POLUIÇÃO 1980
1-2 - 80-05-06-ie> = ideia ecológica - quinta-feira, 2 de Janeiro de 2003-scan
6/Maio/1980: A EXPERIÊNCIA LONDRINA DO IMPERIAL COLLEGE CONTRA A POLUIÇÃO(*)
[(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito]
[6-5-1980]
Para ministrar um curso de cinco dias no departamento de ciências do Ambiente da Universidade Nova de Lisboa, esteve em Portugal o Dr. Roger Perry, autoridade na luta contra a Poluição do Ar e da Água.
É "reader" no Imperial College of Science and Technology, de Londres, a instituição que marcha na vanguarda das tecnologias de ponta, ao lado do célebre M.I.T., de Massachusetts e do "Zurique Polithecnique".
Fomos ao Instituto Britânico ouvi-lo a ver dezenas de "slides" por ele projectados sobre "Qualidade do Ar e da Água".
Não há dúvida que a tecnologia pode tudo, desde que o dinheiro à disposição seja infinito. Tal como informou o Dr. Roger, no seu Imperial College despendem-se verbas astronómicas na investigação dos aparelhos de medida que permitem controlar os níveis de poluição. Basta que o Parlamento elabore, em cada caso, legislação adequada.
Trabalhando com as indústrias, são estas as primeiras interessadas em inventar e fabricar mecanismos "despoluentes" que depois possam exportar para países que, embora já fartamente poluídos como o nosso, virão a estar ainda muito mais quando a Europa chegar.
Basta-nos legislação e dinheiro para podermos depois importar todos esses mecanismos de controle da poluição que este professor da prestigiosa instituição universitária nos aconselha desde já a comprar.
A cidade de Londres, com seus problemas de poluição e micro-clima., tem sido para o Imperial College um verdadeiro "laboratório de experiências" e os londrinos cobaias.
Em Dezembro de 19?? , a célebre epidemia de gripe que matou, em cinco dias, mais de 4 mil londrinos, levou a medidas drásticas e a outras, como o "Clean Air Act", legalistas ou reformistas.
Mas o "smog" fotoquímico foi apenas atenuada e não eliminado. Houve menos mortos do aparelho respiratório e é a isso que Roger Perry chama "controle da situação": evitar atingir pontos de ruptura, epidemia e escândalo. Desde que os mortos sejam mais espaçados...
A poluição deve manter-se numa espécie de "ralanti" que permita, inclusive, aos pulmões e órgãos vitais do citadino "adaptar-se", conforme o carácter laboratorial da experiência aconselha. Perante a poluição, mandam as autoridades que sejamos todos cobaias.
O "smog" difere com os poluentes que entram no "cocktail" fotoquímico: em Los Angeles, por exemplo, irrita os olhos mas em Londres ataca principalmente os brônquios. O Imperial College tem aparelhos para medir e discriminar, um por um, os ingredientes que entram nesta "salada" e que são em número praticamente infinito.
Mas o conferente insistiu em alguns mais mortíferos: monóxido de carbono, bióxido de carbono, óxidos de nitrogénio, chumbo, partículas residuais da combustão do carvão, petróleo e fuel.
O público deverá tomar particularmente nota dos “carcinogénicos”, como os aromáticos polinucleares”, já internacionalmente reconhecidos como produtores de cancro:
fluoretano, pirano, benzopirano, benzofluoretano, benzeperileno, etc (Borneff and Kunte, 1965) .
Passando para a água, o orador forneceu importantes dados sobre a poluição orgânica, detendo-se nas espumas dos detergentes não degradáveis, que vão matando cursos de água por esse mundo fora, sem possibilidade de reentrarem no ciclo orgânico.
Da diferença abissal entre os poluentes degradáveis (ou recicláveis) e os outros - os autênticos e terríveis poluentes, afinal - não falou o iminente cientista, como se as poluições não tivessem também a sua hierarquia. Preferiu enfatizar os perigos do combustível "carvão", o que abre campo sempre útil à electricidade e, portanto, à que as centrais nucleares produzem.
A poluição mata.
Mas o discurso anti-poluição, ópio do povo, adormece.
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(*)Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito
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6/Maio/1980: A EXPERIÊNCIA LONDRINA DO IMPERIAL COLLEGE CONTRA A POLUIÇÃO(*)
[(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito]
[6-5-1980]
Para ministrar um curso de cinco dias no departamento de ciências do Ambiente da Universidade Nova de Lisboa, esteve em Portugal o Dr. Roger Perry, autoridade na luta contra a Poluição do Ar e da Água.
É "reader" no Imperial College of Science and Technology, de Londres, a instituição que marcha na vanguarda das tecnologias de ponta, ao lado do célebre M.I.T., de Massachusetts e do "Zurique Polithecnique".
Fomos ao Instituto Britânico ouvi-lo a ver dezenas de "slides" por ele projectados sobre "Qualidade do Ar e da Água".
Não há dúvida que a tecnologia pode tudo, desde que o dinheiro à disposição seja infinito. Tal como informou o Dr. Roger, no seu Imperial College despendem-se verbas astronómicas na investigação dos aparelhos de medida que permitem controlar os níveis de poluição. Basta que o Parlamento elabore, em cada caso, legislação adequada.
Trabalhando com as indústrias, são estas as primeiras interessadas em inventar e fabricar mecanismos "despoluentes" que depois possam exportar para países que, embora já fartamente poluídos como o nosso, virão a estar ainda muito mais quando a Europa chegar.
Basta-nos legislação e dinheiro para podermos depois importar todos esses mecanismos de controle da poluição que este professor da prestigiosa instituição universitária nos aconselha desde já a comprar.
A cidade de Londres, com seus problemas de poluição e micro-clima., tem sido para o Imperial College um verdadeiro "laboratório de experiências" e os londrinos cobaias.
Em Dezembro de 19?? , a célebre epidemia de gripe que matou, em cinco dias, mais de 4 mil londrinos, levou a medidas drásticas e a outras, como o "Clean Air Act", legalistas ou reformistas.
Mas o "smog" fotoquímico foi apenas atenuada e não eliminado. Houve menos mortos do aparelho respiratório e é a isso que Roger Perry chama "controle da situação": evitar atingir pontos de ruptura, epidemia e escândalo. Desde que os mortos sejam mais espaçados...
A poluição deve manter-se numa espécie de "ralanti" que permita, inclusive, aos pulmões e órgãos vitais do citadino "adaptar-se", conforme o carácter laboratorial da experiência aconselha. Perante a poluição, mandam as autoridades que sejamos todos cobaias.
O "smog" difere com os poluentes que entram no "cocktail" fotoquímico: em Los Angeles, por exemplo, irrita os olhos mas em Londres ataca principalmente os brônquios. O Imperial College tem aparelhos para medir e discriminar, um por um, os ingredientes que entram nesta "salada" e que são em número praticamente infinito.
Mas o conferente insistiu em alguns mais mortíferos: monóxido de carbono, bióxido de carbono, óxidos de nitrogénio, chumbo, partículas residuais da combustão do carvão, petróleo e fuel.
O público deverá tomar particularmente nota dos “carcinogénicos”, como os aromáticos polinucleares”, já internacionalmente reconhecidos como produtores de cancro:
fluoretano, pirano, benzopirano, benzofluoretano, benzeperileno, etc (Borneff and Kunte, 1965) .
Passando para a água, o orador forneceu importantes dados sobre a poluição orgânica, detendo-se nas espumas dos detergentes não degradáveis, que vão matando cursos de água por esse mundo fora, sem possibilidade de reentrarem no ciclo orgânico.
Da diferença abissal entre os poluentes degradáveis (ou recicláveis) e os outros - os autênticos e terríveis poluentes, afinal - não falou o iminente cientista, como se as poluições não tivessem também a sua hierarquia. Preferiu enfatizar os perigos do combustível "carvão", o que abre campo sempre útil à electricidade e, portanto, à que as centrais nucleares produzem.
A poluição mata.
Mas o discurso anti-poluição, ópio do povo, adormece.
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(*)Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito
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