«PROGRESSO» 1980
80-03-27-ie> =ideia ecológica - sexta-feira, 3 de Janeiro de 2003-scan
AS CARNIFICINAS DO PROGRESSO(*)
[27-3-1980]
Dia em que o progresso não faça mortos e feridos, não é dia. Com o caso da plataforma afundada, em 27 de Março de 1980, só porque ruiu um pilar, o progresso não se dá por vencido nem convencido.
Assim que haja mais uma carnificina do progresso, logo abundam artigos e notícias enfatizando a pobreza, a miséria, a doença e a fome dos (muito) subdesenvolvidos.
O progresso (ou desenvolvimento) parece em competição permanente com o subdesenvolvimento (fabricado, aliás, pelo desenvolvimento como gostava de repetir o famoso Josué de Castro, voz do Terceiro Mundo): e se o subdesenvolvimento mata, com as doenças da carência e da promiscuidade (as epidemias hídricas), o desenvolvimento não quer confessar que mata por cancro, cardiovasculares e as mais estranhas ou enigmáticas moléstias.
Para cada notícia de cancro nos super-desenvolvidos, é certo que temos de ler vinte notícias sobre a malária, a cólera, a anemia e outras endemias próprias da miséria.
"Moralmente", o desenvolvimento sente-se assim perfeitamente justificado para continuar matando e adoecendo.
Para continuar gritando "vivó progresso” a cada nova plataforma afundada.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, terá ficado inédito embora fosse enviado para o jornal «Barlavento», onde o autor colaborava nesse ano
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AS CARNIFICINAS DO PROGRESSO(*)
[27-3-1980]
Dia em que o progresso não faça mortos e feridos, não é dia. Com o caso da plataforma afundada, em 27 de Março de 1980, só porque ruiu um pilar, o progresso não se dá por vencido nem convencido.
Assim que haja mais uma carnificina do progresso, logo abundam artigos e notícias enfatizando a pobreza, a miséria, a doença e a fome dos (muito) subdesenvolvidos.
O progresso (ou desenvolvimento) parece em competição permanente com o subdesenvolvimento (fabricado, aliás, pelo desenvolvimento como gostava de repetir o famoso Josué de Castro, voz do Terceiro Mundo): e se o subdesenvolvimento mata, com as doenças da carência e da promiscuidade (as epidemias hídricas), o desenvolvimento não quer confessar que mata por cancro, cardiovasculares e as mais estranhas ou enigmáticas moléstias.
Para cada notícia de cancro nos super-desenvolvidos, é certo que temos de ler vinte notícias sobre a malária, a cólera, a anemia e outras endemias próprias da miséria.
"Moralmente", o desenvolvimento sente-se assim perfeitamente justificado para continuar matando e adoecendo.
Para continuar gritando "vivó progresso” a cada nova plataforma afundada.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, terá ficado inédito embora fosse enviado para o jornal «Barlavento», onde o autor colaborava nesse ano
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