CAPOEIRA 1989
mep-6-ie-ac> = ideia ecológica do ac - ecoequívos – inédito ac de 1989 – diário das siglas – ecos da capoeira
SETE CÃES A UM OSSO:A MULTIDISCIPLINARIDADE
25/1/1989 - "Multidisciplinar", por enquanto, em política do Ambiente, é apenas a multiplicidade dos vários discursos sectoriais, a cargo de profissões que viram no Ambiente e na alegada protecção do dito uma forma de resolver a respectiva crise de emprego e os respectivos problemas no mercado de trabalho, saturado de actividades profissionais rentáveis.
Há muito que a antipoluição, em sentido lato, foi anunciada como a grande indústria do século .
E não faltam empregos para tanta gente interessada.
Uma outra das previsões feitas há muito pelos analistas da actualidade económica é que a Morte e a Doença serão, cada vez mais, a grande indústria do futuro.
"Multidisciplinar", neste contexto de interesses em jogo e de poderes em competição, é a ambição do lucro e um lugar cimeiro na grande indústria que se prepara para ser a exploração do Podre em todas as suas vertentes.
Note-se que "Podre" escreve-se com as mesmíssimas letras de "Poder".
"Multidisciplinar", nesta inflação de discursos pró-ambientalistas e ambientocratas, é a aflição do jornalista que, tendo de ir a todas, sai de lá com a cabeça feita num figo.
Ágil e sem se deixar incomodar com os telexes do Dr. António Eloy, é o engenheiro Macário Correia, que às 15 horas está no Instituto Superior Técnico, falando a engenheiros civis - a grande esperança das 305 autarquias são agora os engenheiros civis reciclados em engenheiros autárquico-ambientais -, enquanto às 18.30 preside, na sala do Hotel Roma, ao encerramento do seminário promovido pela UGT sobre Educação Ambiental.
"Multidisciplinar" foi a palavra-chave nas conclusões do encontro que permitiu reunir, à sombra da UGT, quase duzentos professores do Básico e do Secundário, "sensibilizando-os" para a temática ambiental.
Aliás, a UGT criou, há ano e meio, o seu novo departamento designado de Ambiente, Condições de Vida e de Trabalho, a braços, certamente, na sua vida sectorial, com o carácter "multidisciplinar" de matéria tão vasta mas tão gratificante.
O Instituto Nacional do Ambiente (INAMB) esteve presente, assim como os vários, muitos, outros organismos sectoriais que pretendem inter-disciplinar o azougado Ambiente: Direcção Geral dos Recursos Naturais, Direcção geral da Qualidade do Ambiente, Gabinete de Protecção e Segurança Nuclear, etc.
Inopinadamente preocupada com o carácter "multidisciplinar" dos tempos modernos - a que alguns chamam caos - é a Associação 25 de Abril, a quem agradeço a amabilidade do convite para estar presente num colóquio sobre "As lutas actuais pela qualidade de vida", com um programa coordenado por Beja Santos e onde se incluem comunicações de Gonçalo Ribeiro Telles, Pedro Vieira de Almeida, Fernando Micael Pereira, Maria Helena Roseta e Maria Belo.
Assinado por Vasco Lourenço, o convite da Associação 25 de Abril justifica a iniciativa de questionar a "qualidade de vida" com o "modelo de crescimento" quantitativo" posto em causa por intervenientes do processo histórico que não hesitaram mesmo em "questionar as fórmulas adoptadas ate então (anos 70) face ao progresso."
Entretanto, e a demonstrar como é multidisciplinar e pluralista a endiabrada "política do Ambiente", já um grupo de monárquicos fundara, no princípio do ano, o Instituto D. Diniz, "Ecologia e Desenvolvimento", onde, no elenco directivo, se pode notar uma pluralista gama de tendências: para lá de Ribeiro Teles e Luís Coimbra, que já foram deputados na Assembleia da República, registam-se os nomes de Leonel Fadigas (PS e também deputado) e Vasco de Melo (PRD).
O Instituto D. Diniz conta, entre os seus sócios fundadores, como "O Século" revelava, nomes de várias tendências, comprovando que Ambiente é multidisciplinar e multidisciplinar.
A palavra multidisciplinar foi pronunciada e sublinhada várias vezes na sessão realizada no Instituto Superior Técnico, para mostrar às 305 autarquias portuguesas que a Engenharia Civil está a renovar-se, preocupando-se com Saúde Publica e/ou Saúde Ambiental (a mesma coisa?), quer dizer, com as condições sanitárias em que adoecem as populações.
A três quilómetras daquela sala, em que falaram vários especialistas de Ambiente, numa ponta bastante conhecida de Lisboa, existe uma Escola Nacional de Saúde Publica, onde os especialistas aí formados, por sinal, também se reclamam do Ambiente e sua defesa.
Existe, mesmo, nessa Escola Nacional de Saúde Publica, uma cadeira (disciplina), Epidemiologia, dirigida por uma personalidade carismática - Luis Cayolla da Mota - que tem por vocação ocupar-se de questões incómodas mas reais.
Se o Ambiente deteriora o comportamento, se o Ambiente fabrica doenças e morte, se o Ambiente, em suma, condiciona o dia a dia das pessoas e das populações, é necessário (sic) que uma ciência qualquer se ocupe a provar tudo isto, que o produto tóxico é mesmo tóxico, que o veneno é mesmo veneno, que as radiações ionizantes, embora invisíveis, podem provocar danos visíveis, que os ecrãs catódicos são a praga do século XX, que os vírus não existem (porque existiram sempre) e que uma visão multidisciplinar da realidade leve a uma nova classificação das doenças(em função do tipo de ambiente que as provoca):
doenças da alimentação
doenças da poluição
doenças dos consumos tóxicos e provocantes
doenças da fome
doenças da miséria
doenças do pauperismo e da marginalidade social
Neste quadro, as doenças virais deixam de existir, as microbianas incluem-se nas doenças do terreno orgânico e as parasitoses restam como a única categoria de doença específica e até agora realmente existente nos termos em que tem sido definida. As outras doenças são eufemismos.
Esta tendência multidisciplinar da medicina sanitarista - dada à indagação das causas ambientais, - leva os médicos especialistas que tratam o sintoma a ficar irritados e (como são muitos) a fazerem uma campanha danada contra os sanitaristas.
É assim que interesssantes projectos de investigação epidemiológica, no âmbito das acções concertadas da CEE, marcam passo e pouco andam, em Portugal, com grande desgosto do seu líder incansável que é o Prof. Luís Cayolla da Mota.
***
SETE CÃES A UM OSSO:A MULTIDISCIPLINARIDADE
25/1/1989 - "Multidisciplinar", por enquanto, em política do Ambiente, é apenas a multiplicidade dos vários discursos sectoriais, a cargo de profissões que viram no Ambiente e na alegada protecção do dito uma forma de resolver a respectiva crise de emprego e os respectivos problemas no mercado de trabalho, saturado de actividades profissionais rentáveis.
Há muito que a antipoluição, em sentido lato, foi anunciada como a grande indústria do século .
E não faltam empregos para tanta gente interessada.
Uma outra das previsões feitas há muito pelos analistas da actualidade económica é que a Morte e a Doença serão, cada vez mais, a grande indústria do futuro.
"Multidisciplinar", neste contexto de interesses em jogo e de poderes em competição, é a ambição do lucro e um lugar cimeiro na grande indústria que se prepara para ser a exploração do Podre em todas as suas vertentes.
Note-se que "Podre" escreve-se com as mesmíssimas letras de "Poder".
"Multidisciplinar", nesta inflação de discursos pró-ambientalistas e ambientocratas, é a aflição do jornalista que, tendo de ir a todas, sai de lá com a cabeça feita num figo.
Ágil e sem se deixar incomodar com os telexes do Dr. António Eloy, é o engenheiro Macário Correia, que às 15 horas está no Instituto Superior Técnico, falando a engenheiros civis - a grande esperança das 305 autarquias são agora os engenheiros civis reciclados em engenheiros autárquico-ambientais -, enquanto às 18.30 preside, na sala do Hotel Roma, ao encerramento do seminário promovido pela UGT sobre Educação Ambiental.
"Multidisciplinar" foi a palavra-chave nas conclusões do encontro que permitiu reunir, à sombra da UGT, quase duzentos professores do Básico e do Secundário, "sensibilizando-os" para a temática ambiental.
Aliás, a UGT criou, há ano e meio, o seu novo departamento designado de Ambiente, Condições de Vida e de Trabalho, a braços, certamente, na sua vida sectorial, com o carácter "multidisciplinar" de matéria tão vasta mas tão gratificante.
O Instituto Nacional do Ambiente (INAMB) esteve presente, assim como os vários, muitos, outros organismos sectoriais que pretendem inter-disciplinar o azougado Ambiente: Direcção Geral dos Recursos Naturais, Direcção geral da Qualidade do Ambiente, Gabinete de Protecção e Segurança Nuclear, etc.
Inopinadamente preocupada com o carácter "multidisciplinar" dos tempos modernos - a que alguns chamam caos - é a Associação 25 de Abril, a quem agradeço a amabilidade do convite para estar presente num colóquio sobre "As lutas actuais pela qualidade de vida", com um programa coordenado por Beja Santos e onde se incluem comunicações de Gonçalo Ribeiro Telles, Pedro Vieira de Almeida, Fernando Micael Pereira, Maria Helena Roseta e Maria Belo.
Assinado por Vasco Lourenço, o convite da Associação 25 de Abril justifica a iniciativa de questionar a "qualidade de vida" com o "modelo de crescimento" quantitativo" posto em causa por intervenientes do processo histórico que não hesitaram mesmo em "questionar as fórmulas adoptadas ate então (anos 70) face ao progresso."
Entretanto, e a demonstrar como é multidisciplinar e pluralista a endiabrada "política do Ambiente", já um grupo de monárquicos fundara, no princípio do ano, o Instituto D. Diniz, "Ecologia e Desenvolvimento", onde, no elenco directivo, se pode notar uma pluralista gama de tendências: para lá de Ribeiro Teles e Luís Coimbra, que já foram deputados na Assembleia da República, registam-se os nomes de Leonel Fadigas (PS e também deputado) e Vasco de Melo (PRD).
O Instituto D. Diniz conta, entre os seus sócios fundadores, como "O Século" revelava, nomes de várias tendências, comprovando que Ambiente é multidisciplinar e multidisciplinar.
A palavra multidisciplinar foi pronunciada e sublinhada várias vezes na sessão realizada no Instituto Superior Técnico, para mostrar às 305 autarquias portuguesas que a Engenharia Civil está a renovar-se, preocupando-se com Saúde Publica e/ou Saúde Ambiental (a mesma coisa?), quer dizer, com as condições sanitárias em que adoecem as populações.
A três quilómetras daquela sala, em que falaram vários especialistas de Ambiente, numa ponta bastante conhecida de Lisboa, existe uma Escola Nacional de Saúde Publica, onde os especialistas aí formados, por sinal, também se reclamam do Ambiente e sua defesa.
Existe, mesmo, nessa Escola Nacional de Saúde Publica, uma cadeira (disciplina), Epidemiologia, dirigida por uma personalidade carismática - Luis Cayolla da Mota - que tem por vocação ocupar-se de questões incómodas mas reais.
Se o Ambiente deteriora o comportamento, se o Ambiente fabrica doenças e morte, se o Ambiente, em suma, condiciona o dia a dia das pessoas e das populações, é necessário (sic) que uma ciência qualquer se ocupe a provar tudo isto, que o produto tóxico é mesmo tóxico, que o veneno é mesmo veneno, que as radiações ionizantes, embora invisíveis, podem provocar danos visíveis, que os ecrãs catódicos são a praga do século XX, que os vírus não existem (porque existiram sempre) e que uma visão multidisciplinar da realidade leve a uma nova classificação das doenças(em função do tipo de ambiente que as provoca):
doenças da alimentação
doenças da poluição
doenças dos consumos tóxicos e provocantes
doenças da fome
doenças da miséria
doenças do pauperismo e da marginalidade social
Neste quadro, as doenças virais deixam de existir, as microbianas incluem-se nas doenças do terreno orgânico e as parasitoses restam como a única categoria de doença específica e até agora realmente existente nos termos em que tem sido definida. As outras doenças são eufemismos.
Esta tendência multidisciplinar da medicina sanitarista - dada à indagação das causas ambientais, - leva os médicos especialistas que tratam o sintoma a ficar irritados e (como são muitos) a fazerem uma campanha danada contra os sanitaristas.
É assim que interesssantes projectos de investigação epidemiológica, no âmbito das acções concertadas da CEE, marcam passo e pouco andam, em Portugal, com grande desgosto do seu líder incansável que é o Prof. Luís Cayolla da Mota.
***