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2006-04-13

CPT 1989

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OS DOSSIÊS DO SILÊNCIO DO ANO 1989 PARA TRÁS

Lisboa, 30/Maio/1994 - Por ser o último ano em que publiquei a CPT (Crónica do Planeta Terra), uma revisão das CPT de 1989 pode ser um bom ponto de partida para uma entrevista.
Quase todos os pontos quentes do realismo ecológico por ali passaram, quase todos os temas polémicos e malditos, quase todas as teses incómodas e perigosas por ali fizeram escala.
Vendo mais de perto as CPT de 1989, constato que nunca escrevi tanta coisa para me meter no inferno.
O Manifesto dos Silêncios - recordo - foi um dos projectos que alimentei e que continua a passar fome, pois pouca comida lhe tenho dado.
No centro das questões odiosas - as que o sistema particularmente odeia - está a do Cancro Ocupacional, eufemismo de Cancro profissional, que por sua vez é eufemismo de Cancro do Trabalho. Veja-se, portanto, «Carta Aberta a Elisa Damião - In Memorian para José Alfredo» e, quase da mesma data, «Bruxas & Curandeiros - A Farra dos Charlatães» ( 5/10/1989).
Quase tão odioso ao sistema como este tema do Cancro Medicamentoso ou Cancro Médico, vem o tema da Eucaliptomania que desertifica Portugal, em que reincidi várias vezes, ao longo do ano de 1989. Insisti, por várias vezes, nomeadamente na CPT de 30 de Setembro de 1989, na catástrofe ecológica do Eucalipto e, principalmente, na minha tese pessoal e intransmissível, a mais particularmente polémica, da ligação entre Eucaliptos- Incêndios de Verão-Celuloses-Desertificação.
Em 20/10/1989, com «Lógica Perversa - Greves contra o Povo», volto a um dos temas que me fizeram cair em desgraça junto da chamada esquerda: a lógica sectorial e sectária das greves, que redundam sempre em greves contra o Povo. Aliás, se não fossem favoráveis ao sistema, a CIP já tinha acabado com elas. Veja-se CPT «Lógica Perversa - Greves contra o Povo» (28/10/1989)
Já em Setembro, num dos sábados de Setembro, a CPT «Restos Mortais de 89 », retomava o tema mais que polémico, e tabu por excelência: o tratamento dado à velhice e a questão dos direitos humanos dos velhos.
Quanto a linguagem e a pruridos de linguagem, o que toda a gente gosta mesmo é das ordinarices de Miguel Esteves Cardoso e Herman José, socialmente são muito mais rentáveis .
O ano de 1989 culminaria com a CPT «O Avozinho», onde me permitia (também eu) a ousadia de me dirigir ao nosso PR, com todo o carinho que um PR deve merecer. Mas a propósito dos rebentamentos subterrâneos, na Muroroa, ordenados por «mon ami Mitterand» é que já não era nada carinhoso. Tive artes, nessa crónica , de citar a coroa de glória de Mitterrand, o programa de rebentamentos subterrâneos que produzem os sismos mais catastróficos de quantos se fabricam no Globo. Ao falar de um tema que nunca ninguém quis adoptar - e que permaneceu até hoje virgem - encerrava eu com chave de ouro não só este ano de 1989 como a série de crónicas do planeta terra (CPT), com que me vinha autoazucrinando (envenenando) desde há 12 anos.

Não iria imaginar que as minhas teses ficassem na moda, em 1994, quando em 1989, denunciava o mito das europas e invertia o slogan oficial, proclamando o meu slogan: «Não é Portugal que vai entrar na Europa, mas a Europa dos lixos tóxicos e perigosos que vai entrar em Portugal». Acho que escrevi qualquer coisa, em 1989, contra o fascismo da eurocracia: «Eu por mim voto em mim - Uma no Cravo, outra na Ferradura» (CPT, 28/2/1989).
Indo ainda mais ao regional, alonguei-me de novo com as minhas esquizofrenias contra a cidade de Lisboa, porque havia eleições nesse ano, ao que parece. «Amêndoas aos que Saem - Ai de quem Ganhar a 17» ( CPT, Julho/1989)
Com «Barulhos da Cidade», ainda regressei em 1989 a campanhas que supunha já abandonadas e a causas completamente perdidas, como foi a do Ruído, uma das minhas mais antigas obsessões, pois até um livro - «A Indústria do Ruído» - me mereceu. De facto, manifestei mais uma vez a minha estranheza sobre o silêncio crónico que há mais de vinte anos se tem feito à volta do Ruído. Não sei se o meu manifesto dos silêncios não deveria mesmo começar com o do Ruído, talvez o silêncio mais eloquente de todos. Valia a pena indagar porque é que o Ruído é um tema tão silenciado. Se não fosse o Ruído - creio que nunca teria descoberto a ecologia e que as agressões do Ambiente nunca me teriam incomodado. Creio que nunca teria feito a mais brilhante das minhas descobertas, a da Ecologia Humana, tão intrinsecamente ligada ao «ecorealismo» (também da minha autoria) e à radicalização do «ecologismo» que me opôs a todas as correntes reformistas e escutistas e campistas da ecologia.
Ainda a cidade e por causa das eleições desse ano, «Até Dezembro em Lisboa, Viver Melhor com os Nossos Buracos» (CPT, 5/8/1989), «Vaga de Asneiras submerge Lisboa - o Cadáver esquisito da «Frente Popular». Ou ainda «O Cadáver de Lisboa - Poder & Cultura, Ldª» (26/8/1989 )
Outros títulos de CPT 89 que podem conduzir a pistas da nossa entrevista:
- «Sassaricando se ganha o Céu - Os Bons serão Castigados» (25/11/1989)
- «Razões que a Razão Desconhece - Manicómio em Autogestão» (2/9/1989)
- «Todos Querem Vender o peixe - Peças de Lingerie» (anteriormente chamado «Cenas à boca de cena - Campanhas Perseverantes») ( 16/9/1989 )
- «Irmãos Siameses - Os Provocadores» (*) Este título é claramente inspirado na interminável série televisiva do canal 2, «Os Intocáveis» ( 23/9/1989)
- «Viva Batman, Morra Batman - Os Morcegos e os Corvos» ( 7/10/1989)
- «Com Óculos Cor-de-Rosa - O Nosso Inferno» ( )
- «O Sindroma dos Anos 80 - Autismo Ganhou» ( )
Outros itens deste 1989:
- Computador das Amoreiras -> Blenorragia da Fisco -> Sociedade Canibal
- Guerras fingidas -> Demagogia ou Sonambulismo -> Demagogia Livresca -> Hinos à ditadura iatrogénica -> A Piada dos Guerreiros -> Os Irmãos Siameses
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