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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-04-13

CONSUMIDOR 1986

86-04-15- Ateliê Yin Yang



EM DEFESA DO CONSUMIDOR - CARTA AOS AMIGOS DE UM «FREE-LANCER»

15/4/1986 - A informação ao consumidor tem sido, em Portugal, uma batalha longa e penosa de alguns poucos, tão poucos que os dedos de uma só mão chegam e sobram para os contar...
Quando, por força das pressões internacionais ( e só) o poder criou os primeiros organismos oficiais encarregados de zelar pelos direitos do consumidor, alguns observadores mais sagazes, como Beja Santos, fizeram notar que a situação piorou e que os organismos de Estado, quando surgem, até parece que têm a missão exclusiva de neutralizar o que o free-lancer e o franco atirador, fazendo das tripas coração, remando contra ventos e marés, apesar de tudo vinha conseguindo fazer, com o seu «borboletismo» idealista, em defesa do consumidor e dos seus direitos.
Como free-lancer e franco-atirador nesse impopular e incómodo mercado (o da informação) de onde todos fogem quando se trata de pura e simplesmente dizer a verdade, nomeadamente nas actividades ainda mais incómodas designadas de saúde, ecologia e segurança do cidadão, venho mais uma vez oferecer os meus fracos préstimos ao tal «mercado da saúde» .


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BIOSFERA 1970

1-2-70-04-15-ie-et> sexta-feira, 29 de novembro de 2002-scan

PARA UMA POLÍTICA PLANETÁRIA (*)

(*) Este texto de Afonso Cautela, com este título, serviu de prefácio ao livro «O Suicídio da Humanidade», Nº 3 da colecção «Cadernos do Século», por ele dirigida na editorial «O Século», Abril de 1970 (data da tipografia)

[Abril de 1970 ] - Não falta quem considere bastante platónicos os apelos que, desde Setembro de 1968, por iniciativa da UNESCO, até Janeiro de 1970, por iniciativa do Conselho da Europa, foram lançados, no sentido de conservar a natureza e proteger o homem.

De facto, não se vê como é que uma civilização tão orgulhosa do seu poderio e tão empenhada em dominar a natureza, irá abdicar desse domínio e renunciar aos seus próprios detritos.

Há também quem veja nesses sinais de alarme e toques de reunir uma manobra de distracção política. Sendo o problema da poluição um problema de metapolítica (ou, na terminologia de Edgar Morin, antropolítica), porque respeita a toda a Humanidade e não a parcelas nacionais, a este ou àquele país ou continente ou bloco, falar dele antes que os imediatos conflitos e as próximas violências estejam sanados ou em vias de solução seria - para os mais duros, mais ortodoxos, mais míopes - uma embaladora maneira de nos iludirmos.

No entanto, e segundo os peritos que têm vindo a enriquecer o dossier Poluição (em parte transcrito no presente caderno), estamos muito mais próximos de um suicídio colectivo e de uma total destruição do que os distraídos ou optimistas supõem e do que as guerras locais e semilocais deixam perceber.

Daí que o Conselho da Europa tenha decidido lançar uma campanha contra a poluição e suas nefastas consequências sobre o habitat humano.

Trata-se, no fundo, menos de combater o próprio mal que se denuncia, do que mobilizar os espíritos, esclarecer a opinião (primeiro) e aproveitar (depois) a força que de muitas opiniões unânimes e conjugadas sobre um determinado alvo-objectivo pode advir.

Trata-se, inclusive, de pedir um cessar fogo imediato nos conflitos localizados e dizer, pedir à Humanidade, que, em vez de se entredestruir, em vez de se combater (todas as guerras são civis), tente a sua última oportunidade de sobreviver em conjunto e de em conjunto viver.

Se a biosfera se satura de venenos letais, se o meio ambiente se degrada e polui, se o encombrement ameaça sufocar, afogar e paralisar o homem, todos devem saber se ainda vão a tempo de emendar a civilização, de se defender e de preparar um mundo mais habitável aos que vierem.

Em Outubro de 1968, o semanário L'Express, a propósito da já citada conferência promovida pela UNESCO, escrevia:

« A Terra está em perigo! Eis o grito de alarme lançado por cerca de 300 peritos, representando uns 50 países, a fim de proporem «bases científicas para a utilização racional e para a conservação dos recursos da biosfera.»

Mas em 1968, o tema era ainda de lunáticos (sábios e cientistas, na emergência, mas lunáticos). Os sensatos, os do imediato, os do improviso, os do curto prazo, os do deixa andar, riam-se e duvidavam de que a poluição pudesse constituir problema, ou sequer tema de simpósios internacionais.
Vozes isoladas - o franco-atirador, o poeta, o filósofo, o pedagogo, o urbanista, o espírito prospectivo - teimavam em denunciar a situação, mas sem eco nos círculos da administração política. Em Janeiro de 1969, o Le Courier da UNESCO publicava um número especial com uma capa triste: um pinguim sucumbia, de asas pendidas como um símbolo, à invasão da toalha de óleo que, em qualquer oceano, deixara um cargueiro gigante. E perguntava: «Poderemos tornar o nosso planeta habitável?»

Dessa inabitabilidade surgiriam ecos cada vez mais insistentes, até que a administração Nixon (um homem político secundava, pela primeira vez, a inquietação dos lunáticos) fazia do combate à poluição um dos seus propósitos centrais (caso de vida ou de morte para muitas megalópolis norte-americanas) até 1980.
Dois anos, portanto, bastaram: através de manifestações na América e na Europa - campanhas de Imprensa, declarações de homens políticos e mesmo medidas governamentais - o homem da rua descobre, neste princípio de ano e de década, os perigos que impendem sobre o seu habitat natural.

Consagrado normalmente a problemas de instância política imediata, não é talvez por acaso que o mensário Le Monde Diplomatique resolve consagrar aos Perils de L'Environnement um dossier especial, no seu número de Fevereiro de 1970. Neste volume o reproduzimos, acrescentando-lhe alguns textos que possam completá-lo ou reforçar os pontos de vistas expostos.

Limitando-se à biosfera, esse dossier e, portanto, este caderno, não considera mas pressupõe outros capítulos igualmente importantes do ecossistema: a civilização industrial condiciona não só os corpos mas também as mentes dos indivíduos.
Quando Herbert Marcuse denuncia o processo ou circuito fechado, sem pontos de ruptura, está a referir-se, nem mais nem menos, do que à poluição mitológica ou cultural que envolve o grupo humano urbanizado - grupo que deixa de se poder auto-discutir e que, portanto, se autodestrói O problema Poluição é assim e finalmente um problema total, digamos mesmo global (relativo a globo terrestre) implicando, por isso, perspectivas e soluções de política planetária.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, com este título, serviu de prefácio ao livro «O Suicídio da Humanidade», Nº 3 da colecção «Cadernos do Século», por ele dirigida na editorial «O Século», Abril de 1970 (data da tipografia)
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CPT 1983

trabalho-7> carta à juventude – os dossiês do silêncio – como se fabrica o desemprego – como se atira a juventude à fossa – como se prepara o inferno chamando-lhe paraíso – 5 estrelas

CRESCER, CRESCER, CRESCER ATÉ REBENTAR:AFINAL EM QUE FICAMOS? (*)

(*) Com este ou outro título, deverá ter sido publicado no jornal «A Capital», ignoro a data

[15-4-1983]

1984 - "Estagnação económica?” “Recessão"? Mas então não se tratava de levar até ao fim e ao infinito o "modelo de desenvolvimento" baseado no dogma religioso do crescimento sem limites? Não se tratava de crescer até rebentar?
O desemprego, a estagnaflação, a recessão parecem assim mecanismos de segurança, válvulas de escape, que o próprio sistema segrega para não rebentar mesmo, para a sua automanutenção no declive da crise.
Como não quer rebentar - embora isso esteja dentro da 1ógica - atrasa o ritmo, retarda a fúria , o ''delirium tremens'' do "mais, mais, sempre mais." O infinito dentro de um planeta finito.
Temos então, como se fosse a febre que mantém vivo este corpo podre, o desemprego generalizado. Consultem-se os números em anexo e ver-se-á de que maneira o desemprego é apenas o sub-produto natural e lógico do sistema que julgou viver matando os ecossistemas, despovoando o Mundo Rural, concentrando as populações arrancadas à terra nas cidades-cancro, nas cidades-pesadelos, nas cidades-vampiro.

DESEMPREGO GENERALIZADO

Diligentes sociólogos e parlamentares da CEE, em Abril de 1983, estimaram por exemplo que os jovens com menos de 25 anos constituem 40 por cento dos desempregados.
Diligentes analistas de estatatísticas concluíram, em Portugal, que um quinto dos desempregados são jovens e nunca trabalharam.
O sistema continua fabricando licenciados para pura e simplesmente os deitar na pia, no vazio do desemprego e do desespero. Mas não se esqueçam de ir dizer que eu é que tenho uma linguagem violenta, está bem?
Dir-se-á que é a inércia da lógica do absurdo do sistema. É, de facto, a inércia da asneira e do crime deliberado. Não do crime ocasional ou acidental: do crime sistemático, pré-fabricado e planificado. Assim se gaba de ser a economia que temos, não é verdade?
E tantos técnicos responsáveis (quando chegará também para esses fabricantes de desemprego a hora do seu deles desemprego?) não chegaram para prever esta crise. Não havia indícios?
Evidentemente que não é preciso indícios do que já se sabe ir acontecer por lógica interna do sistema. Porque está dentro da própria lógica, ainda que absurda, deste modelo que se diz "crescimento" e que é atrofia, que se diz desenvolvimento e é reacção, que se diz progresso e é retrocesso.
Se o sistema , na fase de imposição a ferro e fogo (a pomposamente chamada "revolução industrial"), levou décadas intoxicando os cérebros e bramando contra a mão de obra intensiva, destruindo empregos porque era precisa despovoar o campo, inutilizando postos de artesanato porque era necessário industrializar, porque grita agora que não é capaz de criar postos de trabalho, de fazer viver o que canibalescamente matou?
Não se esqueçam , entretanto, de dizer que sou eu o da linguagem violenta, que dramatizo, que tenho a mania de me envolver emocionalmente nos problemas e que tenho um "sentido conspirativo da história".

MENTIRA ESTRUTURAL

Onde estão esses postos de trabalho que o sistema disse estarem a mais quando aliciou agricultores para a cidade e para os concentracionários industriais?
Não sabiam os previsionistas, filhos e netos do sr. Herman Khan, que a recessão é inevitável e que nem a rã da fábula cresceu pela simples razão de que estoirou? Porque se mostram, os futurologistas no poder, de "novas" quando a recessão aparece? Quando o desemprego alastra?
Sendo os jovens, segundo as estatísticas, o grupo etário que vai apanhar de frente com a força da vaga, é à geração "desempregada" que deve ser dirigida a pergunta de um velho de cinquenta e um anos, já a cair da tripeça e a que juventude naturalmente votará o natural e juvenil desprezo que é seu timbre
Será que outra geração vai ser engodada no mesmo silvo em que foram enganadas as anteriores?
Despejados no vazio do desemprego, depois de lhes prometerem futuros brilhantes e astro-espaciais como-o-do-papá, será que os jovens vão perceber que a mentira é estrutural, que tem uma assaz curta história de 100 anos e que radica na podre mitologia desenvolvimentista, toda ela canibalesca e devoradora não só dos mitos que vai gerando mas dos homens e das mulheres que vai armadilhando?
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(*) Com este ou outro título, deverá ter sido publicado no jornal «A Capital», ignoro a data
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MEDICINAS 1984

84-04-15> CM = consumidor de medicinas

15-4-1984

ALOPATAS, NATUROPATAS & COMPANHIA : UM DESABAFO PESSOAL

Permitam-me que cite o meu caso pessoal , mas talvez sirva para ilustrar a situação geral em que os encontramos, nós, doentes, face aos doutores da medicina, face aos doutores da naturopatia e, mais recentemente, face à coligação que se cozinha entre doutores de uma e outra extracção.
Tendo calcurriado a via sacra de todos os médicos, não só por mim mas principalmente por minha mãe, nos últimos anos, continuo completamente sozinho e às cegas a ter que tratar dela com os poucos conhecimentos e a escassez técnica que possuo.
Desde que me conheço que combato a medicina que mata. De facto, quando todos se encolhiam debaixo da autoridade médica e publicamente , nos jornais, não havia uma só palavra a denunciar a ditadura dos doutores em medicina, atirei-me eu como cão a osso e não mais o larguei.
Mas condenar a medicina química sem encontrar alternativas é cair no total desespero. E há duas décadas que procuro: claro que a medicina oriental, para quem olhe de longe, logo se verifica ser o único sistema certo. Não mais uma teoria ou hipótese médica, mas a verdade.
O problema consistia, portanto, aqui, em saber quem o faria funcionar com o mínimo de correcção.
E foi aí que as decepções se acumularam atrás umas das outras.
O exemplo de minha mãe ilustra o que digo. Até hoje, cada doutor fez-lhe um diagnóstico diferente - ou, o que é o mesmo, nem sequer diagnóstico lhe fez. de duas, uma: ou todos os diagnósticos estão errados, ou estão todos certos.
Um doutor disse que era reumático, porque de facto a senhora sofreu de reumático e ainda sofre. Mas a infecção em causa e que neste momento mais a faz sofrer - contraturas no pé direito - não parece ter nada a ver com reumático.
Outros doutores opinaram, falando de flebite e declaram tratar-se de má circulação venosa, quiçá de varizes internas.
Entretanto, outra sugestão foi aventada: não se trataria de osteofitos?
Mas não menos provável - diz outro - é que se trate de ácido úrico, embora as análises denotem uma fraca percentagem.
Entretanto e atendendo ao sítio - sempre o mesmo - das contraturas e das dores, aventou-se uma deficiência de vesícula, hipótese depois abandonada devido à hora, fatal, em que as maiores crises se desencadeiam, quer dizer, entre as 1 e as 4 da madrugada, ou talvez melhor: sempre que se deita ou fica na posição de sentada na cama.
Atendendo à hora da circulação energética, o mais provável era tratar-se de baço-pâncreas e de más digestões.
Neste momento, estou fixado no estômago, pois alguém, conhecedor de acupunctura, me rectificou o meridiano: não e vesícula (como eu supunha) mas estômago.
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BIBLIOTECA AC 1978

caldas-1> Biblioteca Dos Tempos Difíceis

UMA CENTRAL DE CONTRA-INFORMAÇÃO - PROPOSTA DE TRABALHO

15/4/1978 - Em maio de 1978 da Era cristã no Planeta Terra, Terceiro do Sistema Solar, a principal linha de clivagem parece ser esta:
de um lado os que estão atentos aos sinais da Mudança, às derrapagens do Apocalipse, à Era do Aquário que desponta e desperta;
do outro lado, os que permanecem estáticos, alheios, cegos e surdos ao movimento incessante da mutação e transmutação;
de um lado, aquele onde nos encontramos, os que descreram das soluções e saídas à crise propostas pela mesma mentalidade dualista que engendrou a crise;
do outro lado os que continuam empenhados em multiplicar a violência com a violência propondo como solução para as monstruosidades e absurdos, absurdos e monstruosidades cada vez maiores;
de um lado, o nosso, os que sentem a necessidade de abandonar evolutivamente as tecnologias pesadas, as energias hiperpoluentes, as metafísicas sem saída, as religiões esclerosadas, os grandes sistemas destruidores dos ecossistemas; os que constroem, criadoramente„ o mundo pós-diluviano das alternativas ecológicas;
do outro lado os que procuram as reformas dentro desses sistemas gigantescos e cada vez mais incontroláveis - dentro dos sub-sistemas que são a energia, a agricultura, a economia, a educação, a medicina, a ciência e a tecnologia tal como têm existido na civilização dualista;
de um lado, o nosso, os que falam de uma revolução profunda e radical que todas as revoluções de carácter puramente económico, político e social são apenas reformas parciais e epidérmicas;
do outro lado, os conservadores, reaccionários e revolucionários reformistas que nunca põem o problema de mudar a vida e a qualidade de vida;
de um lado, o deles, os que propõem, por exemplo, emendas à cidade, zonas verdes contra a asfixia urbana, pensos no cancro do gigantismo;
do outro lado, o nosso, os que dizem não à cidade e fundam, no campo, sob a forma de comunidades neo-tribais, as raízes de uma outra civilização.

É o momento parece, de não ignorar mais tempo esta linha de clivagem, ou deixar que outras se lhe sobreponham: regra geral, a antinomia hoje proposta - com ar de dilema - é urbi et orbi "capitalismo ou comunismo": talvez que urna terceira via, específica do Terceiro Mundo, corresponda a um tipo de descolonização ou revolução cultural que importa aos homens e povos humilhados por todo o tipo de imperialismo cultural que hoje disputa o poder exclusivo sobre todos os seres vivos e ecossistemas.
Neste Terceira Mundo incluem-se os homens e povos "colonizados" mas também os outros seres escravizados da História: animais, plantas, pedras, culturas originais, florestas, rios, mares, lagos, montanhas; um neo-franciscanismo será, neste momento, uma das dominantes ideológicas de Mudança,
É o momento, parece, da vanguarda ou elite desta Revolução Cultural assumir a sua própria vocação histórica e as suas responsabilidades.
É o momento, parece, de marcar posição e manifestar um programa de trabalho, criar um núcleo dinamizador, definir o campo de acção.
Para os tempos difíceis do Mundo Pós-diluviano, dois pontos parecem desde já fulcrais:
a)Os problemas que neste momento apresentam prioridade não são os de luta ao da linha contrária, são os da própria Revolução Cultural enquanto vanguarda histórica que se procura; os problemas são internos a esta vanguarda, são de autocrítica e autognose, são de balanço a desvios, sofismas, erros, que a própria vanguarda pratica;
b) É no campo de Contra-Informação que parece residir neste momento a contradição mais aguda: de facto, a Informação que alinha pelas ilusões e mentiras do Establishment, pelo sistema e seus subsistemas, pelas regras do jogo dualista, é cega, venal, insensível, desatenta, monótona, bairrista, provinciana; relatando, sem consciência deles, os próprios factos que são sinal dos tempos a vir, a informação dominante é totalmente cega a esses sinais e surda às "trombetas da Apocalipse"; não só porque se encontra vendida ou comprometida aos interesses ou poderes do capital, do partido, da classe, da empresa, do produto, disto ou daquilo, mas porque a própria essência desta Desinformação é ser insensível, amorfa, imediatista, anedótica, alheia aos murmúrios do Tempo que Chega, da aurora que desponta, da grande Mudança que se acelera.

Eis o facto: para construir a Arca da Mudança, e lançar as raízes do Mundo pós-diluviano, nós escolhemos este papel e esta função entre outras possíveis, necessárias. Considerando que a informação dominante não serve e de que não é possível construir sem, a partir de zero, reconstruir a Ciência Original ou Iniciática, os que alinham hoje no amanhã vão procurar, a partir do mais remoto Ontem, fundar uma Central de Contra-Informação Ecológica para o Tempo de Mudança.
Para nós, essa Contra-Informação é um dos alicerces do Mundo Alternativo a construir; mas é a consciência cada vez mais clara do tempo apocalíptico em que nos encontramos. Apocalipse do qual a crise ecológica não é a única mas é a encruzilhada polarizadora, se queremos partir de premissas realistas.
Irrealismo de estéril fantasmagoria é o dos "espiritualistas" que dizem alinhar no tempo futuro, sem no entanto estar conscientes das contradições presentes para as ultrapassar: esta uma das muitas questões polémicas a debater internamente entre os Mágicos do Despertar.
Concretizando, trata-se de fundar um Centro de Informação e Alternativas Ecológicas ao Mundo Moribundo do Apocalipse.
Acontece que esse centro de Informação vem, com alguma paciência e angústia, com muita incerteza e solidão, a ser montado em termos bastante artesanais e precários, há já uns anos.
Existe um embrião desse Central Contra-Informativa e algum património material.
Existe um fundo de edições pobres, subdesenvolvidas, terceiro mundistas no campo da Ecologia e da Contra-.Cultura ou descolonização Cultural.
Existem milhares de artigos traaduzidos e dactilografados para eventual reprodução ao stencil,
Existem artigos em revistas para elaborar fichas que estejam constantemente à disposição e ao alcance dos náufragos que delas necessitem quando procuram as novas praias do futuro e querem uma carta geográfica do Desconhecido.
Existem livros salvos do "dilúvio" que, no conjunto, fazem um autêntico Manual dos Tempos Difíceis, livros que convém salvar como Camões salvou Os Lusíadas: nadando.
Trata-se agora de:
Ampliar e fomentar o que é apenas um em embrião;
Tornar obra colectiva o que tem sido até agora esforço individual;
Intensificar o desenvolvimento de todas as ramificações que este embrião representa;
Encontrar a fórmula institucional que incorpore esse património já existente, o administre e o desenvolva;
Elaborar centenas de fichas para divulgar entre os interessados todo o material informativo inédito que lhes pode ser útil e necessário;
Sistematizar e fazer circular a informação que a informação no poder não dá e sistemàticamente silencia;
Criar, a pretextos pontuais, um mecanismo organizativo que na primeira oportunidade dê possibilidade a tarefas de fundo e âmbito mais permanente.
No campo das realizações pontuais, que dessem pretexto para essa estrutura organizativa se ir definindo e consolidando, cito:
Cooperativa de produção editorial, lançando fichas de temas inéditos no mercado corrente do Livro e da Cultura em geral;
Jornal que sirva de órgão difusor e aglutinador de todas as pessoas e energias que trabalham para a Mudança;
Manual dos tempos difíceis, sob a forma de fichas indicativas fornecendo-se posteriormente fotocópia dos textos em referência nessas fichas;
Preparar, desde já, manifestações que tenham o apogeu no próximo Dia Mundial do Sol a 3 de Maio de 1979: concursos literários e artísticos, autocolantes cartazes, cadernos antológicos marchas a pé, colóquios, mini-feiras, etc.
Preparar dossiês de informação sobre potencialidades e recursos das regiões onde começam a instalar-se comunidades rurais;
Dar andamento a uma associação de tecnologias e alternativas ecológicas, tal como foi proposta em 10 de Junho nas Caldas da Rainha;
Dar, no campo informativo, andamento intensivo a uma campanha nacional pelo Gás Metano;
Organizar, de modo a torná-la cada vez mais funcional, a biblioteca que será património de Centro ou Instituto de Contra-Informação Ecológica para um Mundo Alternativo pós-diluviano.
Organizar, em regiões particularmente atingidas pelos pré-sinais do apocalipse ecológico – Sines, Setúbal, Cintura de Lisboa, Serra de Ossa, Serra do Algarve, etc.-encontros de estudo e trabalho para mobilizar a convergência de informação fundamental sobre os ecossistemas vivos dessas regiões;
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CPT 1989

10136 caracteres cff-3>chave>cartas> carta de ac a cf preparando a nossa histórica entrevista – testamento – listas de recapitulação – chave ac para ideias ac

OS DOSSIÊS DO SILÊNCIO DO ANO 1989 PARA TRÁS

Lisboa, 30/Maio/1994 - Por ser o último ano em que publiquei a CPT (Crónica do Planeta Terra), uma revisão das CPT de 1989 pode ser um bom ponto de partida para uma entrevista.
Quase todos os pontos quentes do realismo ecológico por ali passaram, quase todos os temas polémicos e malditos, quase todas as teses incómodas e perigosas por ali fizeram escala.
Vendo mais de perto as CPT de 1989, constato que nunca escrevi tanta coisa para me meter no inferno.
O Manifesto dos Silêncios - recordo - foi um dos projectos que alimentei e que continua a passar fome, pois pouca comida lhe tenho dado.
No centro das questões odiosas - as que o sistema particularmente odeia - está a do Cancro Ocupacional, eufemismo de Cancro profissional, que por sua vez é eufemismo de Cancro do Trabalho. Veja-se, portanto, «Carta Aberta a Elisa Damião - In Memorian para José Alfredo» e, quase da mesma data, «Bruxas & Curandeiros - A Farra dos Charlatães» ( 5/10/1989).
Quase tão odioso ao sistema como este tema do Cancro Medicamentoso ou Cancro Médico, vem o tema da Eucaliptomania que desertifica Portugal, em que reincidi várias vezes, ao longo do ano de 1989. Insisti, por várias vezes, nomeadamente na CPT de 30 de Setembro de 1989, na catástrofe ecológica do Eucalipto e, principalmente, na minha tese pessoal e intransmissível, a mais particularmente polémica, da ligação entre Eucaliptos- Incêndios de Verão-Celuloses-Desertificação.
Em 20/10/1989, com «Lógica Perversa - Greves contra o Povo», volto a um dos temas que me fizeram cair em desgraça junto da chamada esquerda: a lógica sectorial e sectária das greves, que redundam sempre em greves contra o Povo. Aliás, se não fossem favoráveis ao sistema, a CIP já tinha acabado com elas. Veja-se CPT «Lógica Perversa - Greves contra o Povo» (28/10/1989)
Já em Setembro, num dos sábados de Setembro, a CPT «Restos Mortais de 89 », retomava o tema mais que polémico, e tabu por excelência: o tratamento dado à velhice e a questão dos direitos humanos dos velhos.
Quanto a linguagem e a pruridos de linguagem, o que toda a gente gosta mesmo é das ordinarices de Miguel Esteves Cardoso e Herman José, socialmente são muito mais rentáveis .
O ano de 1989 culminaria com a CPT «O Avozinho», onde me permitia (também eu) a ousadia de me dirigir ao nosso PR, com todo o carinho que um PR deve merecer. Mas a propósito dos rebentamentos subterrâneos, na Muroroa, ordenados por «mon ami Mitterand» é que já não era nada carinhoso. Tive artes, nessa crónica , de citar a coroa de glória de Mitterrand, o programa de rebentamentos subterrâneos que produzem os sismos mais catastróficos de quantos se fabricam no Globo. Ao falar de um tema que nunca ninguém quis adoptar - e que permaneceu até hoje virgem - encerrava eu com chave de ouro não só este ano de 1989 como a série de crónicas do planeta terra (CPT), com que me vinha autoazucrinando (envenenando) desde há 12 anos.

Não iria imaginar que as minhas teses ficassem na moda, em 1994, quando em 1989, denunciava o mito das europas e invertia o slogan oficial, proclamando o meu slogan: «Não é Portugal que vai entrar na Europa, mas a Europa dos lixos tóxicos e perigosos que vai entrar em Portugal». Acho que escrevi qualquer coisa, em 1989, contra o fascismo da eurocracia: «Eu por mim voto em mim - Uma no Cravo, outra na Ferradura» (CPT, 28/2/1989).
Indo ainda mais ao regional, alonguei-me de novo com as minhas esquizofrenias contra a cidade de Lisboa, porque havia eleições nesse ano, ao que parece. «Amêndoas aos que Saem - Ai de quem Ganhar a 17» ( CPT, Julho/1989)
Com «Barulhos da Cidade», ainda regressei em 1989 a campanhas que supunha já abandonadas e a causas completamente perdidas, como foi a do Ruído, uma das minhas mais antigas obsessões, pois até um livro - «A Indústria do Ruído» - me mereceu. De facto, manifestei mais uma vez a minha estranheza sobre o silêncio crónico que há mais de vinte anos se tem feito à volta do Ruído. Não sei se o meu manifesto dos silêncios não deveria mesmo começar com o do Ruído, talvez o silêncio mais eloquente de todos. Valia a pena indagar porque é que o Ruído é um tema tão silenciado. Se não fosse o Ruído - creio que nunca teria descoberto a ecologia e que as agressões do Ambiente nunca me teriam incomodado. Creio que nunca teria feito a mais brilhante das minhas descobertas, a da Ecologia Humana, tão intrinsecamente ligada ao «ecorealismo» (também da minha autoria) e à radicalização do «ecologismo» que me opôs a todas as correntes reformistas e escutistas e campistas da ecologia.
Ainda a cidade e por causa das eleições desse ano, «Até Dezembro em Lisboa, Viver Melhor com os Nossos Buracos» (CPT, 5/8/1989), «Vaga de Asneiras submerge Lisboa - o Cadáver esquisito da «Frente Popular». Ou ainda «O Cadáver de Lisboa - Poder & Cultura, Ldª» (26/8/1989 )
Outros títulos de CPT 89 que podem conduzir a pistas da nossa entrevista:
- «Sassaricando se ganha o Céu - Os Bons serão Castigados» (25/11/1989)
- «Razões que a Razão Desconhece - Manicómio em Autogestão» (2/9/1989)
- «Todos Querem Vender o peixe - Peças de Lingerie» (anteriormente chamado «Cenas à boca de cena - Campanhas Perseverantes») ( 16/9/1989 )
- «Irmãos Siameses - Os Provocadores» (*) Este título é claramente inspirado na interminável série televisiva do canal 2, «Os Intocáveis» ( 23/9/1989)
- «Viva Batman, Morra Batman - Os Morcegos e os Corvos» ( 7/10/1989)
- «Com Óculos Cor-de-Rosa - O Nosso Inferno» ( )
- «O Sindroma dos Anos 80 - Autismo Ganhou» ( )
Outros itens deste 1989:
- Computador das Amoreiras -> Blenorragia da Fisco -> Sociedade Canibal
- Guerras fingidas -> Demagogia ou Sonambulismo -> Demagogia Livresca -> Hinos à ditadura iatrogénica -> A Piada dos Guerreiros -> Os Irmãos Siameses
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