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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2005-10-13

DOCUMENTOS-1

datas-1 - os dossiês do silêncio

O PROBLEMA NUCLEAR NA HISTÓRIA (*)

(*) Era este o título do desdobrável editado conjuntamente pela Associação de Objectores de Consciência, pela Associação Amigos da terra e pelo Comité Antinuclear de Lisboa, em 5 de Junho de 1983 (?)

1895
Início da história das radiações ionizantes. Descoberta e experimentação de uma nova espécie de raios: o raio x.

1896
Descoberta e estudo do primeiro metal com fortes propriedades ionizantes: o urânio.

1898
Marie Curie cria o termo radioactividade (natural note-se) para definir a propriedade de certas emissões.

1934
Descoberta da radioactividade artificial ou modificação dos núcleos atómicos estáveis.

1939
Fissão do núcleo do urânio.

1942
Libertação controlada de energia nuclear. Primeira reacção em cadeia.

1943
Abertura do Instituto Atómico de Moscovo. Abertura do laboratório de Los Alamos nos EUA.

1945
Conferência de Yalta. Bombas atómicas de Hiroxima e Nagasaki.

1949
Explosão da primeira bomba de urânio soviética.

1952
Primeira bomba atómica britânica.

1954
Einstein e Bertrand Russell alertam a população mundial para o perigo das concentrações insólitas de radioactividade nos organismos vivos. Oliveira Salazar dá posse à Junta de Energia Nuclear, em Portugal.

1955
Conferência Internacional sobre a utilização pacífica da energia nuclear. O bem-estar das populações passa a ser aferido pela quantidade de energia de que elas dispõem. Mesmo que se criem disparidades do tipo: em certas habitações refrigeradas no Verão, por um sistema central de climatização, há alturas em que se gela e é preciso acender aquecedores

1957
Acidente na central nuclear de Windscale (Grã-Bretanha). A URSS e os EUA somam 53 explosões atómicas. Suspeita de grave desastre nuclear na região dos Urais (União Soviética).

1960
Primeira bomba atómica francesa. Protestos contra a energia nuclear dita pacífica. Jean Pignero.

1963
Jean Pignero funda a Associação contra o Perigo Radiológico, mais tarde transformada em Associação de Protecção aos Raios Ionizastes.

1969
Se fizermos o levantamento da produção mundial de energia eléctrica de origem nuclear, durante o ano de 69, concluímos que o peso dos efluentes produzidos durante esse ano foram 83 toneladas. Este número dá apenas uma pálida ideia do problema da contaminação radioactiva dos organismos vivos. Crescem os avisos sobre os perigos decorrentes do aumento da radioactividade

1972
Primeira acção de massas contra uma central nuclear em França. Dez mil pessoas opõem-se, em Fessenheim, à construção da primeira central nuclear francesa (PWR).

1973
O nome de Kaúlza de Arriaga, presidente da Junta de Energia Nuclear, e o de Veiga Simão, ministro da Educação, aparecem ligados à opção nuclear em Portugal.

1974
Afonso Cautela, jornalista, pede pela primeira vez em Portugal uma Moratória Nuclear, alertando para os perigos sociais e ecológicos de uma opção nuclear em Portugal.

1975
Luta em Wnyl, na região de Baden-Wurtenberg, contra a instalação de uma central nuclear. Outras importantes movimentações europeias contra o Nuclear civil e militar. Em Portugal fala-se, pela primeira vez, em construir a curto prazo uma central nuclear. O
sítio escolhido é Peniche.

1976
Primeira movimentação popular em Portugal contra o Nuclear. O povo de Ferrel, em 16 de Março, dirige-se ao local previsto para a construção da primeira central nuclear em Portugal e exige a suspensão imediata dos trabalhos. Os sinos tocam a rebate. O reconhecimento do direito à objecção de consciência ao serviço militar em Portugal.

1978
1º Festival pela Vida e contra o Nuclear. Caldas da Rainha - Peniche, 21 e 22 de Janeiro. Participação popular.


1979
Acidente no reactor de Three Mile Island nos EUA. Balanço trágico ainda
por fazer.

1981
O grupo ecológico do Porto “ Terra Viva” protesta contra a construção da
central nuclear em Sayago a 15 km da cidade portuguesa de Miranda do Douro. Forte participação popular. Encontro Nacional de Objectores/as de Consciência em Lisboa, no CNC.

1982
2º Festival Pela Vida e Contra o Nuclear. Miranda do Douro, 9 a 15 de Agosto. Entrega de cinco mil assinaturas na Assembleia que pedem a divulgação pública dos acordos luso-espanhóis .

1983
Basílio Horta, ministro da Energia, apresenta o Programa Energético Nacional. "Penetração" inevitável do Nuclear em Portugal. Crescem os protestos. A crise da Natureza agrava-se. Importante crise económica.
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(*) Era este o título do desdobrável editado conjuntamente pela Associação de Objectores de Consciência, pela Associação Amigos da terra e pelo Comité Antinuclear de Lisboa, em 5 de Junho de 1983 (?)
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mep-1-ds-ie=os dossiês do silêncio – inédito, obviamente


ENQUANTO O M.E.P. REPOUSA EM PAZ...
CADA JUVENTUDE TERÁ O ELECTROFASCISMO QUE MERECE (*)

(*) Embora tivesse enviado este texto ao dr. Rocha Barbosa, director do semanário «Gazeta do Sul»(Montijo), acho que nunca chegou a ser publicado e ainda bem. Acho também que não saiu no livro sobre o nuclear que publiquei


20/3/1977 - Cómico não é que o governo socialista, eleito por maioria de cidadãos portugueses no livre uso do seu direito à Asneira, se prepare para plantar oito reactores até ao ano 2.000 num território onde nem um reactor cabe.

Cómico não é que decisões como essa estejam a ser tomadas sem consulta à população, quando a consulta já foi feita por várias vezes (eleições) e a população disse que queria este governo que nos vai meter oito centrais atómicas no buxo, este governo que admitiu e consentiu Sines, que ficou encantado com Alqueva, que desenvolverá as indústrias venenosas e pesadas, que, enfim, rendido aos alemães ou aos americanos vendedores de centrais, não tem outra opção que não seja aceitar o que vier em troca.

Cómico não é que um governo eleito pelo povo, faça tudo o que entende dever fazer contra esse povo por força desse mesmo mandato que desse mesmo povo recebeu.

Cómico, bastante cómico ( e sintomático do nosso risonho futuro ) é que a C.A.L.C.A.N., Comissão de Apoio à Luta Anti-Nuclear, tivesse, desde que foi fundada, em 1 de Abril de 1977, observado o mais prudente e atómico silêncio radioactivo.

Cómico é que os partidos estejam todos de acordo em partilhar com as grandes potências atómicas o que resta deste território afonsino para as potências atómicas aqui virem dejectar tudo quanto não querem dejectar nos países delas: plutónio, mercúrio, sulfuretos, seja o que seja, porco, tóxico, venenoso ou radioactivo.

Cómico é que o Movimento Ecológico Português não tivesse conseguido levantar cabeça porque andava tudo muito ocupado com reivindicações urgentes e, afinal, defender o povo da hecatombe nuclear e do crime atómico era para eles - partidos, sindicatos, serviços, etc. - coisa de loucos. Coisa de fascistas, chegaram a dizer-me os fáscio - revisionistas -estalinistas.

Cómico é que os cadernos "Ecologia e Sociedade" tivessem promovido uma reunião em Lisboa, entre os seus 75 assinantes, e tivessem comparecido umas quinze pessoas, das quais umas cinco tinham ido ali por engano e estavam constantemente a olhar para o relógio: era sábado e um fim de semana, além de sagrado, não se pode deitar fora.

Cómico é que 80 dos assinantes do jornal "Frente Ecológica", a quem foi enviado, após dois anos de confiança absoluta, o primeiro titulo de cobrança da assinatura, mais de quarenta (500) tivessem devolvido o recibo com que se procurava liquidar os 10 números já enviados e, portanto, já recebidos por esses mesmo que devolveram o recibo.

Cómico é que "Frente Ecológica", após campanha de fomento e difusão, após artes e artimanhas, após ter-se a gente esfarrapado todos, por aqui, em nome da Pátria e da luta ecológica pela sobrevivência do povo português, conte neste momento pouco mais de 250 assinantes.

Cómico é que, num país com 8 milhões (8 milhões de quê?), a defesa ecológica tenha 250 que levam a sério esta brincadeira de resistir à maciça destruição do que nos resta.

Cómico não é, pois, que o relatório italiano sobre a visita do Ministro Mário Soares, dê como aprovado o projecto da primeira central nuclear, quando, por aqui, do lado de dentro, se diz que o projecto ainda vai "subir" à Assembleia (diz-se) da República.

Cómico não é que o II Encontro Nacional de Política Energética, subsidiado pela Companhia Eléctrica concessionária das centrais, tenha sido preparado pluralisticamente para dar o amen às decisões de cúpula: se o II Encontro foi financiado pelo secretário de Estado da Energia e Minas, chefe do Grupo do Plano Nuclear, (ainda recentemente um dos maiores cérebros da Ex-C.P.E.), e pela própria Ex-C.P.E., agora sob a capa de empresa única nacionalizada dita E.D.P., cómico não é que o II Encontro vá ao encontro dos que o propiciaram financiando.

Cómico não é, tão pouco, que técnicos da Junta de Energia Nuclear andem, em segredo, dizendo que sob todos os pontos de vista a central nuclear será, aqui, a maior catástrofe que pode desabar sobre o Povo Português, sem coragem de o vir dizer alto e por escrito ao País.

Cómico não é que o governo socialista se candidate a um belo suicídio, metendo-se numa aventura que lhe acarretará a maciça oposição do povo português, muito em especial o das zonas directamente afectadas pelas centrais. Tratando-se de oito centrais, será todo o povo português, potencialmente em protesto, incluindo os próprios mortos de todos os cemitérios de Portugal, que se levantarão dos túmulos para saudar a política de cemitério.

Cómico não é que se vá, com o nuclear, aprofundar a brecha cisionista dentro do Partido Socialista.

Cómico não é que um governo se ofereça, em holocausto, ao buraco sem fundo do Nuclear, sem que até agora, os que sabem disso e são seus conselheiros, tenham tido o cuidado de o avisar.

Cómico não é que os responsáveis deste Plano Megalómano de oito Façanhudos Reactores estejam a fazê-lo completamente às cegas prevendo largar os primeiros precisamente sobre a linha de fractura sísmica mais típica e conhecida do território português.

Cómico não é que esses responsáveis nem sequer tenham fingido que iam estudar a segurança.

Cómico é que se esteja, com isto, a dar o empurrão mais espectacular no Movimento Ecológico Português, adormecido desde que nasceu e embalado pelo desinteresse minoritário de um público que tem preferido, graças a Deus, outras alegrias, eleições e greves, de um público que maioritàriamente votou naquele governo que lhe dará oito (oito!) reactores nucleares de bandeja.

Cómico é que o portuguesinho tenha agora que pensar, queira ou não queira, e ainda que isso lhe azede a imperial, de pensar muito a sério no ninho de lacraus que meteu no peito e que está amamentando, e como irá desembaraçar-se dele.
Cómico é que talvez agora, três anos depois de tudo ter feito para liquidar um Movimento Ecológico Português, lhe fizesse muito jeito que houvesse um Movimento Ecológico Português, capaz de (uma vez mais!) decidir por ele.

Cómico é saber corno irá ser este choque entre a politica suicida de um governo decididamente auto-masoquista e o povinho, quando sentir que lhe estão apertando o gasganete aqueles que ele elegeu seus deuses.

Cómico é não que as gerações actualmente a manjar do banquete do erário público, a pôr e a dispor dos dinheiros, a administrar a crise económica e a decretar para os outros medidas de austeridade, estejam literalmente a comprometer a sobrevivência das gerações seguintes, que hoje estão nascendo.

Cómico é que a geração, amanhã literalmente esmagada sob o Nuclear, ou sob as mil manigâncias venenosas, tóxicas e radioactivas do "progresso industrial", não tenha hoje, nem pareça que vá ter, a mínima atitude, o mínimo gesto, a mínima revolta, o mínimo esforço.

Cómico é que o povo todo e, deste povo, a parte ou geração vítima do pró-nuclear, nem sequer chegue a 250 portugueses, tantos são os portugueses assinantes de "Frente Ecológica", angariados de 1975 até hoje Março de 1977.

Cómico é que 8 milhões se deixem matar sem um protesto.
Se cada povo e cada juventude tem o que merece, também esta juventude de hoje, povo de amanhã, parece ter o que lhe vão dar.
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(*) Embora tivesse enviado este texto ao Rocha Barbosa, director do semanário «Gazeta do Sul», acho que nunca chegou a ser publicado e ainda bem. Acho também que não saiu no livro sobre o nuclear que publiquei
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