ECOS DO MUNDO-1
1074 caracteres-cargos - ficcoes-leituras morais para as escolas-texto aberto - inventário para ficcionar
UMA NOTÍCIA DO ANO 2009 - O ENIGMA DOS CARGUEIROS DESAPARECIDOS
2/5/1991 - O Grémio Internacional dos Seguradores marítimos «Boy Friends» acaba de anunciar que está quase a ser desvendado o enigma dos cargueiros desaparecidos sem explicação marítima ou meteorológica plausível.
De alguns, sabe-se apenas que foram engolidos pelas águas, serenas ou revoltas do Oceano, quando nem sequer soprava vento forte, e as ondas eram de normal altura e moderada violência. De outros, há notícia vaga de incêndios a bordo, mas quanto às vítimas é de admirar que não venham reclamar o seguro a que têm direito.
Desaparecidos? Em que lista irão figurar? Na da Lloyds que já se encontra praticamente desactivada? Tudo permanece, portanto, obscuro quanto às causas e mesmo quanto às circunstâncias em que se consumam os naufrágios. Por vezes vem ao de cima -- à tona da notícia -- de que o barco transportava cianeto de vinilo, desperdícios químicos de ---- [inventário]
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1342 caracteres - repeat-1-chave
OCEANOS: UM TEMA A QUE TENHO DE VOLTAR ANTES DA EXPO 98
[18-6-1994] - Quando, em 26/10/1980 me interrogava, no jornal «A Capital», sobre «Os Mistérios do Mar» e sobre «O Mistério dos Afundamentos de Cargueiros» - fenómeno então quase diário - , podia lá saber que, em 26/Maio/1993, 13 anos mais tarde, o Comissário Mega Ferreira iria enviar-me uma carta a convidar-me para um brain storming sobre os oceanos, porque entrementes os oceanos ficaram na moda, todos os comissários começaram a defendê-los e a ficar preocupados com o suicídio das baleias e outros mamíferos de grande porte que não era costume, antes do petróleo e das radiações, suicidarem-se.
Espero que a Expo 98, auge da civilização que deu mundos ao mundo e extinguiu praticamente as espécies, incluindo as de alto mar, venha dar a resposta às perguntas que ficaram sem resposta - sobre a extinção dos oceanos, no meu artigo de 26/10/1980 e de 15/11/1980 de «A Capital». Que até nem tenho a certeza se ficou inédito. Por isso guardo o original, bastante mal dactilografado, graças a Deus.
Mais títulos publicados sobre Oceanos:
- Internacional Ecologista, in CPT, 15/11/1980
- Alarmismo, CPT, 15/11/1980- Fundos Oceânicos, CPT, 15/11/1980
- Sismos no Mar - A Grande Vaga do Natal, CPT, 3/1/1981- SOS Oceanos, CPT, 28/3/1981
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ses-2- ses = silencios & silenciamentos - ficha de ecologia humana - pistas de epidemiologia
SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS
6/8/1980 - CANADÁ CONTRA O «BANG» DO CONCORDE - Em 6/8/1980, era noticiado de que uma lei canadiana proibia os voos supersónicos por cima do território nacional do Canadá.
Companhias como a Air France e a British Airways seriam obrigadas a alterar as suas rotas de voo, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Nova Escócia e Terra Nova - cujos habitantes, há anos, se queixavam, do «bang» incomodativo do «Concorde» sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos...
Onde está o «Concorde»? Ainda mexe? Ainda incomoda os habitantes de Nova Escócia e da Terra Nova? O ministro canadiano cedeu ou mostrou firmeza? Qual a represália das duas companhias aéreas?
NASCER CADA VEZ MAIS DIFÍCIL - Para o «dossier maldito» das Bactérias-Antibióticos, mais um episódio: O misterioso vírus que em Agosto de 1980 foi detectado nas maternidades de Lisboa e que foi denunciado na imprensa.
Caiu no esquecimento ou no silêncio? Ou foi silenciado?
De facto, torna-se cada vez mais perigoso nascer em Portugal.
Para lá da esterilização voluntária,
da pílula cor-de-rosa,
do planeamento familiar e de todas as campanhas com ar de progressistas e libertadoras da mulher, falta apontar outros dois factores que desencorajam a fertilidade dos casais: não ter onde habitar e o estado tenebroso que as maternidades atingiram, constituindo mesmo este um caso à parte dentro do panorama também tenebroso dos hospitais em geral.
Ver IR, cronologia 1980 (21/8/1980)
VACINAR O TERCEIRO MUNDO QUE NÃO MERECE MAIS - Tema intrinsecamente relacionado com o anterior, o da vacinação em massa já em 1/Dezembro/1980 dava que falar. O director adjunto da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) proclamava que os habitantes do Terceiro Mundo devem ter cada vez mais acesso a medicamentos e vacinas.
Quinze anos depois, quem vai relacionar esses «cuidados médicos intensivos» com o Vírus do Ebola no Zaire, por exemplo, ou mesmo com o Vírus da SIDA que se disse, anedoticamente, ter origem no macaco verde do centro africano?
O silêncio sobre as relações entre factos é outro silenciamento em que, jornais e jornalistas, colaboram de boa mente. A falta de memória para o que não interessa lembrar, dá uma grande ajuda.
TEMAS DO SAGRADO - ABORÍGENES CONTRA PROGRESSO - Há episódios exemplares na luta do progresso contra a civilização.
Em 12/Agosto/1980, os aborígenes australianos resolveram opor-se à exploração petrolífera que lhes destruía o território e a fonte alimentar.
Segundo o título do jornal «O Dia» (12/8/1980) «superstição australiana embarga a prospecção de poços de petróleo».
De um lado, a Amax Petroleum Company que perfura tudo o que encontra
Do outro lado, os aborígenes do oeste australiano, os aborígenes da região de Noonkanbach (talvez o povo sobrevivente mais antigo do Planeta, herdeiro directo dos antigos deuses), os lagartos gigantes chamados grandes iguanas (iguais aos que existem na América Central, como lembra James Churchward no livro «O Continente Perdido de Mu»), os australianos brancos que apoiam a luta dos indígenas, os pastores protestantes e, enfim, os sindicalistas que também bloquearam o camião pesado que se preparava para as prospecções.
Para a nossa imprensa progressista, tudo isto eram «superstições» de supersticiosos que consideravam «sagrada» esta inóspita região australiana.
Na Austrália, em 12/8/1980, até os sindicalistas são contra a civilização e o progresso da Amax. São uns supersticiosos que ainda acreditam em «terras sagradas».Têm-nos é negros e no sítio.
Note-se que do ponto de vista estritamente alimentar, os gigantescos iguanas servem de alimento aos que vivem nesse remoto monte de Evian, a 3000 Km de Perth, onde está a sede do sindicato que apoiou e apoia a luta dos indígenas.
Uma história a redescobrir, esta dos aborígenes, contemporênos dos outros aborígenes que fizeram as gravuras do vale do Coa?
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água-1-ds=os dossiês do silêncio
O CICLO (VICIOSO) DA ÁGUA(*)
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/6/1981
20/6/1981 - Não podemos acusar o sistema de estar desatento. Não têm faltado os alarmes e os simpósios. As recomendações. Os relatórios. Os congressos de aflição. Os organismos. Que a água potável iria faltar foi um dos primeiros sinos a tocar a rebate...
«Falta água potável para 200 milhões de pessoas», anunciava em 1973 (Julho/Agosto, 1973) a revista da OMS, «Saúde no Mundo».
O grito da água é um pouco semelhante ao que foi dado para a proteína e para os mortos à fome no mundo.
Mas que ilações se podem tirar destes avisos alarmistas a que, periodicamente, o sistema se dedica, numa espécie de purga interna ou autopurificação catárctica?
Tomando o exemplo da água, que se concluiu?
Para já, vê-se que:
1 - O sistema reconhece o fenómeno, alerta para a antiguidade dele, assusta-se e assusta-nos com a tendência crescente de cada vez maior escassez;
2 - Para diluir as responsabilidades da sociedade industrial na destruição dos recursos aquíferos, faz uma retrospectiva histórica de há 2000 anos a esta parte, sobre as dificuldades que a humanidade tem tido com faltas de água...
Constata então que sempre houve falta de água, como sempre houve fome e (até) poluição, cancro, etc., constata até que já deve ter havido centrais nucleares...; claramente sofística, esta constatação histórica serve, pelo menos, o objectivo de isentar de culpas os sistemas imperialistas do macro-desenvolvimento actual; por outro lado, convém deixar que os povos se assustem, mas não muito (muito susto, não os deixa trabalhar...), porque, afinal, sempre assim tem sido e sempre assim há-de ser...
3 - Uma vez metida a humanidade entre dois fatalismos, o sistema passa a cultivar com esmero outro sistema: e pinta um quadro negro, horrendo, inóspito da escassez hídrica nos subdesenvolvidos, pois assim se desvia mais uma vez a vista dos desenvolvidos e suas culpas: se a água contaminada por bactérias é um facto e as doenças hídricas um flagelo, o sistema tem aí um óptimo alibi-bode expiatório para diminuir a gravidade do outro facto que é a água contaminada por mercúrio, petróleo, chumbo, radioactividade, detergentes, pesticidas, adubos, etc.
4 - A estratégia internacional adoptada e as medidas recomendadas aos governos são, na prática, ora inexequíveis, ora aleatórias, ora contraproducentes: a estratégia de organismos como a O. M. S., dir-se-ia mesmo que está dirigida para agravar o problema da água e de secular fazê-lo passar a milenar;
5 - Se, por um lado, há organizações apaixonadas pela água, outras há, igualmente internacionais e muito amigas da humanidade, que procedem como se nada tivesse sido por aquelas proclamado em solenes cartas dos direitos da Água: tal como a dos Direitos Humanos, até parece escrita para melhor se cometerem as maiores agressões aos direitos internacionalmente reconhecidos (mas isto é um dos mistérios da Santíssima Trindade que ninguém ainda pôde decifrar...);
Os organismos em questão - um que gosta de água e outro que a odeia - até pode ser que coexistam no mesmo edifício, rua ou cidade...
Há a repartição que estraga e autoriza a estragar, como há a repartição que recomenda e aconselha a não poluir...
E nem se pode dizer que o sistema é irresponsável ou hipócrita: era preciso que ele se assumisse como uma consciência e é isso que jamais ele fará. Sendo uma unidade totalitária, é exactamente como unidade intrínseca que ele se recusa a ser visto.
Tal sistema tem, na história, o nome de concentracionário. E muitos já sabem do que ele foi capaz, por volta dos anos 30, na Europa Central.
6 - Eis, pois, tudo o que define, especificamente, o problema apocalíptico» da água: universo concentracionário, ciclo vicioso, paradoxo explosivo, beco sem saída, círculo fechado, cerco.
A dominante dessa ciclo vicioso é que se trata de um problema milenar de subdesenvolvimento q u e, em 1981, não é resolvido por esse lado ao mesmo tempo que se agrava pelo outro que diz vir resolver este: quer dizer, o lado do desenvolvimento e do subdesenvolvimento.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/6/1981
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7040 bytes - ppcp-1=pistas para um conto policial
O MISTÉRIO DOS CARGUEIROS NAUFRAGADOS
Paço de Arcos, 26/10/1980 - Consultando a lista de cargueiros afundados durante os anos de 1978, 1979 e 1980, salta à vista a frequência de desastres, explosões, afundamentos, desaparecimentos «misteriosos» ou naufrágios em condições que testemunhas e entidades responsáveis confessam «estranhas» ou «impossíveis».
O afundamento da plataforma petrolífera «Alexander Kielland» por exemplo, era considerado «impossível» ... antes de acontecer.
Entre as várias hipóteses possíveis para explicar esta frequência, eis que a mais cruel e desabrida imaginação se recusa a colocar aquela que é provavelmente a mais lógica e a mais próxima de ser a causa verdadeira. A causa que «explica» tantos desastres inexplicáveis. E a hipótese entre todas inimaginável - como quase tudo o que hoje sucede no campo dos impactos ecológicos provocados pelo terror tecno-industrial - é que a lógica desse sistema de destruição leva os proprietários de cargueiros à sua destruição.
Dado que os seguros são, muitas vezes, quantias substanciais e atractivas, torna-se mais rentável (a palavra mágica da civilização do holocausto) destruí-los do que mantê-los, especialmente se já se encontram na fase de receber frequentes e caríssimas reparações em estaleiros como os da Lisnave, cada vez mais congestionados.
Mesmo parados, em qualquer porto, o aluguer é, normalmente, tão elevado, que nenhum armador tem interesse em manter paralisados cargueiros em geral e petroleiros em particular.
Melhor solução, porque mais económica: afundá-los, de preferência com cargas de resíduos perigosos e tóxicos, eles também com problemas de arrumação e despejo por todo o Mundo, por causa das campanhas dos perigosos ecologistas.
Junta-se assim o útil ao agradável, ou seja, de uma cajadada (afundamento «acidental») matam-se dois coelhos: cargueiro com o prazo de validade já ultrapassado e resíduos que não tenham onde cair mortos.
Se o afundamento de cargueiros obedece de facto a esta «lógica», é evidente que vamos assistir, ritmadamente, a esse espectáculo, até que as agências noticiosas, quando a coisa se banalizar, deixem de dar a notícia.
Se as duas razões apontadas são causa dos afundamentos, é óbvio que a série não vai parar: o que irá parar, evitando o escândalo e se é que o escândalo ainda é possível quando se tornou rotina, são as notícias dos afundamentos.
Como se sabe, o que hoje em dia não é notícia, especialmente notícia de telejornal, ou não vem na Internet, não existe.
Maremotos, ondas gigantes em mar calmo, e outras estranhas (ou apenas anómalas) ocorrências são hoje frequentes nos noticiários das agências internacionais. Verifica-se também que esses desastres têm o ar de «vir às ondas», quer dizer, de vez em quando regista-se uma «revoada» de desastres idênticos, em vários locais do globo.
Mero e puro acaso, dirá o místico de serviço.
A hipótese de um movimento ecologista internacional que estivesse a tentar sabotar o progresso e o desenvolvimento da magnífica sociedade industrial, é plausível, até porque os ecologistas se têm notabilizado por usar meios terroristas de acção e não se coíbem de colocar bombas onde cheira a progresso.
Outra hipótese, mas esta de rejeitar à partida, porque já todos os sismólogos, antropólogos e outros especialistas em progresso afirmaram que tal hipótese não tem sentido nem faz lógica nenhuma, é de que estas séries de desastres com cargueiros possam ter origem nos famosos rebentamentos subterrâneos de bombas atómicas no atol da Muroroa (França), deserto do Nevada ( USA) e no perímetro de Semipalatinsk (URSS), os tais rebentamentos que também não existem, porque as agências noticiosas internacionais raramente os noticiam.
E os que raramente noticiam, nunca chegam aos Telejornais e à Internet: motivo mais que óbvio para que nunca se tenham realizado os 5.798 rebentamentos subterrâneos de bombas termonucleares que já se realizaram.
Especialmente as bombas francesas, que rebentam no Atol da Muroroa, parecem ter o seu maior impacto sísmico nos mares e oceanos.
No deserto do Nevada (USA) e no Semipalatinsk (URSS) os reflexos sísmicos são principalmente na parte emersa da crosta ou plataforma continental, até porque aquelas duas superpotências, com a experiência de 16 anos que já têm, podem teleguiar os sismos com muito maior rigor e segurança.
Não é preciso falar de guerra sísmico-nuclear, porque ela é um facto. Mas a verdade também é que não existe, porque as agências noticiosas internacionais não falam disso, muito menos os jornais e tele-jornais, e muito menos a Internet-que-sabe-tudo-de-tudo, alguma vez registou essa palavra.
Estamos no domínio da pura ficção científica.
Mais uma hipótese, vulgar mas plausível, para explicar esta série de cargueiros afundados, é que começa a existir um stock de cargas indesejáveis, de lixos e detritos, de substâncias venenosas, tóxicas ou explosivas, que os proprietários têm sérias dificuldades em armazenar, porque os espaços estão cada vez mais congestionados, porque há países com legislações de meio ambiente muito severas e porque, no fim de contas, é muito fácil - a pretexto de naufrágio acidental - deixar no fundo do oceano as cargas que de outra maneira criariam inúmeros e mesmo incalculáveis problemas.
A hipótese da destruição deliberada de navios com cargas poluentes de primeira classe, torna-se tanto mais verosímil quanto mais terríveis forem estes poluentes e maiores dificuldades, por culpa dos ecologistas, haja onde os lançar.
É uma hipótese de ficção científica mas, observando a lista de cargueiros partidos, naufragados, desaparecidos, etc, é caso para a gente exclamar: «Si non e vero, é benne trovato».
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energia-5-ds=os dossiês do silêncio – cronófagos e energívoros – as esternalidades -
Domingo, 20 de Julho de 2003
ECONOMIA ENERGÍVORA:A QUADRATURA DO CÍRCULO (*)
(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra) , 22/11/1980
22/11/1980 - Enquanto o desperdício for o motor que acciona o lucro na sociedade industrial, podemos estar certos de que nenhuma medida de fundo será tomada para gerir melhor a energia disponível.
Falar de economia neste contexto, portanto, é uma contradição lógica insolúvel. No entanto, é sobre esse contra-senso que assenta toda a lógica do crescimento industrial
Todo o discurso sobre poupança, austeridade e economia energética é, portanto, pura demagogia.
Um dos exemplos mais flagrantes é dado pelas estratégias ou planos energéticos em que os técnicos nos falam.
Fazem eles a estimativa - ou cálculo dos consumos - e vão depois à procura da energia que satisfaça esses consumos.
QUANTO CUSTA EM ENERGIA E EM VIDAS HUMANAS?
É puro folclore revisteiro, porém, tudo o que se disser sobre energia sem colocar, na base, o problema dos custos qualitativos que o crescimento expansionista do imperialismo industrial arrasta.
Sem denunciar as actividades industriais intrinsecamente energívoras, é evidente que se está escamoteando da contabilidade económica, factores decisivos.
Sem apontar (contar, quantificar) o que determinadas indústrias gastam em água, alimentos, solos agrícolas, qualidade do ar, energia humana e saúde do trabalhador, em segurança das populações e higiene pública, é evidente que todos os cálculos
custos/vantagens estão viciados de origem.
«Quanto custa em dinheiro?» perguntava-se ontem, para saber se determinado objecto,, encargo, projecto ou viagem era económico».
«Quanto custa em energia?» - é hoje a primeira e decisiva pergunta a fazer para qualquer um saber se isto ou aquilo será «económico».
A economia que preside hoje a todas as economias é a de energia, em sentido lato.
Quanto custa em recursos vivos e naturais será, de uma maneira geral, a pergunta a fazer por «uma nova ordem económica», à medida que a necessidade de sobrevivência ecológica impuser uma moral económica baseada nos custos qualitativos (quer dizer ecológicos) dos empreendimentos, indústrias e actividades que até agora só têm contabilizado factores materiais a quantitativos.
CRONÓFAGOS E ENERGÍVOROS
Um factor sempre escamoteado pelos economistas clássicos do desperdício e da exploração, é o tempo ocupado e o tempo «livre» dos trabalhadores,
Nunca se cita o tempo que lhes é roubado em bichas, transportes, deslocações, burocracias, etc.
«Matar o tempo» é uma expressão sociologicamente significativa.
Tudo está organizado para matar cientificamente o tempo e, com isso, matar moral ou psiquicamente o trabalhador.
Mas nunca entra na contabilidade dos economistas - sejam eles de direita, sejam eles de esquerda - o tempo que, afinal, não sendo de trabalho é igualmente devorado pelo sistema.
Os cronófagos, tal como os energívoros, merecem figurar nos futuros ensaios e tratados de Economia.
Nesta perspectiva se inclui o peão e os custos qualitativos que este é obrigado a pagar, por exemplo, para que os automóveis circulem à vontade na cidade e estacionem onde lhes apetece, enfim, para que o progresso (automóvel na emergência) continue matando, mas cientificamente, planeadamente, urbanisticamente.
Matando mas, principalmente, estropiando pessoas humanas, visto que já se desenha aí, no horizonte, uma nova classe social, um novo mercado, um novo sector de consumidores que irão accionar várias indústrias.
Estropiando muita gente e incrementando, portanto, os chamados deficientes físicos, muitas são as indústrias que saboreiam já as imensas vantagens abertas por novos consumos e novas necessidades desses deficientes.
Se a medicina por exemplo, abre insuspeitados horizontes ao mercado oftalmológico e ao mercado renal, fabricando com os medicamentos que receita contingentes cada vez mais numerosos de doentes oftálmicos e renais, não será no sector dos deficientes físicos e traumáticos que estas leis inexoráveis do mercado se irão alterar.
Sempre que surge uma nova necessidade e um novo consumidor são algumas indústrias que prosperam.
O PAPEL DO CONSUMIDOR NA TRAGÉDIA MODERNA
Se houver um conflito atómico - do qual «ninguém acordará vivo»- ele talvez se deva a uma qualquer teimosia: do sr. Khomeiny talvez, ou dos senhores economistas que teimam, inclusive, em não estar informados dos avanços da sua própria ciência, ou, inclusive, dos gastadores e grandes consumidores de petróleo que não estão dispostos a abdicar do seu conforto em geral e do seu automóvel em particular. Nem que para isso o mundo se derreta num holocausto nuclear.
Que isto seja ridículo ou inverosímil, inclusive humilhante para a espécie humana - à mercê de uma ou várias teimosias, de um ou vários teimosos - não impede que seja verdadeiro: talvez o fim do planeta se deva a uma casmurrice de um burro demasiado senhor de si e do seu nariz. Talvez o apocalipse venha a dever-se à inércia dos senhores consumidores, mentalizados pela tal «cassete» e peso tal mito burguês do progresso, condicionados para não inventar formas de conforto menos poluentes, menos dependentes do meio natural, menos predatórias dos recursos vivos.
O papel do consumidor, sempre negligenciado na tragédia moderna, é, no entanto, um papel de protagonista. Ele foi condicionado pela publicidade internacional a querer coisas que lhe afirmam ser para seu conforto. Sabe-se que, depois, para garantir (e alargar) esses níveis de conforto é preciso acelerar o ritmo de destruição da biosfera.
Mas já é tarde, porque o consumidor, aí, posto no dilema - vida ou conforto - prefere o conforto e borrifa-se na vida. Prefere, portanto, a «morte confortável»..
O MITO (BURGUÊS) DO CRESCIMENTO ECONÓMICO
Amory B. Lovins aconselha o capitalismo americano a utilizar as energias renováveis (infinitas) para evitar o seu próprio colapso.
Muito citado e publicado por ecologistas, Amory Lovins é afinal um homem do sistema que percebeu, a tempo, que o «crescimento infinito» e a «expansão, contínua» podiam conduzir ao abismo a sociedade industrial e seus triunfalismos. Os estragos ecológicos, no meio disto, é o menos: no fundo, é a própria estabilidade do negócio que está em risco, é a própria existência do capitalismo e do imperialismo industrial que se encontra ameaçada.
Uma das maiores figuras da ciência económica mundial, o brasileiro Celso Furtado, tem ensinado em Yale, Harvard, Paris (Sorbonne) e Cambridge, as suas teses sobre o «mito do desenvolvimento económico» e a «profecia do colapso».
«Pretende-se - diz ele ao desmontar o mito - que os standarts de consumo da minoria da humanidade, que actualmente vive nos países industrializados, é acessível às grandes massas de população em rápida expansão que formam o chamado Terceiro Mundo.»
E conclui sem dar lugar a dúvidas: «Essa ideia constitui seguramente, um prolongamento do mito do progresso, elemento essencial na ideologia directora da revolução burguesa, dentro da qual se criou a actual sociedade industrial.»
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(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra) , 22/11/1980
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UMA NOTÍCIA DO ANO 2009 - O ENIGMA DOS CARGUEIROS DESAPARECIDOS
2/5/1991 - O Grémio Internacional dos Seguradores marítimos «Boy Friends» acaba de anunciar que está quase a ser desvendado o enigma dos cargueiros desaparecidos sem explicação marítima ou meteorológica plausível.
De alguns, sabe-se apenas que foram engolidos pelas águas, serenas ou revoltas do Oceano, quando nem sequer soprava vento forte, e as ondas eram de normal altura e moderada violência. De outros, há notícia vaga de incêndios a bordo, mas quanto às vítimas é de admirar que não venham reclamar o seguro a que têm direito.
Desaparecidos? Em que lista irão figurar? Na da Lloyds que já se encontra praticamente desactivada? Tudo permanece, portanto, obscuro quanto às causas e mesmo quanto às circunstâncias em que se consumam os naufrágios. Por vezes vem ao de cima -- à tona da notícia -- de que o barco transportava cianeto de vinilo, desperdícios químicos de ---- [inventário]
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OCEANOS: UM TEMA A QUE TENHO DE VOLTAR ANTES DA EXPO 98
[18-6-1994] - Quando, em 26/10/1980 me interrogava, no jornal «A Capital», sobre «Os Mistérios do Mar» e sobre «O Mistério dos Afundamentos de Cargueiros» - fenómeno então quase diário - , podia lá saber que, em 26/Maio/1993, 13 anos mais tarde, o Comissário Mega Ferreira iria enviar-me uma carta a convidar-me para um brain storming sobre os oceanos, porque entrementes os oceanos ficaram na moda, todos os comissários começaram a defendê-los e a ficar preocupados com o suicídio das baleias e outros mamíferos de grande porte que não era costume, antes do petróleo e das radiações, suicidarem-se.
Espero que a Expo 98, auge da civilização que deu mundos ao mundo e extinguiu praticamente as espécies, incluindo as de alto mar, venha dar a resposta às perguntas que ficaram sem resposta - sobre a extinção dos oceanos, no meu artigo de 26/10/1980 e de 15/11/1980 de «A Capital». Que até nem tenho a certeza se ficou inédito. Por isso guardo o original, bastante mal dactilografado, graças a Deus.
Mais títulos publicados sobre Oceanos:
- Internacional Ecologista, in CPT, 15/11/1980
- Alarmismo, CPT, 15/11/1980- Fundos Oceânicos, CPT, 15/11/1980
- Sismos no Mar - A Grande Vaga do Natal, CPT, 3/1/1981- SOS Oceanos, CPT, 28/3/1981
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ses-2- ses = silencios & silenciamentos - ficha de ecologia humana - pistas de epidemiologia
SILÊNCIOS & SILENCIAMENTOS
6/8/1980 - CANADÁ CONTRA O «BANG» DO CONCORDE - Em 6/8/1980, era noticiado de que uma lei canadiana proibia os voos supersónicos por cima do território nacional do Canadá.
Companhias como a Air France e a British Airways seriam obrigadas a alterar as suas rotas de voo, afastando-se das costas das duas províncias canadianas - Nova Escócia e Terra Nova - cujos habitantes, há anos, se queixavam, do «bang» incomodativo do «Concorde» sobre as suas cabeças e noites, não os deixando dormir, pondo-os nervosos...
Onde está o «Concorde»? Ainda mexe? Ainda incomoda os habitantes de Nova Escócia e da Terra Nova? O ministro canadiano cedeu ou mostrou firmeza? Qual a represália das duas companhias aéreas?
NASCER CADA VEZ MAIS DIFÍCIL - Para o «dossier maldito» das Bactérias-Antibióticos, mais um episódio: O misterioso vírus que em Agosto de 1980 foi detectado nas maternidades de Lisboa e que foi denunciado na imprensa.
Caiu no esquecimento ou no silêncio? Ou foi silenciado?
De facto, torna-se cada vez mais perigoso nascer em Portugal.
Para lá da esterilização voluntária,
da pílula cor-de-rosa,
do planeamento familiar e de todas as campanhas com ar de progressistas e libertadoras da mulher, falta apontar outros dois factores que desencorajam a fertilidade dos casais: não ter onde habitar e o estado tenebroso que as maternidades atingiram, constituindo mesmo este um caso à parte dentro do panorama também tenebroso dos hospitais em geral.
Ver IR, cronologia 1980 (21/8/1980)
VACINAR O TERCEIRO MUNDO QUE NÃO MERECE MAIS - Tema intrinsecamente relacionado com o anterior, o da vacinação em massa já em 1/Dezembro/1980 dava que falar. O director adjunto da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) proclamava que os habitantes do Terceiro Mundo devem ter cada vez mais acesso a medicamentos e vacinas.
Quinze anos depois, quem vai relacionar esses «cuidados médicos intensivos» com o Vírus do Ebola no Zaire, por exemplo, ou mesmo com o Vírus da SIDA que se disse, anedoticamente, ter origem no macaco verde do centro africano?
O silêncio sobre as relações entre factos é outro silenciamento em que, jornais e jornalistas, colaboram de boa mente. A falta de memória para o que não interessa lembrar, dá uma grande ajuda.
TEMAS DO SAGRADO - ABORÍGENES CONTRA PROGRESSO - Há episódios exemplares na luta do progresso contra a civilização.
Em 12/Agosto/1980, os aborígenes australianos resolveram opor-se à exploração petrolífera que lhes destruía o território e a fonte alimentar.
Segundo o título do jornal «O Dia» (12/8/1980) «superstição australiana embarga a prospecção de poços de petróleo».
De um lado, a Amax Petroleum Company que perfura tudo o que encontra
Do outro lado, os aborígenes do oeste australiano, os aborígenes da região de Noonkanbach (talvez o povo sobrevivente mais antigo do Planeta, herdeiro directo dos antigos deuses), os lagartos gigantes chamados grandes iguanas (iguais aos que existem na América Central, como lembra James Churchward no livro «O Continente Perdido de Mu»), os australianos brancos que apoiam a luta dos indígenas, os pastores protestantes e, enfim, os sindicalistas que também bloquearam o camião pesado que se preparava para as prospecções.
Para a nossa imprensa progressista, tudo isto eram «superstições» de supersticiosos que consideravam «sagrada» esta inóspita região australiana.
Na Austrália, em 12/8/1980, até os sindicalistas são contra a civilização e o progresso da Amax. São uns supersticiosos que ainda acreditam em «terras sagradas».Têm-nos é negros e no sítio.
Note-se que do ponto de vista estritamente alimentar, os gigantescos iguanas servem de alimento aos que vivem nesse remoto monte de Evian, a 3000 Km de Perth, onde está a sede do sindicato que apoiou e apoia a luta dos indígenas.
Uma história a redescobrir, esta dos aborígenes, contemporênos dos outros aborígenes que fizeram as gravuras do vale do Coa?
***
água-1-ds=os dossiês do silêncio
O CICLO (VICIOSO) DA ÁGUA(*)
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/6/1981
20/6/1981 - Não podemos acusar o sistema de estar desatento. Não têm faltado os alarmes e os simpósios. As recomendações. Os relatórios. Os congressos de aflição. Os organismos. Que a água potável iria faltar foi um dos primeiros sinos a tocar a rebate...
«Falta água potável para 200 milhões de pessoas», anunciava em 1973 (Julho/Agosto, 1973) a revista da OMS, «Saúde no Mundo».
O grito da água é um pouco semelhante ao que foi dado para a proteína e para os mortos à fome no mundo.
Mas que ilações se podem tirar destes avisos alarmistas a que, periodicamente, o sistema se dedica, numa espécie de purga interna ou autopurificação catárctica?
Tomando o exemplo da água, que se concluiu?
Para já, vê-se que:
1 - O sistema reconhece o fenómeno, alerta para a antiguidade dele, assusta-se e assusta-nos com a tendência crescente de cada vez maior escassez;
2 - Para diluir as responsabilidades da sociedade industrial na destruição dos recursos aquíferos, faz uma retrospectiva histórica de há 2000 anos a esta parte, sobre as dificuldades que a humanidade tem tido com faltas de água...
Constata então que sempre houve falta de água, como sempre houve fome e (até) poluição, cancro, etc., constata até que já deve ter havido centrais nucleares...; claramente sofística, esta constatação histórica serve, pelo menos, o objectivo de isentar de culpas os sistemas imperialistas do macro-desenvolvimento actual; por outro lado, convém deixar que os povos se assustem, mas não muito (muito susto, não os deixa trabalhar...), porque, afinal, sempre assim tem sido e sempre assim há-de ser...
3 - Uma vez metida a humanidade entre dois fatalismos, o sistema passa a cultivar com esmero outro sistema: e pinta um quadro negro, horrendo, inóspito da escassez hídrica nos subdesenvolvidos, pois assim se desvia mais uma vez a vista dos desenvolvidos e suas culpas: se a água contaminada por bactérias é um facto e as doenças hídricas um flagelo, o sistema tem aí um óptimo alibi-bode expiatório para diminuir a gravidade do outro facto que é a água contaminada por mercúrio, petróleo, chumbo, radioactividade, detergentes, pesticidas, adubos, etc.
4 - A estratégia internacional adoptada e as medidas recomendadas aos governos são, na prática, ora inexequíveis, ora aleatórias, ora contraproducentes: a estratégia de organismos como a O. M. S., dir-se-ia mesmo que está dirigida para agravar o problema da água e de secular fazê-lo passar a milenar;
5 - Se, por um lado, há organizações apaixonadas pela água, outras há, igualmente internacionais e muito amigas da humanidade, que procedem como se nada tivesse sido por aquelas proclamado em solenes cartas dos direitos da Água: tal como a dos Direitos Humanos, até parece escrita para melhor se cometerem as maiores agressões aos direitos internacionalmente reconhecidos (mas isto é um dos mistérios da Santíssima Trindade que ninguém ainda pôde decifrar...);
Os organismos em questão - um que gosta de água e outro que a odeia - até pode ser que coexistam no mesmo edifício, rua ou cidade...
Há a repartição que estraga e autoriza a estragar, como há a repartição que recomenda e aconselha a não poluir...
E nem se pode dizer que o sistema é irresponsável ou hipócrita: era preciso que ele se assumisse como uma consciência e é isso que jamais ele fará. Sendo uma unidade totalitária, é exactamente como unidade intrínseca que ele se recusa a ser visto.
Tal sistema tem, na história, o nome de concentracionário. E muitos já sabem do que ele foi capaz, por volta dos anos 30, na Europa Central.
6 - Eis, pois, tudo o que define, especificamente, o problema apocalíptico» da água: universo concentracionário, ciclo vicioso, paradoxo explosivo, beco sem saída, círculo fechado, cerco.
A dominante dessa ciclo vicioso é que se trata de um problema milenar de subdesenvolvimento q u e, em 1981, não é resolvido por esse lado ao mesmo tempo que se agrava pelo outro que diz vir resolver este: quer dizer, o lado do desenvolvimento e do subdesenvolvimento.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/6/1981
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O MISTÉRIO DOS CARGUEIROS NAUFRAGADOS
Paço de Arcos, 26/10/1980 - Consultando a lista de cargueiros afundados durante os anos de 1978, 1979 e 1980, salta à vista a frequência de desastres, explosões, afundamentos, desaparecimentos «misteriosos» ou naufrágios em condições que testemunhas e entidades responsáveis confessam «estranhas» ou «impossíveis».
O afundamento da plataforma petrolífera «Alexander Kielland» por exemplo, era considerado «impossível» ... antes de acontecer.
Entre as várias hipóteses possíveis para explicar esta frequência, eis que a mais cruel e desabrida imaginação se recusa a colocar aquela que é provavelmente a mais lógica e a mais próxima de ser a causa verdadeira. A causa que «explica» tantos desastres inexplicáveis. E a hipótese entre todas inimaginável - como quase tudo o que hoje sucede no campo dos impactos ecológicos provocados pelo terror tecno-industrial - é que a lógica desse sistema de destruição leva os proprietários de cargueiros à sua destruição.
Dado que os seguros são, muitas vezes, quantias substanciais e atractivas, torna-se mais rentável (a palavra mágica da civilização do holocausto) destruí-los do que mantê-los, especialmente se já se encontram na fase de receber frequentes e caríssimas reparações em estaleiros como os da Lisnave, cada vez mais congestionados.
Mesmo parados, em qualquer porto, o aluguer é, normalmente, tão elevado, que nenhum armador tem interesse em manter paralisados cargueiros em geral e petroleiros em particular.
Melhor solução, porque mais económica: afundá-los, de preferência com cargas de resíduos perigosos e tóxicos, eles também com problemas de arrumação e despejo por todo o Mundo, por causa das campanhas dos perigosos ecologistas.
Junta-se assim o útil ao agradável, ou seja, de uma cajadada (afundamento «acidental») matam-se dois coelhos: cargueiro com o prazo de validade já ultrapassado e resíduos que não tenham onde cair mortos.
Se o afundamento de cargueiros obedece de facto a esta «lógica», é evidente que vamos assistir, ritmadamente, a esse espectáculo, até que as agências noticiosas, quando a coisa se banalizar, deixem de dar a notícia.
Se as duas razões apontadas são causa dos afundamentos, é óbvio que a série não vai parar: o que irá parar, evitando o escândalo e se é que o escândalo ainda é possível quando se tornou rotina, são as notícias dos afundamentos.
Como se sabe, o que hoje em dia não é notícia, especialmente notícia de telejornal, ou não vem na Internet, não existe.
Maremotos, ondas gigantes em mar calmo, e outras estranhas (ou apenas anómalas) ocorrências são hoje frequentes nos noticiários das agências internacionais. Verifica-se também que esses desastres têm o ar de «vir às ondas», quer dizer, de vez em quando regista-se uma «revoada» de desastres idênticos, em vários locais do globo.
Mero e puro acaso, dirá o místico de serviço.
A hipótese de um movimento ecologista internacional que estivesse a tentar sabotar o progresso e o desenvolvimento da magnífica sociedade industrial, é plausível, até porque os ecologistas se têm notabilizado por usar meios terroristas de acção e não se coíbem de colocar bombas onde cheira a progresso.
Outra hipótese, mas esta de rejeitar à partida, porque já todos os sismólogos, antropólogos e outros especialistas em progresso afirmaram que tal hipótese não tem sentido nem faz lógica nenhuma, é de que estas séries de desastres com cargueiros possam ter origem nos famosos rebentamentos subterrâneos de bombas atómicas no atol da Muroroa (França), deserto do Nevada ( USA) e no perímetro de Semipalatinsk (URSS), os tais rebentamentos que também não existem, porque as agências noticiosas internacionais raramente os noticiam.
E os que raramente noticiam, nunca chegam aos Telejornais e à Internet: motivo mais que óbvio para que nunca se tenham realizado os 5.798 rebentamentos subterrâneos de bombas termonucleares que já se realizaram.
Especialmente as bombas francesas, que rebentam no Atol da Muroroa, parecem ter o seu maior impacto sísmico nos mares e oceanos.
No deserto do Nevada (USA) e no Semipalatinsk (URSS) os reflexos sísmicos são principalmente na parte emersa da crosta ou plataforma continental, até porque aquelas duas superpotências, com a experiência de 16 anos que já têm, podem teleguiar os sismos com muito maior rigor e segurança.
Não é preciso falar de guerra sísmico-nuclear, porque ela é um facto. Mas a verdade também é que não existe, porque as agências noticiosas internacionais não falam disso, muito menos os jornais e tele-jornais, e muito menos a Internet-que-sabe-tudo-de-tudo, alguma vez registou essa palavra.
Estamos no domínio da pura ficção científica.
Mais uma hipótese, vulgar mas plausível, para explicar esta série de cargueiros afundados, é que começa a existir um stock de cargas indesejáveis, de lixos e detritos, de substâncias venenosas, tóxicas ou explosivas, que os proprietários têm sérias dificuldades em armazenar, porque os espaços estão cada vez mais congestionados, porque há países com legislações de meio ambiente muito severas e porque, no fim de contas, é muito fácil - a pretexto de naufrágio acidental - deixar no fundo do oceano as cargas que de outra maneira criariam inúmeros e mesmo incalculáveis problemas.
A hipótese da destruição deliberada de navios com cargas poluentes de primeira classe, torna-se tanto mais verosímil quanto mais terríveis forem estes poluentes e maiores dificuldades, por culpa dos ecologistas, haja onde os lançar.
É uma hipótese de ficção científica mas, observando a lista de cargueiros partidos, naufragados, desaparecidos, etc, é caso para a gente exclamar: «Si non e vero, é benne trovato».
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energia-5-ds=os dossiês do silêncio – cronófagos e energívoros – as esternalidades -
Domingo, 20 de Julho de 2003
ECONOMIA ENERGÍVORA:A QUADRATURA DO CÍRCULO (*)
(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra) , 22/11/1980
22/11/1980 - Enquanto o desperdício for o motor que acciona o lucro na sociedade industrial, podemos estar certos de que nenhuma medida de fundo será tomada para gerir melhor a energia disponível.
Falar de economia neste contexto, portanto, é uma contradição lógica insolúvel. No entanto, é sobre esse contra-senso que assenta toda a lógica do crescimento industrial
Todo o discurso sobre poupança, austeridade e economia energética é, portanto, pura demagogia.
Um dos exemplos mais flagrantes é dado pelas estratégias ou planos energéticos em que os técnicos nos falam.
Fazem eles a estimativa - ou cálculo dos consumos - e vão depois à procura da energia que satisfaça esses consumos.
QUANTO CUSTA EM ENERGIA E EM VIDAS HUMANAS?
É puro folclore revisteiro, porém, tudo o que se disser sobre energia sem colocar, na base, o problema dos custos qualitativos que o crescimento expansionista do imperialismo industrial arrasta.
Sem denunciar as actividades industriais intrinsecamente energívoras, é evidente que se está escamoteando da contabilidade económica, factores decisivos.
Sem apontar (contar, quantificar) o que determinadas indústrias gastam em água, alimentos, solos agrícolas, qualidade do ar, energia humana e saúde do trabalhador, em segurança das populações e higiene pública, é evidente que todos os cálculos
custos/vantagens estão viciados de origem.
«Quanto custa em dinheiro?» perguntava-se ontem, para saber se determinado objecto,, encargo, projecto ou viagem era económico».
«Quanto custa em energia?» - é hoje a primeira e decisiva pergunta a fazer para qualquer um saber se isto ou aquilo será «económico».
A economia que preside hoje a todas as economias é a de energia, em sentido lato.
Quanto custa em recursos vivos e naturais será, de uma maneira geral, a pergunta a fazer por «uma nova ordem económica», à medida que a necessidade de sobrevivência ecológica impuser uma moral económica baseada nos custos qualitativos (quer dizer ecológicos) dos empreendimentos, indústrias e actividades que até agora só têm contabilizado factores materiais a quantitativos.
CRONÓFAGOS E ENERGÍVOROS
Um factor sempre escamoteado pelos economistas clássicos do desperdício e da exploração, é o tempo ocupado e o tempo «livre» dos trabalhadores,
Nunca se cita o tempo que lhes é roubado em bichas, transportes, deslocações, burocracias, etc.
«Matar o tempo» é uma expressão sociologicamente significativa.
Tudo está organizado para matar cientificamente o tempo e, com isso, matar moral ou psiquicamente o trabalhador.
Mas nunca entra na contabilidade dos economistas - sejam eles de direita, sejam eles de esquerda - o tempo que, afinal, não sendo de trabalho é igualmente devorado pelo sistema.
Os cronófagos, tal como os energívoros, merecem figurar nos futuros ensaios e tratados de Economia.
Nesta perspectiva se inclui o peão e os custos qualitativos que este é obrigado a pagar, por exemplo, para que os automóveis circulem à vontade na cidade e estacionem onde lhes apetece, enfim, para que o progresso (automóvel na emergência) continue matando, mas cientificamente, planeadamente, urbanisticamente.
Matando mas, principalmente, estropiando pessoas humanas, visto que já se desenha aí, no horizonte, uma nova classe social, um novo mercado, um novo sector de consumidores que irão accionar várias indústrias.
Estropiando muita gente e incrementando, portanto, os chamados deficientes físicos, muitas são as indústrias que saboreiam já as imensas vantagens abertas por novos consumos e novas necessidades desses deficientes.
Se a medicina por exemplo, abre insuspeitados horizontes ao mercado oftalmológico e ao mercado renal, fabricando com os medicamentos que receita contingentes cada vez mais numerosos de doentes oftálmicos e renais, não será no sector dos deficientes físicos e traumáticos que estas leis inexoráveis do mercado se irão alterar.
Sempre que surge uma nova necessidade e um novo consumidor são algumas indústrias que prosperam.
O PAPEL DO CONSUMIDOR NA TRAGÉDIA MODERNA
Se houver um conflito atómico - do qual «ninguém acordará vivo»- ele talvez se deva a uma qualquer teimosia: do sr. Khomeiny talvez, ou dos senhores economistas que teimam, inclusive, em não estar informados dos avanços da sua própria ciência, ou, inclusive, dos gastadores e grandes consumidores de petróleo que não estão dispostos a abdicar do seu conforto em geral e do seu automóvel em particular. Nem que para isso o mundo se derreta num holocausto nuclear.
Que isto seja ridículo ou inverosímil, inclusive humilhante para a espécie humana - à mercê de uma ou várias teimosias, de um ou vários teimosos - não impede que seja verdadeiro: talvez o fim do planeta se deva a uma casmurrice de um burro demasiado senhor de si e do seu nariz. Talvez o apocalipse venha a dever-se à inércia dos senhores consumidores, mentalizados pela tal «cassete» e peso tal mito burguês do progresso, condicionados para não inventar formas de conforto menos poluentes, menos dependentes do meio natural, menos predatórias dos recursos vivos.
O papel do consumidor, sempre negligenciado na tragédia moderna, é, no entanto, um papel de protagonista. Ele foi condicionado pela publicidade internacional a querer coisas que lhe afirmam ser para seu conforto. Sabe-se que, depois, para garantir (e alargar) esses níveis de conforto é preciso acelerar o ritmo de destruição da biosfera.
Mas já é tarde, porque o consumidor, aí, posto no dilema - vida ou conforto - prefere o conforto e borrifa-se na vida. Prefere, portanto, a «morte confortável»..
O MITO (BURGUÊS) DO CRESCIMENTO ECONÓMICO
Amory B. Lovins aconselha o capitalismo americano a utilizar as energias renováveis (infinitas) para evitar o seu próprio colapso.
Muito citado e publicado por ecologistas, Amory Lovins é afinal um homem do sistema que percebeu, a tempo, que o «crescimento infinito» e a «expansão, contínua» podiam conduzir ao abismo a sociedade industrial e seus triunfalismos. Os estragos ecológicos, no meio disto, é o menos: no fundo, é a própria estabilidade do negócio que está em risco, é a própria existência do capitalismo e do imperialismo industrial que se encontra ameaçada.
Uma das maiores figuras da ciência económica mundial, o brasileiro Celso Furtado, tem ensinado em Yale, Harvard, Paris (Sorbonne) e Cambridge, as suas teses sobre o «mito do desenvolvimento económico» e a «profecia do colapso».
«Pretende-se - diz ele ao desmontar o mito - que os standarts de consumo da minoria da humanidade, que actualmente vive nos países industrializados, é acessível às grandes massas de população em rápida expansão que formam o chamado Terceiro Mundo.»
E conclui sem dar lugar a dúvidas: «Essa ideia constitui seguramente, um prolongamento do mito do progresso, elemento essencial na ideologia directora da revolução burguesa, dentro da qual se criou a actual sociedade industrial.»
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(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra) , 22/11/1980
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