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2006-11-07

TOLERÂNCIA 1971

1-1- 71-11-07-ie-> domingo, 8 de Dezembro de 2002-scan

O MUNDO DA (IN) TOLERÂNCIA

[ Este texto está associado ao do file , a quem vou atribuir a data deste] - 7-11-1971 - À mentalidade europocêntrica há que substituir uma mentalidade excêntrica, quer dizer, substituir a noção de absolutismo cultural pela relatividade e pluralidade cultural, relatividade que deixe de considerar a Europa e o europeu o centro do Universo ao qual tudo se subordina e refere.
Com a exploração do espaço cósmico, será possível que o europeu ainda continue convencido de ser o umbigo do infinito? E convencido de que a Razão A é a única razão surgida em todos os tempos e lugares para uso de todas as humanidades?
É evidente que a sociedade de consumo – reduzir o homem a mercadoria, a objecto de compra e venda, a animal consumidor – apenas vem intensificar um processo que já está implícito nos fundamentos da cultura A, movida pela razão A, intolerante para todas as outras – de A a Z – etiquetando essas outras, sempre, de epítetos pejorativos, deprimentes, humilhantes: louco, anormal, raça inferior, povo selvagem, língua primitiva, atrasado mental, comportamento irracional, mentalidade pré-lógica, perigo social – eis alguns clichés que a sociedade de consumo vai buscar ao racionalismo de via reduzida – razão A como única e dominante , senhora absoluta e prepotente de tudo e de todos – para oprimir e aviltar.
As morais maniqueístas, por exemplo, resultam directamente da epistemologia racista que é o racionalismo A. Os conceitos de virtude, honra, sacrifício, traição, fidelidade (e todos os que compõem o chamado “psiquismo” do civilizado) são pré-conceitos.
Códigos e Cânones – de beleza e de virtude, do belo e do bem – resultam de um código de verdade que é o da verdade A ou razão A. E mais nenhuma tem direito à vida. O índio coloca-se na reserva ou extermina-se, como traidor à beleza, à virtude, à verdade.
A mitologia romanesca em vigor está empapada de constantes alusões ao belo rosto, ao bom comportamento, à ideia verdadeira.
Quase toda a mitologia romanesca tem das relações humanas o esquema maniqueísta do racionalismo, desde a aurora greco-latina .
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UTOPIA 1970

1-2- lefèbvre-2-ls- segunda-feira, 23 de Dezembro de 2002-scan


MANIFESTO DIFERENCIALISTA:
REALIZAR A UTOPIA

[ 7-11-1970 , in «O Século Ilustrado»] - Dez anos após a publicação, em França, de «Le Matin des Magiciens», manifesto de um realismo fantástico que era apenas um neo-utopismo que nascia contra o realismo de via reduzida, imobilista e dogmático, incapaz de acompanhar o movimento de aceleração histórica, «Le Manifeste Differencialiste», (1) recentemente aparecido na Gallimard (col. Idées), parece retomar caminhos idênticos.

Como diz Claude Jannoud, apreciando esse novo ensaio de Henri Lefèbvre, «o fundamento desta diligência é a investigação do impossível-possível». Uma vez que o pretendido e pretenso realismo fracassou, em toda a linha, é preciso ir procurar noutra parte, lá onde as coisas ainda não existem, é preciso ir, como diz Lefèbvre, até à diferença, já que o sistema actual visa reduzir a diferença ao indiferente.

Depois de Saussure, a diferença fez carreira nas ciências humanas, o que lhes restitui actualidade em filosofia. Para Lefèbvre, o diferencialismo é precisamente um método capaz de ligar o próximo e o longínquo, caminhar para o famoso impossível-possível, reencontrar uma criatividade esmagada pelo imperativo da produtividade.

Há várias lógicas da sociedade, é preciso revelá-las, elaborar uma estratégia da diferença. Isto pressupõe que as revoluções devem aspirar à diferença e que devem ser diferentes umas das outras. Como Berque em «L'Orient Second», Lefèbvre sustenta o princípio da diversidade, face às forças opressivas da universalidade e da homogeneidade.
Enquanto a reflexão de Berque se apoia essencialmente na experiência do Terceiro Mundo, Lefèbvre centraliza a sua meditação sobre a revolução urbana. Assistimos a um processo de urbanização completo da sociedade, processo cujos sinais catastróficos são inúmeros. A «ilusão urbana» é o domínio do absurdo, da impotência, sob todas as latitudes, sob todos os regimes sociais. Constitui-se um espaço e também um tempo opressivos, a favor dos aglomerados gigantes.

A realidade urbana, diz em substância Henri Lefèbvre, não é já uma superestrutura, ela condiciona o futuro das sociedades, o seu desenvolvimento e mesmo o nascimento da produção. Trata-se, portanto, de um factor determinante que os homens do poder, quer os da política, quer os da ciência, quer os da indústria, ignoram.

Da sociedade urbana, porém, deverá vir o grande movimento de diferenciação, de criatividade, de liberdade que mudará o mundo.

Utopia? A palavra não mete medo ao autor, que vê na utopia o específico da crítica progressista, a necessária distanciação em face do real. A maior parte da sua argumentação repousa sobre uma aposta: o poder de criatividade dos homens, a sua imaginação. Uma tal argumentação pertence talvez ao imaginário e terá pouco de razoável, de prudente. Mas a utopia, o desrazoável acabaram sempre por ganhar, no decorrer da História. De impossíveis tornados possíveis é que se foi fazendo, afinal, a evolução progressiva da Humanidade.

(1) Também na Gallimard e na colecção Idées apareceu, quase simultaneamente, um outro Ensaio de Henri Lefèbvre: «La Revolucion Urbaine».

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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado, com este título, na coluna «O Futuro em Questão», semanário «O Século Ilustrado», Lisboa, 7-11-1970 e no jornal «Notícias da Beira», Moçambique, coluna «Notícias do Futuro», em 7-10-70
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DESPERDÍCIO 1992

remissa1-diario- remissa do diário ac -


CRISE OU DESPERDÍCIO?

7-11-1992

Em 27 de Fevereiro de 1981, existe um publicado AC («Voz do Povo»), posteriormente intitulado «Os Nós da Ideologia», cujo duplicado guardei até 31 de Janeiro de 1993, destinado que estava para um projecto da área efabulações-ficções.
Outros títulos sugeridos: «Crise é a outra face do Desperdício», «Os Sete Cavaleiros».
No fundo, é uma crítica ao tipo de discurso a que posteriormente chamei de unideologia.
A pilhagem em que o Sistema se encontra empenhado contra os ecossistemas»: eis uma das banalidades desse texto...
Ou esta outra: « A alma das pessoas - outro recurso bastante esquecido pelos políticos do Ambiente e pelos ministérios da Qualidade de Vida - é totalmente alienada às campanhas maciças de publicidade, de propaganda partidária,»
Comentário escrito na repescagem de 1991: «Este texto publicado em 1981 é dos que não foram, em nada, desmentidos pela realidade, antes pelo contrário: os seus índices de radicalidade, novidade, heresia ou iconoclastia continuam no mesmo índice. É também um texto de inventário e de (muitas) correlações à distância, o que exemplifica o método necessário mas quase nunca praticado de telecorrespondência, método sem o qual a visão ecológica é sempre mera fraudulência (Ver tele-efeito). Cópia deste texto pode, por isso mesmo, ser arrumada nos projectos de ficcionação, porque entra, como investigação, em terreno de tal forma herético, inaceitado, tabu - que terá de ser traduzido em «ficção» para ser consumido. É incrível, aliás, que eu tenha conseguido publicar tais textos, embora no semanário «Voz do Povo», com José Manuel Fernandes na chefia de redacção, fosse aberto e tivesse interesse político nestas radicalidades. O assunto, hoje, em época de conformismo (s) iria para o rótulo de «brotoejas revolucionárias». [ Repescagem 17/11/1990]
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Um outro publicado em «Voz do Povo»: «A Indústria científica e seus comerciantes», em 13/2/1981, contém intuições ACquase de seu exclusivo.
Chegou a estar incluído nos projectos de reciclagem
Índice de escárnio **** (pag 3)
Crítica ao discurso dominante. «É um discurso em eu (jornalista), pelo que, apesar de publicado, figurará com proveito e gosto no diario geral AC. São aludidos ali os «ólogos» de todas as especialidades científicas.
Índice de radicalidade: *****
Índice de heresia: *******
[Repescagem 17/11/199]
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Um outro publicado, em 23/1/1981, in «Região de Leiria», intitulado «O Caos empurra-nos para a ordem, o Diabo para Deus», com intuições AC, fala de Hedonismo, Entropia, Karma Yoga, etc. Aponta pistas de investigação fundamental. Tema(s) para projecto de ficcionação e efabulações.
Comentário de repescagem: «Os hedonistas e o papel da dor no mistério universal volta a estar patente (e não já latente) neste texto publicado em 23/1/1981, no semanário «Região de Leiria». Ele contém pistas de investigação holística que continuam válidas e cada vez mais actuais - já que a actual civilização poderá abdicar de tudo menos do seu hedonismo estrutural.
Isso significa que acertei no alvo - em 1981 - mas que já em 1977 fora atirado para o «budismo Nyingma» pela mesma motivação essencial e fulcral: o ódio latente ao hedonismo: não tinham as discussões com o Gastão Cruz, em Faro, a mesma motivação de fundo?
A efemeridade do prazer já era, nessa altura, o logro maior em que se podia cair - na minha intuição! Quando constatei a «crise ecológica», era ainda a mesma questão das questões: O Ocidente gozou a sua farra e agora paga, tostão por tostão, a farra que tem gozado. A problemática do «hedonismo» (= entropia) está assim, e também, no centro da questão ecológica. Mais do que nunca é urgente repescar e trazer à superfície este debate, que foi sempre, liminar e preliminarmente, excluído.
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