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2006-05-09

PUBLICIDADE 1987

1-2 - 87-05-09-ie> = ideia ecológica - sexta-feira, 22 de Novembro de 2002 – scan

DEFESA DO CONSUMIDOR:MERCADO ALTERNATIVO COM PRODUTOS SAUDÁVEIS (*)

[9-5-1987] - O cancro do crescimento industrial ramificou-se em milhares de tentáculos que, são, ao nível das populações, os chamados "consumos" mais ou menos "provocantes".
A 1º característica dessa realidade é a disseminação.
De facto, os consumos são de tal maneira numerosos - propositadamente numerosos? - que se furtam, desde logo, a qualquer inventário prévio que se quisesse fazer em defesa dos consumidores por associações que os representem.
Mesmo tecnicamente é impossível fazer o balanço ou inventário do número de consumos que rodeiam, como um oceano agitado, cada consumidor.
Resulta daqui que a crítica aos consumos quando surge já está viciada e restringida pelo critério que terá então de eleger o Consumo A, B ou C mas esquece o X,Y ou Z, ou mesmo o X-1, o Y-5 ou o Z-19.
Acresce que toda a informação sobre os mil e um consumos chega à opinião pública já viciada, pois todo o discurso veiculado através dos mass media é, regra geral, publicidade redigida, directa ou indirectamente.
Por exemplo: Laboratórios trabalhando em colaboração com revistas científicas, regra geral médicas, apresentam-se com um pressuposto prestígio - que dá às suas opiniões, divulgadas depois nos órgãos de Comunicação Social, uma "autoridade" indiscutível.
Esta publicidade "indirecta", aliás, é muito mais eficaz em termos de subconsciente colectivo e de lavagem ao cérebro do que os anúncios directos, cuja falta de gosto contribui, em boa parte, para os tornar risíveis, e portanto inoperantes enquanto "intoxicação", junto da opinião pública mais avisada.
Isso não impede, contudo, que certos produtos não consigam mesmo convencer pelo martelamento intensivo do anúncios e de cancerígenos eles passem a "dar mais vida" ou mesmo "quilómetros de prazer", ou salvam a vinha do míldio e da filoxera se for essa a vontade do anunciante.
A publicidade, nomeadamente televisiva, assume uma tal responsabilidade – cumplicidade - na disseminação das mais graves patologias colectivas e nas mais atrozes doenças, que o bombardeamento de anúncios sofrido, por cérebros adultos ou infantis, é desde logo (ou devia ser) a prioridade número 1 que devia solicitar a preocupação do Estado, do Governo ou das autoridades sanitárias de um país.
De qualquer maneira, se houver ainda alguém preocupado com o mínimo respeito que a pessoa humana deveria merecer-nos, se houver ainda alguém que, in extremis, nesta sociedade totalmente canibalesca e canibalizada, possa assumir a defesa da vida contra os criminosos institucionalizados que se entricheiram nos grandes aparelhos de intoxicação - caber-lhe-á levantar uma das questões de fundo numa pedagogia de emancipação como vacinar o homem-consumidor contra o massacre organizado que se chama publicidade.

LEVES DISFARCES

Um dos disfarces mais atrozes é o "artigo" bem educado ou até assinado na revista ou no magazine, sobre as vantagens de certos consumos: e então os gelados fazem bem à asma ou na fase pós-operatória das crianças, o eucalipto além de conduzir o país ao deserto é formidável porque serve "para curar constipações", a marijuana evita o cancro, etc
Mais: quando surgem, por acaso, denúncias frontais da criminalidade de certos produtos, tais campanhas são conduzidas e pagas por produtos concorrentes que se viram ultrapassados nas vendas por companhias rivais.
No caso das "margarinas" - várias vezes ventilado e outras tantas vezes abafado - as críticas aparecem "inspiradas" pelos produtores de óleos, por exemplo.
O peso esmagador desta máquina trituradora faz desistir, à partida, qualquer resistência.
Isso explica, em parte, que os ecologistas mais radicais debandassem quase sempre desta frente de luta dos consumos tóxicos, provocantes, venenosos, perigosos e cancerígenos.
Os movimentos que existem "em defesa do consumidor" - reformistas mesmo quando aparentam ser mais radicais - mais consolidam do que abalam o sistema infernal dos consumos criminosos e cancerígenos.
Difícil ou não, utópica ou não, a única saída para este inferno dos mil e um consumos de morte é um Mercado Alternativo com produtos de Vida.
Mercados de Vida que, curiosamente, alguns liders do “consumerismo” (como se auto-intitulam) ferozmente combatem, estribando-se na ciência que é, afinal, quem dá cobertura mais frequente a toda a espécie de consumos criminosos, nomeadamente medicamentos.
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(*) Certamente com outro título, este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», Crónica do Planeta Terra, em 9-5-1987
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