DOCUMENTOS MEP 1991
91-02-24-ie-mep = ideia ecológica - admep-1- afluentes do mep - testemunho 24/2/1991
24/2/1991 – A pedido de uma estudante do Instituto de Estudos Sociais, compilei estes dados:
Vários afluentes ideológicos contribuíram para o rio do Movimento Ecológico Português (M.E.P.).
a) Os pacifistas e anarco-libertários, polarizados nas movimentações antinuclearistas;
b) A contestação estudantil de Maio 68, em França;
c) De certa maneira, os «hippies», com a sua palavra de ordem: «Faz amor, não faças a guerra» - são alguns dos movimentos que convergiram e que poderão ter inspirado (e encorajado) os que, em Portugal, um mês depois do 25 de Abril, entendiam a Ecologia como forma política de radicalizar o discurso ideológico e a acção de revolta contra a sociedade.
O que mais tarde viria a ser referido, como produto de importação, por «deep ecology».
O que no discurso marxista-leninista era, até então, a sociedade capitalista e burguesa, passou, no discurso dos ecologistas mais radicais, a ser predominantemente a «sociedade de consumo». A que depois se acrescentaria a componente tecnocrática, verdadeiro inimigo principal do ecologismo militante.
Todas essas influências e movimentos de ideias - desde o movimento antinuclearista aos novos utopistas das flores - pesaram na formação do Movimento Ecológico Português (M.E.P.), criado legalmente em 1975, como associação cultural de fins não lucrativos, com os estatutos publicados no «Diário da República» de 5 de Março de 1975, III série, Número 54.
Mais do que os movimentos de militância ideológico-política, porém, foram alguns filósofos, ideólogos e críticos da sociedade industrial os que deram melhores e mais fortes argumentos aos que decidiram fundar o M.E.P..
Herbert Marcuse, o crítico marxista da «sociedade unidimensional», foi um dos autores mais marcantes, na eclosão do Maio 68 e, posteriormente, dos movimentos ecologistas que foram surgindo , quer em França, quer nos EUA, quer em Espanha e Portugal.
Com Herbert Marcuse alinhavam, na utopia eco-libertária, filósofos que, entretanto, foram definindo as suas simpatias pela «revolução ecológica» .
Edgar Morin, René Dumont e , anos mais tarde, Michel Bosquet (que assinara com o nome de André Gorz os seus livros sobre o movimento proletário e sindical) viriam testemunhar o seu pleno apoio a uma Ecologia Política que radicalizava a crítica à sociedade industrial e de consumo, muito para lá dos aspectos pontuais da crítica à poluição.
Michel Bosquet designou de «eco-fascismo» (Ver «Seara Nova» -------) a política oficial do Ambiente que, segundo ele, de formação marxista libertária, ajudaria o capitalismo a reproduzir-se e a multiplicar os seus próprios mecanismos de opressão e de exploração do homem pelo homem.
Michel Bosquet esteve em estreito contacto com o filósofo Ivan Illich, cujas teses «convivialistas» compartilhava inteiramente. Ivan Illich seria para os principais responsáveis do M.E.P. um verdadeiro guru, o que dava a linha ideológica correcta de um verdadeiro e genuíno ecologismo, terreno fértil para a implantação gradual e evolutiva da «sociedade paralela» ou «sociedade das eco-alternativas». Foi o que na «Frente Ecológica», em certa data, se chamou «radical-reformismo», assumindo conscientemente o «aparente» paradoxo da expressão.
Radical reformismo a que muitos escritos editados na «Frente Ecológica» chamaram «realismo ecológico» ou «eco-realismo» para o demarcar de outras correntes ou «eco-equívocos» e «eco-sofismas» (dois neologismos dos textos M.E.P. e «F.E.», onde os neologismos, aliás, abundam, talvez pela necessidade de expressar e proclamar ideias radicalmente diferentes das admitidas até então).
Em pleno período gonçalvista, um animador do M.E.P. não tinha dúvidas em intitular um livro de reportagens em Portugal de «Ecologia e Luta de Classes».
Essa «luta de classes» estaria latente nas manifestações populares contra a poluição industrial ou contra a eucaliptação desenfreada do País, traduzindo pura e simplesmente a revolta do oprimido (o residente) contra o opressor (a empresa ou indústria poluidora).
(Ver folheto de divulgação do livro publicado pela editora Socicultur, de que era proprietário o actual proprietário do Instituto Piaget, Dr. Oliveira Cruz, subsidiado por fundos europeus).
Esta forma alargada de entender a «luta de classes» viria, com os anos, estender-se a outras classes «oprimidas», nomeadamente o consumidor, as espécies vivas ameaçadas de extinção, os ecossistemas moribundos (serras, rios, lagos, oceanos, património cultural, etc), o doente, o peão, o munícipe, o eleitor, o idoso, a criança, o animal doméstico, todos incluídos, nos textos da «F.E.», entre os «humilhados e ofendidos» da sociedade. Entre os «colonizados» pelo «imperialismo industrial».
«Seres vivos de todo o Mundo, uni-vos, só tendes a perder as vossas algemas» foi uma das palavras de ordem ouvidas, quer no M.E.P., quer na «Frente Ecológica», quer nas Crónicas do Planeta Terra, que durante 12 anos, semanalmente, todos os sábados, o jornalista Afonso Cautela assinou no jornal vespertino «A Capital».
Preocupação dos que davam o tom «ideológico» aos textos e manifestos do Movimento Ecologista, nomeadamente do M.E.P., era a demarcação, por um lado das correntes conservacionistas, proteccionistas e reformistas, que vinham desde os finais do século XIX, proclamando a necessidade de «proteger a Natureza» e, por outro lado, da anti-poluição ou política oficial do Ambiente.
Era também preocupação dos ecologistas mais radicais não se confundirem com a política de parques e reservas ou mesmo com a política de ordenamento do território, largamente defendidas por Ribeiro Telles e outros ideólogos institucionais do Ambiente.
Neste ponto, as clivagens não eram fortes mas existiram e deram, por vezes, lugar a alguma polémica , nomeadamente entre dois grupos: os arquitectos paisagistas, Ribeiro Telles, Luís Coimbra, João Reis Gomes e Fernando Pessoa, de um lado, e alguns elementos mais destemidos do M.E.P., por outro.
Em uma das vezes, os jardins da Gulbenkian, obra do arquitecto Ribeiro Telles, serviram de pretexto à polémica.
José Carlos Marques, um dos primeiros ecologistas que animam a contestação anti-nuclear em Portugal, assumiria sempre uma posição mais moderada, quer em relação ao que os mais radicais chamavam «eco-equívocos», quer em relação aos organismos e instituições da política oficial do Ambiente.
Uma forma política de entender a ecologia, no entanto, reunia o consenso de todas estas tendências, talvez por ser a forma utópica por excelência: para todos eles, o único futuro viável da sociedade industrial seria o «eco-desenvolvimento» (neologismo do M.E.P. que, posteriormente, viria designar-se, entre os ambientocratas, «desenvolvimento sustentado»).
A «arma pacífica» por excelência da luta pela sociedade alternativa ou sociedade paralela, seriam as tecnologias alternativas ou eco-tecnologias, nas quais se incluíam todas as formas de energia infinita, não poluente e nacional (não importada), desde a energia solar à eólica, passando pelo biogás (gás metano) , pela energia das ondas e pela bioenergia ou energia humana Wilhelm Reich-(1897-1857) era aqui o filósofo inspirador.
Ainda hoje não se percebe porque é que a «utopia realista» desta sociedade paralela, a pouco e pouco construída sobre as ruínas da sociedade industrial , não avançou sequer um milímetro. É o maior mistério de toda a história do ecologismo em Portugal, que coincide com o suicídio acelerado de um País, acelerado por todos os democratas da Praça, desde o 25 de Abril.
Ainda hoje é um mistério porque é que todos, inclusive grupos ambientalistas, deixaram morrer essa frente de luta, a única que de facto podia permitir uma saída à sociedade industrial, apertada no «círculo de ferro» (como lhe chamou o norte-americano Barry Commoner, outro filósofo e militante do ecologismo) da crise ambiental e a lógica implacával de destruição que é intrínseca à sociedade industrial.
A destruição, portanto, será consumada sem retrocesso possível, pelo que alguns ecologistas do M.E.P. , sem abandonar o radicalismo inicial, antes pelo contrário, radicalizam posições e falam de «Novo Paradigma».
Um «Novo Paradigma» ou «Ecologia Alargada» coloca na saída pela vertical o que todos os ecologismos têm procurado na horizontal, sem conseguir uma única vitória. Falando sem eufemismos, o que hoje esse(s) ecologista(s) defende(m) é uma posição política religiosa, a que chama(m) «saída pela vertical».
Esta saída pela vertical relaciona-se com os novos dados cósmicos, «au point» desde 26 de Agosto de 1983, e o facto energético indiscutível da astronomia que é a Era Zodiacal do Aquário, em que o equilíbrio ecológico será um dado irreversível, tal como a destruição ambiental era um dado irreversível da Era zodiacal dos Peixes.
Embora houvesse um estado de espírito mundial, desde o fim da II Guerra Mundial, contra o Nuclear, mais semelhante a um «estado de choque» que paralisava a revolta e as movimentações, foi nos anos 50 que a luta contra o Nuclear provocou movimentações da população.
Eram as centrais nucleares, ditas até então pacíficas, por oposição ao átomo militar, o alvo desses grupos que, pela primeira vez, denunciaram a hipocrisia de se condenar o armamento nuclear ao mesmo tempo que se defendiam as centrais nucleares , só porque elas se «limitavam» a fornecer energia eléctrica às populações.
Durante muitos anos o sofisma do «átomo pacífico», por oposição ao «átomo militar», conseguiu livre trânsito na opinião pública.
Que os resíduos de Plutónio das centrais nucleares fossem a grande matéria-prima das bombas termo-nucleares (e respectivas experiências de rebentamentos, primeiro na atmosfera e depois subterrâneas) - era a denúncia que os anti-nuclearistas primeiro e os ecologistas neles inspirados depois, resolveram realizar.
Que as centrais eram «bombas» potenciais, só Three Mile Island (Março/1979) e Chernobyl (Data [---] viriam tragicamente mostrar, muitos anos depois.
O «internacionalismo» da crise ambiental (a «poluição não conhece fronteiras» seria a palavra de ordem nos anos 60 e 70) motivaria em parte a hostilidade aos ecologistas dos regimes e governos com mais vocação internacionalista e totalitária, as conhecidas superpotências, assim autodenominadas pelo seu peso em megatoneladas e em capacidade de destruição nuclear - URSS, EUA, China, Grã Bretanha e França - exactamente as que, ao longo de 5 décadas (até hoje, Maio de 1997), realizaram milhares de testes nucleares subterrâneos.
Nunca nenhuma das superpotências alguma vez revelou o número exacto desses rebentamentos, talvez porque tivessem originado, ao longo de trinta anos, quase sempre sismos catastróficos e quase sempre ao fim-de-semana como se pode verificar consultando os jornais de todos esses anos.
Cientistas da Biologia escreveram livros de tonalidade ameaçadora. Pertencem a Jean Dorst, por exemplo, «Antes que a Natureza Morra» e «A Natureza Desnaturada», títulos de dois livros seus. Alegando a famosa e famigerada neutralidade que a ciência tem de manter, davam apenas argumentos «científicos» aos que preconizavam a luta política. Depois, lavavam daí as suas mãos de cientistas neutrais. Como se ciência e cientistas não tivessem sido o principal contributo à crise ambiental.
Militantes da ecologia como René Dumont vieram da Sociologia da Fome Mundial e das evidentes preocupações que a agricultura química intensiva (adubos e pesticidas) começava a suscitar, apesar das enormes pressões sobre a opinião pública quer das multinacionais do «agrobusiness», quer da própria F.A.O., departamento das Nações Unidas, onde se destacou o cientista Norman Borlaug, «prémio Nobel da Leguminosa Seca» como lhe chamava um folheto da «Frente Ecológica».
Em algumas ocasiões, no âmbito do M.E.P. e das edições «Frente Ecológica», esse tema-tabu da agroquímica e do agrobusiness foi abordado, já que era e tem continuado a ser um dos que a indústria mais tem silenciado, a pretexto do objectivo humanitário de «matar a fome mundial».
Como René Dumont, entre outros, desmascarou, não só não se mata a fome com uma agricultura auto-destrutiva, como cada vez mais se contribui para a fazer alastrar.
Ribeiro Telles, quando o deixam, tem sido uma das vozes a denunciar este facto.
Antecedente do M.E.P. poderá considerar-se o «Ano Europeu da Protecção à Natureza», tendo surgido, na colecção de livros de bolso «Cadernos do Século», um dossiê, traduzido do «Le Monde Diplomatique», onde figuravam textos de várias figuras de proa do movimento. A iniciativa dessa publicação foi de um militante daquilo que, 5 anos depois, se chamaria M.E.P.
Dois outros antecedentes se poderão assinalar no ano de 1972:
1 - Encomendado pelo Clube de Roma - que integrava trusts económicos de vulto (altamente poluidores...) como a Fiat, Olivetti e Fundação Wolkswagen - o relatório do M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology ) dava alento aos ecologistas defensores do «desenvolvimento zero», classificado pelos tecnocratas de utopia e loucura mas que ainda hoje não se sabe se seria assim uma loucura tão utópica ou se utopia, sim, foi e continua a ser a tecnocracia da sociedade industrial e sua lógica de auto-destruição.
2 - Estímulo para os que precisavam de ver confirmadas internacionalmente as suas ideias, foi o Congresso Mundial do Ambiente em Estocolmo (110 governos representados) de que iria aparecer um dossiê organizado também por um futuro militante do M.E.P. , na colecção Zero por ele organizada para a editora Morais, de Lisboa.
Título: «A Conferência do Terror - Estocolmo 72».
A chamada «Moratória Nuclear», estratégia que consistia em exigir dos governos um adiamento das decisões (para a construção de centrais nucleares), seria uma das acções mais relevantes do M.E.P. , no seu primeiro ano de existência.
Em Novembro de 1974, o I Encontro do M.E.P. , realizado na Figueira da Foz, aprovava uma declaração contra o projecto do Secretário de Estado da Indústria, Torres Campos, agora a gozar pacificamente e sem centrais nucleares por perto a sua pacífica reforma de ex-nuclearista como comissário substituto da Expo98.
A propósito de ex-nuclearistas na reforma, nunca será demais enfatizar o peso pesado do maior deles todos, Veiga Simão, que o PS recompensou pelos bons serviços prestados, dando-lhe o alto cargo de presidente do LNETI. Curiosa e logicamente, foi este templo da energia e da tecnologia industrial que acolheu os 7 projectos de energias alternativas em curso na Direcção Geral de Energia, projectos de que o País nunca mais ouviu falar desde então, apesar de largamente subsidiados pelo Banco Mundial.
É caso para dizer que o LNETI e seu presidente são mais papistas do que o Papa.
Em Fevereiro de 1975, o II Encontro do M.E.P. afirmava a sua rejeição incondicional do programa nuclear português, plano que, através de manipulações várias, viria a mostrar-se apenas um balão vazio para afugentar papalvos.
Um outro projecto , o da barragem de Alqueva, não teria o mesmo destino de morrer na casca como morreu o nuclear.
Que se saiba, 3 únicas vozes se levantaram (para logo serem abafadas) contra este cometimento: Gonçalo Ribeiro Telles e outros elementos do PPM, Carlos Filipe Marreiro da Luz (sociólogo) e Afonso Cautela (Jornalista).
Em um e outro caso - Central Nuclear e Alqueva - Ribeiro Telles, secretário de Estado do Ambiente no I Governo constitucional, seria uma das poucas vozes, com peso político institucional , a denunciar os absurdos dos projectos promotores do subdesenvolvimento em nome do desenvolvimento.
No fervor revolucionário pós 25 de Abril, a campanha do agrónomo René Dumont para a Presidência da República em França, viria cair como sopa no mel entre os ecologistas do M.E.P. , que lhe dedicaram, entre outros testemunhos de solidariedade, uma capa do jornal «Frente Ecológica », órgão do movimento ecologista em Portugal .
A esquerda socialista de René Dumont era, politicamente, a posição que mais agradava aos responsáveis do M.E.P. e que melhor traduzia a ideologia defendida por jovens de esquerda, apertados entre o estalinismo do P.C. , os reformismos folclóricos dos conservadores e as utopias impossíveis dos anarco-libertários.
Dumont dava alento aos que já então preconizavam um partido ecologista, ideia que os anarco-libertários sempre hostilizaram e sabotaram. Sabotagem esta que viria agradar imenso ao Partido Comunista quando, anos mais tarde, esgotada a luta sindical e outro capital de protesto, outros pretextos de mandar consecutivamente para a rua todos os governos, criou ex-nihilo o «Partido dos Verdes», curiosa, natural e abusivamente intitulado Movimento Ecológico Português - nome que desde 7 de Fevereiro de 1975 se encontrava registado no 10º Cartório Notarial de Lisboa.
A ingenuidade do M.E.P. e dos seus responsáveis, em Março de 1975, tê-los-ia levado a acreditar que um governo democrático, um Estado de Direito como demagogicamente se repete, era diferente de um governo «fascista» e que, portanto, fazia sentido apresentar ao Governo um dossiê sobre o «perigo das centrais nucleares», assim como a petição da moratória com 500 assinaturas.
Paralelamente aos esforços do M.E.P., o Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto propunha uma série de medidas para «alternativas energéticas» e, em Março de 1976, nascia a CALCAN (Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça Nuclear) em Peniche, perto de Ferrel, onde o Governo vinha ameaçando, sem grande convicção diga-se , que iria construir a Central Nuclear.
Para alguns responsáveis do M.E.P. era claro que o Governo, com ameaças de construir centrais em lugares precisos do território, tinha apenas o objectivo de testar a reacção das populações, da opinião pública, dos anti-nuclearistas e dos ecologistas .
Em 1977, 110 cientistas e técnicos condenam o programa nuclear português num manifesto sobre a política energética.
Em 1977, com o M.E.P. já desactivado, os cadernos «Viver é Preciso» - «Ecologia e Sociedade» - publicados no Porto pela editora Afrontamento e o semanário «Gazeta das Caldas» organizam a reunião designada Coordenação Ecológica Portuguesa, onde compareceram grupos ecológicos de vários pontos do País. Era, finalmente, a «base democrática» que o M.E.P. assumidamente nunca teve.
Nessa reunião de 1977, o Grupo Ecológico e Antimilitarista de Coimbra, a Comissão de Luta Contra a Poluição do Alviela (ainda hoje por despoluir...) e o Grupo Não à Opção Nuclear (N.O.N.) decidiam iniciativas no campo anti-nuclear.
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ANTECEDENTES IDEOLÓGICOS DO M.E.P.
24/2/1991 – A pedido de uma estudante do Instituto de Estudos Sociais, compilei estes dados:
Vários afluentes ideológicos contribuíram para o rio do Movimento Ecológico Português (M.E.P.).
a) Os pacifistas e anarco-libertários, polarizados nas movimentações antinuclearistas;
b) A contestação estudantil de Maio 68, em França;
c) De certa maneira, os «hippies», com a sua palavra de ordem: «Faz amor, não faças a guerra» - são alguns dos movimentos que convergiram e que poderão ter inspirado (e encorajado) os que, em Portugal, um mês depois do 25 de Abril, entendiam a Ecologia como forma política de radicalizar o discurso ideológico e a acção de revolta contra a sociedade.
O que mais tarde viria a ser referido, como produto de importação, por «deep ecology».
O que no discurso marxista-leninista era, até então, a sociedade capitalista e burguesa, passou, no discurso dos ecologistas mais radicais, a ser predominantemente a «sociedade de consumo». A que depois se acrescentaria a componente tecnocrática, verdadeiro inimigo principal do ecologismo militante.
Todas essas influências e movimentos de ideias - desde o movimento antinuclearista aos novos utopistas das flores - pesaram na formação do Movimento Ecológico Português (M.E.P.), criado legalmente em 1975, como associação cultural de fins não lucrativos, com os estatutos publicados no «Diário da República» de 5 de Março de 1975, III série, Número 54.
Mais do que os movimentos de militância ideológico-política, porém, foram alguns filósofos, ideólogos e críticos da sociedade industrial os que deram melhores e mais fortes argumentos aos que decidiram fundar o M.E.P..
Herbert Marcuse, o crítico marxista da «sociedade unidimensional», foi um dos autores mais marcantes, na eclosão do Maio 68 e, posteriormente, dos movimentos ecologistas que foram surgindo , quer em França, quer nos EUA, quer em Espanha e Portugal.
Com Herbert Marcuse alinhavam, na utopia eco-libertária, filósofos que, entretanto, foram definindo as suas simpatias pela «revolução ecológica» .
Edgar Morin, René Dumont e , anos mais tarde, Michel Bosquet (que assinara com o nome de André Gorz os seus livros sobre o movimento proletário e sindical) viriam testemunhar o seu pleno apoio a uma Ecologia Política que radicalizava a crítica à sociedade industrial e de consumo, muito para lá dos aspectos pontuais da crítica à poluição.
Michel Bosquet designou de «eco-fascismo» (Ver «Seara Nova» -------) a política oficial do Ambiente que, segundo ele, de formação marxista libertária, ajudaria o capitalismo a reproduzir-se e a multiplicar os seus próprios mecanismos de opressão e de exploração do homem pelo homem.
Michel Bosquet esteve em estreito contacto com o filósofo Ivan Illich, cujas teses «convivialistas» compartilhava inteiramente. Ivan Illich seria para os principais responsáveis do M.E.P. um verdadeiro guru, o que dava a linha ideológica correcta de um verdadeiro e genuíno ecologismo, terreno fértil para a implantação gradual e evolutiva da «sociedade paralela» ou «sociedade das eco-alternativas». Foi o que na «Frente Ecológica», em certa data, se chamou «radical-reformismo», assumindo conscientemente o «aparente» paradoxo da expressão.
Radical reformismo a que muitos escritos editados na «Frente Ecológica» chamaram «realismo ecológico» ou «eco-realismo» para o demarcar de outras correntes ou «eco-equívocos» e «eco-sofismas» (dois neologismos dos textos M.E.P. e «F.E.», onde os neologismos, aliás, abundam, talvez pela necessidade de expressar e proclamar ideias radicalmente diferentes das admitidas até então).
Em pleno período gonçalvista, um animador do M.E.P. não tinha dúvidas em intitular um livro de reportagens em Portugal de «Ecologia e Luta de Classes».
Essa «luta de classes» estaria latente nas manifestações populares contra a poluição industrial ou contra a eucaliptação desenfreada do País, traduzindo pura e simplesmente a revolta do oprimido (o residente) contra o opressor (a empresa ou indústria poluidora).
(Ver folheto de divulgação do livro publicado pela editora Socicultur, de que era proprietário o actual proprietário do Instituto Piaget, Dr. Oliveira Cruz, subsidiado por fundos europeus).
Esta forma alargada de entender a «luta de classes» viria, com os anos, estender-se a outras classes «oprimidas», nomeadamente o consumidor, as espécies vivas ameaçadas de extinção, os ecossistemas moribundos (serras, rios, lagos, oceanos, património cultural, etc), o doente, o peão, o munícipe, o eleitor, o idoso, a criança, o animal doméstico, todos incluídos, nos textos da «F.E.», entre os «humilhados e ofendidos» da sociedade. Entre os «colonizados» pelo «imperialismo industrial».
«Seres vivos de todo o Mundo, uni-vos, só tendes a perder as vossas algemas» foi uma das palavras de ordem ouvidas, quer no M.E.P., quer na «Frente Ecológica», quer nas Crónicas do Planeta Terra, que durante 12 anos, semanalmente, todos os sábados, o jornalista Afonso Cautela assinou no jornal vespertino «A Capital».
Preocupação dos que davam o tom «ideológico» aos textos e manifestos do Movimento Ecologista, nomeadamente do M.E.P., era a demarcação, por um lado das correntes conservacionistas, proteccionistas e reformistas, que vinham desde os finais do século XIX, proclamando a necessidade de «proteger a Natureza» e, por outro lado, da anti-poluição ou política oficial do Ambiente.
Era também preocupação dos ecologistas mais radicais não se confundirem com a política de parques e reservas ou mesmo com a política de ordenamento do território, largamente defendidas por Ribeiro Telles e outros ideólogos institucionais do Ambiente.
Neste ponto, as clivagens não eram fortes mas existiram e deram, por vezes, lugar a alguma polémica , nomeadamente entre dois grupos: os arquitectos paisagistas, Ribeiro Telles, Luís Coimbra, João Reis Gomes e Fernando Pessoa, de um lado, e alguns elementos mais destemidos do M.E.P., por outro.
Em uma das vezes, os jardins da Gulbenkian, obra do arquitecto Ribeiro Telles, serviram de pretexto à polémica.
José Carlos Marques, um dos primeiros ecologistas que animam a contestação anti-nuclear em Portugal, assumiria sempre uma posição mais moderada, quer em relação ao que os mais radicais chamavam «eco-equívocos», quer em relação aos organismos e instituições da política oficial do Ambiente.
Uma forma política de entender a ecologia, no entanto, reunia o consenso de todas estas tendências, talvez por ser a forma utópica por excelência: para todos eles, o único futuro viável da sociedade industrial seria o «eco-desenvolvimento» (neologismo do M.E.P. que, posteriormente, viria designar-se, entre os ambientocratas, «desenvolvimento sustentado»).
A «arma pacífica» por excelência da luta pela sociedade alternativa ou sociedade paralela, seriam as tecnologias alternativas ou eco-tecnologias, nas quais se incluíam todas as formas de energia infinita, não poluente e nacional (não importada), desde a energia solar à eólica, passando pelo biogás (gás metano) , pela energia das ondas e pela bioenergia ou energia humana Wilhelm Reich-(1897-1857) era aqui o filósofo inspirador.
Ainda hoje não se percebe porque é que a «utopia realista» desta sociedade paralela, a pouco e pouco construída sobre as ruínas da sociedade industrial , não avançou sequer um milímetro. É o maior mistério de toda a história do ecologismo em Portugal, que coincide com o suicídio acelerado de um País, acelerado por todos os democratas da Praça, desde o 25 de Abril.
Ainda hoje é um mistério porque é que todos, inclusive grupos ambientalistas, deixaram morrer essa frente de luta, a única que de facto podia permitir uma saída à sociedade industrial, apertada no «círculo de ferro» (como lhe chamou o norte-americano Barry Commoner, outro filósofo e militante do ecologismo) da crise ambiental e a lógica implacával de destruição que é intrínseca à sociedade industrial.
A destruição, portanto, será consumada sem retrocesso possível, pelo que alguns ecologistas do M.E.P. , sem abandonar o radicalismo inicial, antes pelo contrário, radicalizam posições e falam de «Novo Paradigma».
Um «Novo Paradigma» ou «Ecologia Alargada» coloca na saída pela vertical o que todos os ecologismos têm procurado na horizontal, sem conseguir uma única vitória. Falando sem eufemismos, o que hoje esse(s) ecologista(s) defende(m) é uma posição política religiosa, a que chama(m) «saída pela vertical».
Esta saída pela vertical relaciona-se com os novos dados cósmicos, «au point» desde 26 de Agosto de 1983, e o facto energético indiscutível da astronomia que é a Era Zodiacal do Aquário, em que o equilíbrio ecológico será um dado irreversível, tal como a destruição ambiental era um dado irreversível da Era zodiacal dos Peixes.
Embora houvesse um estado de espírito mundial, desde o fim da II Guerra Mundial, contra o Nuclear, mais semelhante a um «estado de choque» que paralisava a revolta e as movimentações, foi nos anos 50 que a luta contra o Nuclear provocou movimentações da população.
Eram as centrais nucleares, ditas até então pacíficas, por oposição ao átomo militar, o alvo desses grupos que, pela primeira vez, denunciaram a hipocrisia de se condenar o armamento nuclear ao mesmo tempo que se defendiam as centrais nucleares , só porque elas se «limitavam» a fornecer energia eléctrica às populações.
Durante muitos anos o sofisma do «átomo pacífico», por oposição ao «átomo militar», conseguiu livre trânsito na opinião pública.
Que os resíduos de Plutónio das centrais nucleares fossem a grande matéria-prima das bombas termo-nucleares (e respectivas experiências de rebentamentos, primeiro na atmosfera e depois subterrâneas) - era a denúncia que os anti-nuclearistas primeiro e os ecologistas neles inspirados depois, resolveram realizar.
Que as centrais eram «bombas» potenciais, só Three Mile Island (Março/1979) e Chernobyl (Data [---] viriam tragicamente mostrar, muitos anos depois.
O «internacionalismo» da crise ambiental (a «poluição não conhece fronteiras» seria a palavra de ordem nos anos 60 e 70) motivaria em parte a hostilidade aos ecologistas dos regimes e governos com mais vocação internacionalista e totalitária, as conhecidas superpotências, assim autodenominadas pelo seu peso em megatoneladas e em capacidade de destruição nuclear - URSS, EUA, China, Grã Bretanha e França - exactamente as que, ao longo de 5 décadas (até hoje, Maio de 1997), realizaram milhares de testes nucleares subterrâneos.
Nunca nenhuma das superpotências alguma vez revelou o número exacto desses rebentamentos, talvez porque tivessem originado, ao longo de trinta anos, quase sempre sismos catastróficos e quase sempre ao fim-de-semana como se pode verificar consultando os jornais de todos esses anos.
Cientistas da Biologia escreveram livros de tonalidade ameaçadora. Pertencem a Jean Dorst, por exemplo, «Antes que a Natureza Morra» e «A Natureza Desnaturada», títulos de dois livros seus. Alegando a famosa e famigerada neutralidade que a ciência tem de manter, davam apenas argumentos «científicos» aos que preconizavam a luta política. Depois, lavavam daí as suas mãos de cientistas neutrais. Como se ciência e cientistas não tivessem sido o principal contributo à crise ambiental.
Militantes da ecologia como René Dumont vieram da Sociologia da Fome Mundial e das evidentes preocupações que a agricultura química intensiva (adubos e pesticidas) começava a suscitar, apesar das enormes pressões sobre a opinião pública quer das multinacionais do «agrobusiness», quer da própria F.A.O., departamento das Nações Unidas, onde se destacou o cientista Norman Borlaug, «prémio Nobel da Leguminosa Seca» como lhe chamava um folheto da «Frente Ecológica».
Em algumas ocasiões, no âmbito do M.E.P. e das edições «Frente Ecológica», esse tema-tabu da agroquímica e do agrobusiness foi abordado, já que era e tem continuado a ser um dos que a indústria mais tem silenciado, a pretexto do objectivo humanitário de «matar a fome mundial».
Como René Dumont, entre outros, desmascarou, não só não se mata a fome com uma agricultura auto-destrutiva, como cada vez mais se contribui para a fazer alastrar.
Ribeiro Telles, quando o deixam, tem sido uma das vozes a denunciar este facto.
Antecedente do M.E.P. poderá considerar-se o «Ano Europeu da Protecção à Natureza», tendo surgido, na colecção de livros de bolso «Cadernos do Século», um dossiê, traduzido do «Le Monde Diplomatique», onde figuravam textos de várias figuras de proa do movimento. A iniciativa dessa publicação foi de um militante daquilo que, 5 anos depois, se chamaria M.E.P.
Dois outros antecedentes se poderão assinalar no ano de 1972:
1 - Encomendado pelo Clube de Roma - que integrava trusts económicos de vulto (altamente poluidores...) como a Fiat, Olivetti e Fundação Wolkswagen - o relatório do M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology ) dava alento aos ecologistas defensores do «desenvolvimento zero», classificado pelos tecnocratas de utopia e loucura mas que ainda hoje não se sabe se seria assim uma loucura tão utópica ou se utopia, sim, foi e continua a ser a tecnocracia da sociedade industrial e sua lógica de auto-destruição.
2 - Estímulo para os que precisavam de ver confirmadas internacionalmente as suas ideias, foi o Congresso Mundial do Ambiente em Estocolmo (110 governos representados) de que iria aparecer um dossiê organizado também por um futuro militante do M.E.P. , na colecção Zero por ele organizada para a editora Morais, de Lisboa.
Título: «A Conferência do Terror - Estocolmo 72».
A chamada «Moratória Nuclear», estratégia que consistia em exigir dos governos um adiamento das decisões (para a construção de centrais nucleares), seria uma das acções mais relevantes do M.E.P. , no seu primeiro ano de existência.
Em Novembro de 1974, o I Encontro do M.E.P. , realizado na Figueira da Foz, aprovava uma declaração contra o projecto do Secretário de Estado da Indústria, Torres Campos, agora a gozar pacificamente e sem centrais nucleares por perto a sua pacífica reforma de ex-nuclearista como comissário substituto da Expo98.
A propósito de ex-nuclearistas na reforma, nunca será demais enfatizar o peso pesado do maior deles todos, Veiga Simão, que o PS recompensou pelos bons serviços prestados, dando-lhe o alto cargo de presidente do LNETI. Curiosa e logicamente, foi este templo da energia e da tecnologia industrial que acolheu os 7 projectos de energias alternativas em curso na Direcção Geral de Energia, projectos de que o País nunca mais ouviu falar desde então, apesar de largamente subsidiados pelo Banco Mundial.
É caso para dizer que o LNETI e seu presidente são mais papistas do que o Papa.
Em Fevereiro de 1975, o II Encontro do M.E.P. afirmava a sua rejeição incondicional do programa nuclear português, plano que, através de manipulações várias, viria a mostrar-se apenas um balão vazio para afugentar papalvos.
Um outro projecto , o da barragem de Alqueva, não teria o mesmo destino de morrer na casca como morreu o nuclear.
Que se saiba, 3 únicas vozes se levantaram (para logo serem abafadas) contra este cometimento: Gonçalo Ribeiro Telles e outros elementos do PPM, Carlos Filipe Marreiro da Luz (sociólogo) e Afonso Cautela (Jornalista).
Em um e outro caso - Central Nuclear e Alqueva - Ribeiro Telles, secretário de Estado do Ambiente no I Governo constitucional, seria uma das poucas vozes, com peso político institucional , a denunciar os absurdos dos projectos promotores do subdesenvolvimento em nome do desenvolvimento.
No fervor revolucionário pós 25 de Abril, a campanha do agrónomo René Dumont para a Presidência da República em França, viria cair como sopa no mel entre os ecologistas do M.E.P. , que lhe dedicaram, entre outros testemunhos de solidariedade, uma capa do jornal «Frente Ecológica », órgão do movimento ecologista em Portugal .
A esquerda socialista de René Dumont era, politicamente, a posição que mais agradava aos responsáveis do M.E.P. e que melhor traduzia a ideologia defendida por jovens de esquerda, apertados entre o estalinismo do P.C. , os reformismos folclóricos dos conservadores e as utopias impossíveis dos anarco-libertários.
Dumont dava alento aos que já então preconizavam um partido ecologista, ideia que os anarco-libertários sempre hostilizaram e sabotaram. Sabotagem esta que viria agradar imenso ao Partido Comunista quando, anos mais tarde, esgotada a luta sindical e outro capital de protesto, outros pretextos de mandar consecutivamente para a rua todos os governos, criou ex-nihilo o «Partido dos Verdes», curiosa, natural e abusivamente intitulado Movimento Ecológico Português - nome que desde 7 de Fevereiro de 1975 se encontrava registado no 10º Cartório Notarial de Lisboa.
A ingenuidade do M.E.P. e dos seus responsáveis, em Março de 1975, tê-los-ia levado a acreditar que um governo democrático, um Estado de Direito como demagogicamente se repete, era diferente de um governo «fascista» e que, portanto, fazia sentido apresentar ao Governo um dossiê sobre o «perigo das centrais nucleares», assim como a petição da moratória com 500 assinaturas.
Paralelamente aos esforços do M.E.P., o Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto propunha uma série de medidas para «alternativas energéticas» e, em Março de 1976, nascia a CALCAN (Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça Nuclear) em Peniche, perto de Ferrel, onde o Governo vinha ameaçando, sem grande convicção diga-se , que iria construir a Central Nuclear.
Para alguns responsáveis do M.E.P. era claro que o Governo, com ameaças de construir centrais em lugares precisos do território, tinha apenas o objectivo de testar a reacção das populações, da opinião pública, dos anti-nuclearistas e dos ecologistas .
Em 1977, 110 cientistas e técnicos condenam o programa nuclear português num manifesto sobre a política energética.
Em 1977, com o M.E.P. já desactivado, os cadernos «Viver é Preciso» - «Ecologia e Sociedade» - publicados no Porto pela editora Afrontamento e o semanário «Gazeta das Caldas» organizam a reunião designada Coordenação Ecológica Portuguesa, onde compareceram grupos ecológicos de vários pontos do País. Era, finalmente, a «base democrática» que o M.E.P. assumidamente nunca teve.
Nessa reunião de 1977, o Grupo Ecológico e Antimilitarista de Coimbra, a Comissão de Luta Contra a Poluição do Alviela (ainda hoje por despoluir...) e o Grupo Não à Opção Nuclear (N.O.N.) decidiam iniciativas no campo anti-nuclear.
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