coerência notável de quem sempre se manteve firme numa só posição e numa só fé.

P.S.:O ENIGMA CONTINUA

Quanto ao PS, é um enigma.
A nível de autarquias, conhece-se a posição assumida, com clareza e vigor, por Abílio Curto, presidente reeleito da Câmara Municipal da Guarda, que vem trabalhando, com os autarcas da província de Salamanca, para uma frontal oposição à prevista disseminação nuclear nesta zona, nomeadamente o suposto cemitério de resíduos atómicos (?) de Juzbado. Cemitério ou estação de reprocessamento?
Quanto à central nuclear de Sayago, a 9 Km de Miranda do Douro, vários foram os autarcas socialistas que assumiram posição contra, dando apoio ao Comité Anti-Nuclear de Miranda do Douro. O presidente da Câmara da Régua foi várias vezes notícia e as suas posições contra Sayago seriam classificadas de "caciquismo" por um artigo que o "Diário de Lisboa" publicou, da autoria do eng. Frederico de Carvalho e Dr. Fernandes Forte. Artigo que, nesse mesmo jornal, seria contestado por Afonso Cautela.
Entre as Câmaras do Baixo Alentejo que se manifestam contra a central de Valdecaballeros, a de Moura foi a que manteve maior firmeza, como o presidente de então nos diria, na entrevista que lhe fizemos para "Portugal Hoje." Também a União de Cooperativas Livres do Baixo Alentejo (C.O.L.B.A.) , próxima do P.S., se manteve coerente na defesa da Reforma Agrária e do Rio Guadiana contra a central nuclear instalada nas cabeceiras desse rio.
As câmaras de Vila Real de Santo António e de Castro Marim, igualmente PS, aprovaram moções de apoio e solidariedade aos "alcaldes" que em Vila Nueva de la Serena lutaram contra Valdecaballeros.

A ÓPTICA CIENTÍFICA

" Nós não fomos no passado contra a instalação de centrais nucleares e não somos hoje a favor" - afirmou, na Assembleia da República, em 29 de Janeiro de 1980, o deputado do Partido Comunista Português, Dr. Sousa Marques, que acrescentou:
" Analisamos estas questões numa óptica científica, tendo em conta os interesses sociais, económicos e políticos do nosso povo."
Eis um dia histórico, não só para a indústria nuclear internacional, a festejar bodas de ouro, mas para o povo português: ter um deputado amigo do povo, que na bancada de um importante Partido igualmente amicíssimo do Povo fala, com ciência, do progresso nuclear, é caso de regozijo nacional.
Investindo ofgantemente contra o deputado do PPM, o orador Dr. Sousa Marques teve, às tantas, esta saída ainda mais científica do que as outras:
" Fala-se por aí muito do perigo nuclear, mas o nuclear existe em todo o lado. O sr. deputado também é radioactivo, os senhores deputados do PPM são radioactivos, e são radioactivos porque não estão fossilizados há mais de cinco mil anos."
Queria o doutor , com esta brincadeira - que arrancou "risos gerais" à digníssima Assembleia, como relatava ipsis verbis o respectivo boletim da Ordem - quereria o ilustre deputado insinuar com isso que não é radioactivo nem o PCP, o que levaria à lógica de que estão, um e outro, fossilizados há 5000 anos?
O riso dos monárquicos levou democraticamente o sr. deputado republicano (lagarto, lagarto) a sentenciar: " Não se ria , sr. deputados (sic). Estamos a tratar de assuntos sérios e, de facto, lamento que com o seu riso demonstre que não está a perceber totalmente o que lhe estou a dizer."

DUAS COISAS A NOTAR

Duas coisas há a notar nesta notável intervenção histórica do Dr. Sousa:
- as "amplas liberdades democráticas" de mandar o colega deputado não se rir;
- pelos vistos, ninguém da A.R. percebera , dado que os risos tinham sido “gerais” como assinala o cuidadoso boletim daquela Casa.
Mas vamos seguindo, que ler este boletim é melhor do que ler "A gaiola aberta".
Sempre com o facho do progresso na mão direita e o rigoroso exclusivo da verdade científica na esquerda (até mesmo quando esta se confunde, aos ouvidos de todos os deputados, como anedota hilariante) o Dr. Sousa pontificou sobre a segurança das populações, disparando assim:
" Hoje, com falsos argumentos científicos e alarmistas, pretende-se assustar as populações, particularmente aquela que vive nas zonas ribeirinhas da Região do Douro, dizendo que a instalação da central nuclear pode pôr em grave perigo não só a vida das próprias pessoas como o próprio futuro da nossa indústria de produção de vinho do Porto."
Indignado com mais esta prova da ingratidão popular - e seu lastro reaccionário - , o Dr. Sousa (que se confessa sócio da Real Companhia Vinícola) investe forte e feio com o facho da verdade na mão direita e o gládio da justiça na esquerda (ou vice-versa):
"Isto é totalmente falso" - rouquejou ele - " desde que se cumpram todos os requisitos para preservar a segurança da central nuclear instalada em Espanha."
Apoiado, doutor: a menos que faltem os preservativos a que alude, como pode haver dano, perigo, desastre, calamidade ou holocausto?
E porque hão-de andar estes eco-terroristas a lançar campanhas "alarmistas" quando para ameaçar de guerra nuclear, todos os dias, todos os povos do Mundo, bem bastam as duas superpotências. Querer, em matéria de alarmismo, de rebates falsos, de chantagens , de fingir que põem a humanidade à beira da guerra nuclear, fazer concorrência às duas superpotências, é de facto inadmissível.
Nunca as mãos lhe doam, doutor, nem lhe caia o facho da mão.
O facho do progresso, claro!
Remetendo o leitor para este naco antológico da história parlamentar portuguesa (vide "Diário da A.R.", de 30 de Janeiro de 1979), não resisto, no entanto, a mais uma citaçãozinha deliciosa, que bem demonstra os cuidados postos pelo sr. deputado em respeitar o princípio sagrado e consagrado pela ONU: " a não ingerência nos negócios internos de cada país..."
Releia-se esta passagem de ressonâncias bíblicas:
" Nós não temos nada a ver com a política energética que é definida pelo Governo espanhol. O que nós temos a ver" - disse o Dr.. deputado como se falasse à Eternidade - " e temos que procurar que aconteça, é se o Governo português cumpre a obrigação de ter em conta a defesa e preservação da qualidade de vida e do meio ambiente do nosso país, nomeadamente nas regiões fronteiriças onde estão a ser instaladas as centrais nucleares espanholas."
Ingrata assembleia que, após isto, não irrompeu em irreprimíveis aplausos. Perante Naco de Verdade Revelada como esta, pergunto eu: É ou não claro? É ou não científico? É ou não patriótico? E democrático? E respeitador da não ingerência nos negócios do País vizinho?
Quem , melhor do que um deputado PCP, para respeitar e fazer respeitar este princípio da não ingerência?
No mesmo tom implacável, problemático, sergiano-cartesiano-experimental, o orador decreta:
" Para nós, sr. Deputado " - dirigia-se ao PPM - " há uma grande diferença entre a ecologia e a pseudo-ecologia ou, se me permite, entre os ecologistas e os pseudo-ecologistas. De facto, a protecção da Natureza e salvaguarda do Meio ambiente, não se faz contra o progresso científico e técnico, mas servindo-se dele."
Milhões de cartas , vindas de ecologistas de todo o Mundo, choveram no hemiciclo de São Bento, pedindo, rogando que o Dr. Deputado explique, ofgantemente, ao Mundo o que é afinal de contas ecologismo e ecologia. Irra que tardava!
Preocupadíssimo com o respeito pelo princípio da não ingerência nos negócios nucleares de Espanha, o sr. deputado é outras vez histórico, bíblico, épico. À santíssima trindade que era para Salazar indiscutível, ele acrescenta o Nuclear.
A Deus, Pátria e Família faltava mais esta:
" Naturalmente não se discute que cabe às autoridades espanholas decidir sobre o programa nuclear do seu país."
Ainda que seja sobre a fronteira do povo português.
Os ossos do velho de Santa Comba remexeram-se um pouco, incomodados pela concorrência, mas acalmaram. Porque o sr. Deputado, passando do científico ao cómico, jogava esta para a sossega:
" A experiência de funcionamento das cerca de 200 centrais nucleares existentes no mundo mostra que uma central nuclear pode ser construída de forma que, do seu funcionamento, não resultem danos para as populações."
Consta que já foi encomendado a um escritor neo-realista, galardoado com prémios da APE, para glosar este tema numa obra que seria considerada o II tomo de "Os Lusíadas" a editar pela Editorial Descaminho.
*
(*) Texto obviamente inédito, mas é pena: deu-me imenso gozo passá-lo no scanner e deixá-lo para a posteridade. Acho que, olhando para trás, não tenho que me arrepender do que escrevi. E principalmente do meu ódio aos guardas do gulag, que nunca foi tanto como hoje, 13 de Junho de 2001. Só com os comunistas todos metidos numa central nuclear (podia ser a de Tchernobil) me sentiria minimamente reconfortado.
***

ARTES DE CURAR 1985

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CONSUMIDOR DE MEDICINAS ENTRE DOIS FOGOS

30/Janeiro/1985

Palavras-chave deste texto:

Artes de curar
Autocura
Autoresponsabilização
Combate à doença
Consumidor de medicinas
Descolonização do doente
Ecologia humana
Ecomedicinas
Lógica de mercado
Magistério da saúde
Mecenato
Medicina energética
Medicinas diferentes
Medicinas doces
Medicinas ecológicas
Medicinas não ortodoxas
Medicinas naturais
Medicinas que curam
Medicinas suaves
Mercado da doença
Ortodoxia médica
Paciente
Peso kármico
Self-control
Técnicos de medicina natural
Tecnologias apropriadas de saúde
Terapeutas alternativos
Utente de saúde
Autores citados :
Ivan Illich

CONSUMIDOR DE MEDICINAS ENTRE DOIS FOGOS

Tudo indica que o movimento das eco-medicinas está crescendo , apesar das dificuldades ou exactamente por causa delas.
Mas é também agora, em momento bastante crítico, que se podem analisar melhor os problemas internos de uma classe que, verdade seja, nunca fez autocrítica nem trabalhou muito pela sua própria dignidade e defesa.
Relativamente à resposta para a pergunta fundamental na perspectiva política - quantos somos? Quantos consumidores de naturoterapias existem? - relativamente aos dados numéricos que constituíssem a base de apoio , bem pouco ou nada se fez.
E mesmo agora, que se reúne de urgência face aos acontecimentos...
Quando a «Frente Ecológica» , com o objectivo de fazer um primeiro recenseamento, lançou um inquérito exactamente para saber, em termos numéricos, a ordem de grandeza e a força das medicinas naturais, não se pode dizer que o acolhimento tivesse sido brilhante.
Quase todos se refugiaram no segredo profissional, alegando que não podiam revelar, por exemplo, número de clientes que atendiam por dia, etc (problemas com o fisco?...).
Aliás, a classe dos técnicos naturoterapeutas, sempre ocupada consigo própria, não tem tido tempo de dialogar com o seu interlocutor principal e seu aliado natural, o público, o consumidor, o paciente, abandonado, aqui como no resto, à sua própria sorte e solidão.

Daí que o Atelier Yin-Yang lance mais um projecto, além dos muitos que tem lançado no vazio : é urgente, já agora, uma Associação de Utentes de Serviços de Saúde (AUSS) , o interlocutor que falta para que toda esta agitação, polémica em torno das medicinas não seja mera tagarelice .
Curioso, também, que só agora se tenha percebido que o reconhecimento da naturopatia passa pela política.

Há já indícios  de que nem todos os partidos estão dormindo, nem todos ignoram a importância social (e portanto eleitoral) do movimento que se joga nas ecoterapias.

 Foram, também aí, os partidos no poder que criaram as condições para que o Dr. Sá Marques, precisamente em 30 de Janeiro de 1985, dia em que o Ministério da Educação mandava fechar a escola de Medicinas Alternativas de Braga, assinasse no jornal do Partido Comunista «O Diário» um rasgado elogio das medicinas tradicionais, etc., etc, que devem ser apoiadas, etc., etc.

Era tão bom que os políticos, já que não podem ser inteligentes, fossem menos demagogos e percebessem ao menos de política.

PACIENTES SOMOS NÓS

Transparência é o que não se poderá esperar nas actuais lutas entre as duas ordens estabelecidas: a do poder médico e a dos que se dizem constituir uma alternativa ecológica a esse poder médico.
Ambas as partes invocam a defesa do utente-doente-consumidor, como alvo último e primeiro dos seus desvelos, dos seus cuidados primários de saúde.
Exigiria a transparência, porém, que se dissesse não ter o utente, o doente, o paciente, nada a ver com isto, como aliás nunca teve, além de contribuir obrigatoriamente para a agora dita Segurança Social ( Previdência Social, na outra ditadura) que se nega, terminantemente, a subsidiar tudo o que não sejam caríssimos medicamentos químicos e caríssimas cirurgias.
A perseguição dos governos e das ordens às artes de curar do «self-control» - as únicas a que cabe o título de democráticas - com perseguições e acções em tribunal a terapeutas, mostram bem que a democracia, o interesse do público e o famigerado utente nada tem a ver com isso.
Era mais honesto, lindo e limpo dizer que cada um (cada poder, cada ordem estabelecida) puxa a brasa à sua sardinha.

Servirá uma greve de médicos o público utente?
Mas com a greve dos médicos, quem beneficia?
Talvez os utentes, que ficam uns tempos sem cuidados médicos intensivos...
Servir o utente-doente-paciente será democratizar o acesso da maioria às alternativas ecológicas, às práticas de self-control de saúde, às artes de autocura, únicas democráticas além de eficazes, únicas que poupam milhares ao orçamento de estado, únicas que podem impedir a proclamada e tão anunciada e parece que desejada bancarrota da Segurança Social.
Servir o doente-utente-paciente é isto.
Porque não há-de o negócio, a empresa, a indústria, o capital apoiar as manifestações ditas culturais?
Nada se faz sem dinheiro, é sabido, e portanto há qe, sem complexos, aceitar esta lei universal de funcionamento do macrossistema que vive de ir matando os ecossistemas.
O primeiro que conseguir fugir à lei inflexível do mercado, que diga.
Baptista Bastos diz ao diário «O Europeu» (Fevereiro/1989) que aproveitou a rampa de lançamento em que o marketing o colocou, para ... lutar ao serviço da verdade, da sua verdade que é a de um homem dito de esquerda como ele constantemente afirma que é, não vá alguém duvidar.
Já José Saramago recusou a adaptação do seu livro ao cinema norte-americano, por razões éticas, por considerar que isso «bolia» com a sua dignidade de intelectual de esquerda.



UM ÚLTIMO AVISO DE BOA VONTADE

Andam os meios profissionais da Naturopatia em grande efervescência. E o caso não é para menos.
Além das lutas intestinas em que habitualmente se digladiam oficiais do mesmo ofício, em natural e saudável concorrência para obter a preponderância no mercado da doença,
São de molde, no entanto e também, a suscitar um movimento geral de autoresponsabilização, chamando todos os naturoterapeutas a uma rigorosa autocrítica e a uma paciente cura de humildade.
Que, ao menos, não façam como o Governo, que se limita a fechar portas, olhos e ouvidos, ficando, na sua interminável política do avestruz, mudo, cego e paralítico a todas as vozes, ideias, apelos e sugestões dos consumidores em defesa dos seus ecodireitos de saúde. Que ao menos se mostrassem mais abertos e dialogantes que a inviolável estupidez do poder estabelecido, era o mínimo que se podia esperar dos profissionais em terapias naturais.

NATUROPATAS OU DOUTORES EM ANTIPATIA?

O campo das medicinas ditas naturais não é propriamente um campo santo de humanismo e filantropia.
O mercado, com sua lógica e suas leis inelutáveis, impõe uma guerra sangrenta e permanente, em que o consumidor, também chamado paciente ou doente, feliz ficará se lhe deixarem ao menos a camisa.
Tudo certo e liberal, claro, pois é a economia que temos e não soubemos ainda fazer outra.
Estamos num país livre - diz-se - e cada um é senhor de usar e gozar os privilégios que neste momento recebeu do santo pai do céu, sem ninguém ter nada a ver com isso.
Numa perspectiva legal, sem dúvida: é possível tirar a pele a terceiros, que isso não manda ninguém para o purgatório.
Do ponto de vista moral e sem querer entrar em moralismos, é muito, muito mais discutível de que tudo esteja assim tão certo.
Isto, se acreditarmos que há um trono no Céu e que nele se encontra sentado o distribuidor absoluto da justiça, neste mundo ou no outro.

É o minuto solene da verdade e por isso há que dizer: o suposto ou proclamado humanismo das medicinas diferentes, não é ainda, de modo algum, cura para doença nenhuma e muito menos da alma.
Falando-se de autocura e como se calcula, é esta a questão: não adoecer de cancro da alma, a pretexto de que se trata do corpo.
Há quem vá descontando, neste mundo, com penas e desgostos, o peso kármico de uma herança que parece incumbir a todos - e daí a ideia de justiça universal imanente.
Mas há quem pareça passar ileso por este mundo, sem uma beliscadura, embora tripudiando e esmagando tudo o que encontra, na missão nobre e cristã, embora suspeita, de aforrar o que aos outros é tirado.


QUANTOS SÃO?

O consumidor de terapias naturais tem vivido em Portugal à margem do processo democrático, como se fosse um elemento perigoso dentro do corpo social, num clima de suspeição por parte das entidades de saúde que, em vez de incentivarem a prevenção e a iniciativa individual, antes as hostilizam, menosprezam ou claramente combatem.
Há uma inversão total de valores nas relações, pouco amistosas, entre os utentes das medicinas livres e as entidades ou autoridades que se dizem responsáveis, em princípio, pela saúde, pela higiene pública, pela qualidade alimentar, etc.
Um argumento pode e deve ser invocado neste momento para fundamentar a necessidade urgente de mudar esta situação: o número de utilizadores das medicinas que curam. Não só o número que já existe, apesar de todos os entraves e perseguições, mas o número que potencialmente se presume, logo que as medicinas livres saiam da clandestinidade e possam publicamente ser conhecidas e reconhecidas, oficialmente apoiadas e sistematicamente subsidiadas.
As associações de utentes na área das medicinas leves, representarim a força social que daria legitimidade a estas reivindicações.
Não se trata de uma elite. Trata-se, numa estimativa muito superficial, de um décimo da população portuguesa que quer curar-se em vez de tratar-se. Décimo que facilmente pode ir até 50% da população, logo que «beber um copo de água» deixe de ser um «acto médico» e portanto só aplicável por médicos encartados.
Se as entidades estão efectivamente dispostas a defender a saúde dos portugueses, devem entrar em diálogo com as organizações associativas, cooperativas e profissionais que hoje agrupam em Portugal os que defendem as autoterapias alternativas, quer dizer, a descolonização do doente face ao monopólio médico, a desinstitucionalização da instituição médica.
Se o objectivo é melhorar o padrão da saúde pública, tão degradado como os próprios governantes reconhecem e apesar da tão poderosa e gloriosa medicina que temos, aquele diálogo torna-se não só moralmente indispensável como politicamente urgente.
(?).É neste enquadramento político-social que este projecto se apresenta a quem possa dar-lhe atenção.(?)

IMORAL E ANTI-CONSTITUCIONAL

Se ainda temos medicina natural em Portugal, à medicina química o devemos.
E por duas razões principais, além de outras:
a) Por um lado, os poucos casos em que a Segurança Social se digna comparticipar tratamentos considerados «não ortodoxos», têm que ser devidamente «autenticados» com receitas do médico que segue a ortodoxia química;
b) Por outro lado, os naturopatas que continuam a poder atender, tratar e curar doentes só o fazem, só estão autorizados a fazê-lo por especial complacência da classe médica, quer dizer, daqueles médicos «verdadeiros» que concedem o grande favor de lhes dar «cobertura oficial».
Esta dependência dos naturopatas em relação aos alopatas, que sobre nós têm poder de vida ou de morte, é humilhante além de ser degradante para ambas as partes.
A situação oficialmente admitida é imoral: tal como as coisas estão, os naturopatas encontram-se virtualmente nas mãos dos alopatas; só o facto de as pessoas, apesar de tudo, serem menos más do que o sistema, continua permitindo um mínimo de cordialidade e de humanidade nas relações entre duas forças tão dispares.
Por outro lado e à luz do estado democrático que nos dizem existir como regime implantado no País desde o 25 de Abril de 1974, a semiclandestinidade em que os naturopatas continuam trabalhando (e curando) é uma anomalia.
E anticonstitucional, além de ser, como se disse, imoral.
Num regime que se jacta de europeu, democrático e pluralista, é como excrescência do antigo regime corporativo, que teremos de ver esta obrigada clandestinidade e ilegalidade em que continuam a trabalhar os médicos que curam.
E os que se querem curar pela medicina que cura.

CARREIRAS PROFISSIONAIS - O IMPULSO DECISIVO

O bom senso indica que as ecoalternativas só serão uma força, quando souberem jogar o jogo político com as instituições estabelecidas, de modo a ficarem, com elas, em pé de igualdade no terreno. São os chamados, em gíria, os «interlocutores válidos».
O autodidactismo, portanto, é uma atitude ideal e pura, as alternativas, se forem radicais, devem, como queria Ivan Illich, rejeitar o colaboracionismo com as instituições, neste caso e nomeadamente a instituição universitária.
Menos radicalismo e mais realismo, no entanto, aconselharia também aí a criar uma instituição paralela, independente das que vigoram.
Uma escola aberta, flexível e prática, sem o peso da máquina institucional que está no poder, será no entanto necessária. É o que tenciona fazer a Associação Nacional de Pesquisa para as Medicinas Alternativas?(Ver estatutos em anexo) : organizar cursos de preparação técnica a todos os níveis, criando categorias profissionais (à espera de oficialização) que irão dar às práticas terapêuticas alternativas o suporte necessário ao seu desenvolvimento.
«Técnicos de medicina natural», «terapeutas alternativos, «monitores de acupunctura e terapias energéticas» são formas intermédias de preencher o vazio actual no que respeita a uma hierarquia profissional que decida da questão fulcral: «Quem avaliza quem?».
Até à independência e para mal dos nossos pecados, terão de ser os médicos a avalizar o seu inimigo principal, os naturoterapeutas. O que é, obviamente, a máxima perversão dentro de um processo perverso.
Tudo tem que ficar muito claro, neste campo, e para isso é necessário pormenorizar até ao concreto quem tem que responder às questões formuladas.
É com uma certa razão que algumas actividades ditas ecologistas se têm classificado de «folclóricas», quando não gratuitas, exactamente porque desfasadas desta dialéctica de confronto com as instituições estabelecidas, nomeadamente a instituição escolar e universitária.
Tem havido uma teimosia persistente em perder tempo, energias, dinheiro, pessoas com aquele tipo de acções que se desfazem no próprio momento em que se realizam. Tudo se desfaz em pó, não há sequência, nem um ponto de referência fixo, recomeça-se, como Sísifo, pontual e permanentemente de zero, em cada dia, em cada minuto.
Escusado será dizer que o establishment em geral e o establishment médico em particular, aplaude, contente, todo este pontualismo casuístico e inconsequente.

MAIS BONS TÉCNICOS E MENOS MAUS DOUTORES

Só Deus sabe como o estado higieno-sanitário deste País subdesenvolvido, carece muito mais de técnicos de saúde, higienistas, preventistas, sanitaristas, terapeutas e de primeiros cuidados ou primeiros socorros do que de altos especialistas a 50 contos a consulta.
Conta com alguns handicaps, sem dúvida, esta luta da naturoterapia pelo direito à vida. Mas o tempo se encarregará de fazer cair, a certos doutores naturopatas, a crista e a petulância charlatã.
Não será, a partir de agora, qualquer um que mete anúncios pomposos com títulos atrás ou à frente do nome.
Essa é a tarefa crucial, neste momento, para o movimento naturoterapêutico em particular e o movimento ecologista em geral : sanear o muito que ainda há por aí de podre.
Sem esse saneamento, o poder médico estabelecido continuará a cantar de galo, fazendo que toda a classe dos naturoterapeutas pague pelas argoladas de meia dúzia.
Diz-se que os naturoterapeutas orientaram predominantemente a sua actividade para o negócio.
Em parte é verdade. Mas é verdade também que os não naturopatas levaram dezenas de anos a fazer o mesmo e a dar o bom exemplo.
É verdade, por outro lado, que os naturoterapeutas não perderam a noção da realidade e que se prepararam para a luta com o poder, o que não aconteceu com o sector macrobiótico, por exemplo, que também se orientou para o negócio sem a contrapartida de ter criado, em paralelo, a estrutura capaz de valorizar a «classe» e impor o movimento ao poder, por via da qualidade urbi et orbi reconhecida.

NATUROPATIA CURA MAS NATUROPATAS DESCURAM

Será a classe dos naturoterapeutas capaz de fazer autocrítica?
Será a classe capaz de se mobilizar para um esforço de autoqualificação e de autodignificação?
Será a classe suficientemente unida para aceitar o contributo de todos?
Será a classe capaz de, internamente, separar o trigo do joio?
Será a classe capaz de apoiar uma «brigada de elite» que tenha por missão travar a batalha ideológica ao nível da qualificação científica que, em matéria de ecologia humana e medicina energética, se deverá antes chamar dialéctica ?
Mais preocupada, até agora, em cultivar o seu próprio umbigo, em ganhar dinheiro, em publicar anúncios de cura por metempsicose, etc., a classe dos naturoterapeutas descurou a sua defesa, quer dizer, não se assumiu, cientifica e ideologicamente, com todas as imunidades e defesas naturais que até possui.
Cura mas descurou-se a si mesma.

MEDICINA NATURAL - TECNOLOGIA APROPRIADA

O problema que se põe em Portugal, relativamente às medicinas naturais em geral e à Acupunctura em particular, é neste momento o das «tecnologias apropriadas de saúde».
Impõe-se, dentro destas tecnologias, separar o trigo do joio, os profissionais honestos dos amadores duvidosos.
O mercado da doença pressiona o aparecimento e a proliferação de todo o tipo de oportunismo. O fracasso estrondoso e colossal da medicina química atira cada vez mais doentes para o fosso do incurável e do impossível. Os doentes fogem para as alternativas. E qualquer lojista da esquina abre banca de naturopata.
Não se pode lançar a toda a classe - a dos naturopatas e práticos das terapias naturais - o anátema que só alguns extraviados merecem.
A organização dos profissionais de saúde em organismos de classe encaminha-se na procura de medidas que venham exactamente «moralizar» e «disciplinar» o sector. Por causa de alguns, não podem continuar a pagar todos.
Mas, à partida, essa associação de classe terá de contar com todos quantos se apresentam no mercado (ao público) sob qualquer categoria ou rótulo ou designação: herbanário ou ervanário ( palavra adaptada do francês «herboriste»), dietologista, acupunctor, massagista, homeopata, psicólogo, parapsicólogo, esteticista, etc.

REPETIR OS MESMOS VÍCIOS?

A desprestigiar a imagem da naturopatia como corpo de profissionais - que é tudo afinal o que a medicina corrente quer - junta-se a especulação desenfreada nos preços que alguns centros de luxo decidem adoptar, talvez para que não se sintam inferiorizados relativamente aos preços de roubo que a medicina convencional pratica.
Não há desculpa para estes abusos que difamam toda a classe dos naturoterapeutas.
E não há desculpa, por 3 razões principais:
a) Porque as pessoas quando procuram uma forma alternativa de medicina, esperam encontrar nela algumas diferenças substanciais;
b) Porque é demasiado patente, em alguns doutorados da Naturopatia, a sua ineficácia por um lado e por outro os preços exorbitantes que praticam;
c) Porque as medicinas leves ainda estão na fase de resistência à ditadura médica, procuram conquistar o terreno a que têm direito, movem-se num espaço de manobra muito pequeno relativamente ao monopólio médico e é por isso necessário, mais do que nunca, prestigiar toda a actividade da naturopatia, não a deixando cair nos mesmos vícios e malefícios da medicina tout court.
Se é certo que muitos médicos alternativos também nos exploram, como seus doentes, de maneira por vezes indecente; se é certo que nem sempre a moralidade prevalece nos seus processos e algumas fortunas colossais se fizeram à sombra da naturopatia, bastante desproporcionais ao mérito dos métodos usados e ao número de clientes atendidos; também é certo que não devemos nem queremos enfatizar esses aspectos negativos de alguns praticantes, o que só iria dar armas ao inimigo principal e comum: a medicina que adoece.
Aliás, o facto de a medicina natural ter permitido a alguns privilegiados ficarem multimilionários só prova, entre outras coisas, que as medicinas naturais, mesmo quando praticadas sem escrúpulos morais, ainda resultam e é para elas que as pessoas acorrem, ainda que se sintam exploradas.
Se mais cedo as medicina alternativas tivessem sido oficializadas, se o trogloditismo de uma minoria o tivesse permitido, há mais tempo que os benefícios estariam muito mais democraticamente repartidos e os monopólios naturoterapêuticos, que se aproveitaram da situação, muito menos gordos.
Prova ainda esse facto que as medicinas alternativas valem pelo que valem, independentemente dos que as praticam, até e mesmo mal.
Se é certo, também, que nem sempre os movimentos associativos e as cooperativas do ramo naturoterapêutico foram exemplares nem dignificaram a causa que dizem defender, é essa outra situação negativa que não deveremos aproveitar para dar armas ao inimigo principal e comum.

A NATUROPATIA AOS NATUROTERAPEUTAS

Se se trata de moralizar actividades e activistas das terapias naturais, o problema é para debater e resolver entre os seus responsáveis. Exclusivamente. Sem ingerências estranhas nos seus negócios internos. Não será a medicina oficial que virá moralizar a medicina alternativa, até porque eles têm lá muito com que se entreter em matéria de corrupção.
Ora o que nós, consumidores de medicinas, não sabemos mas receamos é que se esteja precisamente a preparar essa estratégia de empalmanço: que a medicina se esteja a preparar para empalmar as alternativas que sempre combateu e que pretenda vir moralizar os outros quando ela é a primeira a precisar disso. E que seja ela a dar cartas num jogo onde apenas terão de jogar ou ditar leis quem pertence à casa.
A medicina alternativa aos médicos alternativos. E ponto final.
Que os médicos oficiais já tenham reconhecido o mérito das outras medicinas, que alguns as pratiquem em segredo ou queiram praticar, que constituam mesmo sociedades fechadas para melhor dominarem ciências como a acupunctura ou a homeopatia, OK, tudo bem, é lá com eles.
Que queiram continuar eliminando de cena os praticantes das artes de curar heterodoxas e até agora sacrílegas, artes que eles agora querem usurpar de modo por vezes um tanto canhestro, teremos, enquanto consumidores de medicinas, enquanto portugueses beneficiários da previdência, de protestar e, através do Ministro da Saúde, enviar o nosso protesto até à OMS, que quer saúde para todos até ao ano 2000 e que recomendou o uso das medicinas alternativas nos sistemas de saúde e cuidados primários de todos os países, nomeadamente os de menos recursos financeiros como Portugal.


AUTOCURA - CURA-TE A TI PRÓPRIO

Um dos pontos em que os profissionais da naturopatia não têm sido dignos da arte que manejam é o princípio fundamental de toda a medicina neo-hipocrática: o direito do doente se curar a si próprio.
Tratando-se de uma «tecnologia apropriada» ela dá, por definição, maior liberdade e independência ao seu utilizador, tornando-o menos dependente do médico, do especialista , da autoridade, do técnico, do sr. doutor.
Mas nem todos os naturoterapeutas encaram esse dever e esse princípio hipocrático do «cura-te a ti mesmo» com o mesmo fair play, pois, tal como os médicos tout court, receiam perder clientela.
É a perversão máxima da medicina alternativa enquanto tecnologia de apropriação (da saúde) e consequente desalienação, neste caso a desalienação ou descolonização do doente.
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