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2006-03-29

SILÊNCIOS 1991

ecos79-ecos - 2646 caracteres = ecos da capoeira – os dossiês do silêncio

OS SILÊNCIOS E SILENCIAMENTOS
1
29/3/1991 - Desculpando-se com a fornecedora de material eléctrico, que não teria atendido a tempo o pedido de lâmpadas, a EDP deixou aos seus trabalhadores o cuidado de explicar ao público as razões porque tantas freguesias ficaram às escuras no ano de 1979.
Soubemos o que se passou no distrito de Beja, pelo «Diário do Alentejo», mas notícias de muitas outras localidades às escuras referiam o caso de «lâmpadas fundidas» sem que a EDP as substituísse.
Para uma empresa que jorra electricidade por todas as barragens, que promete uma curva ascensional de consumos, que assegura electricidade de origem nuclear antes do ano 2.000, não deixa de ser estranho que tivesse falhado uma simples encomenda de lâmpadas à fornecedora. Será a raia habitual nos triunfalismos energéticos, ou haverá outras razões as explicar a «manobra das lâmpadas fundidas»?
Se fosse para anunciar o Grande Plano Energético do Ano 2000, a EDP teria chamado Imprensa, fotógrafos e TV para registar o momento histórico. Mas para explicar às populações o motivo que as deixou às escuras, nem uma palavra,
Em casos como o de Beja, foi preciso que os próprios trabalhadores tomassem o encargo de prestar ao público essa informação.

2 [Saber data da CPT sobre os mortos de valência, onde há seguras alusões ao artigo de Mário Ventura também referido neste eco]
A opinião pública só sabe que as fissuras em certas barragens como a de Paradela e a do Roxo são alarmantes quando aparece a Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos ou a EDP a dizer que as fissuras não são alarmantes e que já foi tudo tratado pelos técnicos.
Neste como em outros casos de silenciamento, os argumentos implícitos são de cassete: não alarmar a opinião pública; não causar danos morais à população; a nossa débil economia que não pode com uma gata pelo rabo; e, claro, as tremendas incorrecções em que incorrem sempre os jornalistas quando se metem a informar sobre assuntos tão técnicos e tão tabus como são os fiascos da EDP.
A segurança física das populações, em Portugal, é pura e simplesmente insegurança permanente, com a conivência dos órgãos de comunicação social e a desistência resignada dos jornalistas.
Em Espanha, o Mário Ventura foi ver o que tinha havido em Valência e soube que as autoridades - para evitar o pânico e não causar prejuízos morais - não avisaram ninguém de que a barragem estava em risco de rebentar. Rebentou e contaram-se, pelo menos, 100 mortos, fora os prejuízos.
Os silêncios em Espanha não são como os silêncios em Portugal. Porque daqueles ainda a gente pode falar!
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