PETRÓLEO 1980
1-1- 80-03-30-ie> =ideia ecológica - quinta-feira, 2 de Janeiro de 2003-scan
NÃO GANHAM PRÓ PETRÓLEO(*)
[30-3-1980]
Em declarações ao “Tele-Jornal" (Canal 1, 30-3-1980), o sobrevivente português da tragédia no Mar do Norte, que trabalhava na plataforma "Alexander Kielland” (1) como cozinheiro, declarou que o seu contrato com a "Philips Petroleum" estava a terminar, pois esta firma se preparava para despedir todos os trabalhadores migrantes. Creio que o entrevistado disse mesmo "trabalhadores latinos".
É um elemento importante para compreender o clima de boa paz social que se vive nestas plataformas, para onde, aliás, o cozinheiro sobrevivente disse que voltaria, logo que de novo surgisse essa oportunidade. Não tinha, no entanto, a certeza de que lhe fossem pagar o que deviam, devido ao desastre. Os que ficaram no fundo do oceano gelado, de certeza que não vão ser pagos nem vão precisar. A menos que as famílias...
Se a moda das indemnizações pega, a sociedade industrial não vai ganhar pró petróleo.
Há dias, eram os queixosos do Nevada, que pediram uma soma astronómica pelos cancros e leucemias que os rebentamentos de bombas lhes provocaram. ("A Capital", 29-3-80).
Dias depois, eram as vítimas de Seveso que iam fazendo falir a poderosa "Givaudan", multinacional suíça que colocou os seus venenos em Itália mas que agora tem de pagar, aos italianos, os prejuízos causados com a evaporação de gases tóxicos, da sua fábrica "Icmesa". Para já, seis milhões de contos ao Estado italiano e à região da Lombardia.
Agora, levanta-se de novo a questão do "agente laranja", mescla muito activa de dois herbicidas com intenso poder homicida, e que não só debulhou milhares de vietnamianos, deixando na Indochina sequelas por muitas gerações que irão sofrer de anomalias várias, mas atingiu também os soldados e oficiais que os lançavam sobre o povo.
Se tivesse sido só o Vietname, nunca mais se teria falado do agente laranja : mas como está em jogo uma gorda indemnização (de que os advogados intermediários vão receber, com certeza, choruda parte), de certeza que o "agente laranja" vai ser muito badalado outra vez e o governo australiano já ordenou um estudo desenvolvido, que custará dois milhões de dólares australianos e que levará dois anos, sobre os efeitos do dito "agente -laranja", que alguns países desenvolvidos proibiram de deitar na sopa.
O Ministro australiano dos Antigos Combatentes, Evan Adermann, indicou que 60 mil antigos combatentes do Vietname, cujas famílias compreendem cerca de 100 mil crianças, serão chamados a depor.
O "agente laranja”, (do nome dos contentores nos quais era fornecido) é uma mistura em partes iguais dos herbicidas "2,4,5-T" e "2,4,-D", utilizados ainda em grande escala por numerosos países pouco desenvolvidos como Portugal, para onde o exportam aqueles países que, desenvolvidos, já não querem para o povo deles tamanho veneno (perdão, tamanho progresso).
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(1) Afundada em 27 de Março de 1980, por se ter partido um pilar, facto que até hoje ainda nenhum perito conseguiu explicar
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito, embora fosse enviado para o jornal «Barlavento» onde então o autor colaborava
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NÃO GANHAM PRÓ PETRÓLEO(*)
[30-3-1980]
Em declarações ao “Tele-Jornal" (Canal 1, 30-3-1980), o sobrevivente português da tragédia no Mar do Norte, que trabalhava na plataforma "Alexander Kielland” (1) como cozinheiro, declarou que o seu contrato com a "Philips Petroleum" estava a terminar, pois esta firma se preparava para despedir todos os trabalhadores migrantes. Creio que o entrevistado disse mesmo "trabalhadores latinos".
É um elemento importante para compreender o clima de boa paz social que se vive nestas plataformas, para onde, aliás, o cozinheiro sobrevivente disse que voltaria, logo que de novo surgisse essa oportunidade. Não tinha, no entanto, a certeza de que lhe fossem pagar o que deviam, devido ao desastre. Os que ficaram no fundo do oceano gelado, de certeza que não vão ser pagos nem vão precisar. A menos que as famílias...
Se a moda das indemnizações pega, a sociedade industrial não vai ganhar pró petróleo.
Há dias, eram os queixosos do Nevada, que pediram uma soma astronómica pelos cancros e leucemias que os rebentamentos de bombas lhes provocaram. ("A Capital", 29-3-80).
Dias depois, eram as vítimas de Seveso que iam fazendo falir a poderosa "Givaudan", multinacional suíça que colocou os seus venenos em Itália mas que agora tem de pagar, aos italianos, os prejuízos causados com a evaporação de gases tóxicos, da sua fábrica "Icmesa". Para já, seis milhões de contos ao Estado italiano e à região da Lombardia.
Agora, levanta-se de novo a questão do "agente laranja", mescla muito activa de dois herbicidas com intenso poder homicida, e que não só debulhou milhares de vietnamianos, deixando na Indochina sequelas por muitas gerações que irão sofrer de anomalias várias, mas atingiu também os soldados e oficiais que os lançavam sobre o povo.
Se tivesse sido só o Vietname, nunca mais se teria falado do agente laranja : mas como está em jogo uma gorda indemnização (de que os advogados intermediários vão receber, com certeza, choruda parte), de certeza que o "agente laranja" vai ser muito badalado outra vez e o governo australiano já ordenou um estudo desenvolvido, que custará dois milhões de dólares australianos e que levará dois anos, sobre os efeitos do dito "agente -laranja", que alguns países desenvolvidos proibiram de deitar na sopa.
O Ministro australiano dos Antigos Combatentes, Evan Adermann, indicou que 60 mil antigos combatentes do Vietname, cujas famílias compreendem cerca de 100 mil crianças, serão chamados a depor.
O "agente laranja”, (do nome dos contentores nos quais era fornecido) é uma mistura em partes iguais dos herbicidas "2,4,5-T" e "2,4,-D", utilizados ainda em grande escala por numerosos países pouco desenvolvidos como Portugal, para onde o exportam aqueles países que, desenvolvidos, já não querem para o povo deles tamanho veneno (perdão, tamanho progresso).
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(1) Afundada em 27 de Março de 1980, por se ter partido um pilar, facto que até hoje ainda nenhum perito conseguiu explicar
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter ficado inédito, embora fosse enviado para o jornal «Barlavento» onde então o autor colaborava
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