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2006-03-25

SOFÍSTICA 1974

74-02-26-ie>= ideia ecológica - quarta-feira, 4 de Dezembro de 2002-scan

SABEDORIA ORIENTAL E SOFÍSTICA OCIDENTAL(*)

26/Fevereiro/1974 - Impressionados com a voga que no Ocidente estão tendo os princípios da filosofia extremo-oriental (quase sempre deturpados), o ioga, o yin-yang, o karate e o judo, a macrobiótica zen e a acupunctura, alguns humoristas descobriram que, afinal, tudo isso não está muito longe da "ciência ocidental".
Pois não é verdade - dizem os humoristas - que o Zen-Tao preconiza viver de acordo com o princípio único e a ordem do universo?
E não é verdade que a ciência se jacta, também ela, de ter "pescado", de ter descoberto as leis que governam o universo, leis fixas e imutáveis, à luz da razão, etc., etc.?
Esquece o humorista muitas coisas. É que talvez ambos os lados aludam às leis do Universo, mas nem se trata do "mesmo" Universo, nem são as mesmas leis, nem, ainda que fossem, eram "respeitadas" da mesma maneira, pela sabedoria oriental e pela sofistica ocidental.
Como largamente explica a Medicina chinesa (precursora da Medicina Ecológica), o Universo não é uma abstracção matemática e as leis não são abstracções no sentido em que o são as leis cientificas: é o Cosmos, a realidade física (electro-magnética), o sol, a lua, os astros, o Mundo (com pólo norte e pólo sul, oceanos, continentes, mares, campo magnético, diferenciação geológica e climática, etc..) e o homem nesse contexto real, nesse meio ambiente, é o cosmos e o microcosmos, os ritmos e os bio-ritmos.
Ora isto nada tem a ver (nada) com as relações matemáticas estabelecidas entre certos fenómenos e constantes, a que os livros de ciência chamam leis.
Depois, a moral ocidental manda combater, dominar, subjugar e jugular a Natureza, e a isso chama progresso.
Enquanto a Medicina Chinesa e, de uma maneira geral, a sabedoria yin-yang apenas procura sintonizar o coração do homem com o coração da vida e da Natureza.
Se as cosmologias já são diferentes, as morais que presidem a estas duas mentalidades, culturas ou sistemas são opostas. Direi mesmo: irredutíveis.
A santa ciência moderna preconiza, no capítulo das relações do homem consigo, do homem com o homem e do homem com o Universo, a violência, a desintegração, o dualismo, o domínio sobre, o estar contra, etc..
A ética do principio único não só rejeita as morais adaptativas dos ocidentais (estilo pecado, crime, honestidade, maldade, etc. - que são normas de adaptação a determinados códigos e estatutos impostos pelo poder) como faz do princípio único - "viver em harmonia com a natureza sem nunca a violentar - a sua única ética. Digamos: a sua moral.
Temos assim duas atitudes diversas: a ciência ocidental assassina enquanto vai debitando os mais belos discursos sobre o bem, o belo, o bom, o perfeito, o conveniente, o conforme, o honesto, o educado, o polido, etc.. A outra cultura não discursa. Não é demagógica. Não precisa de encobrir com palavras (verbalismo) a falta de realidade e de sentido do real. Não recorre a expedientes superestruturais para iludir infra-estruturas contraditórias e portanto violentas. Porque não tem crimes a esconder ou disfarçar, a ética do princípio único é parca de palavras, discursos, catecismos.
Ao contrário, a Sofistica ocidental ( fundamentalmente hipócrita), para se impor ao homem contra o qual está, tem de conduzir fatalmente ao crime, à violência, à distorção (tortura?). Porque é de raiz contra o homem e contra o harmónico entendimento do homem com a Natureza, será verborreica e demagógica.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no livro edição do autor, «Contributo à Revolução Ecológica», Paço de Arcos, 1976
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