NUCLEARISTAS 1990
ecolog1-tentei estupidamente publicar este texto no semanário «expresso»: felizmente, não consegui - gulag 1990
7/7/1990 - Ser militante antinuclear depois de Three Mile Island e Chernobyl, não é ecologismo mas oportunismo.
A intuição, espécie de instinto animal, faz parte intrínseca da consciência ecológica: são indesligáveis. E não existe ecologismo sem esta dialéctica da parte e do Todo.
Quando o marechal Francisco Costa Gomes, que foi presidente da República e activista de um movimento pacifista , escreve, em 1990, no livro «Ecosocialismo-Uma Alternativa Verde para a Europa», recentemente editado pela Divergência, que só «despertou» para a consciência ecológica depois de Three Mile Island e Chernobyl, está apenas a confirmar o que alguns de nós já sabíamos, com saber de experiência feito. É que, relativamente às ideias de contra-corrente, há os que apostam tudo nelas antes de serem rentáveis, e há outros que só nelas se deitam quando estão seguros do seu êxito e da sua popularidade.
O fenómeno não ocorre apenas na área ecologista, mas onde quer que está em jogo ou em questão a dificuldade de ser, viver e pensar diferente.
Se nada mudar, portanto, nesta regra de três simples, a História continuará a ser um paraíso para uns - os que estão sempre na mó de cima, quer quando a vaga está alta, quer na ressaca - e um calvário para os outros, os que apostaram antes no cavalo certo.
Se há já ferrenhos prónuclearistas de ontem a confessar-se hoje convictos antinuclearistas, ainda não há um só desses autoproclamados ecologistas a denunciar, por exemplo, o vírus da SIDA que não existe.
Só aderir às teses difíceis e antipopulares, quando elas se tornam óbvias e quando aparece um Gorbachev a dizer que Estaline foi um tirano , é tardio e crepuscular. É feio.
Também se escreve nesse volume que o ecologismo não é exclusivo de alguns pioneiros que se bateram pela ideia ecologista quando era heresia fazê-lo e se atiravam os militantes para a fogueira . Recordo-me como se fosse hoje, quando o então jornalista José Saramago, pontificando no «Diário de Lisboa», o menos que me considerava era reaccionário porque eu me interessava pelos estudos epidemiológicos e porque esses estudos epidemiológicos denunciavam não apenas a sociedade capitalista mas toda a sociedade industrial.
De facto, a ideia ecológica não é privilégio de nenhum grupo, como o ideal socialista não o é. Mas o socialismo enquanto movimento ideológico é de uns e não é de outros. Se aparecer um democrata cristão a inscrever-se nas fileiras do socialismo, ou vice-versa, pergunto-me como reagirão os adeptos de um e outro credo político.
Saber se há ou não legitimidade na passagem instantânea ao pudim ecologista, por parte de quem estava até então navegando em águas não só alheias mas até adversas, é uma questão, portanto, que se deverá colocar, caso a deontologia ainda exista na gaveta da cómoda dos nossos heróis da política.
Isto relaciona-se, como acima foi dito, com a questão mais geral das perestroikas que, quando chegam , pretendem fazer esquecer, e automaticamente absolver, os gulags, regimes repressivos e manobras persecutórias contra os que sempre estiveram na linha da permanente perestroika.
Há 2O anos, quando a escolha decisiva tinha de fazer-se ( o slogan era então « ecologia, caso de vida ou de morte» ) nunca lá vi nenhum destes verdes pré-fabricados que agora estão na moda. Há vinte anos é que a opção tinha de ser feita - quando havia tempo, ainda, de inflectir a marcha de estupidez em que o Mundo industrializado - com todos os desenvolvimentistas aos gritos, a Leste e a Oeste - se embrenhava.
Agora é tarde. Todos os que vieram depois, todos os que chegaram ontem à noite, no SudExpress ou no avião de Bruxelas, vieram um pouco tarde e são hoje, mesmo, os responsáveis por todas as actuais calamidades, que há vinte anos já se tinham começado a incubar:pelos petróleos derramados e buracos de ozono na estratosfera, por todo o cáos urbano, pelo pesadelo do Ruído, pelo Cancro generalizado como doença da civilização, pela escalada da imunodeficiência, por toda a abjecção tecno-burocrática, pelo tecno-terror, pela alteração drástica dos climas, pela destruição irreversível da Amazónia, pelos sismos fabricados por bombas termo-nucleares, por Three Mile Island e pela existência de quatrocentas centrais nucleares no Planeta Terra, do qual fizeram ( eles) nosso sarcófago.
É tarde. É tardíssimo. A crise planetária aberta pelos desenvolvimentistas tornou-se irreversível, exactamente pela covardia daqueles que só vinte anos depois decidiram tomar posição, e mesmo assim só sectorialmente, e mesmo assim apenas movidos por objectivos eleiçoeiros.
É tarde. É tardíssimo. E não adiantam partidos verdes, agora que já não é possível deter a marcha para o abismo que os seus militantes de hoje também ajudaram a precipitar.
A história repete-se, mas pouco e cada vez menos. E hoje a resistência (ecologista ou outra qualquer) à Estupidez ( tecnocrática ou outra qualquer) apenas mudou aparentemente de campo. Se a luta antinuclear já foi adoptada, embora à «contre coeur» até pelos nuclearistas de ontem, restam campos que esses mesmos «ecologistas » de última hora e terceira extracção a frio ainda hoje rejeitam- em nome ainda da ciência, em nome sempre do progresso - como ontem rejeitavam a luta antinuclear.
Não é difícil apontar quais são hoje os redutos da resistência ecologista ainda não aceites pelos eternos e servis servidores das instituições .
Campo intocável, como ontem era o da instituição nuclear, é ainda hoje, por exemplo, o da instituição científica. Religiosamente, curvam-se hoje, em nome do progresso, aos mitos, dogmas e crimes da ciência biológica, como ontem, religiosamente, se curvavam aos mitos, crimes e dogmas da ciência e da tecnologia nuclear.
Assim sendo, jorraram os capitais para que os laboratórios «científicos» inventassem um vírus, o que foi rapidamente conseguido. Colocada a responsabilidade da epidemia num vírus e não no sistema de vida que arrasa o sistema imunitário das pessoas, matavam-se dois coelhos com uma cajadada: inocentava-se o sistema ( que vive de ir matando os ecossistemas) e promovia-se o lucro dos fabricantes de «preservativos», enquanto não se industrializa a...vacina.
Os vírus vêm depois e, se é de supor que proliferem num terreno orgânico podre ou quase, eles estão principalmente na cabeça dos cientistas, sempre neutrais em relação às armas de extermínio que ajudam a fabricar.
Cientistas que são cúmplices não só de todo o sistema, como os usufrutuários e algozes das vítimas que eles, racisticamente, rotulam e depois mandam encarcerar.
Ser ecologista, hoje, é denunciar esta quintessência da perversão. Trabalho de resistência ecologista, hoje como ontem,é denunciar os sintomas da Abjecção, antes que os factos ( novos Chernobyl, novos Seveso, novos Amoco Cadiz), acabem com o que resta de uma humanidade agonizante no meio de pestes medievais chamadas progresso.
A luta antinuclear, hoje, depois de Three Mile Island e Chernobyl, tornou-se perfeitamente obsoleta e desnecessária.
Ecologismo, ontem como hoje, é dizer antes do tempo aquilo que o tempo vai dizer. .
***
Cautela com as perestroikas
7/7/1990 - Ser militante antinuclear depois de Three Mile Island e Chernobyl, não é ecologismo mas oportunismo.
A intuição, espécie de instinto animal, faz parte intrínseca da consciência ecológica: são indesligáveis. E não existe ecologismo sem esta dialéctica da parte e do Todo.
Quando o marechal Francisco Costa Gomes, que foi presidente da República e activista de um movimento pacifista , escreve, em 1990, no livro «Ecosocialismo-Uma Alternativa Verde para a Europa», recentemente editado pela Divergência, que só «despertou» para a consciência ecológica depois de Three Mile Island e Chernobyl, está apenas a confirmar o que alguns de nós já sabíamos, com saber de experiência feito. É que, relativamente às ideias de contra-corrente, há os que apostam tudo nelas antes de serem rentáveis, e há outros que só nelas se deitam quando estão seguros do seu êxito e da sua popularidade.
O fenómeno não ocorre apenas na área ecologista, mas onde quer que está em jogo ou em questão a dificuldade de ser, viver e pensar diferente.
Se nada mudar, portanto, nesta regra de três simples, a História continuará a ser um paraíso para uns - os que estão sempre na mó de cima, quer quando a vaga está alta, quer na ressaca - e um calvário para os outros, os que apostaram antes no cavalo certo.
Se há já ferrenhos prónuclearistas de ontem a confessar-se hoje convictos antinuclearistas, ainda não há um só desses autoproclamados ecologistas a denunciar, por exemplo, o vírus da SIDA que não existe.
Só aderir às teses difíceis e antipopulares, quando elas se tornam óbvias e quando aparece um Gorbachev a dizer que Estaline foi um tirano , é tardio e crepuscular. É feio.
Também se escreve nesse volume que o ecologismo não é exclusivo de alguns pioneiros que se bateram pela ideia ecologista quando era heresia fazê-lo e se atiravam os militantes para a fogueira . Recordo-me como se fosse hoje, quando o então jornalista José Saramago, pontificando no «Diário de Lisboa», o menos que me considerava era reaccionário porque eu me interessava pelos estudos epidemiológicos e porque esses estudos epidemiológicos denunciavam não apenas a sociedade capitalista mas toda a sociedade industrial.
De facto, a ideia ecológica não é privilégio de nenhum grupo, como o ideal socialista não o é. Mas o socialismo enquanto movimento ideológico é de uns e não é de outros. Se aparecer um democrata cristão a inscrever-se nas fileiras do socialismo, ou vice-versa, pergunto-me como reagirão os adeptos de um e outro credo político.
Saber se há ou não legitimidade na passagem instantânea ao pudim ecologista, por parte de quem estava até então navegando em águas não só alheias mas até adversas, é uma questão, portanto, que se deverá colocar, caso a deontologia ainda exista na gaveta da cómoda dos nossos heróis da política.
Isto relaciona-se, como acima foi dito, com a questão mais geral das perestroikas que, quando chegam , pretendem fazer esquecer, e automaticamente absolver, os gulags, regimes repressivos e manobras persecutórias contra os que sempre estiveram na linha da permanente perestroika.
Há 2O anos, quando a escolha decisiva tinha de fazer-se ( o slogan era então « ecologia, caso de vida ou de morte» ) nunca lá vi nenhum destes verdes pré-fabricados que agora estão na moda. Há vinte anos é que a opção tinha de ser feita - quando havia tempo, ainda, de inflectir a marcha de estupidez em que o Mundo industrializado - com todos os desenvolvimentistas aos gritos, a Leste e a Oeste - se embrenhava.
Agora é tarde. Todos os que vieram depois, todos os que chegaram ontem à noite, no SudExpress ou no avião de Bruxelas, vieram um pouco tarde e são hoje, mesmo, os responsáveis por todas as actuais calamidades, que há vinte anos já se tinham começado a incubar:pelos petróleos derramados e buracos de ozono na estratosfera, por todo o cáos urbano, pelo pesadelo do Ruído, pelo Cancro generalizado como doença da civilização, pela escalada da imunodeficiência, por toda a abjecção tecno-burocrática, pelo tecno-terror, pela alteração drástica dos climas, pela destruição irreversível da Amazónia, pelos sismos fabricados por bombas termo-nucleares, por Three Mile Island e pela existência de quatrocentas centrais nucleares no Planeta Terra, do qual fizeram ( eles) nosso sarcófago.
É tarde. É tardíssimo. A crise planetária aberta pelos desenvolvimentistas tornou-se irreversível, exactamente pela covardia daqueles que só vinte anos depois decidiram tomar posição, e mesmo assim só sectorialmente, e mesmo assim apenas movidos por objectivos eleiçoeiros.
É tarde. É tardíssimo. E não adiantam partidos verdes, agora que já não é possível deter a marcha para o abismo que os seus militantes de hoje também ajudaram a precipitar.
A história repete-se, mas pouco e cada vez menos. E hoje a resistência (ecologista ou outra qualquer) à Estupidez ( tecnocrática ou outra qualquer) apenas mudou aparentemente de campo. Se a luta antinuclear já foi adoptada, embora à «contre coeur» até pelos nuclearistas de ontem, restam campos que esses mesmos «ecologistas » de última hora e terceira extracção a frio ainda hoje rejeitam- em nome ainda da ciência, em nome sempre do progresso - como ontem rejeitavam a luta antinuclear.
Não é difícil apontar quais são hoje os redutos da resistência ecologista ainda não aceites pelos eternos e servis servidores das instituições .
Campo intocável, como ontem era o da instituição nuclear, é ainda hoje, por exemplo, o da instituição científica. Religiosamente, curvam-se hoje, em nome do progresso, aos mitos, dogmas e crimes da ciência biológica, como ontem, religiosamente, se curvavam aos mitos, crimes e dogmas da ciência e da tecnologia nuclear.
Assim sendo, jorraram os capitais para que os laboratórios «científicos» inventassem um vírus, o que foi rapidamente conseguido. Colocada a responsabilidade da epidemia num vírus e não no sistema de vida que arrasa o sistema imunitário das pessoas, matavam-se dois coelhos com uma cajadada: inocentava-se o sistema ( que vive de ir matando os ecossistemas) e promovia-se o lucro dos fabricantes de «preservativos», enquanto não se industrializa a...vacina.
Os vírus vêm depois e, se é de supor que proliferem num terreno orgânico podre ou quase, eles estão principalmente na cabeça dos cientistas, sempre neutrais em relação às armas de extermínio que ajudam a fabricar.
Cientistas que são cúmplices não só de todo o sistema, como os usufrutuários e algozes das vítimas que eles, racisticamente, rotulam e depois mandam encarcerar.
Ser ecologista, hoje, é denunciar esta quintessência da perversão. Trabalho de resistência ecologista, hoje como ontem,é denunciar os sintomas da Abjecção, antes que os factos ( novos Chernobyl, novos Seveso, novos Amoco Cadiz), acabem com o que resta de uma humanidade agonizante no meio de pestes medievais chamadas progresso.
A luta antinuclear, hoje, depois de Three Mile Island e Chernobyl, tornou-se perfeitamente obsoleta e desnecessária.
Ecologismo, ontem como hoje, é dizer antes do tempo aquilo que o tempo vai dizer. .
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