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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-05-02

PROSPECTIVA 1970

1-1 - 70-05-02-di> = diário de ideias - terça-feira, 10 de Dezembro de 2002-scan

A PROSPECTIVA - E O CAOS DAS TEORIAS

2-5-1970 - Prospectiva não é ficção (política, história ou ciência-ficção), não é antevisão, hoje, com o auxilio da fantasia mais ou menos delirante e de computadores mais menos electrónicos, do que irá passar-se amanhã, e de como viveremos.
Prospectiva não é, tão pouco, Futurologia.
Prospectiva é uma atitude de espírito que consiste em nos colocar-mos num ponto exterior ao presente - um ponto no espaço e no tempo - de modo a vermos esse presente perspectivado, devidamente perspectivado.
Por exemplo: um indígena australiano que olhasse os costumes ocidentais - se lhe fosse dada essa experiência - estaria situado num ponto prospectivo.
O próprio europeu de hoje que lance um olhar para os costumes da Inquisição - digamos, a exemplo - verificará a que distância se encontra desses bárbaros rituais e situa-se, portanto, num ponto prospectivo de observação.
O mesmo em relação à sociedade actual: conseguir em relação a ela um distanciamento -no espaço e no tempo - que permita perspectivar uma auto-crítica, é posição prospectiva.
Muitos, não há dúvida, são os aspectos deste mundo em que já é possível imaginar o que vai ser um juízo dos homens de um futuro próximo. Quanto mais segura, mais nítida e mais profunda for essa perspectivação, mais prospectiva será a atitude de espírito que a promove.
Supunhamos, por exemplo, o que irá pensar daqui a 10 anos um homem que reveja a maioria dos filmes americanos produzidos hoje; e que leia os nossos jornais; e que se espante com as polémicas entre ismos ou teorias.
"Como era possível" - dirá o homem do futuro e o que é já hoje contemporâneo do futuro - "que eles, perante, por exemplo, o mesmo filme, manifestassem opiniões tão opostas?"
"Como é possível que não houvesse ainda meios de medir matematicamente o mérito de uma obra - filme, livro, peça, romance, poesia - e tal medição, feita com palavras destituídas de rigor e mergulhadas na mais crassa subjectividade, desse motivo a tão odiosos conflitos de pessoas?"
Na verdade, um dos costumes da cultura actual que mais irá ferir a sensibilidade do homem futuro é esse da crítica, que ao homem prospectivo de hoje aparece já como um instrumento vão de análise e medida, um instrumento imperfeito e indigno da nossa época de tecnologia ultra-aperfeiçoada, de pretensos rigorismos, de cientifismo enfatuado.
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ECOLOGIA 1994

O original deste texto hoje bastante censurado encontra-se até ver no computador dentro do respectivo file:

eugenia-1-2-mf- quarta-feira, 16 de Outubro de 2002

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eugenia1-chave- mein kampf 2/maio/1994

SÚMULA ECOLÓGICA NO MUNDO DOS FANTASMAS

+ 10 PONTOS

LISBOA, 2 de Maio de 1994 - Eugénia,: 1 - «Essa ecologia de que somos Cobaia» - diz o título de um panfleto da «Frente Ecológica», em óbvia desmistificação e desmitificação da ecologia enquanto ciência. Mas podíamos parafrasear e dizer «Essa Sociologia de que somos Cobaia». Não impede, num caso e noutro, de continuar a ter a maior ternura por ecólogos e sociólogos. Mas sempre com cada um no seu lugar: eu, portanto, no lugar de Cobaia que me compete, relativamente a ecólogos e sociólogos. Com todo o amor que uma espécie em vias de extinção pode votar a quem ainda a ache digna de observação, análise e laboratório.

2 - Ora aí está: é como uma rã estendida na mesa do laboratório que eu me sinto quando sou alvo das atenções de um sociólogo.
Não fico ofendido e não quero com isto ofender. Apenas reconhecer o facto. Mas nos factos e nas ideias reside um pouco a questão do relacionamento possível entre o sociólogo e a sua matéria de observação, a sua Cobaia. É que, para o bem e para o mal, o meu percurso foi muito menos fazer do que pensar, muito mais ser do que do ter. E o que interessa a um sociólogo são factos, não são as ideias que se aninham num qualquer crânio, não são as variáveis mas as constantes, não são os casos particulares e individuais mas os colectivos e os gerais. Há muito pouca matéria sociológica na «Frente Ecológica» e suas vicissitudes. Foi tudo o romance numa cabeça, eventualmente a minha, outras vezes a de Ivan Illich e Michel Bosquet, com todos os equívocos daí decorrentes, relativamente ao meio ambiente, com o qual, natural e ecologicamente, andei em polémica desde os já recuados anos 60.

3 - Na melhor das hipóteses e como interface entre os factos e as ideias, o sociólogo poderá estar interessado em historiar as polémicas com o Meio Ambiente. É nesse sentido que estou mobilizando a papelada, triando, rasgando, anotando, rearrumando. E pela derradeira vez, espero, porque é já muito tempo de uma curta-longa vida gasto com estas tricas da ecologia e da sobrevivência planetária. Se temos o que merecemos, o que fabricamos, o que produzimos, o que desenvolvemos, porque raio hão-de andar aqui uns sujeitos a fazer de bombeiros a apagar os fogos que os outros vão ateando? Desde logo, é esta a polémica: porquê resistir, se a lógica da destruição é imparável e não vai desistir um milímetro?

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6 - É que tenho um pequeno problema na minha vida: a quem doar, a quem deixar o que resta de uma «Frente Ecológica» desbaratada e que às baratas ficou entregue desde que os portugueses foram a banhos, ou seja, desde as Descobertas do caminho marítimo para a Índia. 3 mil volumes da Biblioteca para os Tempos Difíceis (assim pomposamente chamada!) foram parar à escola secundária de Paço de Arcos. Mas ainda há 20 caixas de textos inéditos, que não sei a quem deixar. As vinte caixas standart dos correios com recortes de imprensa foram, entre outras coisas, para Portimão. Amor com amor se paga, podíamos pois entrar num acordo: desde que me arranjem maneira de resolver este problema de «know-how», sem mais desperdícios e entropias além dos inerentes à matéria física sempre fungível, além dos que já se verificaram com o fenómeno da dispersão. A parte de Ecologia Humana, por exemplo, ligada à Holística, à medicina Natural, à Bioenergética, à Ecologia Alimentar, etc, tenho-a neste momento num impasse, pois está para ser tomada uma decisão desde Agosto do ano passado e eu, com o espólio pendurado, à espera que os do poder (os que decidem) decidam de um sim ou de um não ao que resta de ecologia Humana (recortes, livros, textos publicados e inéditos). Como se vê, tenho um pequeno problema de espaço, quando queria era estar, estendido na praia, a gozar dos raios cheios de ultravioletas.

7 - Voltar ao passado é reavivar ódios e ressentimentos e ressaibiamentos. Odeio odiar, odeio ressaibiamentos: mas mexer nessa papelada (espero que pela última vez) é reavivar isso tudo. Sempre me interessou mais o futuro do que o passado recente. Sempre me interessou mais o passado remoto (antes da chamada civilização) do que o futuro próximo, que é um futuro sem futuro nenhum. Nunca tive memória intelectual e a memória foi no papel, foram os papéis: grande parte desse papel já foi para o contentor do lixo e com ele a minha memória. Ajuda a desapegar, ajuda a uma certa libertação. mas não chega e tenho de continuar insistindo. Ao remexer, a seu pedido, nessas memórias, permito-me também aproveitar a oportunidade para me desembaraçar de mais um lastro: os tais textos inéditos com teses surrealistas sobre ecologia, teses de tal modo anómalas que as cognominei de «realismo ecológico», já que não se pareciam com nenhuma outra ideologia à venda no mercado das ideologias.

8 - Concordo que sem memória é impossível viver nesta terra: e esta geração foi espoliada, principalmente, da memória que interessava, e também aí lhe deram gato por lebre. O discurso democrático do 25 de Abril é bem exemplo dessa troca.

9 - Nunca escrevi nem falei aquilo que as pessoas queriam ouvir: acontece que todos os discursos ditos ecologistas, mesmo os mais inconformistas, afirmam aquilo que as pessoas querem ouvir. A isso chama-se demagogia e eu fui tudo menos um demagogo. Por isso cheguei a esta penúria: de ideias, de memória, de papéis. Mas ainda tenho muito para deitar fora e é esse o meu pequeno problema: descongestionar esta casa que tenho de entregar, ilesa, vazia, ao senhorio. Se os (documentos) publicados já eram um pesadelo de papel(ada) e uma prova incurável da Megalomania do senhor de Paço de Arcos, as caixas de inéditos ultrapassam a mais delirante das imaginações. O que ficou na gaveta, excede, em número e número de páginas, o que foi trucidado pela letra impressa. Mas o Centro de Estudos Sociais de Coimbra vai ter, com certeza, a caridade de receber esses tais inéditos que, para a história das ideias, poderão ter (até) relevância maior do que os publicados. Mas além de um pequeno problema, tenho uma grande dúvida: terão mesmo relevância?

10 - Se me é permitida uma opinião, as ideias, neste processo das frentes ecológicas, são, regra geral, mais relevantes do que os factos; tenho a noção vaga de que a militância ecológica, pela parte que me toca, foi sempre, além de um pesadelo dentro do pesadelo, foi sempre mais virtual do que real. Um mundo de fantasmas, em suma.
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3448 caracteres eugenia2-chave-;cartas

Listagem dos documentos em papel e arquivados e que porventura ainda interessarem

«FRENTE ECOLÓGICA»: PROJECTOS E MAIS PROJECTOS

Algumas datas relevantes em que foram redigidos alguns dos projectos idealizados (e quase nunca realizados) pela «Frente Ecológica»:
Planos de Acção apresentados pela «Frente Ecológica» (selecção de textos manuscritos inéditos por ordem de datas em que foram dactilografados):
1976
29/5/76 -> Curso-Piloto de Ecologia Prática
5/7/76 -> Manual para os Tempos Difíceis -> Plano apresentado à Direcção Geral de Informação, por sugestão do Dr. João Medina, Director Geral da Informação
1978
1978 (?) -> Curso-Piloto de Ecologia Prática e Alternativas de Auto-Suficiência
31/8/78 -> Concurso de Cartazes para celebrar em Portugal o Dia Internacional do Sol
1979
15/Agosto/79 -> Biblioteca para os Tempos Difíceis
1980
Maio/80 -> Gabinete Jurídico de Apoio
1981
Janeiro/81 -> Fundo de Apoio à Resistência Ecológica
14/3/81 -> Proposta da «FE» ao Encontro do dia 14/3/81
22/3/81 -> Serviço de Mini-Livraria
5/6/81 -> Manifesto Alternativo
15/7/81 -> Tecnologias Libertadoras e Formas Alternativas de Vida
1982
1/1/82 -> MEP -> Abaixo Assinado de Cidadãos interessados no relançamento do MEP (assinado: Afonso Cautela, António Duarte, António Fonseca, José Leal, Rocha Barbosa)
6/2/82 -> Projecto «Iniciativa Planetária» - Formado o grupo de Arranque em Portugal
5/4/82 -> Encontro de Imprensa Ecológica e do Patriménio - Projecto apresentado à FADEPA (Federação das Associações de Defesa do Património)
17/4/82 -> Mensagem do grupo «FE» aos participantes da reunião do dia 17 de Abril de 1982
25/4/82 -> Artes e Ofícios que Ainda Vivem
10/5/82 -> Rede Alternativa de Informação Independente
10/5/82 -> Plataforma Intergrupos - Breve Contributo a uma definição das prioridades
13/5/82 -> Projecto Ecológico Independente - Menmsagem nº 1 - PEI - Mensagem 0 - Ocupar o espaço que nos Pertence - Responder ao Desafio que nos é imposto
5/6/82 (21/6/82) -> Criar Associações em defesa da Vida regional ( 6 pgs A4)
14/6/82 -> Ocupar o espaço que nos pertence como Ecologistas: responder ao desafio que nos é Imposto
1983
1983 -> Projecto Informativo no âmbito do MAD (Movimento para o Aprofundamento da Democracia)
29/1/83 -> Novo Anteprojecto do grupo «FE» ao grupo Eco-Lógico
21/3/83 -> Prémio «Resistência Ecológica»
1/4/83 -> Mensagem da «FE» ao PS
28/4/83 -> O Complexo de Culpa de Lisboa estar no Centro (proposta ao MAD)
6/5/83-> Para uma Campanha Nacional Contra o Desperdício de Valores e Recursos
7/6/83-> Os Travestis da Ecologia - Comunicação da «FE», dia 7 de Junho de 1983, na Escola Secundária de Olivais (Chelas)
Julho/83 -> Somos Contra o Nuclear porque somos pela Vida (projecto de manifesto)
30/12/83 -> Carta da «FE» à classe dirigente : Quem salva do Bolor meio milhão de dados?
1985
1985 -> Associação «Projecto Ecologista» - Um Partido, Porquê?
15/6/85 -> Associação Projecto Ecologista - Proposta para avançar Trabalho
1987
12/7/87 -> Prémio António Sérgio -> Investigação Livre

Documentos publicados:

5/3/76 -> Programa «Ambiente», da Ex-Emissora Nacional, transmitido até 25/11/75 às 22.30 das 4ªas feiras
8/12/81 -> In »PH» -> Cidadãos Querem ter acesso aos órgãos do Poder Local
19/1/82 -> In «PH» -> Movimento Alternativo Animado por Grupos de Intervenção Local
-> «Ecologia em Diálogo» -> Um espaço radiofónico na Antena 1
9/6/83 -> O Colóquio de José Luís de Almeida e Silva em Leiria - Realismo e Utopia no Debate dos Ecologistas em Portugal

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