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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2005-11-17

RETROVISOR 1987

obdo-1= o buraco de ozono-gabinete de ideias - ficha de ecologia humana -pistas de epidemiologia-silêncios & silenciamentos-Ver IR, manifesto de AC contra a desinformação da informação

1987: SUPERJACTOS ESTÃO INOCENTES

[23-11-1995]

As grandes companhias aéreas, portadoras de frotas de aviões a jacto, conseguiram, nos últimos 20 anos, a maior de todas as proezas: sendo elas a principal causa destruidora da camada de ozono, com os reactores dos jactos, conseguiram, no entanto, pôr todo o mundo, nomeadamente cientistas, jornalistas e outros animais domésticos, a vociferar contra os clorofluorcarbonetos.
À volta de 1987, era noticiado com grande gáudio, pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que «os aerossóis são mais perigosos para a camada de ozono da estratosfera do que os aviões supersónicos.»
Com a verdade nos enganou bem enganados a OMM: quando, finalmente, se encontrou outro culpado do buraco na camada de ozono, a OMM lá se atreveu a dizer que os frigoríficos eram mais perigosos que os superjactos.
Sabia-se, no entanto, embora apenas nos bastidores das multinacionais, que os jactos dos superjactos têm um papel muito mais destruidor do ozono do que os clorofluorcarbonos: só que, apesar de tudo, e por muito difícil que seja reconverter indústrias como a dos frigoríficos, é mais fácil (e até pode ser que convenha a algumas delas, quando os mercados estiverem saturados de frigoríficos «poluentes») reconverter essas do que frotas de aviões.
Por isso os aviões a jacto continuarão, antes e depois, a destruir a camada de Ozono, numa real acção apocalíptica que não deixará saída a ninguém.
Situada na estratosfera, entre 10 e 45 quilómetros de altitude, a camada de ozono tem grande importância para a vida da terra, por filtrar parte da radiação ultravioleta solar - diz a OMM , mas toda a gente sabe, especialmente se vai à praia e vem de lá com queimaduras de 1º grau quando julgava bronzear-se.
Em 1987, o alarme da OMM previa 20 anos para uma rarefacção de 5 a 15 por cento da referida camada. Vamos em dez anos e já se anuncia 20 a 30%. É que os jactos não tinham entrado nas contas da OMM, mas apenas os frigoríficos...

RETROVISOR 1995

95-11-23-ds=silêncios-3568 caracteres-prac=publicados AC-revalidáveis

SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS - TEMAS DE REPORTAGEM S/AMBIENTE E PLANEAMENTO

23-11-1995

1 - Que é feito dos 170 projectos de investigação urbana e regional, anunciados em 19/5/1983 (in «A Capital»)com grande pompa e circunstância pela então Comissão de Investigação Urbana e Regional (CIUR) , organismo interministerial no âmbito da JNICT?
O facto de os ministérios se terem dissolvido, não implica que os projectos também. Ou terão servido só para os técnicos botarem figura na conferência internacional da ONU (realizada em Lisboa em Maio de 1984) para a Investigação Urbana e Regional? E o País? E a polémica da regionalização?
Quantos silêncios e silenciamentos no planeamento regional e urbano?
Quem responde hoje, em 1995?
Ver «A Capital» 19/Maio/1983, página 9

2 - Os planos da destruição - Inventário de poluições instaladas ou de atentados à integridade do território:
- Sondagens petrolíferas a cargo de multinacionais
- Gasodutos penetrando nos intestinos do país
- Experiências com chuvas no perímetro de Valladolid c/ cumplicidade de seis países além de Portugal
- Molhes catastróficos atrás de molhes na nossa desdentada costa
- Eucalipatais arrasadores e que aceleram a desertificação do país (a famosa e famigerada seca)
- Mono agro-culturas esgotantes dos solos
- Projectos megalómanos de industirlaizção completamente desajustados das dimensões, necessidade e possibilidades económico-financeiras do país

Ver esboço de inventário in «A Capital», 20/Outubro/1979


3 - Em 1979, no Brasil, foi a ofensiva da «gasolina vegetal», na base de culturas vegetais intensivas de eucaliptos e outras espécies de crescimento rápido. (Ver «A Capital», CPT, «O Preço do Progresso»)
Em Portugal, Eurico da Fonseca, ilustre colaborador de «A Capital» alimentou a campanha do Etanol com palestras e artigos na base da beterraba sacarina.
Não levaram, pelos vistos, a deles avante. Os das gasolinas e das açucareiras não deixaram estragar-lhes o negócio. Mais um silêncio dos muitos silêncios que fazem este país tumular.
Quem responde hoje por mais esse projecto megalómano?

3 - Inventário das indústrias hidróvoras - O tratamento das pirites em leito fluidizado é, entre outras, uma das indústrias hidróvoras que devoram toda a água que existe e não existe neste país. (In «A Capital», CPT, «O Preço do Progresso»)
Podia começar por aí (ou acabar aí) o inventário das indústrias hidróvoras, enquanto continuam as lamúrias sobre a seca, a tremenda seca, a falta de água neste país, a piratagem da Espanha, etc.

4 - A propósito de Espanha: como vai a megalomania atómica dos nosso hermanos? Quando irá explodir um das 3 centrais que têm encostadas à nossa fronteira? Foram eles por diante com o plano utramegalómano das previstas 37 centrais até 1990, como «A Capital» anunciava em 6/Setembro/1978?
Como vão as 10 que despejam resíduos radioactivos em rios portugueses?
Só das 8 previstas (em 1978) para a Catalunha quantas deixaram os catalães que Madrid construísse?
Ver publicado revalidável Nº 4
Nesse número de «A Capital» vem publicado o mapa das centrais nucleares: em funcionamento, em construção, autorizadas, em projecto; das estações de reprocessamento, da indústria nuclear, da investigação nuclear, as minas de urânio, as minas de urânio em projecto, o transporte de resíduos radioactivos, os cemitérios de resíduos, os cemitérios de resíduos em projecto, as bases militares de armamento atómico: tudo isto, evidentemente, ao ritmo do pasodoble ou do flamengo e encostadinho quase tudo à fronteira portuguesa, por amizade luso-espanhola.
***

RETROVISOR 1980

80-11-23-ac-ie=ideia ecológica

O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
BIBLIOGRAFIA BREVE ORGANIZADA POR AFONSO CAUTELA

Paço de Arcos, 23-Novembro-1980


Com esta lista de livros e autores pretendo responder aos que têm solicitado bibliografia à «Frente Ecológica».
Houve a preocupação, para já e numa primeira fase, de indicar obras em língua portuguesa e pouco volumosas. Que se possam ler depressa e longa, longamente meditar (assimilar).

Trata-se com esta bibliografia de irritar todos os ecólogos e engenheiros do Ambiente oficiais que lavam o cérebro às pessoas com as suas perlendas de anti-poluição e quejandas.

Trata-se com esta bibliografia de contribuir para despertar a consciência ecológica : por isso não se trata, como é óbvio, de congestionar ainda mais a memória de alunos e professores.

Educar ecologicamente as novas gerações não é abarrotar os cérebros de bibliografia dita científica, dita técnica, dita especializada : essa, aliás, é a melhor forma de matar a consciência ecológica, asfixiando-a com manuais e compêndios de Ecologia Científica, Ciências do Ambiente, etc.

Bibliografia para despertar a consciência ecológica é uma coisa.

Bibliografia para alienar a consciência ecológica – manter e prorrogar o sistema que vive de ir matando os ecossistemas – é outra coisa com a qual não tenho nada a ver nem a «Frente Ecológica».

Bibliografia dessa outra, é melhor pedi-la aos organismos oficiais do ambiente, Direcção-Geral da Qualidade Industrial, Petroquímica, Universidade Nova, Faculdade de Ciências (velha), Fundo de Fomento de Exportação, Comissariado para a Integração Europeia, Associação Industrial Portuguesa, LNEC ou a qualquer outro dos muitos organismos que hoje defendem o Ambiente para melhor o e nos massacrar.

A escolha é sua, amigo Leitor.

Afonso Cautela
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RETROVISOR 1995

Irac-1=inéditos de ac revalidáveis-Gabinete de Ideias

TEMAS DE REPORTAGEM S/ AMBIENTE E PLANEAMENTO

[23-11-1995]

1-Extermínio de gaivotas nas Berlengas - Autor da ideia: Humberto Rosa, presidente da Associação de Biólogos das Comunidades Europeias - Nada melhor do que um cientista em particular e do que um biólogo em geral para assassinar a vida e verter logo a seguir um enxundioso relatório explicando as razões científicas do assassinato - Pôr a claro e em público as «razões» que assistem ao senhor Rosa para preconizar a matança das Berlengas - Ainda há superpopulação nas Berlengas? - Houve ou não houve holocausto perpetrado por Rosa?
Ver notícias nos jornais de 5/5/1989

2 - Vulnerabilidade do País, nomeadamente Cabo Ruivo (zona de alto risco de Lisboa)ao chamado, pela CEE (15/Maio/1980) «acidente máximo». Falava-se então em legislar sobre. Legislou-se? Quantos acidentes «máximos» se deram entretanto? Quantos são susceptíveis de vir a dar-se?
1979 irá repetir-se? Los Alfaques, Three Mile Island, petroleiros «Tanio» e «Amoco Cadiz», Ixtoc-Um (Golfo do México) são desse ano? Estaremos bem aqui? Poderão vir os bombeiros socorrer-nos, com as obras da EXpo 98que estão obstruindo as vias desde 1994?
Que organismo superintende e responde (é responsável) em caso de catástrofe máxima?
(Ver inédito de AC revalidável Nº 2)

3 - Presença de radioactividade no Oceano Atlântico: quando baleias ou golfinhos ou tartarugas gigantes vêm morrer às nossas costas, a notícia dá imagens nos jornais e telejornais. E pronto. Todo o mundo descansa tranquilo. Esses e outros sintomas de poluição petrolífera e radioactiva no Oceano Atlântico são silenciados como é silenciada a presença de altos teores de radioactividade em água do Tejo e, portanto, da Barragem do Castelo do Bode, e portanto da água que abastece Lisboa e arredores.
Mais um silenciamento que todos os dias bebemos das torneiras. Com o proveito que daí se pode deduzir para a chamada «saúde pública», que é sempre, afinal, um conjunto de «saúdes individuais».
(Ver inédito de AC revalidável Nº. 3)

4 - Planeamento de recursos - Outra face dos recursos hídricos: os recursos piscícolas de água doce, os peixes mortos nos rios - Campanha de «mentalização» s/ vantagens da Aquacultura, surge como demagogia que tenta esconder o extermínio de espécies pela poluição industrial - Exemplos dados por França (Centro de Pesquisas) e Canadá (produz salmões por fecundação artificial) entusiasmam os neo-piscicultores portugueses - Novos aviários (de peixes) vão nascer - Enquanto a tecnocracia continua o holocausto das espécies a que chama progresso industrial, a sua aliada Biocracia tenta repor ou fabricar em retorta de laboratório, mercê da Biotecnologia, o que a indústria vai matando - Quando, entre plantas e animais, há mais espécies destruídas do que sobreviventes , a Biocracia anuncia, triunfal,
o Banco de Genes,
os Laboratórios de Melhoramentos de Plantas,
a Aquacultura (a vida em estufa!) ,
a luta biológica contra as pragas,
os enxertos de órgãos e transplantações,
etc.
Indústria da Aquacultura: a outra face do silenciado do biocídio.
Quem responde por mais este silêncio?
Que organismos estão «investigando» a aquacultura?
Algures na Ria de Alvor, projectava-se instalar um centro-piloto: instalou-se ou ficou-se tudo pelas promessas?
(Ver IR4 e IR7)

5 - A Água como problema de carência - Porque não cai do céu - Porque se polui a que existe na terra - Porque se esgota o que se tira do sub-solo - Se de recursos físicos (e nem só humanos) se fala, a destruição das reservas hídricas pela industrialização é o efeito mais óbvio e catastrófico das indústrias que, por sua vez, para laborarem precisam cada vez mais de cada vez mais água limpa . Quando chega a hora da indústria se queixar, é porque as populações já antes nem se queixaram.
Quem responde por mais este silêncio? (Apesar do aparente barulho sobre água a recursos hídricos)
Que organismo? Que Governo? Que técnico?
Exemplo entre outros: só a fábrica de pasta de Celulose da empresa nacionalizada Portucel gasta oito vezes mais água que a cidade de Setúbal.
Ver inédito de AC de 3 páginas - IR5
6 - A classe dos pequenos agricultores - mais um recurso humano em vias de extinção - Não é só o gasoduto que expulsa os pequenos agricultores dos seus lugares - Desde o 25 de Abril de 1974, a campanha contra a pequena agricultura não tem parado de se desenvolver.
Em 1980, as estatísticas da Grécia proclamavam, com grande glória, «um agricultor menos por minuto» (1960-1981).
Quem responde em Portugal, hoje, pelo extermínio de mais esta classe - a dos agricultores?

7 - Biodiversidade - Os recursos vivos vegetais em processo de extinção - Uma notícia de Novembro de 1979 ficou silenciada, apesar de ser decisiva para a sobrevivência da vida sobre o Planeta: Um «banco de genes» para salvar plantas em perigo de extinção vinha nessa altura a ser desenvolvido pelo biólogo Dr. Harold Koopowitz, da Universidade da Califórnia , Irvine, desde 1976.
As espécies vegetais continuam a desaparecer a um ritmo alucinante: ouviram mais alguma notícia sobre o dito «banco de genes»?
Quem responde por este silenciamento?
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que alegremente dava a notícia em Outubro de 1979?

8 - Produz-se ou não se produz Dioxina em Portugal? Antes que o assunto ficasse esclarecido, em 1976 (depois de Seveso) caiu no esquecimento e no silêncio. O jornal «Portugal Hoje» publicou um artigo intitulado «Seveso nunca existiu», parcialmente transcrito na revista «Come e Cala».
No inédito IR8 escrevia AC em 6/Março/1981:
«Se for satisfeita a exigência da federação Europeia dos Sindicatos Agrícolas (EFA) para proibir totalmente nos países do Mercado Comum o pesticida «2-4-5-T», aumentam as probabilidades de vir a ser instalada em Estarreja a fábrica da Triclorofenol» , que é a base de produção de uma série de pesticidas, incluindo o «agente laranja», famoso desde a guerra do Vietname onde os norte-americanos fizeram largo uso dele sobre as populações.»
Inéditas, fatalmente inéditas, ficaram 4 páginas sobre mais este silêncio.
Quem responde, hoje, por mais este silêncio?
Talvez a Quimigal que projectava, em colaboração com uma empresa estrangeira, fazer essa instalação em Março de 1981.

9 - Aliás, a empresa é incontornável (como hoje se diz) em termos de venenos para o ambiente. Construiu em Estarreja a maior e mais moderna fábrica de poliuretanos, sempre com a ajuda amistosa da nossa Quimigal.
Uma das matérias-primas - o Sal - tem que ser importada, porque o Sal foi um dos recursos naturais que a industrialização foi destruindo. Ou então mira-se a Ria de Faro como potencial fornecedor dessa matéria-prima : o namoro estava no auge em 1981. E em Agosto de 1976 diziam os jornais: «Mais de um terço das marinhas na Ria de Aveiro encontram-se abandonadas»
Desde o cloro que os serviços municipais mandam pôr na água de beber até à Dioxina que os americanos jogaram sobre os vietnamitas para os desfolhar, tudo se pode extrir do Sal...
Quem superintende no sal que há e não há?
Quem responde a mais este silêncio?
(Ver IR9)

10 - Praga decorrente da industrialização, é a das indemnizações a dar ou não dar, aos que se querem desalojar dos sítios onde a indústria tem que assentar arraiais - Uma outra forma de destruir recursos humanos - Para calar os vizinhos, cinco companhias aéreas deveriam indemnizar os vizinhos do aeroporto de Roissy-Charles de Gaulle (9/Junho/1982) - Os afectados do século XX

11 - Uma questão de recursos humanos - As doenças do Progresso - Inventário das patologias provocadas pelo chamado «progresso» (crescimento industrial) a que outros chamam «modernização»:
poluição,
pobreza,
assimetrias sociais,
bairros da lata nas periferias,
lumpen-proletariado,
greves,
sub-alojamento,
congestionamento do espaço,
doenças de stress,
alcoolismo,
prostituição,
toxicomania,
delinquência juvenil, etc.

12 - Tanto na berra, em governos socialista e do PSD, caiu num buraco de onde ninguém, dos socialistas, o conseguiu ainda tirar: Veiga Simão, que tanto mandou vir a favor das Celuloses e da central nuclear em Portugal, nunca mais foi visto nem achado na sua meritória campanha.
Silenciou.
Fizeram-lhe o mesmo que ele fez aos 8 projectos de energias alternativas que conseguiu levar da Direcção Geral de Energia para o LNETI e que al, um a um, conseguiu fazer abortar, para que nunca mais em Portugal se falasse de energias renováveis.
Quem silenciou este silenciador?
Quem responde por mais este duplo silêncio?
***

CPT 1980

energia-5-os dossiês do silêncio–cronófagos e energívoros–as esternalidades

ECONOMIA ENERGÍVORA:A QUADRATURA DO CÍRCULO(*)

(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 22/11/1980

22/11/1980 - Enquanto o desperdício for o motor que acciona o lucro na sociedade industrial, podemos estar certos de que nenhuma medida de fundo será tomada para gerir melhor a energia disponível.
Falar de economia neste contexto, portanto, é uma contradição lógica insolúvel. No entanto, é sobre esse contra-senso que assenta toda a lógica do crescimento industrial
Todo o discurso sobre poupança, austeridade e economia energética é, portanto, pura demagogia.
Um dos exemplos mais flagrantes é dado pelas estratégias ou planos energéticos em que os técnicos nos falam.
Fazem eles a estimativa - ou cálculo dos consumos - e vão depois à procura da energia que satisfaça esses consumos.

QUANTO CUSTA EM ENERGIA E EM VIDAS HUMANAS?

É puro folclore, porém, tudo o que se disser sobre energia sem colocar, na base, o problema dos custos qualitativos que o crescimento expansionista do imperialismo industrial arrasta.
Sem denunciar as actividades industriais intrinsecamente energívoras, é evidente que se está escamoteando da contabilidade económica, factores decisivos.
Sem apontar (contar, quantificar) o que determinadas indústrias gastam em água, alimentos, solos agrícolas, qualidade do ar, energia humana e saúde do trabalhador, em segurança das populações e higiene pública, é evidente que todos os cálculos custos/vantagens estão viciados de origem.
«Quanto custa em dinheiro?» perguntava-se ontem, para saber se determinado objecto, encargo, projecto ou viagem era económico».
«Quanto custa em energia?» - é hoje a primeira e decisiva pergunta a fazer para qualquer um saber se isto ou aquilo será «económico».
A economia que preside hoje a todas as economias é a de energia, em sentido lato.
Quanto custa em recursos vivos e naturais será, de uma maneira geral, a pergunta a fazer por «uma nova ordem económica», à medida que a necessidade de sobrevivência ecológica impuser uma moral económica baseada nos custos qualitativos (quer dizer ecológicos) dos empreendimentos, indústrias e actividades que até agora só têm contabilizado factores materiais a quantitativos.

CRONÓFAGOS E ENERGÍVOROS

Um factor sempre escamoteado pelos economistas clássicos do desperdício e da exploração, é o tempo ocupado e o tempo «livre» dos trabalhadores,
Nunca se cita o tempo que lhes é roubado em bichas, transportes, deslocações, burocracias, etc.
«Matar o tempo» é uma expressão sociologicamente significativa.
Tudo está organizado para matar cientificamente o tempo e, com isso, matar moral ou psiquicamente o trabalhador.
Mas nunca entra na contabilidade dos economistas - sejam eles de direita, sejam eles de esquerda - o tempo que, afinal, não sendo de trabalho é igualmente devorado pelo sistema.
Os cronófagos, tal como os energívoros, merecem figurar nos futuros ensaios e tratados de Economia.
Nesta perspectiva se inclui o peão e os custos qualitativos que este é obrigado a pagar, por exemplo, para que os automóveis circulem à vontade na cidade e estacionem onde lhes apetece, enfim, para que o progresso (automóvel na emergência) continue matando, mas cientificamente, planeadamente, urbanisticamente.
Matando mas, principalmente, estropiando pessoas humanas, visto que já se desenha aí, no horizonte, uma nova classe social, um novo mercado, um novo sector de consumidores que irão accionar várias indústrias.
Estropiando muita gente e incrementando, portanto, os chamados deficientes físicos, muitas são as indústrias que saboreiam já as imensas vantagens abertas por novos consumos e novas necessidades desses deficientes.
Se a medicina, por exemplo, abre insuspeitados horizontes ao mercado oftalmológico e ao mercado renal, fabricando com os medicamentos que receita contingentes cada vez mais numerosos de doentes oftálmicos e renais, não será no sector dos deficientes físicos e traumáticos que estas leis inexoráveis do mercado se irão alterar.
Sempre que surge uma nova necessidade e um novo consumidor são algumas indústrias que prosperam.

O PAPEL DO CONSUMIDOR NA TRAGÉDIA MODERNA

Se houver um conflito atómico - do qual «ninguém acordará vivo»- ele talvez se deva a uma qualquer teimosia: do sr. Khomeiny talvez, ou dos senhores economistas que teimam, inclusive, em não estar informados dos avanços da sua própria ciência, ou, inclusive, dos gastadores e grandes consumidores de petróleo que não estão dispostos a abdicar do seu conforto em geral e do seu automóvel em particular. Nem que para isso o mundo se derreta num holocausto nuclear.
Que isto seja ridículo ou inverosímil, inclusive humilhante para a espécie humana - à mercê de uma ou várias teimosias, de um ou vários teimosos - não impede que seja verdadeiro: talvez o fim do planeta se deva a uma casmurrice de um casmurro demasiado senhor de si e do seu nariz. Talvez o apocalipse venha a dever-se à inércia dos senhores consumidores, mentalizados pela tal «cassete» e pelo tal mito burguês do progresso, condicionados para não inventar formas de conforto menos poluentes, menos dependentes do meio natural, menos predatórias dos recursos vivos.
O papel do consumidor, sempre negligenciado na tragédia moderna, é, no entanto, um papel de protagonista. Ele foi condicionado pela publicidade internacional a querer coisas que lhe afirmam ser para seu conforto. Sabe-se que, depois, para garantir (e alargar) esses níveis de conforto é preciso acelerar o ritmo de destruição da biosfera.
Mas já é tarde, porque o consumidor, aí, posto no dilema - vida ou conforto - prefere o conforto e borrifa-se na vida. Prefere, portanto, a «morte confortável»..

O MITO (BURGUÊS) DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

Amory B. Lovins aconselha o capitalismo americano a utilizar as energias renováveis (infinitas) para evitar o seu próprio colapso.
Muito citado e publicado por ecologistas, Amory Lovins é afinal um homem do sistema que percebeu, a tempo, que o «crescimento infinito» e a «expansão, contínua» podiam conduzir ao abismo a sociedade industrial e seus triunfalismos. Os estragos ecológicos, no meio disto, é o menos: no fundo, é a própria estabilidade do negócio que está em risco, é a própria existência do capitalismo e do imperialismo industrial que se encontra ameaçada.
Uma das maiores figuras da ciência económica mundial, o brasileiro Celso Furtado, tem ensinado em Yale, Harvard, Paris (Sorbonne) e Cambridge, as suas teses sobre o «mito do desenvolvimento económico» e a «profecia do colapso».
«Pretende-se - diz ele ao desmontar o mito - que os standarts de consumo da minoria da humanidade, que actualmente vive nos países industrializados, é acessível às grandes massas de população em rápida expansão que formam o chamado Terceiro Mundo.»
E conclui sem dar lugar a dúvidas: «Essa ideia constitui seguramente, um prolongamento do mito do progresso, elemento essencial na ideologia directora da revolução burguesa, dentro da qual se criou a actual sociedade industrial.»

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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 22/11/1980
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