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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-03-15

ECOLOGISMO 1980

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15-3-1991

ECOLOGIA E AMBIENTOCRACIA - BIBLIOGRAFIA CASEIRA

Alguns títulos da «fe» elucidativos de uma consciência sobre os recuperacionismos e reducionismos do projecto ecologista

-Os amigos da vida: retrospectiva dos anos 70 , in «PH», 3/2/1980
-Manter o sistema com fotopilhas no telhado, in «PH», 3/2/1980
-A arma do prognóstico, in «A Capital», 2/2/1980
-Quando o lobo se veste de avozinha, col 100 dias, nº 6, ed. «FE»
-Os neolíticos da revolução, in «a capital», 20/10/1979
-Imperialismo industrial e não alinhados, in « A CAPITAL», 6/10/1979
-Tristes recordações de um Dia Mundial do Ambiente, in «Ecologia e Medicina»
-Maravilhas sintéticas para a nossa qualidade de vida, in «A Capital»
-Poluição, ópio do povo, in «A Capital», 10/5/1980
-Projecto UNESCO em acção - que doença no estuário do Tejo?, in «PH», 17/2/1980
-As costas largas de Portugal e os engenheiros do Ambiente, in «A Capital» , 1/3/1980
-Poluição para o Povo, casas ecológicas para os engenheiros, in « Barlavento», 15/1/1981
-Com ou sem pilhas solares, que sociedade queremos? , in «O Jornal da Província», 15/12/1980

REALISMO E ECOLOGISMOS
Títulos AC:
- Contributo à revolução ecológica, Lisboa, 1976, Col. ecopolítica, nº 1
-Os intelectuais e a ecologia - I - O preconceito romântico», in « A Capital», 5/Agosto/1978 e 2/Dezembro/1978
-As poluições do ecoanalfabetismo, in semanário «Extra», 20/Abril/1978
-Umbigos, Urticárias e a irresponsabilidade dos intelectuais, in « Diário Popular», 24/Agosto/1978
-Movimento ecológico e descolonização cultural, Lisboa, 1975, col. «Mini-Ecologia», nº 8, edições «Frente ecológica»

AS CARICATURAS DO ECOLOGISMO
-Os da ecologia com aspas, in «Frente Ecológica»
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NATUROLOGIA 1999

99-03-15-nn-ba-balanço do ano - tese-10

A FRAUDE DO ENSINO SUPERIOR

15/3/1999 - O dogma actualmente dominante e que pode ser fatal para a Naturologia e o ensino correcto da Naturologia, é o da especialização.
Segundo esse dogma , o ensino superior deverá caracterizar-se por levar a especialização até à completa desfiguração do real e dos reais movimentos que exprimem o real.
A atomização de informações e de nomenclaturas, instalou no ensino o reino do virtual, significando virtual a ausência de real.
Tal como queria lenine, é preciso , aqui, dar dois passos atrás para poder dar 3 passos em frente.
Para avançar em naturologia e na construção do novo paradigma, é preciso sistematica e obrigatoriamente recuar, em Biologia, em Física, em Química e em Fisiologia, recuar às matérias do 9º. 10º, 11º e 12º, recuperando os contextos globais que o dogma religioso da especialização e da respectiva «superioridade» do ensino superior, pulverizou como se o conhecimento adquirido anteriormente fosse lixo e tudo o que aluno andou a aprender desde o 9º ao 12º estivesse ultrapassado.
Este corte na continuidade das informações através dos vários escalões de ensino é uma das razões que faz do ensino superior o reino de malucos e paranóicos que de facto é.
Se é proibido dizê-lo, tanto mais necessário será dizê-lo.
Se é proibido dizê-lo, porque todos estão muito satisfeitos colaborando na gigantesca fraude, tanto mais necessário será dizê-lo e agir em conformidade com a verdade.
Seria lamentável que a Naturologia e o ensino da Naturologia colaborasse, sem um estremeção de consciência, nessa fraude e nessa falsidade.
Seria lamentável que a Naturologia, com medo do sistema e dos poderosos interesses instalados, colaborasse sem crítica e sem o mínimo de ditanciamento, na gigantesca fraude.
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RADIOECOLOGIA 1987

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15-3-1987

COMBATE A RADIAÇÕES IONIZANTES COM TERAPIAS NÃO CONVENCIONAIS

De uma entrevista dada à revista «Saúde Actual» ( Nº 16, Março de 1987) por Carlos Carvalho sobre defesa metabólica contra radiações ionizantes:

«Estratos orgânicos da tiróide, da medula, do baço, das supra-renais, para compensar,de acordo com as zonas afectadas, tentando equilibrar.
- A melhor forma de «organoterapia» é a Cerosytoterapia do dr. Jean Thomas, médico suiço, com grande rodagem da segunda guerra mundial, que consiste na aplicação de seruns animais cultivados em meio biológico dos próprios órgãos.
- Extraído do porco, do cavalo, do cordeiro e da vaca para doarem órgãos.
- Aplicação da medula óssea, por via injectada subcutaneamente na sétima vértebra cervical e nas áreas claviculares e supra e infra externais (mesoterapia não é cirurgia)
-Distingue-se das transplantações de medula (cirurgia) que são efectuadas por cirurgiões credenciados, tendo sido o processo pela primeira vez efectuado num hospital de Inglaterra (Londres).
-Iodo e fósforo têm sintonia com a glândula tiróide, porque utiliza esses elementos em doses fisiológicas
-Televisão a cores: aumento com pressão arterial, provocado pelos raios X, beta e gama (radiações ionizantes)»
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A RADIOECOLOGIA

A radioecologia - ciência que estuda os efeitos que as substâncias radioactivas podem ter no homem e no seu meio ambiente - está destinada e desempenhar um papel cada vez mais importante na luta contra todas as formas de poluição.
Esta é a conclusão a que chegaram os 350 peritos representando 25 países que tomaram parte, de 7 a 10 de Setembro de 1971, no simpósio internacional organizado em Roma pela comissão da CEE, sobre o tema «a radioecologia aplicada à protecção do homem e do seu meio ambiente».
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QUEM ESPERA NÃO DESESPERA

O silêncio que nos últimos anos se tem verificado sobre a irradiação de alimentos como forma de os conservar, pode ser ambíguo e guardar dois significados opostos: ou a estratégia de irradiar alimentos continua a sua rota de bastidores para vir a ser implementada quando menos se esperar, ou, depois do entusiasmo que se verificou, por parte dos propagandistas habituais e profissionais, o que está actualmente na forja é a pura e simples desistência dessa - dizia-se - «nova e maravilhosa tecnologia de conservação alimentar».

A propaganda de 1989 dava como certo que eram muitos os fabricantes ansiosos por poderem recorrer ao método de irradiação: o mesmo não se poderá dizer das associações de consumidores, mesmo as mais loucas, que torceram sempre o nariz a esse processo, um tanto satânico, de juntar irradiações ionizantes aos alimentos, como se ainda fosse pouco o número de cadáveres que a gente ingere.
Cadáveres cadaverizados duas vezes, não será abuso? Será isso que a CEE percebeu, hesitando na sua campanha? E os grupos de pressão? Estarão em «stand by» a ver se se esquece Tchernobyl?
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A radioecologia - ciência que estuda os efeitos que as substâncias radioactivas podem ter no homem e no seu meio ambiente - está destinada e desempenhar um papel cada vez mais importante na luta contra todas as formas de poluição.
Esta é a conclusão a que chegaram os 350 peritos representando 25 países que tomaram parte, de 7 a 10 de Setembro de 1971, no simpósio internacional organizado em Roma pela comissão da CEE, sobre o tema «a radioecologia aplicada à protecção do homem e do seu meio ambiente».
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TRABALHO 1991

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15/3/1991

ECOLOGIA DO TRABALHO - PISTA DE PESQUISA Nº[____] - DIMINUIR HORAS DE ALIENAÇÃO E AUMENTAR AS DE TRABALHO CRIADOR

15/3/1991 – Do artesanato às tarefas de carpintaria e culinária doméstica, é preciso reafirmar o maior empenho em recriar as mais profundas tradições de raiz popular que se liguem à criatividade de artes e ofícios, de jardinagem e pequena exploração agro-pecuária, artesanato, culinária, medicina caseira, etc., na certeza de que a «revolução cultural» passa pela recriação e retoma da tradição científica e tecnológica popular, da qual o trabalhador foi violentamente desapossado e desapropriado ao ser proletarizado. Poder e cultura popular serão, nesta perspectiva, a mesma coisa.
Considerando que o problema do ambiente de trabalho e das condições de segurança do trabalhador tem sido mais ou menos escamoteado em todos os programas políticos, mesmo os que se dizem de esquerda, é preciso evidenciar a profunda contradição que esse condicionalismo implica e, para lá das medidas reformistas que a Medicina do Trabalho ou os gabinetes de segurança preconizem, reconhecer que há uma alienação intrínseca à maior parte do trabalho mecanizado e em cadeia, alienação que só pode ser minorada por uma diminuição de horas a que o trabalhador ficar submetido e à sua ocupação do tempo restante em tarefas efectivamente criadoras, de livre escolha e carácter produtivo directo, no sentido de aplicação e empenho da personalidade, temperamento e carácter pessoal.
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[Um estudo de 1976, sobre despesas com medidas de protecção ao ambiente, verificadas pelo Instituto Battelle, em Frankfurt, conclui que estas despesas asseguraram ou criaram no ano em questão cerca de 370 mil postos de trabalho
De um inquérito realizado pelo Instituto Battelle, em 1977, sobre as repercussões da política do ambiente no domínio do emprego, depreende-se que os investimentos efectuados em 1975 em medidas de protecção do ambiente criaram ou conservaram 150 mil postos de trabalho, cabendo à indústria de construções 73.500, à construção de máquinas 28.200 postos de trabalho.
Em uma análise de 1977, chegou-se à conclusão de que anualmente se poderia assegurar trabalho a 23 mil indivíduos na indústria de construção, edificando as instalações de tratamento de águas.]

Um projecto-piloto para integrar desempregados foi iniciado na República Federal da Alemanha, em Maio de 1983, no Estado de Schleswig-Holtstein, financiado conjuntamente pelo Governo Federal, pelo Departamento Federal do Trabalho e pela Academia de Economia. O projecto-piloto - cursos intensivos por correspondência - destina-se a professores desempregados, procurando prepará-los para uma «actividade dirigente de escalão médio na empresa».
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«Silêncios que falam» era o título de um artigo, que (não?) chegou a sair publicado in [---]. e onde se assinalavam alguns problemas de saúde pública, nomeadamente o assunto hipertabu das «doenças profissionais».
A julgar pelos silêncios e silenciamentos que desde então têm continuado a verificar-se no âmbito da saúde pública e das doenças profissionais, tudo continua na mesma como a lesma. O que nem admira, mesmo quando se sabe que a democracia é e será letra morta enquanto estes temas tabu sobre os direitos fundamentais do trabalhador -- à saúde, à segurança e à vida -- não passarem à primeira página dos jornais e à primeira prioridade dos que governam.
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RESTOS DE UMA ENTREVISTA

[repesc em 15/3/1991]

-Para que o Conselho Nacional de Segurança no Trabalho, criado em 16/Novembro/1982, por resolução do conselho de ministros nº 204/82, passe do papel à realidade, muitas são as questões prévias a resolver
-A política de higiene e segurança no trabalho terá que ser uma política transparente, por mais sólidos e opacos que sejam os interesses económicos, políticos e até sindicais que possam sentir-se ameaçados com este simples facto: a defesa da saúde dos trabalhadores no ambiente de trabalho
-O desemprego é a melhor «desculpa» para que não se ponha em prática uma política de higiene e segurança, considerada sempre um «luxo» relativamente à urgência e necessidade da garantia de trabalho
-A inspecção do trabalho é (assim) um departamento com pouca efectividade
-Enquanto o dilema for «insegurança» ou «desemprego» é evidente que ninguém terá coragem de ser pela segurança
-O mundo ( da higiene e segurança) do trabalho está cheio de omissões e tabus, silêncios e censuras
-O combate ao absentismo (e respectivo prejuízo económico) está na origem de certas leis aparentemente feitas para defender o trabalhador mas, na prática, ao serviço do sistema
-Foi o prejuízo causado ao Estado ou as empresas por doenças de trabalho, o principal motivo que levou a tomar medidas de alegada protecção ao trabalhador
-«O país perdeu oito milhões de contos em 1981 com 500 mil acidentes de trabalho»( Eng Vargas Moniz)
-A confirmar que só o prejuízo económico das empresas, privadas ou públicas, move os responsáveis a uma política de prevenção e segurança, está o exemplo do absentismo provocado por doenças claramente causadas por erros alimentares. Face ao prejuízo financeiro ocasionado por esse absentismo, surgiram as campanhas de educação alimentar
-As normas sobre limites máximos de poluentes admissíveis em locais de trabalho podem constituir um pretexto mais para encobrir a adiar os problemas
-«Os sindicatos têm uma certa culpa - afirma um técnico de segurança - os contratos colectivos não estabelecem limites de concentração de poluentes, o que no entanto deveria constituir uma prática corrente
-Omisso das reivindicações laborais e até do discurso partidário da chamada esquerda (?), é a necessidade fundamental de uma lei-quadro para a Higiene e Segurança no Trabalho. A legislação mais recente que existe é do tempo de Salazar
-O tricloroetileno, solvente conhecido por Tri, exemplifica um risco corrente no local de trabalho para o qual a única solução encontrada até agora foi...o silêncio
-Outro caso omisso, apesar da gravidade, é o do Amianto, produto comprovadamente cancerígeno
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TÓPICOS DE REFLEXÃO SOBRE HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO

Se não fosse um livro sobre «Segurança em Laboratórios Químicos», de Maria João Baptista, editado em 1979 pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, acreditar-se-ia que tal problema não existia e que a segurança em laboratórios químicos jamais constituíra problema.
[Quando a imprensa não fala, os problemas não existem...Assim pensava a censura no Estado Novo de Salazar.]

Para que o Conselho Nacional de Segurança no Trabalho, criado em 16 de Novembro de 1982, por resolução do Conselho de Ministros nº 204/82, passe do papel à realidade, muitas são as questões prévias a resolver

A política por omissão até há poucos anos praticada no campo da higiene e segurança no trabalho terá que ser uma política transparente, por mais sólidos e opacos que sejam os interesses económicos, políticos e até sindicais que possam sentir-se ameaçados com este simples facto: a defesa da saúde dos trabalhadores
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MEP 1976

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15-3-1976

CARTA À ESQUERDA 
SOBRE ALGUMAS (SUAS) FALTAS DE ATENÇÃO EVENTUALMENTE GRAVES

Só há uma maneira de defender este texto , enquanto texto: considerá-lo um rascunho, por vezes ilegível, de um esboço de qualquer coisa de ambicioso e utópico que ac queria defender – nem o ano em que foi escrito pode justificar ou perdoar a insistência na terminologia gonçalvista do tempo

Esta, é uma crítica de Esquerda à Esquerda: descartam-se, portanto e à partida, as insinuações de que o militante ecológico não se define claramente e anda sempre por águas turvas.
Subestimar o inimigo  parece ser, mais uma vez, o pecado político mais habitual da Esquerda, mesmo na esquerda menos triunfalista. Daí que menos preze os aspectos de "ficção cientifica" que têm hoje algumas das agressões imperialistas mais frequentes: a guerra ecológica, biológica, climatológica e psicológica que o imperialismo move aos povos de todo o Mundo.
Se é um facto quase inédito, o movimento de massas verificado em Ferrel, a 15 de Março de 1976, em que a população se organizou e mobilizou para embargar os trabalhos preliminares à instalação da central nuclear, por encomenda da C.P.E., não é esta, porém, a primeira vez (nem será a última) que se verifica oposição popular a um tal tipo de empreendimentos industriais e de "progresso"

COM OU SEM ESQUERDA A LUTA É UM FACTO

Se só agora a esquerda portuguesa mostrou sensibilidade a essa luta - luta que com propriedade podemos considerar inserida numa mais lata luta ecológica - isso não significa que ela não tenha vindo a travar-se, "malgré la gauche" e, às vezes, quando Deus tem querido, contra “la gauche".
(Estou falando daquela esquerda que, apesar dos tombos, costuma estar atenta aos problemas e que seja suficientemente lúcida para distinguir entre um ovo e um espeto. Quer dizer: aquela esquerda capaz de distinguir entre a mobilização efectiva do poder popular e a manipulação ou instrumentalização partidária desse poder.)
De qualquer maneira, e relativamente ao desafio lançado há dois anos em Portugal pelo Movimento Ecológico Português (M.E.P.), o comportamento da esquerda - desde a direita à reformista e da reformista à revolucionária - foi uniformemente igual.
Não houve diferença, inclusive quanto às acusações lançadas contra o Movimento Ecológico. Esquerda reformista e esquerda revolucionária, de facto, quando se tratou de manifestar e arriscar posição frente à frente ecológica, comportaram-se de modo igual: a ignorância, o silêncio, a hostilidade, a calúnia.
Se só agora a esquerda falou, a pretexto ou a propósito de centrais nucleares, significará apenas que não quer perder o comboio , ou significará uma instantânea autocrítica e correcção de estratégia? Ou significará pura e simplesmente que quer vir pôr um remendo onde notou um buraco?

COM OS ATRASOS E HESITAÇÕES DA ESQUERDA QUEM GANHA É A DIREITA

Não vou culpar a esquerda, evidentemente, por só agora ter surgido um semanário como "Gazeta da Semana” que logo ao segundo número dedicou uma página à crítica das centrais nucleares, em apoio da oposição popular às ditas centrais e numa linha inequivocamente igual à que deverá ser a de um Movimento Ecológico.
Estas coisas acontecem quando têm de acontecer e se só agora estiveram reunidas as condições não só para que tal magazine surgisse mas para que, através dele, a posição da esquerda portuguesa ficasse nítida sobre o nuclear, é caso para a gente se regozijar e não para lastimações...
Na realidade dos factos, porém, o "atraso" da Esquerda tem ressonância imediata em outros pontos:

a) A onda eleitoral, com sua demagogia , veio dar um golpe profundo nas actividades da recém-nascida C.A.L.C.A.N. (Comissão de Apoio à Luta contra a Ameaça Nuclear), desmobilizando e arrefecendo o que estava a pique de ser, com a última semana de Março, uma grande frente de luta popular na frente anti-nuclear;

b) Entretanto, e enquanto os opositores se têm vindo a queixar de que a C.P.E. esteve ausente, apesar de convidada, de algumas manifestações públicas, eis que a mesma C.P.E., aproveitando o interregno das eleições, em que todo o espaço dos jornais é pouco para os partidos, manda publicar uma série de  artigos no "Jornal do Comércio", cujo balanço se pode prever qual seja: apologia integral e total do nuclear, através de uma aparente neutralidade informativa, estatística, técnica; "refutação" dos argumentos económicos até agora dados como irrefutáveis; e a conclusão, óbvia, de que devemos não só embarcar no suicídio nuclear como devemos embarcar quanto antes.
Era isto, claro, o que se previa do "amplo debate sobre energia nuclear". Tal como nas eleições, quem ganha é quem tem mais dinheiro para controlar os aparelhos de manipulação pública.
A C.P.E., com seus grandes meios financeiros , pode investir o que quiser numa "larga campanha de informação", que não só já começou como vai ter aspectos subliminares, ínvios, indetectáveis à vista desarmada para que não seja detectada como propaganda, directamente inspirada, pela empresa, a propaganda que pela empresa concessionária é fornecida .

MOSTRAR A LÓGICA DO ILÓGICO: FUNCÃO DA "CAMPANHA INTOX"

Podem inserir-se na já referida "campanha informativa" dois artigos de Jaime Costa Oliveira, insertos n'A Luta, artigos em que aparentemente se dá o flanco a certas críticas já feitas sobre o ruinoso carácter anti-económico de uma central nuclear, mas apenas para "dar mais força" à seguinte apologia da mesma central.
Note-se que a C.P.E. não só tem uma estratégia ardilosa de "lavagem ao cérebro" bem programada, como se socorre de todo o arsenal de sofismas que os servidores do Diabo  costumam manipular, sem grande espanto ou protesto crítico da esquerda inteligente, lúcida e crítica, diga-se de passagem.

Quem já se ocupou a desmontar os mecanismos, aliás primários, com que os sofistas tornam "lógico", "lícito", "plausível", "aceitável" e perfeitamente "defensável" o que nós, os leigos sabíamos de antemão intuitiva ser "ilógico", "ilícito", "não plausível", "inaceitável" e perfeitamente "indefensável"?
Transformar o preto no branco e dizer que o quadrado é redondo - sem pestanejar -, é a grande arte da sofística , agora em pleno uso da sua técnica de lavagem ao cérebro nesta campanha intox a favor das centrais.
Na impossibilidade de os esgotar, enunciemos alguns truques dessa sofística:
a) Desde que se aceite o debate, nos termos em que o técnico o coloca, ele ficará com todos os trunfos: a terminologia cifrada que só ele pode de-cifrar; os dados estatísticos a que só ele tem acesso e só ele pode controlar; as previsões de que só ele (e Deus, ou Herman Kahn) sabem o fundamento;
b) "Se os outros países admitiram o nuclear, porque raio não há-de Portugal admiti-lo também? "
"Se o outro tem" é o truque de efeitos sempre seguros em populações preparadas para invejar sempre os progressos técnicos, económicos, científicos dos "evoluídos", dos avançados; diga-se que nesta mitologia muita esquerda tem colaborado e não só agora.
Contra essa mitologia, emanada das OCDE e arredores, que Esquerda é capaz de se mostrar?
c) É certo e sabido que os gráficos impressionam a malta; falar em megavátios, unidades produtoras, "encargos variáveis de exploração", custos directos, é meio caminho andado para domesticar o ignorante destas foscas terminologias.
Quem denuncia a terminologia que trai a ideologia?
A C.P.E. tem uma estratégia bastante ardilosa, diga-se em abono da verdade e em elogio de quem a preparou: o mesmo já não podemos dizer em relação à esquerda, nem ao poder popular, nem ao Movimento Ecológico, nem aos abaixo-assinados e comités de luta, nem à C.A.L.C.A.N., que - apanhados de surpresa - não têm uma estratégia contra-ofensiva, nem estão em condições de unidade para a criar já.
Este atraso é o que o militante ecológico lamenta e censura numa esquerda para quem a luta ecológica não foi até agora encarada sequer como tópico para meditação dominical...
Se se reconhece (João Martins Pereira, in "Gazeta da Semana”, 8 de Abril de 1976) "o debate sobre a central nuclear politicamente riquíssimo", essa afirmação enche de júbilo um ecomilitante e o peitinho de gratidão. Mas vem tarde, caramba! Entretanto, o que o militante foi recebendo da esquerda limitou-se quanto muito a uns sorrisos trocistas e a insinuações de que a luta ecológica corria muito o risco de se confundir com a direita.

A ASNEIRA A QUEM A PRODUZ

Não se confunde com a Direita, oh! prezados compatriotas de esquerda: o que a Direita já percebeu – antes da esquerda – é que podia recuperar a Ecologia. E tem-no tentado.
O P.D.C. inclui no seu programa eleitoral sobre Reforma Agrária "a defesa ecológica dos solos". Ora essa! vejam lá. Se eu fosse homem de sustos, lá ficava com um medo horrível das confusões, porque sucede ter escrito um livro sobre a Reforma Agrária onde preconizo, simultaneamente, a viragem Ecológica.
Quanto ao P.S. e ao P.C.P., preconizam naturalmente uma atenta luta antipoluição para obviar aos problemas de Ambiente e promover a importação de alguns objectos e artefactos anti-poluição. Ora toma e viva a independência nacional.
Quanto ao P.P.M., preocupado em ocultar numa capa de vanguardismo os seus handicaps ideológicos, tenta basear a propaganda eleitoral em certos aspectos que, embora conservadores, começam a ter certa tintagem de vanguarda, ao mesmo tempo que preconiza comunas rurais e outras coisas ecológicas mais, além de radicais.
Claro, tá-se mesmo a ver que um partido conservador não deixaria de tirar partido daqueles aspectos que, na vanguarda ecológica, podem ser facilmente recuperáveis pela direita, se não estiverem equacionados em função de uma rigorosa dialéctica , a qual escapa - evidentemente - aos adeptos da monarquia, ao P.P.M., aos conservadores da direita em geral.

A ESQUERDA TEM MEDO DE SER DIALÉCTICA

Mas o que é de imediato imputável à Esquerda - e continuará sendo, enquanto não apresentar um programa que totalmente conteste o do Movimento Ecológico ou totalmente o adopte - é o seu excesso de prudência; é que não quisesse correr este e outras riscos, expor-se a este e outros melindres.
A nossa esquerda tem pergaminhos e, acima de tudo, não quer confundir-se com a direita; acima de tudo, quer manter uma larga margem de tolerância; como a dialéctica é perigosa, eis que a Esquerda tem medo de ser dialéctica.
O risco de se aparentar momentaneamente à direita, o risco de cair em opções que, - aos olhos frívolos e superficiais e dogmáticos - são aparentemente conservadoras, é um risco inerente à dialéctica; ao salto qualitativo do Reino da Necessidade para o da Liberdade; é um risco inerente à definição politicamente correcta da Revolução Cultural.
Isto é que é imputável à Esquerda, ao seu comodismo, à sua excessiva cautela, à sua expectativa de cariz oportunista, até ao seu elitismo.
Houve muito compatriota de esquerda que, embora simpatizante em segredo do Movimento Ecológico, nunca nos deu a honra de ser nosso filiado!... É que na Esquerda, também há castas; os maus revolucionários e os bons-revolucionários.
Daí que os militantes do M.E.P. fossem, à priori, muito maus para alguns muito bons da nossa praça.

NEM SÓ CONTRA AS CENTRAIS VIVE A REVOLUÇÃO CULTURAL!

Também não é extraordinariamente lisonjeiro para a esquerda adoptar agora, de emergência, a luta ecológica, numa frente onde até sem óculos se vê que a razão e a justiça nos assiste. A vertigem do  nuclear mete-se pelos olhos dentro. É um tema antecipadamente popular. É uma luta antecipadamente vitoriosa (vitoriosa porque a ruína nuclear tal como a ruína capitalista é um facto histórico irreversível, o que não significa vermo-nos livres de uma e de outro tão cedo...)
Diga-se em abono da verdade que, em termos de partidos , só o P.S. (literalmente dividido a vários níveis ou escalões hierárquicos, mesmo assim) defende a Central. Os outros, unem-se como nunca se uniram em outras emergências menos nucleares.
Unem-se até os que nos deram caneladas ou nos atiraram piropos e calúnias quando em 1974 (Novembro), o José Carlos Marques lançou a campanha para uma moratória nuclear, no I Encontro do Movimento Ecológico em Portugal, realizado na Figueira da Foz.
Mais difícil, menos popular e exigindo outros riscos estratégicos (o supremo risco de nos confundirem com o P.D.C. ou com o P.P.M., por exemplo) é travar batalha contra os adubos, quando são os próprios trabalhadores socialistas a vir defender o fomento do seu fabrico "como um grande progresso (sic) para a classe operária e a economia do País."; mais difícil e menos popular é a batalha contra as vacinas, quando os mais respeitáveis organismos internacionais e sumidades "científicas" a recomendam; mais difícil e menos popular é a batalha contra a alfabetização, quando o consenso universal é de que alfabetizar é que é bom e de que basta para descolonizar o povo (quando a verdadeira alfabetização o que implica é precisamente a descolonização do povo em relação à cultura erudita).
Que a Esquerda, embora tarde, adopte a luta anti-nuclear, de acordo;  o que a gente precisa é de malta a trabalhar pró mesmo; mas que adopte também as lutas mais incómodas, desconfortáveis e subtis , eis o que não será também exigir muito.
Já é tempo, porém, de uma coisa: se não adoptarem essas outras lutas, ao menos não nos chaguem a paciência a nós, os da ecomilitância, chamando-nos reaccionários, afirmando que Portugal não tem problemas ecológicos, sustentando de que estamos, no Movimento Ecológico, ao serviço dos trusts antipoluição, e outras bojardas do mesmo quilate.
Ecopolítica em luta pela Revolução Total. Quer dizer: pela Revolução Ecológica.
Queremos portanto saber, de futuro, se alguma ecoestratégia está a ser preparada pela Esquerda.
E se, inclusive, no campo da preparação ideológica, a Esquerda estará disposta a fazer a sua minirevoluçãozinha cultural, tão importante a quem anda neste Aeiou da Ecologia.
Que batalhas está a Esquerda disposta a travar daquelas que mais ninguém quer?
Contra a caça, desporto tão popular, qual a esquerda capaz de lutar?
E contra as touradas?
E contra o tiro aos pombos?
E contra as batidas às raposas (ainda há semanas, a L.U.A.R. promoveu uma, na herdade de Torrebela).
E contra essa tão popular fábrica de psicoses e depressões que é o Ruído, qual será a Esquerda capaz de considerar prioritário e digno de luta o estado psicosanitário da população portuguesa?
Contra o escape ruidoso da popular motorizada, qual a esquerda capaz de se insurgir?

Esquerda atenta e activa?
Contra o pão industrial, contra os enlatados, contra os conservantes e corantes, - fábrica das mais variadas moléstias degenerativas - qual a Esquerda que tem um programa de ataque?
E contra a transplantologia, quem mia? Contra os medicamentos, as vacinas, os antibióticos, quem pia? Contra a slogonmania, o cartaz, a inflação de papel propagandístico, e desperdício de floresta que tudo isso provoca, qual a Esquerda pronta a denunciar o facto?
E as doenças do trabalho? Como descalça a Esquerda essa bota? Como conseguirá, ao mesmo tempo, condenar a silicose e defender a continuação do trabalho mineiro?
Como pode condenar o Ruído e as doenças do Ruído, se continuar defendendo a indústria pesada que o produz em doses letais para o trabalhador?
Como concilia a Esquerda a ideologia do trabalho com o mínimo de exigência ecológica?
Além do adaptacionismo que sempre foi o da Medicina do Trabalho,  que resposta  tem a esquerda portuguesa para as condições de trabalho e para a chamada "assistência médico-sanitária ao trabalhador? "
E contra os mitos da Sofística ? Contra o mito das proteínas, das vitaminas, dos micróbios, qual a esquerda há aí capaz de se insurgir?
Contra a OMS., a F.A.O., a Unesco?
E a corrida espacial, quem denuncia?

Qual a Esquerda capaz de explicar que a Cosmologia taoísta não é religião nem ópio do povo mas um poderoso instrumento de autolibertação e de autosuficiência para o corpo humano?
Qual a esquerda capaz de se preocupar com a descolonização do corpo, com a descolonização das minorias ou com a descolonização do lumpen-proletariat?
Qual a esquerda capaz de combater o concentracionário urbano e preconizar o "regresso à Natureza", às alternativas comunitárias, à Bioagricultura, a uma reconversão total de consumos, a uma ética que fundamente a praxis humana numa noção dialéctica de entropia/energia, entendendo esta energia na sua forma suprema de bioenergia ou energia KI?
Que esquerda é capaz de adoptar hoje o mais maldito do maldito Wilhelm Reich?

Qual a Esquerda que já se debruçou sobre as agressões hoje tão correntes do imperialismo modificando climas, pilhando águas subterrâneas, engendrando epidemias (guerra bacteorológica disfarçada), praticando a guerra geológica, provocando sismos com explosões nucleares ditas pacíficas e sobre as quais a URSS e os EUA estabelecem amigáveis acordos?
São estas contradições no seio da estrutura industrial, aliás, que criam hoje problemas melindrosos , a uma Ecologia de Esquerda.
A Ecologia radical vem pôr basicamente em questão, não já e não só a apropriação dos bens de produção, mas as técnicas e tecnologias usadas nessa produção, mostrando que a luta de classes passa não só pela exploração salarial do homem pelo homem, mas pela manipulação (alienação) do homem pelo homem que aquelas tecnologias, técnicas e energias implicam.
Posto o problema da alienação, onde está a resposta (necessariamente ecológica) da esquerda ?
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(*) Este texto, longo e chato, de ac foi publicado no jornal (por ele dirigido) «Frente Ecológica», Julho de 1976
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NUCLEAR 1975

75-03-15-ie-mep> = ideia ecológica = movimento ecológico português

15-3-1975

Segunda-feira, 4 de Novembro de 2002 – Mais uma bela manhã de novembro gasta com o scan deste texto entre o horroroso e o patético: no auge do gonçalvismo, a conversa era esta e nem o afonso foi imune à onda de merda que nos caiu em cima: entrincheirado num movimento ecológico que não me pertencia, a linguagem era mesmo de partir a moca mas que lhe havemos de fazer: fica como documento de um disparate que ainda por cima foi nacional –mesmo assim acho que valeu a pena andar nestas cavalgadas com os guardas do gulag: nem eles mereciam melhor e acho que tiveram o que mereciam – um afonso cautela e debitar revolução conforme os estereotipos e lugares comuns em voga nos anos 75 + ou -

POLÉMICAS COM O MEIO AMBIENTE - À ESTALADA COM OS GUARDAS DO GULAG - QUANDO A ENERGIA NUCLEAR ERA UM BOM PRETEXTO

Quer se trate de centrais nucleares, quer se trate de adubos químicos, o Movimento Ecológico não vive obcecado por uma única luta nem actua numa única frente.
Isso - essa sectorização - é o que muitos desejariam e ficariam tranquilos se nos vissem, imobilizados, numa especialidade, numa técnica qualquer. Estaríamos então no campo deles, no campo tecnocrático da Sofistica parcelarizante, a melhor forma de mistificar os problemas e enganar as populações.
Embora isso desagrade aos nossos adversários, mas a luta anti-nuclear inscreve-se numa estratégia ecológica global, na qual coerentemente se insere toda a nossa acção e todas as nossas reivindicações ou críticas.
Somos contra as centrais nucleares, não por capricho de momento, por comichão epidérmica, por antipatia ao negócio e ódio óbvio ao empório-monopólio que elas até são como espinho cravado na independência dos povos.
Somos contra as centrais, talvez por isso tudo, mas fundamentalmente por questão de princípio, por obediência ao nosso programa, por imperativo do nosso Manifesto, por coerência com o nosso pacto de indissolúvel aliança com todos os homens da Terra e sua sobrevivência, sua "qualidade de vida”.
Somos contra as centrais por estratégia política e por imposição ética. Por devoção e por obrigação. Por uma questão estética ( detestamos a fealdade e a violência) mas por uma questão lúdica também (adoramos trabalhar por causas justas e antecipadamente vitoriosas, somos crianças grandes entusiasmadas a dar pontapés em todos os criminosos, fratricidas e homicidas de profissão).
Somos contra as centrais, porque somos pelo Homem., pela sobrevivência das espécies e do Planeta. Somos contra as centrais porque somos pela Revolução e pela
Democracia Popular.
Somos contra as centrais, porque somos contra tudo o que é obstáculo à humanização e ao desenvolvimento humano, ao verdadeiro progresso e à alegria de viver.
Ser contra as centrais, portanto, implica todo um vasto e ambicioso programa que não se fica por aí mas onde a luta anti-nuclear coerentemente se inscreve entre dezenas, centenas de outras lutas justas, revolucionárias, irreversíveis.

A REVOLUÇÃO NÃO ADMITE SOLUÇÕES CONFORMISTAS DE PEQUENO-BURGUESES

O que está em causa, quando se contestam centrais ou adubos, medicina química ou escola mnemónica, publicidade e alienações drásticas de toda a ordem, burguesia instalada e imobilismos reaccionários de todos os tipos e procedências, é o tipo de mentalidade que preside à formulação dos problemas.
De um lado, a mentalidade barriguista, aquisitiva, imobilista e do conforto consumista ou pequeno-burguês, crê e obriga-nos a crer que não poderá passar sem adubos, centrais, medicamentos, automóveis, exames, publicidade trabalho em cadeia e demais subprodutos de uma sociedade não revolucionária.
Admitindo mesmo as razões ecológicas que condenam tudo isso e põem tudo isso em causa, dirá a mentalidade barriguista, passiva, anti-dialéctica que "nós precisamos desses males" que "são males necessários”(sic).
Ora uma mentalidade revolucionária parte de zero, no que respeita a compromissos com ordens homicidas anteriores, ou antes, parte do homem para ao homem regressar, gostando de criar sobre uma folha em branco...
Renunciar às centrais e aplicar-se a fundo na pesquisa e no fomento das maravilhosas fontes energéticas que potencialmente se nos apresentam como as energias do futuro, eis o que cativa e polariza as energias revolucionárias do verdadeiro patriota, o que tem o amor das dificuldades, o que as enfrenta com espírito indagador e tem ódio à rotina, ao imposto, ao já feito e ao já dito.
Com vontade, com imaginação, com coragem, o espírito revolucionário não hesita em desbravar o que estiver virgem, se nesse campo virgem é que está o homem e os interesses fundamentais do homem.
Os argumentos pequeno-burgueses e conformistas já os conhecemos, nós, os guerrilheiros do Movimento Ecológico. Não se pode mudar de um dia para o outro um sistema monolítico. Os outros já fizeram - diz-se - disparates e nós temos que fazer disparates iguais, “há que atender a necessidades prioritárias”.
Pois em relação às fontes energéticas revolucionárias, nem sequer é o Movimento Ecológico a proclamar que estamos perante uma prioridade prioritária.
Mobilizem-se homens de senso e acção, de boa vontade e de pronta arte dialéctica, mobilizem-se patriotas para fazer a revolução energética também, e o Movimento Ecológico estará disposto: ou a colaborar de alma e coração se lhe pedirem colaboração; ou a ir dedicar o seu tempo em outras campos igualmente prioritários que reclamam a nossa intervenção se outros e muitos houver, mais abalizados do que nós, capazes de empreender a necessária e iminente revolução energética por que o País e o Mundo anseia.
Estamos prontos, se nos chamarem. Teremos outras tarefas, e muitas, a que nos dedicarmos, se se entender que outros farão e farão certamente melhor do que nós, o que a Revolução Portuguesa exige de todos nós, no campo-chave das alternativas energéticas de Futuro.

II

Vamos agora supor, como lamentava o “Jornal do Comércio” de 7 de Março de 1975, numa nota anónima, que, para lá de todas as nossas boas intenções, do bem fundamentado dos nossos argumentos morais e da real motivação revolucionária daluta anti-nuclear (tudo o “Jornal .da Comércio” reconhece), não tínhamos qualquer noção da realidade objectiva, não dispúnhamos de alternativas limpas para as energias hiper-porcas, nem conhecíamos respostas para o grande impasse em que pretendem atascar-nos e que é " Energia Nuclear ou subdesenvolvimento".
De facto, o que a intensiva propaganda da mentira, da inércia e da rotina nos tem feito crer, através de uma desinformação verdadeiramente metralhante, telecomandada pelos grandes centros produtores de centrais, é de que não existem alternativas, ou de que a sua realização está demorada e improvável..
Vamos supor, pois, que o beco sem saída criado pelos monopólios da Tecnoburocracia não tinha mesmo saída, porque assim o queriam os tecnocratas que conduzem os povos e as nações aos mais incríveis "becos sem saída". (O tecnocrata é mesmo estruturalmente um beco).
A verdade é que, ao verificar a urgência e necessidade de encontrar saídas alternativas, nem sequer era a nós, eco-tácticos e ecomilitantes, que isso competia.
Nunca é demais repetir que não é a nós, os da Ecologia, modestos aprendizes de humanismo no meio da violência desencadeada, no meio da verborreia mais alienante da liberdade e da imaginação humana, que compete resolver os imbróglios que o sistema cria e fomenta, através do seu princípio "complicador" imutável.
Por isso, seria ainda das estritas obrigações do Sistema e seus tecnocratas, "inventar" outras soluções, quando a insolução nuclear e todas as insoluções típicas, se apresenta, por todo a Mundo, como suicida, ecocida, biocida, genocida, anti-económica e anti-ecológica, anti-humana e anti-histórica, anti-ecológica e anti-lógica para supremo absurdo.
No entanto e se nos derem uma sede, se a Imprensa não continuar fazendo a sua conspiração de silêncio aos nossos comunicados, se os nossos compatriotas pensarem um pouco menos na ganância de amealhar mais dinheiro e mais horas extraordinárias e vierem trabalhar connosco, se os sócios pagarem e os assinantes do Boletim não se esquecerem de contribuir com o seu óbulo, se , enfim, todos ajudarem o Movimento ecológico a ser um movimento cívico de influência, uma força política de alternativas racionais e lúcidas, a ter estruturas, a organizar-se, a ser activo nas suas campanhas e bem sucedido nos seus apelos, o Movimento Ecológico responde ao “Jornal do Comércio” que até tem as soluções para os becos sem saída e problemas que o Sistema se encarregou de arranjar.
Porque somos profissionais da qualidade e da Vida, profissionais da Revolução Cultural e das Alternativas, até sabemos as alternativas e conhecemos as saídas para o campo energético como para todos os campos da praxis humana, aparentemente amordaçada no imobilismo criminosa dos monopólios

III

Mas atenção: neste campo nuclear como nos outros, o mais importante não é, neste momento, atirar com soluções e expedientes de propaganda.
O mais importante, para a solução de todos os nossos problemas nacionais e nem só o energético, é reformulá-los a partir de premissas verdadeiramente causais e revolucionárias, a partir de uma base imaginativa e alternativa, inscritos numa estratégia de lucidez crítica, de imaginação criadora, de revolução cultural como os nossos primeiros responsáveis tantas vezes têm indicado e aconselhado.
Nenhuma solução haverá para nenhum problema sem uma reformulação revolucionária de todos eles. Sem um breve recuo de um passo que nos permita avançar dois.
É preciso travar as anti-soluções, reflectindo sobre as soluções verdadeiras metermo-nos todos ao trabalho fascinante de inventar o nosso próprio futuro.
O que está em jogo, quando se projectam metros ridículos como o de Lisboa, ou centrais nucleares na região de Peniche, é a incapacidade prospectiva e revolucionária de técnicos e engenheiros ditos responsáveis, neste País, mas que efectivamente acoitam a irresponsabilidade na áurea mitológica da infalibilidade papal, com que se vão abençoando uns aos outros e amaldiçoando o País.
Com os avanças na exploração da energia solar, a energia nuclear tornou-se tecnica e economicamente obsoleta e, por força das suas mortais contradições internas, tornar-se-á dentro em breve uma peça de Museu.
Ora é essa peça de Museu que a CPE quer oferecer ao País, como nos bons tempos em que tínhamos de receber de braços abertos todas as velharias que os americanos não queriam.
É isso - esse anacronismo - que os empedernidos técnicos teimam em não ver, porque apenas olham às conveniências e compromissos em que se envolveram para maior provento pessoal, porque apenas olham ao momento e às conveniências de uma empresa (e às vê vezes nem isso) sem atentarem, como nunca atentaram, nos verdadeiros e superiores interesses nacionais.
O que se deve formular neste momento como prioridade prioritária é o problema da aceleração tecnológica, a que tão pouca atenção se dedica entre nós e que tão depressa tem criado empedernidos reaccionários em técnicos que se julgam o último grito da técnica moderna.
A ignorância desta antecipação prospectiva, pode levar-nos a fazer investimentos catastróficos e astronómicos em indústrias que parecem hoje prósperas e que daqui a meia dúzia de anos estão ultrapassadas, pode levar-nos a erros tão abissais como o do Metro lisboeta mas de repercussões mais graves e profundas do que ele.

Todos sabemos que a energia nuclear - um erro que dura há 25 anos e que está em vias de ser enterrado para sempre, antes que para todo sempre nos enterre a todos - face às novas fontes de energia não poluentes e de rendibilidade económica praticamente infinita, deixou de ter interesse, a não ser para brincar às bombas no Pacífico e na Sibéria, em Lop Nor ou no Alasca.
Perante esta evidência, porém, qual a posição dos técnicos a respeito da "velharia" nuclear?
As últimas opiniões vindas a lume não deixam esperanças nenhumas.

IV

Ou o povo deste País e os homens deste Mundo têm mão nos desmandos tecnocratas, ou o poder popular controla o poder tecnológico, ou os interesses vitais (saúde, segurança, sobrevivência, vida e qualidade de vida) da população se sobrepõem aos mitos e mitómanos, sofismas e negócios da mafia internacional que, rechaçada já em vários países, pretende implantar agora no nosso o reinado da inevitabilidade e da indiscutibilidade nuclear, ou a Revolução de Abril ganha na frente da Revolução Cultural , ou estará seriamente comprometida nos seus fundamentos humanistas, tão clara e repetidamente reafirmados pelos responsáveis mais qualificados do M.F.A..
O que um bom cidadão e um patriota deve pensar do Programa de Política Económica e Social, na sua generalidade, é que nele se infiltraram, como sempre se infiltram, as influências tecnocráticas que, em vários departamentos de Estado, se têm verificado existir e coexistir, depois do 25 de Abril, com algumas tendências humanistas.
Algumas dessas tendências tecnocráticas vieram mesmo do anterior regime, em directo, como aconteceu ao secretário de Estado da Energia, que foi próximo colaborador de Kaulza de Arriaga, na Junta de Energia Nuclear em que este era o imperador.
Por isso as tendências humanistas têm, a breve trecho, inclinação para ficar submersas pela avassaladora capacidade reprodutiva, de manobra e absorção que caracteriza o camaleão tecnocrático.
Sem ideologia, como ele se pretende, a verdade é que o tecnocrata se adapta às circunstâncias políticas mais opostas, ficando sempre onde as conveniências e conivências o chamam.
Podia pensar-se que, com a orientação política verificada no nosso País após o 28 de Setembro e o 11 de Março, o tecnocrata amainaria um pouco da sua arrogância típica e da sua chata verborreia . Mas tal não tem acontecido. Ele continua a cantar de galo e várias ocorrências públicas dão disso testemunho.
Fingindo ignorar o Movimento Ecológico Português, a mafia tecnocrática manda , no entanto, espiões aos nossos colóquios, para registarem os militantes mais activistas da Ecologia.
No nosso II Encontro, várias sabotagens de última hora comprovam-nos de que elementos da reacção tecnocrática quase iam conseguindo anulá-lo e ao êxito que, apesar de tudo, esse Encontro conseguiu, na mobilização de vontades e de capacidades.
Durante um colóquio no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, dia 1 de Março à tarde, o espectáculo foi, como se previa, comovente e edificante e terno.
Os engenheiros da C.P.E (Emílio Rosa e Abílio Fernandes) fizeram calmamente a propaganda da firma, à mistura com alguma água pé, no que foram mais ou menos coadjuvados por engenheiros restantes, que , mesmo quando comentavam, o faziam
reticentes, timidamente, como se a vitória já estivesse no papo da C.P.E. e seus papistas.
Nunca falando claro (está quieto...) estes mostraram-se na sua habitual prudência, nunca explicitando em que ponto do país já estão fazendo escavações para os alicerces da primeira central e se a central vai ou não vai por diante.
Pedi a palavra, apenas para saber factos, mas é claro que nunca ma deram, havia sempre um engenheiro mais na bicha e onde há engenheiros não cantam jornalistas. A não ser que o jornalista esteja presente para fazer o frete informativo-propagandístico aos engenheiros, pois nessa altura até o recebem com drinks e bolinhos de bacalhau.
Entretanto, de alguns engenheirais mais politizados, foram-se ouvindo críticas violentas à central americana que a C.P.E quer instalar: É claro, a conclusão que um observador neutro , quer dizer, lúcido, com o cérebro por lavar, retirou, era de que o problema estava portanto e apenas em se o País irá comprar (empenhar-se até aos cabelos) por cerca de 10 milhões de contos, uma central de fabrico norte-americano, de fabrico francês ou (eventualmente) de fabrico soviético
A luta, nessa tarde, mesmo quando tomou a palavra outro funcionário da C.P.E, o eng. Gaspar Teixeira para criticar os seus colegas Abílio e Rosa, - foi nitidamente entre quais fornecedores de centrais teriam a dita de nos meter cá uma, não propriamente contra as centrais, seu carácter de ruína económica, seu anacronismo como fonte energética, ecologicamente e humanamente suicida, homicida, biocida e fratricida.
Pelo departamento dos Reactores - o CRNI, da Avenida da República - afirmou alguém que o País não dispunha de avanço tecnológico para se meter numa embrulhada-alhada dessas - e que iria colonizar-se tecnologicamente ainda mais a uma potência tecnologicamente avançada, mas logo da C.P.E. ripostaram electricamente que tudo estava superado pela magia da importação.
Momentos depois, no intervalo da contenda e em conversa com engenheiros amigos (um homem até pode ter amigos entre os engenheiros!) tive ocasião de saber que a construção de centrais não levanta (sic) qualquer problema tecnológico aos nossos bem apetrechados quadros, porque os americanos, especialistas no pré-fabricado, fazem-nos isso já pronto a (in) vestir, com a chave na mão e tudo.
"A França e a Itália tiveram que rever todo o programa energético" - ouviu-se a certa altura, no solene anfiteatro todo forrado de microfones e altifalantes e quem o disse certamente acabava de ler Le Nouvel Observateur (1) onde 1000 cientistas explicam de que maneira drástica e espectacular todos os programas nucleares, mesmo os de carácter mais duramente fascista como o francês, estão fazendo marcha atrás, por força dos próprios argumentos económicos.
O engenheiro Rui Neves, do CRNI, foi o único que durante aquelas longas e aborridas horas de remastigação, teve a coragem de pronunciar, uma única vez, a palavra "Ecológico", tendo pedido como condição prévia a estes debates técnicos e a qualquer aventura de nuclearização, o que ele designou - e muito bem - por "debates fundamentais", "as relações entre a estrutura política e a Economia do País e a Produção de energia.”
E a pergunta ficou no ar: "A Economia segrega a Energia ou a Energia segrega a Economia?"
Claro que nem uma coisa nem outra; de uma perspectiva humanista e anti-fascista, quer dizer, ecológica, tudo terá de subordinar-se ao desideratum ultimo e único -"a progressiva mas acelerada qualidade de vida de todos os portugueses" .» e, portanto, quer a Economia quer a Energia têm de ser mandatárias das condições ecológicas básicas a que bem-estar, segurança, sobrevivência, saúde, vida e qualidade de vida do Povo Português automaticamente obrigam toda e qualquer política, seja ela económica, energética, do Ambiente, das Pescas ou do Turismo.
Note-se, no entanto, que mesmo nestes simpósios de engenheiros - mais interessados nos respectivos sectores e negócios do que no futuro do País e da população portuguesa - não deixam de se fazer ouvir sensatas observações que, evidentemente, o militante ecológico já perfilhava e regista mas de cuja demagogia tem sérias razões para desconfiar: " grandes dúvidas levanta a Energia Nuclear: não virá criar mais problemas do que resolver?"
A verdade é que logo a conversa, segundos depois, mergulhou de novo no charco do pormenor, pressupondo, portanto, que as centrais são inevitáveis, necessárias, urgentes, mesmo indiscutíveis.
O debate fundamental reclamado pelo Eng. Rui Neves e por todo o português que seja digno desse nome, logo se esqueceu a seguir, no mar das coisinhas de pormenor,das especialidades, das matérias sectorizadas, nas marcas de reactores a utilizar ou não, - maré magnum de lama e sofismas que é a fina e firme especialidade de todo o especialista que se preza mestre em especialismo.
Quem paga, no entanto, todos estes luxos e masturbações?

V

OS CRÓLOGOS E OS NECRÓLOGOS

Em outra altura, já tive ocasião de sublinhar como o debate dito liberal e aparentemente democrático é um pilar da Sofistica Tecnocrática, uma das suas cedências tácticas quando se vê apertada por homens que, não tendo perdida a lucidez, teimam em fazer as perguntas fundamentais e em pedir contas aos responsáveis pela ruína ecológica, tão ligada necessariamente a uma ruína económica a que queremos todos obviar.
Admitir, por exemplo, que as centrais nucleares estão sujeitas a debate, ou que a bomba , os pesticidas e os medicamentos estão sujeitos a controvérsia, eis a manha, eis o truque.
Aqui e mais uma vez há que ultrapassar este engodo liberalesco com uma afirmação básica de princípios: a Democracia não pode sobrepor-se à Revolução e o conceito que tem de prevalecer, para saber se um assunto ou problema é controvertível, é o de “Revolução”.
Avançar na Democracia jamais pode significar recuar na Revolução, porque esta é que é prioritária e, no caso do Terror Nuclear, o que está fundamentalmente em causa
é o carácter intrinsecamente reaccionário, contra-revolucionário da estratégia nuclear
Ora é precisamente a coberto desse "direito à opinião" - que acaba por ser um direito à Asneira, ao dislate e ao livre envenenamento da opinião publica - que ultimamente têm aparecido na nossa Imprensa (sempre tão afobada com grandiosas problemáticas extra-ecológicas) artigos sobre centrais nucleares que oscilam entre a meia crítica das meias tintas (caso "Diário de Lisboa", artigo de Rui Rosa, em 3 de Março de 1975); a pancadinha nas costas ao Movimento Ecológico a recomendar-nos juizinho, a nós, rapazes "líricos e bem intencionados" que queremos acima de tudo a “Qualidade de vida de todos os portugueses " - oram vejam lá o despautério das nossas ambições! - mas que não temos noção nenhuma "realista" (sic) dos imperativos económicos! etc., como foi o caso de uma amável e anónima nota paternalista do "Jornal do Comércio"; ou o delírio hiperbólico de um senhor S.L., anónimo como convém nestes casos (dar a fronha não é com eles), que só diz isto e nem sequer deve ser para irritar os rapazes do M.E.P. :
" Nesta linha de privilegiar a energia eléctrica, o Programa é particularmente feliz ao apontar a construção de uma central nuclear que entrará na rede no princípio do próximo decénio "- diz o anónimo S.L. referindo-se ao Programa de Política Económica e Social, para acrescentar logo o seguir:
"A energia nuclear é, hoje em dia, e sê-lo-á nos anos mais próximos, na generalidade dos casos, a fonte de energia mais barata e menos poluente, isto apesar das opiniões contrárias de alguns crólogos (sic), desde que sejam tomadas por parte das entidades públicas as medidas necessárias para obrigar à utilização de critérios e dispositivos de segurança convenientes."
Nota-se, nesta prosa anónima, alem da bajulação ao Programa de Política Económica e Social, além da gralha giríssima do "crólogos" - eles serão os "necrólogos"? - a terrivelmente grave reincidência no sofisma de que "o nuclear é a fonte de energia mais barata e menos poluente"
Afirmação passível de tribunal, só não é possível fazê-lo, porque, como é da praxe em afirmações tais, a fonte é anónima e de Irresponsabilidade Ilimitada. Por isso dá bem a medida do crédito a dar-lhe, da honestidade mental e moral que lhe preside e da franqueza, da coragem, da isenção com que estes necrólogos argumentam com seus podres argumentos a favor daquilo que não tem defesa nem justificação possível, sob qualquer prisma que se veja.
O que leva, no entanto, certos anónimos a continuar fazendo afirmações dessas? O que os leva a esconder a cara? Porque não comparecem para discutir? A quem servem tais infiltrações?
As respostas a estas perguntas é que o Movimento Ecológico gostaria de saber. Porque responder a tão absurdos argumentos, é o que nem vale a pena e temos todos mais que fazer.

VI

Entre os episódios mais recentes da ofensiva pró-nuclear entre nós, deve notar-se o comunicado que a Secretaria de Estado da Indústria e Energia enviou aos órgãos da Informação, em resposta ao abaixo-assinado de 512 assinaturas contra as centrais e onde, entre outras coisas de somenos, se deve antologiar o seguinte:
- Reconhece-se, em 4 de Março de 1975, o direito da população portuguesa ao debate, quando em 13 de Novembro de 1974 se reconhecia e anunciava ao País o facto consumado das centrais;
- Reconhece-se a vantagem da discussão, quando o Programa de Política Económica e Social, a páginas 102 e 103 da sua edição em livro, textualmente afirma:
"Quanto à Energia Nuclear, é indiscutível a necessidade de dispor de uma primeira central no inicio da próxima década, o que exige que a respectiva decisão seja tomada até meados de 1975”.
" Esta necessidade é determinada pela aproximação do total aproveitamento dos recursos hidráulicos e pela necessidade de uma alternativa face às centrais térmicas clássicas com base no petróleo. Também do ponto de vista da progressiva apropriação de novas tecnologias, é importante a construção da primeira central nuclear. O País dispõe de reservas de urânio que estão a ser directamente exploradas pelo Estado, havendo que estabelecer contratos para o respectivo "processo de enriquecimento", de preferência não limitados a uma única fonte de fornecimento."

Com o comunicado acima referido e a seguir transcrito, a secretaria de Estado da Indústria e Energia contraria, afinal, o Programa de Política Económica e Social, e não compreendemos porque o faz.
Só porque recebeu um abaixo-assinado de 512 pessoas?
Será que a opinião pública tem peso e que a voz do povo português é algo que começa a ter direito de interferência nas decisões e posições de cúpula?
Seriamos nós, os do Movimento Ecológico, os primeiras a regozijar-nos com isso.
Ainda sobre este célebre comunicado, logo se revelaram mais papistas do que o Papa os dois jornais que são a vanguarda da Democracia Portuguesa;
"República" dizia em título:
"A ENERGIA NUCLEAR É INDISPENSÁVEL EM 1980"
e o "Jornal do Comércio" acompanhava:
"NÃO SERÁ POSSÍVEL DISPENSAR-SE O RECURSO À ENERGIA NUCLEAR
NO PRINCÍPIO DA DATA DE OITENTA”
É caso para dizer que, nisto de centrais, a radiosa Imprensa vai de oito a oitenta.

VII

Transcreve-se agora o comunicado enviado pelo Ministério da Comunicação Social aos órgãos de Informação , em 4 de Março de 1975 :

«Foi recebido no Gabinete do Secretário de Estado da Indústria e Energia uma carta acompanhada .de algumas centenas de assinaturas com o objectivo de protestar contra a instalação de centrais nucleares em Portugal e solicitando que, sobre esta matéria, seja aberto debate público. Como não consta da carta recebida neste Gabinete qualquer indicação de morada, tem a resposta de fazer-se através dos órgãos de informação.
«Ela é, aliás, muito simples; a Secretaria de Estado da Indústria e Energia deseja que sobre este, como sobre outros assuntos de grande importância, se estabeleça efectivo debate público e de crítica às decisões que a eles respeitam. Entende ainda que sobre a matéria das centrais nucleares há uma grande necessidade de informação geral, tendo já nesse sentido encarregado a Junta de Energia Nuclear de preparar um conjunto de acções que permitam um efectivo esclarecimento. Considera-se essencial não partir para uma discussão com base em ideias pré-concebidas, sejam de que natureza forem.
«As necessidades energéticas do nosso país vão aumentar significativamente nos próximos anos, inclusive pela circunstância de a actual capitação energética se situar nos escalões mais baixos quando comparada com a generalidade dos países europeus, tanto ocidentais, como do Leste. Já depois do 25 de Abril, o Governo Provisório decidiu antecipar a construção de um aproveitamento hidro-eléctrico (o do Pocinho, no Rio Douro ) e estão em curso os estudos necessários à definição de novos aproveitamentos hidro-eléctricos que ainda seja possível realizar economicamente, bem como o aproveitamento das lenhites de Rio Maior e formas novas de produção de energia utilizável a partir de fontes não convencionais como a energia solar e geotérmica. Os estudos já realizados e o conhecimento das futuras necessidades energéticas, indicam claramente não poder dispensar-se o recurso à energia nuclear no princípio da década de 80. Tal não impede, porém, que se realize uma ampla discussão sobre o problema. O debate está, pois, aberto, esperando-se que da sua concretização possa resultar a melhor orientação para a política energética e a qualidade de vida do nosso país.
«Regista-se finalmente o aspecto de particular importância no que concerne às preocupações mais imediatas dos signatários que se dirigiram a este Gabinete , - o controle dos eventuais efeitos do funcionamento das centrais nucleares só adquire verdadeiro significado quando estabelecido a uma escala internacional. No caso concreto do nosso país, é mais importante neste contexto a instalação de centrais nucleares em Espanha junto dos rios que depois têm trajecto no nosso território, do que a instalação de uma central na nossa costa atlântica.»

VIII

Gomo se verifica por estes episódios cómicos atrás relatados, a recuperação do debate e do direito "democrático à controvérsia'' (quer dizer, à asneira), estava assim feita, rápida e eficazmente, pelos sempre eficazes rapazes que sabem da poda e como se recupera a mais indigesta das contestações.
Os outros vespertinos e matutinos, mais sóbrios de títulos, não quiseram a oportunidade para fazer campanha pró Terror Nuclear, o que foi pena para eles porque o comunicado estava precisamente elaborado nesse sentido, embora aparentemente concordasse com o abaixo-assinado dos 512 discordantes e declarasse concordar com o debate.

IX

Portanto e dados os eventos atrás narrados, o que o Movimento Ecológico tem para apresentar como proposta mínima razoável, humana, patriótica , democrática e revolucionária , é uma chamada à razão de todas as forças progressistas deste País para que cerrem fileiras em defesa das condições ecológicas mínimas e básicas para a almejada “qualidade de vida" de todos os portugueses
No sentido de tomar uma decisão com impacto público e de assumir responsabilidades perante a consciência nacional, o Movimento Ecológico Português apresenta, sob a forma de proposta e de futuro abaixo-assinado, o texto que a seguir se transcreve»
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(1) «On peut se passer des centrales Nucleaires”, in «Le Nouvel Observateur”, nº 537 , 2 de Março de 1975. Refere-se também o artigo de Michel Bosquet «Énergie Nucléaire», no mesmo semanário, nº 534, 9 de Fevereiro de 1975
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