CPT 1983
trabalho-7> carta à juventude – os dossiês do silêncio – como se fabrica o desemprego – como se atira a juventude à fossa – como se prepara o inferno chamando-lhe paraíso – 5 estrelas
CRESCER, CRESCER, CRESCER ATÉ REBENTAR:AFINAL EM QUE FICAMOS? (*)
(*) Com este ou outro título, deverá ter sido publicado no jornal «A Capital», ignoro a data
[15-4-1983]
1984 - "Estagnação económica?” “Recessão"? Mas então não se tratava de levar até ao fim e ao infinito o "modelo de desenvolvimento" baseado no dogma religioso do crescimento sem limites? Não se tratava de crescer até rebentar?
O desemprego, a estagnaflação, a recessão parecem assim mecanismos de segurança, válvulas de escape, que o próprio sistema segrega para não rebentar mesmo, para a sua automanutenção no declive da crise.
Como não quer rebentar - embora isso esteja dentro da 1ógica - atrasa o ritmo, retarda a fúria , o ''delirium tremens'' do "mais, mais, sempre mais." O infinito dentro de um planeta finito.
Temos então, como se fosse a febre que mantém vivo este corpo podre, o desemprego generalizado. Consultem-se os números em anexo e ver-se-á de que maneira o desemprego é apenas o sub-produto natural e lógico do sistema que julgou viver matando os ecossistemas, despovoando o Mundo Rural, concentrando as populações arrancadas à terra nas cidades-cancro, nas cidades-pesadelos, nas cidades-vampiro.
DESEMPREGO GENERALIZADO
Diligentes sociólogos e parlamentares da CEE, em Abril de 1983, estimaram por exemplo que os jovens com menos de 25 anos constituem 40 por cento dos desempregados.
Diligentes analistas de estatatísticas concluíram, em Portugal, que um quinto dos desempregados são jovens e nunca trabalharam.
O sistema continua fabricando licenciados para pura e simplesmente os deitar na pia, no vazio do desemprego e do desespero. Mas não se esqueçam de ir dizer que eu é que tenho uma linguagem violenta, está bem?
Dir-se-á que é a inércia da lógica do absurdo do sistema. É, de facto, a inércia da asneira e do crime deliberado. Não do crime ocasional ou acidental: do crime sistemático, pré-fabricado e planificado. Assim se gaba de ser a economia que temos, não é verdade?
E tantos técnicos responsáveis (quando chegará também para esses fabricantes de desemprego a hora do seu deles desemprego?) não chegaram para prever esta crise. Não havia indícios?
Evidentemente que não é preciso indícios do que já se sabe ir acontecer por lógica interna do sistema. Porque está dentro da própria lógica, ainda que absurda, deste modelo que se diz "crescimento" e que é atrofia, que se diz desenvolvimento e é reacção, que se diz progresso e é retrocesso.
Se o sistema , na fase de imposição a ferro e fogo (a pomposamente chamada "revolução industrial"), levou décadas intoxicando os cérebros e bramando contra a mão de obra intensiva, destruindo empregos porque era precisa despovoar o campo, inutilizando postos de artesanato porque era necessário industrializar, porque grita agora que não é capaz de criar postos de trabalho, de fazer viver o que canibalescamente matou?
Não se esqueçam , entretanto, de dizer que sou eu o da linguagem violenta, que dramatizo, que tenho a mania de me envolver emocionalmente nos problemas e que tenho um "sentido conspirativo da história".
MENTIRA ESTRUTURAL
Onde estão esses postos de trabalho que o sistema disse estarem a mais quando aliciou agricultores para a cidade e para os concentracionários industriais?
Não sabiam os previsionistas, filhos e netos do sr. Herman Khan, que a recessão é inevitável e que nem a rã da fábula cresceu pela simples razão de que estoirou? Porque se mostram, os futurologistas no poder, de "novas" quando a recessão aparece? Quando o desemprego alastra?
Sendo os jovens, segundo as estatísticas, o grupo etário que vai apanhar de frente com a força da vaga, é à geração "desempregada" que deve ser dirigida a pergunta de um velho de cinquenta e um anos, já a cair da tripeça e a que juventude naturalmente votará o natural e juvenil desprezo que é seu timbre
Será que outra geração vai ser engodada no mesmo silvo em que foram enganadas as anteriores?
Despejados no vazio do desemprego, depois de lhes prometerem futuros brilhantes e astro-espaciais como-o-do-papá, será que os jovens vão perceber que a mentira é estrutural, que tem uma assaz curta história de 100 anos e que radica na podre mitologia desenvolvimentista, toda ela canibalesca e devoradora não só dos mitos que vai gerando mas dos homens e das mulheres que vai armadilhando?
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(*) Com este ou outro título, deverá ter sido publicado no jornal «A Capital», ignoro a data
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CRESCER, CRESCER, CRESCER ATÉ REBENTAR:AFINAL EM QUE FICAMOS? (*)
(*) Com este ou outro título, deverá ter sido publicado no jornal «A Capital», ignoro a data
[15-4-1983]
1984 - "Estagnação económica?” “Recessão"? Mas então não se tratava de levar até ao fim e ao infinito o "modelo de desenvolvimento" baseado no dogma religioso do crescimento sem limites? Não se tratava de crescer até rebentar?
O desemprego, a estagnaflação, a recessão parecem assim mecanismos de segurança, válvulas de escape, que o próprio sistema segrega para não rebentar mesmo, para a sua automanutenção no declive da crise.
Como não quer rebentar - embora isso esteja dentro da 1ógica - atrasa o ritmo, retarda a fúria , o ''delirium tremens'' do "mais, mais, sempre mais." O infinito dentro de um planeta finito.
Temos então, como se fosse a febre que mantém vivo este corpo podre, o desemprego generalizado. Consultem-se os números em anexo e ver-se-á de que maneira o desemprego é apenas o sub-produto natural e lógico do sistema que julgou viver matando os ecossistemas, despovoando o Mundo Rural, concentrando as populações arrancadas à terra nas cidades-cancro, nas cidades-pesadelos, nas cidades-vampiro.
DESEMPREGO GENERALIZADO
Diligentes sociólogos e parlamentares da CEE, em Abril de 1983, estimaram por exemplo que os jovens com menos de 25 anos constituem 40 por cento dos desempregados.
Diligentes analistas de estatatísticas concluíram, em Portugal, que um quinto dos desempregados são jovens e nunca trabalharam.
O sistema continua fabricando licenciados para pura e simplesmente os deitar na pia, no vazio do desemprego e do desespero. Mas não se esqueçam de ir dizer que eu é que tenho uma linguagem violenta, está bem?
Dir-se-á que é a inércia da lógica do absurdo do sistema. É, de facto, a inércia da asneira e do crime deliberado. Não do crime ocasional ou acidental: do crime sistemático, pré-fabricado e planificado. Assim se gaba de ser a economia que temos, não é verdade?
E tantos técnicos responsáveis (quando chegará também para esses fabricantes de desemprego a hora do seu deles desemprego?) não chegaram para prever esta crise. Não havia indícios?
Evidentemente que não é preciso indícios do que já se sabe ir acontecer por lógica interna do sistema. Porque está dentro da própria lógica, ainda que absurda, deste modelo que se diz "crescimento" e que é atrofia, que se diz desenvolvimento e é reacção, que se diz progresso e é retrocesso.
Se o sistema , na fase de imposição a ferro e fogo (a pomposamente chamada "revolução industrial"), levou décadas intoxicando os cérebros e bramando contra a mão de obra intensiva, destruindo empregos porque era precisa despovoar o campo, inutilizando postos de artesanato porque era necessário industrializar, porque grita agora que não é capaz de criar postos de trabalho, de fazer viver o que canibalescamente matou?
Não se esqueçam , entretanto, de dizer que sou eu o da linguagem violenta, que dramatizo, que tenho a mania de me envolver emocionalmente nos problemas e que tenho um "sentido conspirativo da história".
MENTIRA ESTRUTURAL
Onde estão esses postos de trabalho que o sistema disse estarem a mais quando aliciou agricultores para a cidade e para os concentracionários industriais?
Não sabiam os previsionistas, filhos e netos do sr. Herman Khan, que a recessão é inevitável e que nem a rã da fábula cresceu pela simples razão de que estoirou? Porque se mostram, os futurologistas no poder, de "novas" quando a recessão aparece? Quando o desemprego alastra?
Sendo os jovens, segundo as estatísticas, o grupo etário que vai apanhar de frente com a força da vaga, é à geração "desempregada" que deve ser dirigida a pergunta de um velho de cinquenta e um anos, já a cair da tripeça e a que juventude naturalmente votará o natural e juvenil desprezo que é seu timbre
Será que outra geração vai ser engodada no mesmo silvo em que foram enganadas as anteriores?
Despejados no vazio do desemprego, depois de lhes prometerem futuros brilhantes e astro-espaciais como-o-do-papá, será que os jovens vão perceber que a mentira é estrutural, que tem uma assaz curta história de 100 anos e que radica na podre mitologia desenvolvimentista, toda ela canibalesca e devoradora não só dos mitos que vai gerando mas dos homens e das mulheres que vai armadilhando?
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(*) Com este ou outro título, deverá ter sido publicado no jornal «A Capital», ignoro a data
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