KARMAS 1993
93-05-09-ac> -datas-1>diario94>chave> - chave para (+-) inéditos do ano 1985
REVER PAPÉIS:A INUTILIDADE DA MEMÓRIA
9/5/1993 - Repescar papéis de 21.8.1985, evoca a minha estadia na revista «Saúde Actual» e as contingências várias da vida que na vida temos de gramar. Questão de carma, ou questão de «destino», vejo uma só vantagem em rever estes papéis, alguns dos quais vou definitivamente rasgar. Esta minha «queixa» contra a D. F. H., por exemplo, e suas tropelias. À distância, lembro-me vagamente de que a F.H. estava ligada a uma seita cristã dessas que hoje proliferam. Seita que, ao que me lembro, publicou livros de divulgação vegetariana encadernados a percalina vermelha. Pagava-me a M.L. 20 mil escudos por cada número da «Saúde Actual» e eu achava muito. Mas essa pagava, o que não posso dizer da Meribérica, se me vai pagar ou não, depois de andar dois meses a trabalhar para ela quatro números do suplemento «Guia do Consumidor». Em 1985, eu escrevia regularmente ao dr. Rocha Barbosa, que entretanto trabalhava também para a Natiris. Muitas das «queixas» que deixei escritas, eram sob a forma de carta a Rocha Barbosa, tão inocente como eu nas malhas de uma teia de que nunca compreendemos bem os meandros e alçapões.
É de 22 de Setembro de 1985, a transferência da minha biblioteca para o J.C.A., Quinta dos Pombais, no tempo em que ainda havia entre nós um «gentleman agreement»... e o pagamento, em três prestações, de 150 mil escudos por mais de 10 mil livros.
Entre as mudanças intestinais verificadas no meu modo de ver a vida, conta-se esta das memórias: arquivei toneladas de papel com o pretexto de virem a servir de apoio para «memoriar». E já que memória foi coisa que, feliz ou infelizmente, nunca tive. Mas o trabalho da radiestesia sobre o inconsciente e a alquimia da memória, relativizou de tal maneira as minhas maneiras de ser e de pensar que, neste momento, estou colocando em causa muita desta papelada. Afinal, a verdadeira alquimia não passa por estas memórias - a letra de máquina, o preto no branco do papel - já que, a haver alguma mudança e trabalho, ele se processou e continua processando ao nível inconsciente.
10 de Março de 1985 é a data de um papel, estilo documento(*), com o projecto, vindo do encontro de Troia, para um partido ecologista. Vinha o documento assinado por Rui Valada, Afonso Cautela, Fernando Pessoa, João Reis Gomes e Carlos Frescata. Impossível, mesmo a título de memória, encontrar algum interesse nisso. Porquê - meu Deus - tanto tempo perdido. Tanta letra escrita. Tanta página dactilografada. Não consigo compreender o que me movia. Só de facto o desespero pode explicar tanto empenhamento em tão falsas esperanças. Aos 61 anos, ganho ao menos em perceber que foi tudo tempo perdido. 61 anos para nada! Estou a dizer isto e estou - juro - a ser sincero. Pura inutilidade a minha vida de 61 anos. Deve ser já o ar da eternidade que relativiza o tempo.
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(*) «O Ecologismo para os Ecologistas», mensagem aos que quiserem subscrever a requisição de um partido.
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REVER PAPÉIS:A INUTILIDADE DA MEMÓRIA
9/5/1993 - Repescar papéis de 21.8.1985, evoca a minha estadia na revista «Saúde Actual» e as contingências várias da vida que na vida temos de gramar. Questão de carma, ou questão de «destino», vejo uma só vantagem em rever estes papéis, alguns dos quais vou definitivamente rasgar. Esta minha «queixa» contra a D. F. H., por exemplo, e suas tropelias. À distância, lembro-me vagamente de que a F.H. estava ligada a uma seita cristã dessas que hoje proliferam. Seita que, ao que me lembro, publicou livros de divulgação vegetariana encadernados a percalina vermelha. Pagava-me a M.L. 20 mil escudos por cada número da «Saúde Actual» e eu achava muito. Mas essa pagava, o que não posso dizer da Meribérica, se me vai pagar ou não, depois de andar dois meses a trabalhar para ela quatro números do suplemento «Guia do Consumidor». Em 1985, eu escrevia regularmente ao dr. Rocha Barbosa, que entretanto trabalhava também para a Natiris. Muitas das «queixas» que deixei escritas, eram sob a forma de carta a Rocha Barbosa, tão inocente como eu nas malhas de uma teia de que nunca compreendemos bem os meandros e alçapões.
É de 22 de Setembro de 1985, a transferência da minha biblioteca para o J.C.A., Quinta dos Pombais, no tempo em que ainda havia entre nós um «gentleman agreement»... e o pagamento, em três prestações, de 150 mil escudos por mais de 10 mil livros.
Entre as mudanças intestinais verificadas no meu modo de ver a vida, conta-se esta das memórias: arquivei toneladas de papel com o pretexto de virem a servir de apoio para «memoriar». E já que memória foi coisa que, feliz ou infelizmente, nunca tive. Mas o trabalho da radiestesia sobre o inconsciente e a alquimia da memória, relativizou de tal maneira as minhas maneiras de ser e de pensar que, neste momento, estou colocando em causa muita desta papelada. Afinal, a verdadeira alquimia não passa por estas memórias - a letra de máquina, o preto no branco do papel - já que, a haver alguma mudança e trabalho, ele se processou e continua processando ao nível inconsciente.
10 de Março de 1985 é a data de um papel, estilo documento(*), com o projecto, vindo do encontro de Troia, para um partido ecologista. Vinha o documento assinado por Rui Valada, Afonso Cautela, Fernando Pessoa, João Reis Gomes e Carlos Frescata. Impossível, mesmo a título de memória, encontrar algum interesse nisso. Porquê - meu Deus - tanto tempo perdido. Tanta letra escrita. Tanta página dactilografada. Não consigo compreender o que me movia. Só de facto o desespero pode explicar tanto empenhamento em tão falsas esperanças. Aos 61 anos, ganho ao menos em perceber que foi tudo tempo perdido. 61 anos para nada! Estou a dizer isto e estou - juro - a ser sincero. Pura inutilidade a minha vida de 61 anos. Deve ser já o ar da eternidade que relativiza o tempo.
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(*) «O Ecologismo para os Ecologistas», mensagem aos que quiserem subscrever a requisição de um partido.
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