DEEP ECOLOGY 1975
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A DEMAGOGIA NO DISCURSO SOBRE QUALIDADE DE VIDA
29/3/1991 - Demagogia são os anúncios do Sanatogen -- Fracasso não é comigo -- que ocultam ou ignoram o terror dos exames e os métodos anticulturais das escolas com um optimismo bacoco que, à laia de isca, só pertence aos que tiverem a graça de comprarem o produto.
Demagogia são os alegados feitos da cirurgia cardíaca, que oculta ou ignora o que se tem feito para incrementar e agravar as doenças cardiovasculares, enquanto se contrariam e combatem os verdadeiros métodos de cura.
Demagogia é sempre o que apresenta uma solução parcial e de emergência (um remendo!) para um problema geral que não consente soluções posteriores e sempre tardias mas prevenção, previsão, planificação, organização, prospectivismo.
Demagogia é o «enlevo» (hipócrita) posto no elogio da procriação e, portanto, da vida, quando se consente em tudo o que avilta, liquida, esmaga, tritura, depaupera, deteriora a vida e os valores da vida que são também os da saúde.
Demagogia é tudo o que insulta a vida, é tudo o que, pela estupidez, pela violência, pela covardia, fazemos ou deixamos que se faça contra a vida, e é depois o casamento, os filhos, a procriação, a continuação da vida que insultámos, insultamos, insultaremos.
Demagogia é dar como sentimental um problema que é económico e social - ou apresentar como desastre, desgraça, destino, o que é apenas incúria ou crime de governo.
Demagogia é, por exemplo, o melodrama e tudo o que é veiculado pelo melodrama no romanesco de consumo.
Demagogia é apontar o efeito fingindo ignorar a causa, como se o efeito não fosse provocado por essa causa mas tivesse caído do céu.
Demagogia rima com hipocrisia.
Nunca se separam. Em matéria política ou moral, onde grassem as contradições, a demagogia faz carreira, pois consiste em aparentar o que não há quando as circunstâncias forçam a isso.
Exemplo: numa sociedade dominada por qualquer oligarquia, é evidente que os exploradores não promovem o interesse dos explorados, o que seria contraditório. Mas quando os acontecimentos forçam a denúncia do facto, a casta dirigente é obrigada a assumir atitudes e a tomar resoluções para se aguentar no poder. Então o reformismo. Então a hipocrisia. Então a demagogia, ou promessas que se não cumprem. Forçada por erupções de violência, a corrupção tem que falar nos interesses do trabalho e na reforma das estruturas: contratos colectivos de trabalho, bairros económicos, obras públicas, assistência, obras sociais, etc.
Há sempre um pequeno «bem» (benefício) que se hipertrofia e propagandeia para ocultar os grandes males e os crimes de base que se cometem.
Quanto mais reformismo, mais hipocrisia. E quanto mais hipocrisia mais demagogia.
EXEMPLOS DE DISCURSO DEMAGÓGICO
Alguns títulos de jornais portugueses são verdadeiros paradigmas de hipocrisia-demagogia-reformismo. Como por exemplo:
Arma imoral e desumana
Nova técnica estudada por cientistas americanos
Vacina revolucionária contra a gripe
Complicado processo com aparelho delicadíssimo
Acrescentou o eminente sábio
Graças à energia nuclear
LUGARES-COMUNS REFORMISTAS PARA IDEOLOGIA REFORMISTA:
Não será este discurso que torna inevitável e imprescindível o radicalismo?
Dinamizar a burocracia
Humanizar a forca
Humanizar a pena de morte
Melhorar a polícia
Melhorar a guerra
Melhorar a cadeira eléctrica
Melhorar a pena de morte
Melhorar a tortura
Melhorar a corrupção
Melhorar a hipocrisia social
Melhorar o arrivismo
Melhorar o caciquismo
Melhorar a prisão
Melhorar a prostituição
Melhorar a cegueira
Melhorar a censura
Melhorar o bairro da lata
Melhorar a alienação do trabalho
Melhorar o trabalho
Melhorar a doença
Melhorar o terror industrial
A terminologia denuncia a ideologia. Sempre. E no caso dos lugares-comuns reformistas, com abundância de provas. A terminologia dos telegramas oriundos de agências é muito adequada.
Vejamos exemplos:
«Bombardeamentos criminosos nos diques do Vietname»
Pergunta: Mas haverá bombardeamentos que não são criminosos?
«Desumanas sevícias infligidas às vítimas»
Pergunta: Mas haverá sevícias que não sejam desumanas?
«Pavorosos incêndios no Vale do Vouga»
Pergunta: Mas haverá incêndios que não sejam pavorosos? Haverá incêndios agradáveis?
«Senhorio desumano»
Mas haverá senhorios humanos?
«Morte súbita de motorista»
Pergunta: Mas haverá morte que não seja súbita? Haverá morte a prazo? (por acaso até há: as mortes por enxerto-transplantação são a prazo: logo o adjectivo «súbita» começa a ser adequado quando aplicado à morte de rotina, de que há cada vez mais e mais lentas).
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A DEMAGOGIA NO DISCURSO SOBRE QUALIDADE DE VIDA
29/3/1991 - Demagogia são os anúncios do Sanatogen -- Fracasso não é comigo -- que ocultam ou ignoram o terror dos exames e os métodos anticulturais das escolas com um optimismo bacoco que, à laia de isca, só pertence aos que tiverem a graça de comprarem o produto.
Demagogia são os alegados feitos da cirurgia cardíaca, que oculta ou ignora o que se tem feito para incrementar e agravar as doenças cardiovasculares, enquanto se contrariam e combatem os verdadeiros métodos de cura.
Demagogia é sempre o que apresenta uma solução parcial e de emergência (um remendo!) para um problema geral que não consente soluções posteriores e sempre tardias mas prevenção, previsão, planificação, organização, prospectivismo.
Demagogia é o «enlevo» (hipócrita) posto no elogio da procriação e, portanto, da vida, quando se consente em tudo o que avilta, liquida, esmaga, tritura, depaupera, deteriora a vida e os valores da vida que são também os da saúde.
Demagogia é tudo o que insulta a vida, é tudo o que, pela estupidez, pela violência, pela covardia, fazemos ou deixamos que se faça contra a vida, e é depois o casamento, os filhos, a procriação, a continuação da vida que insultámos, insultamos, insultaremos.
Demagogia é dar como sentimental um problema que é económico e social - ou apresentar como desastre, desgraça, destino, o que é apenas incúria ou crime de governo.
Demagogia é, por exemplo, o melodrama e tudo o que é veiculado pelo melodrama no romanesco de consumo.
Demagogia é apontar o efeito fingindo ignorar a causa, como se o efeito não fosse provocado por essa causa mas tivesse caído do céu.
Demagogia rima com hipocrisia.
Nunca se separam. Em matéria política ou moral, onde grassem as contradições, a demagogia faz carreira, pois consiste em aparentar o que não há quando as circunstâncias forçam a isso.
Exemplo: numa sociedade dominada por qualquer oligarquia, é evidente que os exploradores não promovem o interesse dos explorados, o que seria contraditório. Mas quando os acontecimentos forçam a denúncia do facto, a casta dirigente é obrigada a assumir atitudes e a tomar resoluções para se aguentar no poder. Então o reformismo. Então a hipocrisia. Então a demagogia, ou promessas que se não cumprem. Forçada por erupções de violência, a corrupção tem que falar nos interesses do trabalho e na reforma das estruturas: contratos colectivos de trabalho, bairros económicos, obras públicas, assistência, obras sociais, etc.
Há sempre um pequeno «bem» (benefício) que se hipertrofia e propagandeia para ocultar os grandes males e os crimes de base que se cometem.
Quanto mais reformismo, mais hipocrisia. E quanto mais hipocrisia mais demagogia.
EXEMPLOS DE DISCURSO DEMAGÓGICO
Alguns títulos de jornais portugueses são verdadeiros paradigmas de hipocrisia-demagogia-reformismo. Como por exemplo:
Arma imoral e desumana
Nova técnica estudada por cientistas americanos
Vacina revolucionária contra a gripe
Complicado processo com aparelho delicadíssimo
Acrescentou o eminente sábio
Graças à energia nuclear
LUGARES-COMUNS REFORMISTAS PARA IDEOLOGIA REFORMISTA:
Não será este discurso que torna inevitável e imprescindível o radicalismo?
Dinamizar a burocracia
Humanizar a forca
Humanizar a pena de morte
Melhorar a polícia
Melhorar a guerra
Melhorar a cadeira eléctrica
Melhorar a pena de morte
Melhorar a tortura
Melhorar a corrupção
Melhorar a hipocrisia social
Melhorar o arrivismo
Melhorar o caciquismo
Melhorar a prisão
Melhorar a prostituição
Melhorar a cegueira
Melhorar a censura
Melhorar o bairro da lata
Melhorar a alienação do trabalho
Melhorar o trabalho
Melhorar a doença
Melhorar o terror industrial
A terminologia denuncia a ideologia. Sempre. E no caso dos lugares-comuns reformistas, com abundância de provas. A terminologia dos telegramas oriundos de agências é muito adequada.
Vejamos exemplos:
«Bombardeamentos criminosos nos diques do Vietname»
Pergunta: Mas haverá bombardeamentos que não são criminosos?
«Desumanas sevícias infligidas às vítimas»
Pergunta: Mas haverá sevícias que não sejam desumanas?
«Pavorosos incêndios no Vale do Vouga»
Pergunta: Mas haverá incêndios que não sejam pavorosos? Haverá incêndios agradáveis?
«Senhorio desumano»
Mas haverá senhorios humanos?
«Morte súbita de motorista»
Pergunta: Mas haverá morte que não seja súbita? Haverá morte a prazo? (por acaso até há: as mortes por enxerto-transplantação são a prazo: logo o adjectivo «súbita» começa a ser adequado quando aplicado à morte de rotina, de que há cada vez mais e mais lentas).
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