VERDES 1991
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CARTA AC A ALMEIDA SANTOS
9/Junho/1991 - Nunca um texto aprofundara até às últimas consequências a problemática ecológica de fundo, como o faz o artigo do Dr. Almeida Santos, publicado em «Jornal de Letras», 4/Junho/1991, véspera do Dia Mundial do Ambiente.
Considerando-me o mais céptico dos leitores e o mais anarca dos políticos, o mais liberal dos socialistas e o mais socialista dos liberais, desconfiei sempre dos discursos político-partidários que em Portugal se têm colorido de verde, por moda, oportunismo ou estratégia eleitoralista.
É com verdadeira surpresa, pois, que leio a mensagem de Almeida Santos, que nada tem a ver com os múltiplos e variados oportunismos ditos «verdes» e pseudoecológicos aparecidos, como cogumelos, no meio ambiente português nos últimos anos.
É um depoimento exacto, corajoso em muitos sentidos, que leva às últimas consequências a lógica ecológica, sem qualquer tipo de cedências ou complacências às várias forças que, afinal, com a sua cumplicidade, têm permitido que a crise ecológica se tornasse (quase) irreversível.
Principalmente, com este texto fica demonstrado que o ecologismo radical-humanista e radical-reformista só pode inspirar e ser inspirado por uma ideologia política como o socialismo democrático: não há hipótese de conciliar o ecologismo com outra ideologia, de esquerda, direita ou centro.
Por isso, até agora, era a lacuna mais grave no seio do Partido Socialista: que ninguém aí se tivesse apercebido disso e que ninguém o compendiasse como trunfo principal de uma estratégia partidária. Lacuna que Almeida Santos acaba plenamente de preencher.
Têm aparecido, entre nós, vozes mais ou menos radicais como esta, e eu considero-me, para mal dos meus pecados, a voz mais radical de todas elas. Só que, regra geral, pertencem, como a minha, a pessoas sem influência, sem partido, sem poder e pouco eco, pouca repercussão podem ter, portanto, na opinião pública.
Almeida Santos, no entanto, goza de um prestígio quase absoluto na classe política, estando bem próximo, agora, depois deste artigo no «JL», daquele perfil que um dia, dentro de alguns anos, o País irá exigir para suceder a Mário Soares. Juntar a culminância do poder e do prestígio, à sinceridade veemente de um militante ecologista de base é o que no seu texto surpreende e, ao mesmo tempo, faz renascer uma nova esperança naqueles que, em terreno tão pantanoso como é a política (especialmente «verde») em Portugal, já desesperavam de encontrar um firme ponto de referência.
Faço apenas questão de saber se recebeu esta carta e se a mensagem de gratidão que nela lhe envio foi ouvida.
Com os melhores cumprimentos,
AC
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CARTA AC A ALMEIDA SANTOS
9/Junho/1991 - Nunca um texto aprofundara até às últimas consequências a problemática ecológica de fundo, como o faz o artigo do Dr. Almeida Santos, publicado em «Jornal de Letras», 4/Junho/1991, véspera do Dia Mundial do Ambiente.
Considerando-me o mais céptico dos leitores e o mais anarca dos políticos, o mais liberal dos socialistas e o mais socialista dos liberais, desconfiei sempre dos discursos político-partidários que em Portugal se têm colorido de verde, por moda, oportunismo ou estratégia eleitoralista.
É com verdadeira surpresa, pois, que leio a mensagem de Almeida Santos, que nada tem a ver com os múltiplos e variados oportunismos ditos «verdes» e pseudoecológicos aparecidos, como cogumelos, no meio ambiente português nos últimos anos.
É um depoimento exacto, corajoso em muitos sentidos, que leva às últimas consequências a lógica ecológica, sem qualquer tipo de cedências ou complacências às várias forças que, afinal, com a sua cumplicidade, têm permitido que a crise ecológica se tornasse (quase) irreversível.
Principalmente, com este texto fica demonstrado que o ecologismo radical-humanista e radical-reformista só pode inspirar e ser inspirado por uma ideologia política como o socialismo democrático: não há hipótese de conciliar o ecologismo com outra ideologia, de esquerda, direita ou centro.
Por isso, até agora, era a lacuna mais grave no seio do Partido Socialista: que ninguém aí se tivesse apercebido disso e que ninguém o compendiasse como trunfo principal de uma estratégia partidária. Lacuna que Almeida Santos acaba plenamente de preencher.
Têm aparecido, entre nós, vozes mais ou menos radicais como esta, e eu considero-me, para mal dos meus pecados, a voz mais radical de todas elas. Só que, regra geral, pertencem, como a minha, a pessoas sem influência, sem partido, sem poder e pouco eco, pouca repercussão podem ter, portanto, na opinião pública.
Almeida Santos, no entanto, goza de um prestígio quase absoluto na classe política, estando bem próximo, agora, depois deste artigo no «JL», daquele perfil que um dia, dentro de alguns anos, o País irá exigir para suceder a Mário Soares. Juntar a culminância do poder e do prestígio, à sinceridade veemente de um militante ecologista de base é o que no seu texto surpreende e, ao mesmo tempo, faz renascer uma nova esperança naqueles que, em terreno tão pantanoso como é a política (especialmente «verde») em Portugal, já desesperavam de encontrar um firme ponto de referência.
Faço apenas questão de saber se recebeu esta carta e se a mensagem de gratidão que nela lhe envio foi ouvida.
Com os melhores cumprimentos,
AC
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