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2006-05-21

ARBORICÍDIO 1980

barrete-1- polémicas ac com o meio ambiente – inéditos ac de 1980 –  inédito ac 5 estrelas

ARBORICÍDIO OU UM PLANO ARBORICIDA?

21/5/1980 -Isto para já e para citar só os casos de que me chegaram informações. Mas, por estas amostras, que não são tão poucas como isso e que envolvem , no seu conjunto, milhares de árvores já arrancadas pela raiz, é de supor que o Plano Arboricida estará em curso numa área e numa escala muito vasta. Sem que nenhum paisagista tenha piado. O segredo, ao abrigo do qual tem sido executado este Plano (e pelos sinais já conhecidos não hesitamos em falar de Plano) leva a pensar que os casos até agora chegados ao nosso conhecimento são apenas uma pinga de água no oceano de destruição.
II
Agora  é talvez o momento de pôr os pontos nos iis e demarcar posições em relação a vários ingredientes em jogo nesta, pouco clara, manobra de distracção.
Devem os ecologistas, pelo menos, não se deixar misturar e confundir com esta carga da brigada ligeira de  amigos da natureza .

III
Para a gente acreditar que há sinceridade neste súbito amor pela natureza de técnicos e urbanistas que tão alegremente a têm ajudado a massacrar em inúmeras circunstâncias, seria interessante que à cruzada em defesa dos jardins de Academo se seguisse ou juntasse uma cruzada igualmente badalada pelos infatigáveis "mass media", explicando:
- Quantas árvores seculares têm sido abatidas nas áreas já indicadas e em outras de que não nos chegou informação (Mas os técnicos metidos nos serviços autárquicos com certeza sabem tudo)
- Que espécie de árvores são arrancadas e porquê? Se o critério é de antiguidade, em quantos séculos de existência se avalia as que foram ou vão ser abatidas? A que finalidade obedece a operação: puro vandalismo? Aproveitamento comercial das raízes? Lenha para queimar? Obtenção de espaço útil para ...parques infantis?
IV
"As árvores estavam secas" - é a desculpa que as autarquias põem a circular, difusamente, para adormecer a opinião pública, mas até hoje nenhuma declaração oficial, responsável, formal, pondo o preto no branco, foi dada por qualquer serviço.
"As árvores começaram a secar depois de uma fumigação química a que foram submetidas" - este é outro dos boatos postos a circular, difusamente, sem que um comunicado claro tenha sido emitido até hoje às populações.
"Foram atacadas de bicho e aplicou-se um produto químico que as secou..." - é outro boato que circula à boca pequena, nitidamente para enganar a gente.
A opinião pública exige que se saiba: Quem pulverizou? Porque se pulverizou? Se era para matar bicho e se matou árvores, que raio se passa?
V
Em casos concretos observados por testemunhas oculares, algumas dessas árvores dadas como secas e que portanto foram abatidas, já mostravam rebentos verdes, demonstrando que, afinal, não estavam tão secas como isso nem tão definitivamente.
Curioso e espantoso é que, num país onde tudo se adia e onde nada que seja produtivo anda, a serra mecânica voou célere para os locais adrede preparados, a cortar rapidamente as árvores ditas "secas" ...antes que elas reverdecessem. A cortar, veloz, antes que ficasse a nu a verdade: a árvore não secou, mas teria sido seca artificial e provisoriamente para justificar o abate. A pressa, num país onde só a destruição anda de pressa, não leva a concluir outra coisa.
VI
Em Lisboa, não há praticamente um jardim imune a esta campanha de preservação da Natureza e melhoria do Meio Ambiente , certamente integrada na Campanha de Preservação da Natureza recentemente lançada a nível mundial pela actual Secretária de Estado do Ambiente, drª Margarida Borges de Carvalho. Se ela me soubesse explicar o mistério das árvores abatidas por este País fora, eu diria que é uma secretária formidável.
Estrela, Campo de Ourique, Praça da Ilha do Faial, Príncipe Real, foram só alguns dos casos de que recebi telefonemas, cartas e avisos, ou que pessoalmente pude constatar. Mas ninguém melhor do que a Câmara Municipal de Lisboa para dizer quantas árvores, quando, como e porque foram abatidas. Povo amigo, a câmara  está contigo.
Nem a Imprensa, nem os urbanistas altamente preocupados com a clorofila, piaram até hoje sobre este escândalo que se tornou já rotineiro, apesar do espectáculo cruel de ver, dias a fio, raízes monumentais expostas à estupefacção pública.
VII
Que nos digam,  esses que nos convidam para colóquios e para assinar abaixos-assinados, o que se passa com as árvores gigantes deste País e para onde vão as raízes que, em alguns casos, são mais pesadas do que a própria árvore.
Como tais informações não têm sido dadas pelas entidades competentes estaria disposto a acreditar na sinceridade destes amigos da Natureza se, ao menos, tão heróicos, ajudassem a deslindar, de vez, este mistério das árvores abatidas por todo o País.

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