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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-07-03

NOMENKLATURA 1991

cobaias2> diario> 3555 caracteres ficcoes> - continhos breves

OS NOVOS PROLETÁRIOS DA NOVA NOMENKLATURA DIRIGENTE

3/7/1991 - Os novos proletários da nova nomenklatura dirigente ainda não tinham consciencializado a sua nova situação de classe, ainda se pensavam a girar no vazio pantanoso da classe média, como se os ventos da revolução não tivessem varrido da terra os escalões intermédios para deixar apenas os muito ricos e os muito, muito pobres.
A pouco e pouco, os novos proletários acostumavam-se à lancheira, ao acordar de madrugada, à sonolência nos comboios suburbanos e a todas as sequelas do suburbanismo galopante, de que a princípio não se tinham dado conta nem pintado.
De manhã, à entrada da fábrica, quando tinham dois minutos para olhar o escasso horizonte em volta, iam constatando que eram só pequenas, médias e grandes unidades de gás, químicas, petroquímicas, despetroquímicas, e que tinham afinal mudado, com grande pompa e circunstância, para um barril de pólvora, no meio do qual estavam mergulhados até ao pescoço.
Por isso tudo o que era sinal de civilização -- casas de habitar, restaurantes, supermercados, bancos, correios, se tinham posto a distância considerável, já que, mesmo legalmente e de acordo com os diplomas do Estado-Pai, era terminantemente proibido coabitar com unidades industriais de tão explosiva natureza. Quando os novos proletários procuravam um oásis onde se dessedentar, um bocado de pão e queijo para meter na boca, uma esplanada aprazível onde passar as longas e desnecessárias horas de almoço, não encontravam tábua de salvação naquele desterro, naquele cemitério de vivos. Mais dois anos, pelo menos, iriam decorrer para que eles «consciencializassem» essa sua condição proletarizante e proletarizada.
Mais anos tinham levado -- verdade se diga -- os proletários da velha vaga, aqueles que já tinham duas gerações e meia de habituação e que continuavam, obedientes, de lancheira às costas. As empresas que montaram cantina, exibiam dísticos nas paredes frontais a proclamá-lo, pois isso constituía, para elas, enquanto empresas, um brasão de honra.
As que não haviam montado cantinas, ocultavam dos olhos profanos as formas mais diversas de como os operários se desenrascavam para comer a bucha do meio almoço. É que ninguém os habituara ao regime de comer pelos cantos, de não comer, de comer de manhã muito cedo e à noite muito tarde. Havia quem o fizesse, escondido, na retrete. Havia quem o fizesse, ostensivamente, em cima da banca de trabalho. Havia quem fosse para o banquinho da paragem de autocarro. Havia, enfim, quem tentasse pendurar-se do último galho que restava da última árvore que ainda não fora abatida nas redondezas.
Tudo servia para disfarçar o facto indisfarçável de que o proletário trabalhava subalimentado, embora teoricamente ganhasse o suficiente e tudo estivesse a postos para que os animais de carga se deixassem alimentar a soro, por injecção intravenosa, de modo a adiar, o mais possível, a famigerada e sempre protelada reforma do Estado. É evidente que o Estado -- que não é tolo -- procurava adiar a reforma o mais que podia, a ver se entretanto o trabalhador, em vez de reformado, se transformava em cadáver. E, na maior parte dos casos, o trabalhador fazia a vontade ao Estado. Ficava cadáver, nem que fosse por desidratação compulsiva. O que ia poupar umas dezenas de contos ao Estado-Providência, que bem deles precisava para as obras públicas, para os enormes blocos de cimento armado com que o Poder perpetuava a sua memória e a sua glória.
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MACRO-SISTEMA 1987

sistema-7-os dossiês do silêncio – o sistema contra os ecossistemas – a engrenagem –inédito ac de 1987 – tese de 5 estrelas – inventários da catástrofe

3-7-1987

AS CONTRADIÇÕES DO MACRO-SISTEMA

Lógica da destruição e alarmismos apocalípticos - Quem é pessimista e quem é optimista? - Ciclos viciosos, escaladas, processos descontrolados, rupturas e desequilíbrios - Consciência ou ignorância, informar ou calar? - Quem fomenta o desespero?

3.Julho.1987 - Mexer nos assuntos ditos ecológicos é sempre desagradável (no mínimo) , seja qual for o nível de abordagem. Só os eco-equívocos, do tipo campismo-escutismo-caravanismo, pintam o quadro de cores róseas, permitindo que, para alguns, ecologia signifique boa vida e férias ao ar livre.
Mas se se entende por ecologia os problemas de «lixo», a nível autárquico - esgotos, saneamento básico, lixos, dejectos humanos, resíduos - qualquer pessoa sensível vira a cara, com razão, a cheiros pestilentos e montanhas de fealdade .
Durante muito tempo os ecologistas como o sr. A.C. foram confundidos com uma espécie de trapeiros que andavam sempre à procura de alimento nos caixotes e contentores municipais do lixo.
Ainda hoje, por parte do público e de algumas elites ambientais, há uma certa tendência para assimilar "ecologismo" com lixos e lixeiras , confusão que não é de todo inocente como logo se compreende.
Se se entende por ecologia as relações globais dos elementos físicos da Terra e como crise ecológica os fenómenos de macro-amplitude verificados na biosfera, então torna-se pânica e todos  os Panglosses, todos os avestruzes a acusam de assustar o Zé Povinho, todos a consideram uma nova psicose apocalíptica e , como tal, desagradável, deseducativa das novas gerações, pessimista, derrotista, imprópria para crianças e jovens.
Ninguém consegue negar que os factos existem: mas muitos defendem que , até onde for possível e até quando for possível, esses factos sejam disfarçados, mascarados, desviados, liofilizados.

OS FACTOS

Desequilíbrios climáticos;
sismos provocados por bombas nucleares subterrâneas que sistematicamente são deflagradas há mais de vinte anos;
a camada de ozono da alta atmosfera destruída por "sprays" e "jactos" sem que se faça alto a nenhuma dessas causas que produzem aquele efeito;
evapo-transpiração dos oceanos cada vez mais difícil devido à camada de petróleo que os recobre, conduzindo assim a uma subida de nível das águas;
metais pesados cancerígenos espalhados por água, ar e solos;
eutrofização ou cancro das águas causado por detergentes não-biodegradáveis que continuam a utilizar-se sem controle;
escalada agroquímica que não consegue debelar as pragas da agricultura mas apenas aumentá-las;

eis apenas uma pequena listagem dos vários casos e exemplos que, ao caracterizar especificamente a crise ecológica, a definem como um beco sem saída, um ciclo vicioso, uma escalada logarítmica, um processo irreversível, enfim, uma explosão apocalíptica de desastres e catástrofes.
O curioso da questão é que há gente ainda a considerar que, mandando calar os jornalistas ou metendo no gravador outra cassete, todo aquele quadro, real, concretamente real, desaparece por encanto.
O curioso da questão é que haja tanta gente mais preocupada em não afligir a gente do que a ter consciência crítica da situação e a enfrentá-la.
O curioso da questão é que se prefira meter, como o avestruz, a cabeça na areia, acusando entretanto de catastrofismo e alarmismo os que tentam, ainda, fazer alguma coisa antes que seja definitiva e irremediavelmente tarde.

MAIS FACTOS

A taxa mundial de suicídios em subida logarítmica;

Uma medicina que provoca mais doenças do que aquelas que trata;
A  apatia de governantes e outros responsáveis perante o quadro negro de poluições em escalada;
A asfixia das megalópolis pela poluição atmosférica e o gigantismo urbano que ainda não deixou de crescer em nenhum país do Mundo;
A morte de mares e oceanos por derrames petrolíferos, contentores radioactivos e cargueiros carregados de cargas venenosas, tóxicas e explosivas;

eis mais alguns exemplos de situações reais concretas que se podem pintar em cores mais ou menos negras, conforme o momento político que se atravessa e o efeito de alarme que se queira extrair, mas que não deixam de constituir "ciclos viciosos", "escaladas logarítmicas", "becos sem saída", "cercos que se apertam", "turbinas que crescem de velocidade sem travão que as modere", etc. etc
Os factos são isso, independentemente do aproveitamento  ocasional que os políticos façam desses factos.

OS QUÍMICOS

Ciclo vicioso aparentemente sem saída é o dos produtos químicos para combater pragas na agricultura, pragas que, por esse tratamento, se tornam cada vez mais frequentes e incontroláveis.
O combate químico às doenças humanas tem o mesmo carácter de ciclo vicioso, de escalada imparável, de progressão logarítmica, tal como provam as doenças iatrogénicas, a última em data das quais se chama imunodeficiência ou deficiência imunitária, fenómeno que sob o rótulo de sida se continua espalhando como praga e peste medieval, e continuará enquanto não for formulado nos seus verdadeiros termos causais, ambientais ou ecológicos.
Doença típica e terminal de todo um sistema, ela continuará progredindo até à extinção da espécie enquanto se teimar na metodologia de estudo e investigação errada.
Uma ciência sofística que funciona por lógica invertida e que considera causa o vírus, que é precisamente o efeito e não a causa, tem que conduzir igualmente a ciclos viciosos, inversões radicais, processos descontrolados .
Mais temível que a imunodeficiência - síndroma ambiental de uma sociedade  - é que toda a abordagem dita cientifica do fenómeno esteja invertida, deixando que ele se processe e progrida sem controle.
Apocalíptica, portanto, não é a visão ecológica, mas a visão sintomatológica e tecnocrática que os ecologistas denunciam.

A destruição da camada de ozono da alta atmosfera por "sprays" e "jactos" dos supersónicos, denúncia que foi feita pelos ecologistas há mais de 10 anos, ainda não alterou um milímetro a situação.
O que é que será portanto apocalíptico: reconhecer a situação e agir para a controlar, ou deixar que ela se torne irreversível?
O que é mais apocalíptico: a consciência ou a ignorância e a teimosia?

O CICLO DO CARANGUEJO

É costume descrever também, como "ciclo vicioso" o "ciclo da pobreza" imortalizado na obra do geógrafo Josué de Castro, "O Ciclo do Caranguejo".
Quando as pessoas se alimentam dos seus dejectos, fecha-se o ciclo que, na melhor das hipóteses, se poderá chamar vibrião da cólera ou qualquer outra manifestação patogénica do ciclo hídrico.
Mas ciclo vicioso é também o da fome-pobreza-fome, porque sem alimento um povo não conseguirá ter energia para trabalhar e sair da pobreza e mantendo-se pobre não conseguirá alimentar-se e ter forças para combater a pobreza. Etc.
Note-se , porém, que nas sociedades ricas o ciclo vicioso , o "comer os próprios dejectos" faz igualmente sentido: sem reciclagem de poluentes e sem tecnologias não poluentes, os ricos estão igualmente no "ciclo do caranguejo", condenados a comer, beber, respirar, consumir os próprios dejectos, já que as várias poluições se transmitem ao ambiente - solo, ar, água - de onde o ser humano, mesmo rico, tem que retirar o alimento.
(Este tema, quase por estas palavras, já o glosei há uma boa meia dúzia de anos, e gostaria de localizar agora esses textos.)

SOB O SIGNO DE DARWIN

A nível mais filosófico, o quadro também não aponta para grandes optimismos.
Pois não será o homem, à luz da ciência experimental - a zoologia e mais recentemente a Etologia - uma espécie estruturalmente predadora e não será a destruição do seu próprio meio e de si próprio a evolução natural das coisas, prevista pelas leis da ciência?
Não será então um pouco contraditório, que se gritem raios e coriscos contra a pocilga que mata milhares de peixes numa barragem aprazível, mas logo a seguir invocar a indignação dos senhores pescadores que se viram assim privados de ser eles os predadores dos barbos e robalos mortos com a poluição pecuária?
A tonalidade de ciclo vicioso volta a surgir nas múltiplas contradições flagrantes do sistema que vive de ir matando (os ecossistemas).
Haverá, a médio e longo prazo, alguma coisa a modificar para alterar este fatalismo evolucionista do homem a caminho do holocausto nuclear e portanto das cavernas?
( Lembro o que escrevi a propósito de Hubert Reeves e seu livro "Um pouco mais de azul").


A destruição de peixes em barragens por descargas de indústria pecuária não deixa de ter outro aspecto contraditório, ouvindo os que se queixam do acidente.
Afinal a pecuária corresponde a um modelo carnívoro de vida e desenvolvimento que se tem como intocável e até como o único viril, e é estranho que as pessoas aceitem de boca aberta a parte boa (a comezaina de porco e arredores) mas já repudiem esta mesmo inflação de proteína animal quando ela, sob a forma de resíduos e dejectos, é jogada para uma barragem matando milhares de peixes que os pescadores se preparavam para desportivamente pescar.
Aliás e voltando a Darwin, a teoria evolucionista e todas as ideologias político-económicas que nela se apoiam (todas, menos a ideologia ecologista) leva em si própria a lógica da autodestruição, paradoxo que ainda não vi nenhum dos ideólogos evolucionistas, mesmo preocupados com a paz e a ecologia, resolver.
O facto de o mundo caminhar para as cavernas e o homem para o macaco é incompatível, de facto, com a visão idílica e metafísica de uma teoria que teima cegamente em dizer que o mundo veio das cavernas e o homem do macaco.
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sistema-9> inédito ac de 1987

ESBOÇO DE UM TEXTO MAIS QUE FALHADO - OS PANGLOSSES

3/7/1987 - Não faltam os Panglosses a anunciar que este mundo é o melhor dos mundos possíveis, pelo menos enquanto os negócios deles e seus patrões continuarem prósperos.
Por mais que a caracterização do sistema esteja feita, em termos definitivos, por mais que os factos desastrosos demonstrando a inviabilidade de uma engrenagem desastrosa se acumulem, por mais provado que esteja o equívoco - o retrocesso humano a que se teima em chamar progresso -, há sempre um Pangloss, bem pago, para cantar as virtudes da indecência e da pouca vergonha.
A esperança maçónica no progresso mesmo que mate e esfole e tal como tem sido praticado, não desarma, mesmo depois de todas as críticas que de quase todos os quadrantes - sem acções nos negócios lucrativos da indústria homicida - começaram finalmente a ser feitas, sem medo.
Porque o medo é componente fundamental do sistema totalitário do progresso industrial e tecnocrático que temos, igual a retrocesso humano e moral.
Há Panglosses de vários tipos mas todos apostados em defender e manter o status tecno-industrial, mesmo quando ele mete água por todos os lados como é hoje o caso no fenómeno chamado "crise ecológica das sociedades".
Se alguns desses Panglosses parecem defender pontos de vista num plano de neutralidade científica, mostrando-se tecnocratas seguros do seu dogma, outros logo se percebe (ao saber-se-lhe a proveniência) em favor de quê, de quem e de que interesses fazem eles a apologia do status tecno-industrial, que conduziu o Planeta e a Humanidade ao beco sem saída actual.

Um senhor inglês chamado Benne, por exemplo, apostado em desfazer, com as habilidades da sua cartola de prestidigitador, as aquisições críticas do padrão alimentar instituído pela industrialização, é apenas o presidente de [---]
Mal andaria a um homem encarregado, pelas altas funções que ocupa, de promover as tecnologias alimentares mais abjectas - desde aditivos a radiações - , que não inventasse de noite todas as atoardas possíveis contra a qualidade biológica dos alimentos, para as dizer de dia.
De admirar, talvez, é que uma revista espanhola de consumidores - órgão do movimento de consumidores chamado [---] não se limite a noticiar o livro do senhor Benne, saído em Espanha com o título [---], mas faça o seu descarado elogio.
Estes movimentos em defesa do consumidor fazem-me lembrar aqueles militantes republicanos contra o analfabetismo que preconizavam a eliminação física sumária dos analfabetos para erradicar assim a praga do analfabetismo.
Estes movimentos em defesa do consumidor, sempre prontos a dar uma mãozinha aos guardiães do sistema, também precisavam às vezes de uma boa alta autoridade contra a corrupção que os metesse na ordem.
Logo quando foram dados os primeiros alertas da crise ecológica, apareceu na Grã Bretanha um senhor de nome John Maddox, dizendo em livro que isso era tudo obra de pessimistas incultos e que, no fundo, as indústrias como a nuclear têm sempre um lado bom.
Paternal como todos os panglosses, ele propunha que se corrigissem anomalias eventuais do sistema, jamais admitindo que o mal estivesse radical e estruturalmente ligado ao próprio sistema.
Maddox convidava a ter esperança na utopia tecnocrática e proclamava que o Apocalipse é invenção de reaccionários ecologistas. Os males da tecnologia teriam que ser corrigidos pela própria tecnologia .
Em livro da colecção "Diagramas" sobre "Radioactividade", da editorial Estúdios Cor, o sr. seu autor, também comete a proeza de descobrir, nessa data, que a Radioactividade só tem vantagens, relegando para o limbo da superstição as posições críticas contra o actual biocídio praticado em todas as frentes incluindo a radioactiva.
Ao contrário do que é costume na literatura dos Panglosses, este senhor não compara a energia nuclear à faca (que também pode matar, como dizia o outro...) mas ...ao fogo: "Não é porque o fogo pode matar que a Humanidade abdicou de progredir com ajuda do fogo!" proclama ele, com ar vencedor .


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