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2006-03-29

EPIDEMIOLOGIA 1987

dcm87-3>Revisão:quarta-feira, 29 de Março de 2006 09:54:16

29-3-1987

DOENÇAS DO AMBIENTE - FICHA DE ECOLOGIA HUMANA Nº[___]- PISTAS DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA - CAUSAS APARENTES E CAUSAS DETERMINANTES

Quando manifestações patológicas dos indivíduos em sociedade atingem índices endémicos, é inevitável e óbvio que se procure no ambiente a causa dessas manifestações.
Mas procurar no ambiente a causa de surtos endémicos é o mesmo que procurar agulha em palheiro, já que ambiente é tudo.
É natural, assim, que a atenção dos epidemiologistas se vire para causas só na aparência determinantes, esquecendo as que são determinantes de fundo mas menos aparentes.
É natural que perante a incidência de enfartes do miocárdio, por exemplo, se responsabilizem factores aparentes como «hábitos de sedentarismo», «hábitos tabágicos», «água pública de beber», etc.
Quando em 1973 um relatório australiano atribui todos os males da sociedade australiana à falta de «exercícios físicos», está a apontar o que se pode considerar a causa segunda ou terceira de um surto patológico mas não a causa determinante.
Este relatório visava desenvolver uma política de recreio e desporto para a população, pelo que deveria enfatizar suficientemente o sedentarismo como causa primeira e determinante das doenças cardiovasculares.
Com efeito, nessa data, a Austrália detinha uma das mais altas percentagens mundiais de mortes devidas a doenças cardiovasculares.
Uma análise menos ingénua ou mais cínica desta «distorção» no diagnóstico de uma doença social, poderia levar a pensar que os industriais de artigos desportivos estavam nos bastidores de uma campanha governamental para fomento de higiénicos hábitos de educação física.
Ao reduzir as taxas na venda desses artigos, o governo australiano de 1973 encorajava tão cínicas suposições.
A verdade é que a investigação epidemiológica tem estas duas faces que resultam do seu carácter de «ciência subversiva».
As suas conclusões, quando fidedignas, são sempre incómodas para o status quo. Por isso há a natural tendência de a levar a conclusões não fidedignas mas que promovem mudanças de superfície na fachada social.
É muito mais cómodo e popular propor um programa para intensificação do desporto, do que propor, por exemplo, a mudança da dieta alimentar.
A investigação epidemiológica tropeça assim, constantemente, nos escolhos da sua própria imaturidade.
Raramente se fazem estudos epidemiológicos e, quando se fazem, ficam sempre ou quase sempre na gaveta, bem fechados.
Obviamente porque põem em causa todo o sistema que vive de ir matando os ecossistemas.
Têm algo de grotesco, pela ingenuidade, as conclusões a que são levados alguns epidemiologistas, quando observam povos fora da sociedade industrial e pretendem relacionar um ou outro factor isolado do «complexo cultural» como sendo a causa dos efeitos verificados.
Ao contar o que viu entre os povos da Nova Guiné, o professor Peter Sinett terá tirado conclusões que são, o mínimo, incompletas, já que se isola um factor como causa, quando a verdade é que mil factores podem ter convergido nos efeitos verificados.
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