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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-02-23

DEEP ECOLOGY 1979

<79-02-24-di> = diário de ideias - ecos da capoeira

LER O MUNDO À LUZ DAS PROFECIAS

24/2/1979 (In «A Capital»?)- Antes que o Carnaval venha, com farras e máscaras, ferrinhos e línguas de sogra - provando afinal que nós, portugueses, precisamos de boa disposição - há quem teime em continuar reflectindo sobre os maus momentos que o país viveu, para tentar retirar desta crise climática as lições que ela comporta. Aprender com esta para, no futuro, enfrentar outras idênticas ou piores.
É fatalidade dos ecologistas preocuparem-se com o lado negativo da realidade. Não pelo gosto ao negro e ao pessimismo, mas porque entendemos a missão de estar no mundo como escola permanente que nunca fecha, mesmo no Carnaval.
O lado triste, trágico ou satânico (crise, cheias, tragédias) do mundo está cá para nos ensinar o que de outra maneira nunca aprenderemos, o que a nossa frivolidade de ocidentais, ao longo de séculos, tem persistido em ignorar: tudo se paga, tudo tem um preço e a uma causa segue-se sempre necessariamente um efeito.
O caso está que quando vemos o efeito jamais nos lembramos que fomos nós a provocar a causa.
Os povos pagãos convencionaram o carnaval pata tirar a barriga de misérias. Vale tudo menos tirar olhos.
A visão oriental, no entanto, difere desta frívola filosofia pagã. Se temos o que merecemose se a dor, o sofrimento, a morte, a doença, a privação, as tragédias, fomos nós, nesta vida ou ao longo de outras vidas, gerações e reincarnações , que as criámos, não é por sado-masoquismo que o ecologista olha a dor, a tragédia, a fome, as aldeias evacuadas, as culturas perdidas, o gado boiando num mar de desolação: é porque tudo isso está aí para nós fazermos a leitura, directa ou translacta, do que tudo isso significa.
O ecologista (quase sempre com uma ponta de profeta) acredita que os acontecimentos são um livro aberto. Grandes sábios e textos sagrados o têm repetido. O mundo hoje é um livro que temos de ler à luz das profecias ... de todos os tempos.
O ecologista tenta perceber em que medida esta grande provação nacional acabada de sofrer, é um aviso, um sinal, um sintoma, uma mensagem. Uma lição. Uma linha torta por onde Deus escreve direito.
Por isso irá reflectir, muito, sobre o que aconteceu e o significado, eso ou exotérico, do que aconteceu.

EM MENOS DE UM SEGUNDO, VOLTAMOS ÀS CAVERNAS

A rede de abastecimento eléctrico esteve por um triz.
Não nos podemos eximir a imaginar o que teriam sido as coisas, se essa distância de um cabelo tivesse sido galgada, como o foi no que respeita ao abastecimento de água para Lisboa, às linhas telefónicas para Lisboa e aos transportes um pouco (ou muito ) por toda a parte.
Sem televisão, lá se ia «O Astro»... Sem jornais, era o reforço do isolamento e da incomunicabilidade. Era o cerco. Talvez só os postos de rádio-amadores e os receptores a pilhas ficassem como alternativas sobreviventes do grande sistema a que, nas inaugurações, se costuma chamar «grande progresso das comunicações».
Veríamos então como o «século das luzes» se apaga com facilidade. Demasiada facilidade. E quando apaga, não deixa alternativas. Talvez nem velas de cera. Talvez nem um candeeirinho de azeite. Talvez nem a petróleo. Vai tudo na enxurrada, porque o progresso, como enxurada, quando inundou o mundo destruiu tudo o que era antigo e primitivo.
Porquê e em nome de quê manter este sistema absurdo? Porquê depender de uma só torneira de energia e combustível? Porquê aceitar o centralismo de uma rede de abastecimentos tão concentracionária como a cidade que serve? Que cérebros efectivamente providentes conceberam tal tipo de progresso e de engrenagem? Como se pode chamar progresso a um sistema que, ao mínimo safanão, nos faz retrogradar às cavernas?
Como não é ainda proibido sonhar, estou a ver daqui, num qualquer ano 2000, o governo suficientemente prospectivo que constitua uma comissão, um ministério ou algo assim pomposo e com folgado orçamento, para investigar absurdos desta ordem de grandeza.
OK, de acordo: a grande electricidade de Portugal é que nos dá a luz e a vida. Mas o (desconfiado) o portuguesinho começa a desconfiar de que, na primeira altura, a célebre estação do Pocinho dispara por tudo e por nada, deixando o país às escuras (especialmente quando politicamente mais convém).
Como seria progressivo, inteligente, airoso haver governos de salvação nacional que pensassem numa rede alternativa a este perigoso sistema tipo «dinossauro» , como ele curiáceo, surdo a críticas e de sobrevivência duvidosa. Tente-não-caias.
Muitos insectos ainda hoje saltitantes, já eram espécies contemporâneas dos monstros pré-diluvianos... o ecologista «torce» pela mobilidade articulada do insecto, contra a elefantíase patológica dos macro-sistemas com pés de barro e sem ofensa para os elefantes que têm o peso esteticamente exacto.

VIVER COM O POUCO QUE TEMOS: AUSTERIDADE ECOLÓGICA

Contradição pouco profunda mas curiosa: nunca teria passado pela cabeça da população sofrer «falta de água» com o país inundado ... Foi mais lógica a sede na seca de 1976.
Mas que a hipótese de vir a suceder isto não tivesse passado pelos cérebros que, engenheiralmente, administram as tubagens e manigâncias dos abastecimentos à cidade, já nos parece imprevisão e imprevidência a mais.
Como podem estar sujeitos a uma infiltração de água os centros motores de captação que abastece 1 milhão e picos de almas?
Dar dois milhões de contos é espectacular, por parte de qualquer governo. Mas não resolve absolutamente nada, quanto a eventualidades futuras, dos prejuízos causados por semelhantes imprevidências e imprevisões.
Com estas imprevisões do tecnocrata, a população aprende sem querer: que bem inestimável é a água, por exemplo. Que bens inestimáveis são os recursos básicos da vida e da terra. Ao lado disto, nada são afinal as mil e uma embalagens de supérfluos ou fantasias de supermercado.
Obrigar a distinguir o essencial do acessório - eis a crise e a calamidade a valer por mil escolas e professores de educação ecológica...
Os xafarizes permitem outra reflexão.
Sempre que o sistema implanta as suas engrenagens triunfalistas - do tipo Companhia das Águas de Lisboa - eis que, para melhor impor o monopólio, as anteriores e seculares formas ou tecnologias de abastecimento sofrem um processo de aviltamento.
Xafarizes, mal a mal como elemento decorativo da cidade dos buracos: se resto, não houve nada que não se inventasse para proclamar que os xafarizes não prestam, estão antiquados, são velharias inúteis. A beleza de alguns tem evitado que o progresso (monopólio) das Epais os arrase de vez. Mesmo o aqueduto, não fosse estar tão agarrado e já teria ido pela pia abaixo na onda de progresso urbanístico.
Mas vem a crise climática de Fevereiro e o triunfalismo fica com a tripa à mostra: não só não prevê nem precavê coisa nenhuma , como corta as retiradas e as alternativas, como arrota de sobresuficiência e arrogância.
Poços, cisternas e depósitos de captação, veio afinal a saber-se que alguns hospitais, no auge da aflição, ainda foi o que lhes valeu para lá dos bem-aventurados bombeiros, esse anjos da água e do fogo.
Veio a crise e mostrou o triunfalismo balofo destas engrenagens onde nos metem para na primeira altura nos mandarem, com um chuto, ver se já chove e buscar água àquela banda ou lavar a cara no próprio chichi.
Austeridade desta, assim, à pancada e de surpresa, não. Queríamos, sim, que em vez de triunfalismos arrogantes nos habituassem a viver parca e serenamente com o pouco que ainda temos. Só.
Bonito slogan com que há tempo nos embalavam: «Viver com o que temos». Mas como, se estão todos de bicos de pé a querer trepar para a Europa dos Nove?
***

NOTÍCIAS DA FRENTE 1991

91-02-24-ie = ideia ecológica - mep -ensaios-11376 caracteres

HISTÓRIA AC DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ECOALTERNATIVOS 
CONTRIBUTO LATERAL [LITERAL] A UM MOVIMENTO ECOALTERNATIVO

24-2-1991

ECO-PERESTROIKA

É agora claro, às 10.30 do dia 18 de Novembro de 1990, uma magnífica primavera de S. Martinho, de que os textos sobre recursos, mesmo longos, inéditos ou já publicados, constituem todo o «background» em que poderei trabalhar o grande livro de fundo sobre a aventura de ideias que foi o ecorealismo e o movimento ecologista em Portugal.
O mais que eu posso fazer é apresentar o «meu contributo à definição ideológico dos movimentos sociais ecoalternativos», com os quais, desde já se diga, nada têm a ver os «Verdes» que depois iriam aparecer como sucursais estratégicas de partidos pré-existentes.
Os principais ensaios [ de grande porte e número de páginas] (que também por essa razão terão ficado inéditos ou praticamente inéditos em pequenas tiragens multicopiadas) ficam a partir de hoje arrumados cronologicamente, entre 1970 e 1990.
São vinte anos que eu nem dei que fossem tantos.
Afinal, é uma monomania minha demasiado velha e devo livrar-me dela, quanto antes. É uma boa desculpa para tentar publicar o livro. Vinte anos é uma boa idade para a pôr esse espólio de letras e papel a mexer, a voar.
Esta arrumação dos ensaios sobre «recursos vivos e naturais» ajuda também a demarcar a outra grande área unificada que é a Ecologia Humana e que apesar de tudo me interessa pessoalmente muito mais: mas essa - pergunto - deverá ser matéria de outro ou do mesmo livro?

1973: UM CONCENTRADO DE INTUIÇÕES DECISIVAS

Com os textos - inéditos e publicados - ordenados agora [ a partir de 18/11/1990] por ordem cronológica, posso fazer constatações extremamente interessantes: em 1973, por exemplo, já se encontram, numa espécie de concentrado ou compacto, todas as teses que viriam a ser explicitadas no grupo coordenador e na «Frente Ecológica», teses que procuravam definir um «enquadramento ideológico e político para a ecologia».
Trata-se, no meu livro, não tanto de fazer a história do movimento ecológico em Portugal, história demasiado folclórica para o meu gosto para me tentar, mas de apresentar, através de documentos , inéditos e publicados, o que foi a tentativa, a experiência e se quiserem a aventura de encontrar uma definição ideológica para o espaço ecologista. Isto no meio de um contexto partidário, onde dominava o estalinismo do Partido Comunista, sempre alerta para encobrir o que sobre o gulag nuclear soviético, por exemplo, tivesse que ser dito ou a crítica que houvesse de ser feita ao desenvolvimentismo industrial como tara paranoica.

SECA E FOME

Nesse conjunto de «ensaios longos» e/ou «grandes inéditos» - rótulos sob os quais durante muito tempo os arrumei - avultam os temas da fome e daquilo a que chamei «guerra climática», temas de fundo para qualquer ecologismo de recursos. Essa é, aliás, uma das pedras de toque para avaliar que pífaro nos cantam os alegados ecologistas: é que não há estratégia, filosofia, política ou ideologia com o prefixo«eco» que possa existir sem partir desta realidade crua e brutal: é dos recursos alimentares, passando pelos recursos climáticos e seu bombardeamento pelos blocos imperialistas - que obviamente manipulam os climas -, que se terá de partir para compreender alguma coisa da política internacional na perspectiva ecológica.
Dos muitos textos que escrevi sobre os sofismas da fome e os recursos alimentares do Planeta, destacam-se alguns temas dominantes que me obceca(va)m:
- Fome pré-fabricada e pré-planeada pelas multinacionais do agrobusiness
- Ciência diz amen e pouco mais faz
- Cientistas promovem a fome dizendo que a combatem(o célebre episódio do prémio nobel da leguminosa seca)
- Os insaciáveis cientistas ao serviço da sofística multinacional
Um dos interfaces curiosos para este tema - que numerei como tema nº 1 - , é as ligações do problema alimentar mundial com as teses da ecologia alimentar, perfeitamente coincidentes:num e noutro caso, é de bionergia que se trata e de poupar bionergia. Sempre o tema recorrente da energia está no centro da questão ecológica: quem (não) quer ver?

TEMAS SAZONAIS RECORRENTES E DIAS MUNDIAIS

Lancei neste dossiê para a história dos movimentos ecoalternativos o subdossier que organizara com textos à volta dos dias mundiais e outros temas sazonais. Vim depois a saber como os professores gostam de ter à mão material didáctico em função desses dias mundiais, que lhes dão bom pretexto de passar mais uma aula... Menos expressivos, para este efeito escolar, são, obviamente, os anos internacionais.
Exemplo de alguns dias mundiais sobre os quais mandei vir:
24/Janeiro - Dia Mundial da Lepra
15/Março - Dia Mundial do Consumidor
7/Abril - Dia Mundial da Saúde
5/Junho - Dia Mundial do Ambiente
4/Julho - Dia Mundial do Salvamento
16/Outubro - Dia Mundial da Alimentação
10/Dezembro - Dia Mundial dos Direitos Humanos
Dia Mundial da Floresta

Interditos e autocensurados

É provável que um provável livro sobra a «história de (algumas) ideias para o movimento ecologista» venha a ganhar com ensaios que ficaram inéditos, não só por serem longos, mas principalmente porque seriam impublicáveis e automaticamente autocensurados no clima totalitário que se viveu durante década e meia após o 25 de Abril de 1974.
Um ensaio intitulado «As cedências da Esquerda democrática à Esquerda totalitária», com a data de 2/10/1982, é bem o exemplo disso, tendo permanecido no congelador com os rótulos de «autocensurado», «não publicável» e «confidencial». Acho que poderá dar um pouco de sal e pimenta ao livro onde for incluído. Mas outros ensaios estiveram de quarentena, com o rótulo de «inéditos interditos» e «só publicáveis em livro (diário) ou mesmo só em romance de «politic fiction».
Desses «inéditos AC interditos à publicação», destaco o que se intitula «A Máquina Totalitária» e que se subordina ao seguinte sumário:
-O cancro totalitário
- Provocações do PCP
- O antisoarismo primário
- A capitulação da esquerda democrática
Na folha de frontespício desse pequeno dossiê, escrevi:
«este dossiê ficará, enquanto eu viva, eternamente inédito. Bem basta que tivesse tido a leviandade de publicar, em 1978, «O Fascismo Nuclear na URSS», que bastantes chatices e amargos de boca me deu.
«Só há uma maneira de vi a publicar estes textos completamente interditos e autocensurados: transformando-os em ficção científica em que as entidades reais tomem nomes de personagens fictícias.
«Poderei também transformar estas memórias em «contos do Avôzinho» à lareira para os queridos netos da geração do Apocalipse.
«Tudo menos publicar, como fez o Vergílio Ferreira no diário «Conta-Corrente», expondo-se a todas as represálias previsíveis.»

DATAS DE UMA ESCALADA

A propósito de escalada totalitária, anotei algumas datas particularmente significativas dessa escalada, como por exemplo:
1976
1/4/1976 - 13/5/1976 - Acordo americano-soviético s/ testes nucleares
1981
20/2/1981 - Movimento Não às Armas Nucleares - 1º Encontro exploratório
12/3/1981 - MNAN - Plenário
27/4/1981 - Seminário Setúbal - «Ecologia e Ambiente»
11/5/1981 - Colóquio no Barreiro, escola secundária Alfredo da Silva - «Tecnologia e Qualidade de Vida»
--/8/1981 - Revista «Poder Local» -s/ tema «Ecologia»
--/9/1981 - II Quinzena da Cultura e Paz (CPPC)
28/11/1981 - Marcha da Paz
12/12/1981 - Europa sem mísseis dos Urais ao Atlântico
28/12/1981 - Associação Portugal-URSS apoia Marcha da Paz 1982
1982
8/1/1982 - Copenhague - Conselho Mundial da Paz - 120 delegados
14/1/1982- «Amigos da terra» processam «Movimento Não às Armas Nucleares» por causa do emblema do «solar não obrigado»
16/1/1982 - Marcha da Paz
8/10/1982 - Grupo de intervenção ecológica de Lagos contra «Os Verdes»
1982 - Colóquio Faculdade de Ciências - «Biologia e Poluição» - Carlos Almaça, Fernando Catarino, António Manuel Baptista

TEMA SAZONAL DOS INCÊNDIOS

Tema sazonal mais autocensurado é, com certeza, o dos incêndios: curiosamente, o único que escapa à máquina totalitária estalinista e que, portanto, mesmo com a Perestroika, continua a ser mais tabu do que nunca: será mesmo o tal que só poderá ser dito em «politic-fiction»?
Há um dossiê relativamente vasto, que intitulei «Com a Mão na Biomassa», abrangendo todo o «imbróglio celulósico-florestal», neologismo que evita ter que lhe chamar um nome mais forte.
Seria esse texto o meu contributo a um manifesto da biomassa, mas não estou a ver em Portugal nenhum grupo, partido, movimento, com eles bem negros para arrostar a temática «celulósico-florestal» em jeito de manifesto. «Novela de ficção e vai com sorte...».
Durante anos esse dossiê foi «arquivado» com o rótulo de «impublicável», anotando-se que tinha «referências a acontecimentos mas desdatados. E acrescentava a nota escrita à mão no frontespício: « Suficientemente «sereno», porém, para dar um bom contributo ao «Livro Branco da Candidatura ecologista». Em verdade, trata-se de um texto indispensável para conseguir «ler os incêndios de Verão à verdadeira luz em que devem ser lidos»

DESABAFOS SOLTOS

*
Na URSS como nos países capitalistas, continua ou não por resolver o problema dos residuos de plutónio das centrais nucleares?

*
Porque não dedicar o livro «Eco-Perestroika» a Rudolf Bahro, símbolo da resistência ecologista a todos os totalitarismos de esquerda e, necessariamente, de direita?
Rudolf Bharo, nove anos nas masmorras hitlerianas e outros tantos nas da República Democrática Alemã, escreve um livro particularmente contraditório e contundente, que me foi particularmente recomendado por Ivan Illich, quando o entrevistei em Lisboa: «Por um Comunismo Democrático, A Alternativa; Contributo à Crítica do Socialismo realmente existente.»
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DOCUMENTOS MEP 1991

91-02-24-ie-mep = ideia ecológica - admep-1- afluentes do mep - testemunho 24/2/1991

ANTECEDENTES IDEOLÓGICOS DO M.E.P.

24/2/1991 – A pedido de uma estudante do Instituto de Estudos Sociais, compilei estes dados:

Vários afluentes ideológicos contribuíram para o rio do Movimento Ecológico Português (M.E.P.).
a) Os pacifistas e anarco-libertários, polarizados nas movimentações antinuclearistas;
b) A contestação estudantil de Maio 68, em França;
c) De certa maneira, os «hippies», com a sua palavra de ordem: «Faz amor, não faças a guerra» - são alguns dos movimentos que convergiram e que poderão ter inspirado (e encorajado) os que, em Portugal, um mês depois do 25 de Abril, entendiam a Ecologia como forma política de radicalizar o discurso ideológico e a acção de revolta contra a sociedade.
O que mais tarde viria a ser referido, como produto de importação, por «deep ecology».
O que no discurso marxista-leninista era, até então, a sociedade capitalista e burguesa, passou, no discurso dos ecologistas mais radicais, a ser predominantemente a «sociedade de consumo». A que depois se acrescentaria a componente tecnocrática, verdadeiro inimigo principal do ecologismo militante.
Todas essas influências e movimentos de ideias - desde o movimento antinuclearista aos novos utopistas das flores - pesaram na formação do Movimento Ecológico Português (M.E.P.), criado legalmente em 1975, como associação cultural de fins não lucrativos, com os estatutos publicados no «Diário da República» de 5 de Março de 1975, III série, Número 54.
Mais do que os movimentos de militância ideológico-política, porém, foram alguns filósofos, ideólogos e críticos da sociedade industrial os que deram melhores e mais fortes argumentos aos que decidiram fundar o M.E.P..
Herbert Marcuse, o crítico marxista da «sociedade unidimensional», foi um dos autores mais marcantes, na eclosão do Maio 68 e, posteriormente, dos movimentos ecologistas que foram surgindo , quer em França, quer nos EUA, quer em Espanha e Portugal.
Com Herbert Marcuse alinhavam, na utopia eco-libertária, filósofos que, entretanto, foram definindo as suas simpatias pela «revolução ecológica» .
Edgar Morin, René Dumont e , anos mais tarde, Michel Bosquet (que assinara com o nome de André Gorz os seus livros sobre o movimento proletário e sindical) viriam testemunhar o seu pleno apoio a uma Ecologia Política que radicalizava a crítica à sociedade industrial e de consumo, muito para lá dos aspectos pontuais da crítica à poluição.
Michel Bosquet designou de «eco-fascismo» (Ver «Seara Nova» -------) a política oficial do Ambiente que, segundo ele, de formação marxista libertária, ajudaria o capitalismo a reproduzir-se e a multiplicar os seus próprios mecanismos de opressão e de exploração do homem pelo homem.
Michel Bosquet esteve em estreito contacto com o filósofo Ivan Illich, cujas teses «convivialistas» compartilhava inteiramente. Ivan Illich seria para os principais responsáveis do M.E.P. um verdadeiro guru, o que dava a linha ideológica correcta de um verdadeiro e genuíno ecologismo, terreno fértil para a implantação gradual e evolutiva da «sociedade paralela» ou «sociedade das eco-alternativas». Foi o que na «Frente Ecológica», em certa data, se chamou «radical-reformismo», assumindo conscientemente o «aparente» paradoxo da expressão.
Radical reformismo a que muitos escritos editados na «Frente Ecológica» chamaram «realismo ecológico» ou «eco-realismo» para o demarcar de outras correntes ou «eco-equívocos» e «eco-sofismas» (dois neologismos dos textos M.E.P. e «F.E.», onde os neologismos, aliás, abundam, talvez pela necessidade de expressar e proclamar ideias radicalmente diferentes das admitidas até então).

Em pleno período gonçalvista, um animador do M.E.P. não tinha dúvidas em intitular um livro de reportagens em Portugal de «Ecologia e Luta de Classes».
Essa «luta de classes» estaria latente nas manifestações populares contra a poluição industrial ou contra a eucaliptação desenfreada do País, traduzindo pura e simplesmente a revolta do oprimido (o residente) contra o opressor (a empresa ou indústria poluidora).
(Ver folheto de divulgação do livro publicado pela editora Socicultur, de que era proprietário o actual proprietário do Instituto Piaget, Dr. Oliveira Cruz,  subsidiado por fundos europeus).
Esta forma alargada de entender a «luta de classes» viria, com os anos, estender-se a outras classes «oprimidas», nomeadamente o consumidor, as espécies vivas ameaçadas de extinção, os ecossistemas moribundos (serras, rios, lagos, oceanos, património cultural, etc), o doente, o peão, o munícipe, o eleitor, o idoso, a criança, o animal doméstico, todos incluídos, nos textos da «F.E.», entre os «humilhados e ofendidos» da sociedade. Entre os «colonizados» pelo «imperialismo industrial».
«Seres vivos de todo o Mundo, uni-vos, só tendes a perder as vossas algemas» foi uma das palavras de ordem ouvidas, quer no M.E.P., quer na «Frente Ecológica», quer nas Crónicas do Planeta Terra, que durante 12 anos, semanalmente, todos os sábados, o jornalista Afonso Cautela assinou no jornal vespertino «A Capital».

Preocupação dos que davam o tom «ideológico» aos textos e manifestos do Movimento Ecologista, nomeadamente do M.E.P., era a demarcação, por um lado das correntes conservacionistas, proteccionistas e reformistas, que vinham desde os finais do século XIX, proclamando a necessidade de «proteger a Natureza» e, por outro lado, da anti-poluição ou política oficial do Ambiente.
Era também preocupação dos ecologistas mais radicais não se confundirem com a política de parques e reservas ou mesmo com a política de ordenamento do território, largamente defendidas por Ribeiro Telles e outros ideólogos institucionais do Ambiente.
Neste ponto, as clivagens não eram fortes mas existiram e deram, por vezes, lugar a alguma polémica , nomeadamente entre dois grupos: os arquitectos paisagistas, Ribeiro Telles, Luís Coimbra, João Reis Gomes e Fernando Pessoa, de um lado, e alguns elementos mais destemidos do M.E.P., por outro.
Em uma das vezes, os jardins da Gulbenkian, obra do arquitecto Ribeiro Telles, serviram de pretexto à polémica.

José Carlos Marques, um dos primeiros ecologistas que animam a contestação anti-nuclear em Portugal, assumiria sempre uma posição mais moderada, quer em relação ao que os mais radicais chamavam «eco-equívocos», quer em relação aos organismos e instituições da política oficial do Ambiente.
Uma forma política de entender a ecologia, no entanto, reunia o consenso de todas estas tendências, talvez por ser a forma utópica por excelência: para todos eles, o único futuro viável da sociedade industrial seria o «eco-desenvolvimento» (neologismo do M.E.P. que, posteriormente, viria designar-se, entre os ambientocratas, «desenvolvimento sustentado»).
A «arma pacífica» por excelência da luta pela sociedade alternativa ou sociedade paralela, seriam as tecnologias alternativas ou eco-tecnologias, nas quais se incluíam todas as formas de energia infinita, não poluente e nacional (não importada), desde a energia solar à eólica, passando pelo biogás (gás metano) , pela energia das ondas e pela bioenergia ou energia humana Wilhelm Reich-(1897-1857) era aqui o filósofo inspirador.
Ainda hoje não se percebe porque é que a «utopia realista» desta sociedade paralela, a pouco e pouco construída sobre as ruínas da sociedade industrial , não avançou sequer um milímetro. É o maior mistério de toda a história do ecologismo em Portugal, que coincide com o suicídio acelerado de um País, acelerado por todos os democratas da Praça, desde o 25 de Abril.
Ainda hoje é um mistério porque é que todos, inclusive grupos ambientalistas, deixaram morrer essa frente de luta, a única que de facto podia permitir uma saída à sociedade industrial, apertada no «círculo de ferro» (como lhe chamou o norte-americano Barry Commoner, outro filósofo e militante do ecologismo) da crise ambiental e a lógica implacával de destruição que é intrínseca à sociedade industrial.
A destruição, portanto, será consumada sem retrocesso possível, pelo que alguns ecologistas do M.E.P. , sem abandonar o radicalismo inicial, antes pelo contrário, radicalizam posições e falam de «Novo Paradigma».
Um «Novo Paradigma» ou «Ecologia Alargada» coloca na saída pela vertical o que todos os ecologismos têm procurado na horizontal, sem conseguir uma única vitória. Falando sem eufemismos, o que hoje esse(s) ecologista(s) defende(m) é uma posição política religiosa, a que chama(m) «saída pela vertical».
Esta saída pela vertical relaciona-se com os novos dados cósmicos, «au point» desde 26 de Agosto de 1983, e o facto energético indiscutível da astronomia que é a Era Zodiacal do Aquário, em que o equilíbrio ecológico será um dado irreversível, tal como a destruição ambiental era um dado irreversível da Era zodiacal dos Peixes.

Embora houvesse um estado de espírito mundial, desde o fim da II Guerra Mundial, contra o Nuclear, mais semelhante a um «estado de choque» que paralisava a revolta e as movimentações, foi nos anos 50 que a luta contra o Nuclear provocou movimentações da população.
Eram as centrais nucleares, ditas até então pacíficas, por oposição ao átomo militar, o alvo desses grupos que, pela primeira vez, denunciaram a hipocrisia de se condenar o armamento nuclear ao mesmo tempo que se defendiam as centrais nucleares , só porque elas se «limitavam» a fornecer energia eléctrica às populações.
Durante muitos anos o sofisma do «átomo pacífico», por oposição ao «átomo militar», conseguiu livre trânsito na opinião pública.
Que os resíduos de Plutónio das centrais nucleares fossem a grande matéria-prima das bombas termo-nucleares (e respectivas experiências de rebentamentos, primeiro na atmosfera e depois subterrâneas) - era a denúncia que os anti-nuclearistas primeiro e os ecologistas neles inspirados depois, resolveram realizar.
Que as centrais eram «bombas» potenciais, só Three Mile Island (Março/1979) e Chernobyl (Data [---] viriam tragicamente mostrar, muitos anos depois.

O «internacionalismo» da crise ambiental (a «poluição não conhece fronteiras» seria a palavra de ordem nos anos 60 e 70) motivaria em parte a hostilidade aos ecologistas dos regimes e governos com mais vocação internacionalista e totalitária, as conhecidas superpotências, assim autodenominadas pelo seu peso em megatoneladas e em capacidade de destruição nuclear - URSS, EUA, China, Grã Bretanha e França - exactamente as que, ao longo de 5 décadas (até hoje, Maio de 1997), realizaram milhares de testes nucleares subterrâneos.
Nunca nenhuma das superpotências alguma vez revelou o número exacto desses rebentamentos, talvez porque tivessem originado, ao longo de trinta anos, quase sempre sismos catastróficos e quase sempre ao fim-de-semana como se pode verificar consultando os jornais de todos esses anos.

Cientistas da Biologia escreveram livros de tonalidade ameaçadora. Pertencem a Jean Dorst, por exemplo, «Antes que a Natureza Morra» e «A Natureza Desnaturada», títulos de dois livros seus. Alegando a famosa e famigerada neutralidade que a ciência tem de manter, davam apenas argumentos «científicos» aos que preconizavam a luta política. Depois, lavavam daí as suas  mãos de cientistas neutrais. Como se ciência e cientistas não tivessem sido o principal contributo à crise ambiental.
Militantes da ecologia como René Dumont vieram da Sociologia da Fome Mundial e das evidentes preocupações que a agricultura química intensiva (adubos e pesticidas) começava a suscitar, apesar das enormes pressões sobre a opinião pública quer das multinacionais do «agrobusiness», quer da própria F.A.O., departamento das Nações Unidas, onde se destacou o cientista Norman Borlaug, «prémio Nobel da Leguminosa Seca» como lhe chamava um folheto da «Frente Ecológica».
Em algumas ocasiões, no âmbito do M.E.P. e das edições «Frente Ecológica», esse tema-tabu da agroquímica e do agrobusiness foi abordado, já que era e tem continuado a ser um dos que a indústria mais tem silenciado, a pretexto do objectivo humanitário de «matar a fome mundial».
Como René Dumont, entre outros, desmascarou, não só não se mata a fome com uma agricultura auto-destrutiva, como cada vez mais se contribui para a fazer alastrar.
Ribeiro Telles, quando o deixam, tem sido uma das vozes a denunciar este facto.

Antecedente do M.E.P. poderá considerar-se o «Ano Europeu da Protecção à Natureza», tendo surgido, na colecção de livros de bolso «Cadernos do Século», um dossiê, traduzido do «Le Monde Diplomatique», onde figuravam textos de várias figuras de proa do movimento. A iniciativa dessa publicação foi de um militante daquilo que, 5 anos depois, se chamaria M.E.P.

Dois outros antecedentes se poderão assinalar no ano de 1972:
1 - Encomendado pelo Clube de Roma - que integrava trusts económicos de vulto (altamente poluidores...) como a Fiat, Olivetti e Fundação Wolkswagen - o relatório do M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology ) dava  alento aos ecologistas defensores do «desenvolvimento zero», classificado pelos tecnocratas de utopia e loucura mas que ainda hoje não se sabe se seria assim uma loucura tão utópica ou se utopia, sim, foi e continua a ser a tecnocracia da sociedade industrial e sua lógica de auto-destruição.
2 - Estímulo para os que precisavam de ver confirmadas internacionalmente as suas ideias, foi o Congresso Mundial do Ambiente em Estocolmo (110 governos representados) de que iria aparecer um dossiê organizado também por um futuro militante do M.E.P. , na colecção Zero por ele organizada para a editora Morais, de Lisboa.
Título: «A Conferência do Terror - Estocolmo 72».

A chamada «Moratória Nuclear», estratégia que consistia em exigir dos governos um adiamento das decisões (para a construção de centrais nucleares), seria uma das acções mais relevantes do M.E.P. , no seu primeiro ano de existência.
Em Novembro de 1974, o I Encontro do M.E.P. , realizado na Figueira da Foz, aprovava uma declaração contra o projecto do Secretário de Estado da Indústria, Torres Campos, agora a gozar pacificamente e sem centrais nucleares por perto a sua pacífica reforma de ex-nuclearista como comissário substituto da Expo98.
A propósito de ex-nuclearistas na reforma, nunca será demais enfatizar o peso pesado do maior deles todos, Veiga Simão, que o PS recompensou pelos bons serviços prestados, dando-lhe o alto cargo de presidente do LNETI. Curiosa e logicamente, foi este templo da energia e da tecnologia industrial que acolheu os 7 projectos de energias alternativas em curso na Direcção Geral de Energia, projectos de que o País nunca mais ouviu falar desde então, apesar de largamente subsidiados pelo Banco Mundial.
É caso para dizer que o LNETI e seu presidente são mais papistas do que o Papa.
Em Fevereiro de 1975, o II Encontro do M.E.P. afirmava a sua rejeição incondicional do programa nuclear português, plano que, através de manipulações várias, viria a mostrar-se apenas um balão vazio para afugentar papalvos.
Um outro projecto , o da barragem de Alqueva, não teria o mesmo destino de morrer na casca como morreu o nuclear.

Que se saiba, 3 únicas vozes se levantaram (para logo serem abafadas) contra este cometimento: Gonçalo Ribeiro Telles e outros elementos do PPM, Carlos Filipe Marreiro da Luz (sociólogo) e Afonso Cautela (Jornalista).


Em um e outro caso - Central Nuclear e Alqueva - Ribeiro Telles, secretário de Estado do Ambiente no I Governo constitucional, seria uma das poucas vozes, com peso político institucional , a denunciar os absurdos dos projectos  promotores do subdesenvolvimento em nome do desenvolvimento.

No fervor revolucionário pós 25 de Abril, a campanha do agrónomo René Dumont para a Presidência da República em França, viria cair como sopa no mel entre os ecologistas do M.E.P. , que lhe dedicaram, entre outros testemunhos de solidariedade, uma capa do jornal «Frente Ecológica », órgão do movimento ecologista em Portugal .
A esquerda socialista de René Dumont era, politicamente, a posição que mais agradava aos responsáveis do M.E.P. e que melhor traduzia a ideologia defendida por jovens de esquerda, apertados entre o estalinismo do P.C. , os reformismos folclóricos dos conservadores e as utopias impossíveis dos anarco-libertários.
Dumont dava alento aos que já então preconizavam um partido ecologista, ideia que os anarco-libertários sempre hostilizaram e sabotaram. Sabotagem esta que viria agradar imenso ao Partido Comunista quando, anos mais tarde, esgotada a luta sindical e outro capital de protesto, outros pretextos de mandar consecutivamente para a rua todos os governos, criou ex-nihilo o «Partido dos Verdes», curiosa, natural e abusivamente intitulado Movimento Ecológico Português - nome que desde 7 de Fevereiro de 1975 se encontrava registado no 10º Cartório Notarial de Lisboa.


A ingenuidade do M.E.P. e dos seus responsáveis, em Março de 1975, tê-los-ia levado a acreditar que um governo democrático, um Estado de Direito como demagogicamente se repete, era diferente de um governo «fascista» e que, portanto, fazia sentido apresentar ao Governo um dossiê sobre o «perigo das centrais nucleares», assim como a petição da moratória com 500 assinaturas.
Paralelamente aos esforços do M.E.P., o Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto propunha uma série de medidas para «alternativas energéticas» e, em Março de 1976, nascia a CALCAN (Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça Nuclear) em Peniche, perto de Ferrel, onde o Governo vinha ameaçando, sem grande convicção diga-se , que iria construir a Central Nuclear.
Para alguns responsáveis do M.E.P. era claro que o Governo, com ameaças de construir centrais em lugares precisos do território, tinha apenas o objectivo de testar a reacção das populações, da opinião pública, dos anti-nuclearistas e dos ecologistas .
Em 1977, 110 cientistas e técnicos condenam o programa nuclear português num manifesto sobre a política energética.
Em 1977, com o M.E.P. já desactivado, os cadernos «Viver é Preciso» - «Ecologia e Sociedade» - publicados no Porto pela editora Afrontamento e o semanário «Gazeta das Caldas» organizam a reunião designada Coordenação Ecológica Portuguesa, onde compareceram grupos ecológicos de vários pontos do País. Era, finalmente, a «base democrática» que o M.E.P. assumidamente nunca teve.
Nessa reunião de 1977, o Grupo Ecológico e Antimilitarista de Coimbra, a Comissão de Luta Contra a Poluição do Alviela (ainda hoje por despoluir...) e o Grupo Não à Opção Nuclear (N.O.N.) decidiam iniciativas no campo anti-nuclear.


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NOTÍCIAS DA FRENTE 1979

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UM PANORAMA DO ECOLOGISMO, PORQUÊ?

23/2/1979 - (In jornal «Portugal Hoje»? Ou inédito? ) Está marcada para Évora, na Pousada da Juventude, dias 23 a 27 de Fevereiro próximo, uma reunião de ecologistas.
Em cima do Carnaval, foi convocada pela revista «A Urtiga» em colaboração com o projecto «Renascimento Rural» (Apartado 31, Lagos) e a Cooperativa «Pirâmide» (R. do Breyner, 50, Porto) .
Não há programa prévio: uma vez mais, confia-se no espontaneísmo das massas... Espera-se que as iniciativas naturalmente concordem e, à hora, as pessoas se distribuam conforme os grupos de trabalho e temas de interesse em presença, em discussão.
Antecipadamente positivo é que os ecologistas se encontrem e convivam.
Com as várias mortes do Movimento Ecológico Português e da Coordenadora Nacional, em que os portugueses, mesmo ecologistas, têm demonstrado a sua imensa dificuldade em se unir e organizar, tudo quanto seja unir e organizar, integrar e coordenar, já é positivo... Independente do balanço final que se fizer. Mesmo que durante 5 dias só haja palavras.
Há uma tendência dos recém chegados ao limiar do ecologismo para fazer tábua rasa do já feito, pensado, trabalhado e sofrido. Pouco houve, é certo, mas houve e há coisas, factos, pessoas, iniciativas. Muitos que deram horas das suas vidas...
Numa tentativa de colaborar com a próxima reunião de ecologistas em Évora e de prestar homenagem aos que não têm estado parados - quando tudo paralisa neste país - vamos neste artigo dar um pequeno contributo à história da «corrente ecologista» em Portugal. Convém fazer o ponto da situação, não dando passo a posições «zeristas» do tipo «antes de nós, nada, depois de nós o dilúvio». O dilúvio , talvez, mas com molho.
Alguma coisa (con) viveu , nestes anos, enquanto a onda de morte e destruição ecocida avança e avassala o mundo, o país.
Antes de citar quaisquer outras iniciativas, porém, duas há a que teremos de fazer obrigatória referência e justiça: o quinzenário «Informação Ecológica » (aparatado 3205 Lisboa) tem mantido um ritmo e uma tenacidade que é a sua maior qualidade ; vai no número 20 (em Janeiro de 1979) e uma coisa há que supera a sua pequena tiragem (seu maior handicap): é a alma grande que tem e a esperança que o anima. Vinte valores para «Informação Ecológica»
Outra referência obrigatória é para esse homem com quem se tem identificado, desde 1974, o ecologismo português : José Carlos Marques, animador das mais belas coisas que de ecologismo se fizeram em Portugal: colecção de livros/cadernos «Ecologia e Sociedade» ; revista «Viver é Preciso», revista «A Urtiga» (cinco números até Janeiro de 1979); Festival pela Vida contra o Nuclear.
Onde quer que mexe ecologia em Portugal, tem estado a mão, o trabalho, a iniciativa , o incentivo, a perseverança e a teimosia de José Carlos Marques.

OMISSÕES INVOLUNTÁRIAS: UM RISCO DESTE ARTIGO

Só mais um ponto prévio à breve retrospectiva de iniciativas, nomes, grupos, datas e experiências do «movimento ecologista em Portugal».
Risco grave de involuntárias omissões é o que iremos correr com esta breve retrospectiva, com este primeiro balança de actividades.
Não somos um computador que garanta uma exaustiva panorâmica de tudo o que se faz.
Por isso é apenas uma achega, um contributo. E as omissões que houver só terão o mérito de suscitar correcções. Cá esperamos que os «omissos» rectifiquem , enviando sinal da sua existência e presença com dados informativos concretos. Nomes, datas, locais, actividades.
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E. ALIMENTAR 2001

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DOENÇAS DA PELE EM GERAL - O QUE APRENDI COM A EXPERIÊNCIA (*)

Lisboa, 23/2/2001

F.C.: Falou-me da senhora que tem uma renitente doença de pele. O meu raciocínio, baseado na experiência, para todas as doenças de pele, costuma ser o seguinte: os resíduos do catabolismo que não podem ser filtrados pelo fígado, pelos rins e pelos intestinos, acabam por ser expelidos pela pele. O mais provável, é que seja o fígado o principal órgão afectado e o principal responsável pela expulsão através da pele (os egípcios chamavam-lhe mesmo «renovação pela pele»). Gorduras animais e sal (disfarçado de diversas maneiras) acabam por deixar o órgão (víscera) muito yang, incapacitando-o para as dezenas de funções que tem de realizar, entre elas a de limpeza dos resíduos do metabolismo. Também os rins, que a macrobiótica considera órgão yang, se ressentem de um estado geral yang, ou seja, muito sódio ou qualquer outro elemento fortemente yang.
A primeira coisa a fazer na parte alimentar é diminuir o yang de forma suave e gradual. O célebre prato número7 - só arroz - aconselhado por Oshawa, reequilibra o PH mas, devido à severidade do regime, acaba por yanguizar o organismo mais do que já está.
Temos que ir então para o pólo contrário (o que a macrobiótica não aconselha), dando yin de qualidade à pessoa, talvez uma ou duas bananas por dia e um sumo de laranja. Batatas três vezes por semana também é capaz de ser necessário. Não há outra maneira de desincrustar o sal incrustado. Comigo, numa crise de yang a mais e défice de potássio, este regime de bananas/laranja/batatas funcionou: se os macrobióticos soubessem, tinham-me crucificado...
Mas um órgão tem que ser inevitavelmente atendido, em caso de doença de pele : o fígado. E para limpar o fígado, como o Francisco sabe, é o Enxofre, desestruturante e des-sensibilizante universal.
A grande questão é como administrar o Enxofre (lembro-mo que uma vez me pediu enxofre em bruto e eu fiquei um bocado inquieto). A macrobiótica aconselha em abundância os três alimentos com maior teor de enxofre: Nabos, Rábanos e Rabanetes, a usar e abusar diariamente. Mas talvez não chegue para um fígado cronicamente bloqueado.
Costumo dar-me bem com o Radis Noir, em ampolas bebíveis, porque o Sulfogène (Biocol) também em ampolas bebíveis tem resultados drásticos , «agravando» os sintomas de maneira muito rápida e que assusta o doente.
Mas a dificuldade de um verdadeiro tratamento do fígado com base no desestruturante enxofre, é essa: tem que haver uma desestruturação molecular (o Enxofre é o desestruturante número 1 e já os alquimistas o sabiam) para haver reestruturação molecular: ou seja, a verdadeira cura. É o «nigredo» em que falavam os alquimistas e que Etienne Guillé nos permitiu reaprender com o seu método de «alquimia da célula» a que eu chamei «gnose vibratória».
O trabalho vibratório com os metais, entre eles o Enxofre, feito pelo doente , é uma das melhores maneiras de realizar a necessária alquimia. Sem isto, creio bem que uma doença de pele será doença para toda a vida. A radiestesia só tem a ver com isto na medida em que sem o pêndulo não se pode fazer o trabalho com os metais: nos metais é que está o segredo, não é no pêndulo, mero instrumento do trabalho vibratório e alquímico. E o que eu aprendi com o pêndulo de Etienne foi um pouco mais da desconhecida e maravilhosa alquimia da vida.
O que nada tem a ver com o «comunicar com os mortos», o que além do mais me parece uma perigosa heresia.
Além do Enxofre, o cardo e a tisana de boldo podem constituir um bom suplemento de manutenção.
Deve haver, na sua doente, uma componente alérgica, o que complica e facilita as coisas. No fundo, as alergias também se tratam (e curam) no fígado.
Se houver dificuldade de trânsito intestinal, a experiência aconselha-me o «cocktail» de frutos secos todas as manhãs (hora a que o intestino deve funcionar ) .
O cocktail que eu uso e com que me dou melhor, inclui:
amêndoas
nozes
avelãs
pinhões
tâmaras
papaia em cubos secos
ananás em cubos secos
Com esta receita, nem talvez seja necessário incluir ameixas, que tradicionalmente as nossas avós aconselhavam para a «prisão de ventre». Mas continua a ser obrigatório, para fornecer vitamina E (pedra angular de todas as vitaminas mas raríssima na alimentação actual), as maravilhosas azeitonas pretas, umas quatro a cinco por dia. É o que a minha experiência aconselha para acordar a vesícula preguiçosa, causa de preguiça intestinal.
Afonso
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(*) Doenças como o Vitiligo (consideradas de pele mas que o não são) têm, evidentemente, outra solução muito mais complicada. Sendo uma reacção de fotosensibilidade a alguns medicamentos químicos, o Vitiligo é uma doença iatrogénica e portanto muito difícil de tratar. Talvez mesmo impossível, embora eu não goste da palavra impossível. Depois da Medicina Ortomolecular (que eu considero a medicina de vanguarda), já é quase impossível haver doenças impossíveis de tratar...
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