RETROVISOR 1991
cucos-2>retrov>diario91>diario> - retrovisor - no reino da cucolândia - o diário das siglas
MALGRÉ MOI
Lisboa, 3/Maio/1991 - Por mais que queira disfarçar e fingir que não noto, sinto-me irremediavelmente «plagiado» por onde quer que vou e para onde me volto.
Dezenas reúnem-se em Madrid para tratar da saúde à Antártida -- e eu pergunto-me onde já vi isto, e há quantos anos eu falava, escrevia da Antártida, sob os olhos gozões de inteligentes camaradas que lamentavam a minha queda mental para só tratar de assuntos menores, ainda por cima longínquos. A Antártida -- diziam -- fica atrás das terras do Sol Posto.
De repente, o sr. dr. NNN, cirurgião , promove uma prémière de luxo utilizando a Acupunctura para anestesia, com direito a ver-se entrevistado na televisão, e eu pergunto-me, afinal, se não estarei a sonhar, pois falar de Acupunctura em geral e de acupunctura anestésica em particular ainda ontem era pretexto para me rotularem de caquético, atrazado mental, arcaico, antiprogressista. Quantas risadas me receberam por saberem que eu frequentava um curso de Acupunctura.
No mesmo dia e como se fosse pouco, ainda dou de caras com outros temas «plagiados», repentinamente e com toda a sem cerimónia.
Para me ressarcir desta brotoeja , deste veneno da alma ( oh! querida Simone Weil), deste sindroma palúdico da antecipação (ter razão antes do tempo) resolvi criar, com pompa e circunstância, no meu arquivo S.S. (sacos suspensos) a rubrica «retrovisor» que significa a das minhas andanças e vinganças pessoais. .
Como dizia há uns bons sete ou oito meses (ou anos?) o irmão e camarada Rudolfo Iriarte, eu estava fadado (ou condenado) a lutar para trazer à luz do dia os temas malditos, queimando-me com eles, temas que depois, numa hora e num dia, se transformavam em descoberta, em negócio, em expofil, em lucros, em vantagem do primeiro oportunista ou grupo de oportunistas que se acheguem.
No mesmo dia e como se os fados também fossem impiedosos no «acaso» de fazer convergir tudo à mesma hora -- confirmando o diagnóstico de «provocação» -- sei, por acidente, que o faustoso ciclo de música da D. Fundação Gulbenkian traz, com grande aparato de Philip Glass e seu conjunto de sintetizador musical, o terrível título do cinema que é «Koyanastsky», pelo qual me batera sem êxito no Festival Internacional de Cinema de Troia, em 1985, quando toda a gente, nesse mesmo ano, incensava o «Cotton Club», curiosamente do mesmo produtor, Francis Ford Coppola.
Poderá pensar-se que dá grandes alegrias ser-se precursor e ter razão antes do tempo. Mas o sentimento que hoje me invade é de sentir a boca açaimada e não poder dizer o que os outros podem livremente afirmar, porque durante anos, com sangue, suor e lágrimas, lhes abri para isso o caminho. Eu fui-me queimando, jornal após jornal, por antecipar demais. Hoje quem está nos jornais são os que se aproveitam das batalhas ganhas.
É mesquinho e desagradável sentir-me copiado nas ideias. No fundo, a mania da antecipação não é nenhum dom especial nem confere grandeza a ninguém. Antes pelo contrário: sinto-me roubado, utrapassado, amesquinhado, desfrutado, usado e isso não dá a ninguém uma consciência de nobreza.
Resumindo e concluindo: levei a vida a defender, anos antes, o que só anos depois veria os outros descobrir com grande pompa e circunstância. E vai daí?
[Tema, por exemplo e pelo contrário, ainda não admitido e que continua submetido à censura do macrosistema , é o dos sismos provocados. É tema que continua virgem e intocável. Ai de quem o levantar. Quando será que o oficializam? Ainda será em vida que verei um grande congresso em Madrid para debater os nefastos efeitos sobre a crosta terrestre de 25 anos de testes nucleares subterrâneos?
Gastei dezenas de páginas a denunciar relações de causa e efeito entre as bombas subterrâneas dos testes termonucleares e os sismos, e, hoje que me calei, o silêncio sobre este sismogenocídio continua a ser total. É falar no vazio, ladrar no deserto. ]
***
MALGRÉ MOI
Lisboa, 3/Maio/1991 - Por mais que queira disfarçar e fingir que não noto, sinto-me irremediavelmente «plagiado» por onde quer que vou e para onde me volto.
Dezenas reúnem-se em Madrid para tratar da saúde à Antártida -- e eu pergunto-me onde já vi isto, e há quantos anos eu falava, escrevia da Antártida, sob os olhos gozões de inteligentes camaradas que lamentavam a minha queda mental para só tratar de assuntos menores, ainda por cima longínquos. A Antártida -- diziam -- fica atrás das terras do Sol Posto.
De repente, o sr. dr. NNN, cirurgião , promove uma prémière de luxo utilizando a Acupunctura para anestesia, com direito a ver-se entrevistado na televisão, e eu pergunto-me, afinal, se não estarei a sonhar, pois falar de Acupunctura em geral e de acupunctura anestésica em particular ainda ontem era pretexto para me rotularem de caquético, atrazado mental, arcaico, antiprogressista. Quantas risadas me receberam por saberem que eu frequentava um curso de Acupunctura.
No mesmo dia e como se fosse pouco, ainda dou de caras com outros temas «plagiados», repentinamente e com toda a sem cerimónia.
Para me ressarcir desta brotoeja , deste veneno da alma ( oh! querida Simone Weil), deste sindroma palúdico da antecipação (ter razão antes do tempo) resolvi criar, com pompa e circunstância, no meu arquivo S.S. (sacos suspensos) a rubrica «retrovisor» que significa a das minhas andanças e vinganças pessoais. .
Como dizia há uns bons sete ou oito meses (ou anos?) o irmão e camarada Rudolfo Iriarte, eu estava fadado (ou condenado) a lutar para trazer à luz do dia os temas malditos, queimando-me com eles, temas que depois, numa hora e num dia, se transformavam em descoberta, em negócio, em expofil, em lucros, em vantagem do primeiro oportunista ou grupo de oportunistas que se acheguem.
No mesmo dia e como se os fados também fossem impiedosos no «acaso» de fazer convergir tudo à mesma hora -- confirmando o diagnóstico de «provocação» -- sei, por acidente, que o faustoso ciclo de música da D. Fundação Gulbenkian traz, com grande aparato de Philip Glass e seu conjunto de sintetizador musical, o terrível título do cinema que é «Koyanastsky», pelo qual me batera sem êxito no Festival Internacional de Cinema de Troia, em 1985, quando toda a gente, nesse mesmo ano, incensava o «Cotton Club», curiosamente do mesmo produtor, Francis Ford Coppola.
Poderá pensar-se que dá grandes alegrias ser-se precursor e ter razão antes do tempo. Mas o sentimento que hoje me invade é de sentir a boca açaimada e não poder dizer o que os outros podem livremente afirmar, porque durante anos, com sangue, suor e lágrimas, lhes abri para isso o caminho. Eu fui-me queimando, jornal após jornal, por antecipar demais. Hoje quem está nos jornais são os que se aproveitam das batalhas ganhas.
É mesquinho e desagradável sentir-me copiado nas ideias. No fundo, a mania da antecipação não é nenhum dom especial nem confere grandeza a ninguém. Antes pelo contrário: sinto-me roubado, utrapassado, amesquinhado, desfrutado, usado e isso não dá a ninguém uma consciência de nobreza.
Resumindo e concluindo: levei a vida a defender, anos antes, o que só anos depois veria os outros descobrir com grande pompa e circunstância. E vai daí?
[Tema, por exemplo e pelo contrário, ainda não admitido e que continua submetido à censura do macrosistema , é o dos sismos provocados. É tema que continua virgem e intocável. Ai de quem o levantar. Quando será que o oficializam? Ainda será em vida que verei um grande congresso em Madrid para debater os nefastos efeitos sobre a crosta terrestre de 25 anos de testes nucleares subterrâneos?
Gastei dezenas de páginas a denunciar relações de causa e efeito entre as bombas subterrâneas dos testes termonucleares e os sismos, e, hoje que me calei, o silêncio sobre este sismogenocídio continua a ser total. É falar no vazio, ladrar no deserto. ]
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