NATUREZA 1969
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DEFESA INSTINTIVA CONTRA O INEVITÁVEL
1/3/1969 - Uma defesa «psicológica» quase instintiva contra o fenómeno inevitável dos sismos: culpar as experiências atómicas subterrâneas, porque são obra humana. Ou os senhorios das habitações; ou o governo que não cria as condições de segurança das populações, ou a Imprensa que não educa o público sobre a maneira como se há-de defender das derrocadas...
[19/2/1992 - De facto, os fatalismos da Natureza assustam-nos mais do que quaisquer obras humanas. E temos que atribuir a causas humanas os cataclismos naturais para encontrarmos uma estrutura emocional e intelectual de apoio; temos que racionalizar o irracional; temos que encontrar um alvo responsável para descarregar a crítica, o ódio, o pavor, a nossa covardia, enfim, face ao desconhecido. [Mas o contrário também é verdadeiro.] Ao que não se rege por nenhuma norma plausível e previsível de ritmo ou retorno ou sazonalidade.
Se um dia o sol nascesse a Ocidente, ou dançasse no céu, ou a temperatura começasse a subir sem controle, ou os anos passassem a ter 100 dias, ou [----------] isso faria enlouquecer multidões. É a relativa ordem do universo que mantém uma relativa ordem na mente humana e no seu equilíbrio psico-físico.
Mas abre-se um infinito à ficção se eu conceber cenários que quebram exactamente essas regras inamovíveis. Se um sismo tiver hora marcada, por exemplo; ou se as aves passarem a rastejar; ou se um burro voa; ou se a homossexualidade se torna a norma e a heterosexualidade a excepção perseguida por lei; ou se na rua andarmos de cabeça pra baixo; ou se um cão nascer com cabeça de gato ou um gato nascer com cabeça de cão; ou se um rio correr da foz para a nascente; ou se eu passar a escrever da direita para a esquerda; ou se um divórcio se processa antes de um casamento; ou se um casal divorciado se torna a casar; [ como se costuma dizer do que é e não uma notícia interessante: se um cão morde um homem, é banal e sem interesse; mas se um homem morde um cão, é notícia].
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DEFESA INSTINTIVA CONTRA O INEVITÁVEL
1/3/1969 - Uma defesa «psicológica» quase instintiva contra o fenómeno inevitável dos sismos: culpar as experiências atómicas subterrâneas, porque são obra humana. Ou os senhorios das habitações; ou o governo que não cria as condições de segurança das populações, ou a Imprensa que não educa o público sobre a maneira como se há-de defender das derrocadas...
[19/2/1992 - De facto, os fatalismos da Natureza assustam-nos mais do que quaisquer obras humanas. E temos que atribuir a causas humanas os cataclismos naturais para encontrarmos uma estrutura emocional e intelectual de apoio; temos que racionalizar o irracional; temos que encontrar um alvo responsável para descarregar a crítica, o ódio, o pavor, a nossa covardia, enfim, face ao desconhecido. [Mas o contrário também é verdadeiro.] Ao que não se rege por nenhuma norma plausível e previsível de ritmo ou retorno ou sazonalidade.
Se um dia o sol nascesse a Ocidente, ou dançasse no céu, ou a temperatura começasse a subir sem controle, ou os anos passassem a ter 100 dias, ou [----------] isso faria enlouquecer multidões. É a relativa ordem do universo que mantém uma relativa ordem na mente humana e no seu equilíbrio psico-físico.
Mas abre-se um infinito à ficção se eu conceber cenários que quebram exactamente essas regras inamovíveis. Se um sismo tiver hora marcada, por exemplo; ou se as aves passarem a rastejar; ou se um burro voa; ou se a homossexualidade se torna a norma e a heterosexualidade a excepção perseguida por lei; ou se na rua andarmos de cabeça pra baixo; ou se um cão nascer com cabeça de gato ou um gato nascer com cabeça de cão; ou se um rio correr da foz para a nascente; ou se eu passar a escrever da direita para a esquerda; ou se um divórcio se processa antes de um casamento; ou se um casal divorciado se torna a casar; [ como se costuma dizer do que é e não uma notícia interessante: se um cão morde um homem, é banal e sem interesse; mas se um homem morde um cão, é notícia].
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