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2006-05-09

PÂNTANO 1991

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POLÉMICAS NO PÂNTANO COM QUE NOS VÃO DISTRAINDO DO ESSENCIAL

9/5/1991

Quando uma polémica estala no pântano português, são de supor vários pressupostos: que ideologia, em última instância, serve essas polémicas, independentemente das questões de pormenor e circunstância que dividem os contendores da dita polémica: os que são pró, por exemplo, e os que são contra o empréstimo dos painéis; os que são pró e os que são contra, outro exemplo, o acordo ortográfico; os que são, ainda outro exemplo, pró e os que são contra o monstro de Belém designado Centro Cultural.
Tudo isto evoca algumas outras polémicas muito queridas do pântano português: os que foram pró e os que foram contra a barragem de Alqueva; os que foram pró e os que foram contra a Central Nuclear.
O que está em causa, no fundo de tudo isto, é uma coisa muito simples e muito primária: de um lado a mentalidade imperialista, uniformizante, colonizadora, frenética, histérica dos que, não tendo mais nada, vivem de alimentar mitos e metas de merda. Do outro lado, os que são anti-imperialistas, anticolonialistas, antihisterismo consumista, mitos e metas de merda.
A ideologia imperial consumista é a que inspira a cupidez de Washington em relação aos painéis portugueses; a cupidez do Brasil em relação a uma unificação ortográfica realisticamente impossível; a cupidez da indústria relativamente a duas aventuras utópicas que são as megalomanias de Alqueva ou de uma central nuclear.
Enquanto se grita pró ou contra Alqueva, pró ou contra o centro de Belém, pró ou contra esta e aquela utopia, as mais elementares necessidades dos portugueses não são resolvidas.
Enquanto se enchem os jornais de expo 92, de expo 93, de expo 94, de expo 95, o mais simples golpe de vento avaria as catenárias da linha do Estoril ou da linha de Sintra, pára os comboios e imobiliza centenas de pessoas dentro das carruagens.
Enquanto se fala dos milhões que o monstro de Belém irá absorver, os jornalistas não podem adoecer porque a empresa lhes corta imediatamente o vencimento à mínima situação de baixa.
As pequenas coisas do quotidiano, do pantanoso quotidiano, nunca mereceram dos aldrabões dos jornais a atenção que as polemiqueirices merecem.
Os jornais de maior sucesso comercial e de maior influência, são os que, directa e indirectamente promovem a ideologia consumista, porque é na ideologia consumista que a nova geração se revê e que reside sempre o busílis de tudo quanto se diga pró e contra este ou aquele caso sectorial, em si mesmo irrelevante por mais importante que os jornais o considerem.
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