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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-04-01

ANARCA 1958

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 NÓS, OS DOS 20 ANOS:  
MONÓLOGO EM JEITO DE MANIFESTO
IGUAL A ZERO 
E/OU COISA NENHUMA

 A FALTA DE CRISTANDADE DOS CATÓLICOS

Évora, 3/4/1958 – Isto é falar de individualista, dirão aqueles para quem só os planos quinquenais são caminho de reforma do homem. Chamem-lhe o que quiserem. Para os da esquerda, serei individualista, conservador, liberal, talvez anárquico; para os da direita, serei socialista, comunista, de ideias avançadas e subversivas, um anarquista também...
Mas só o que sou, um homem do povo, um pobre aprendiz do que importa, que se não resigna à servidão, à indignidade e à injustiça, que procura a liberdade, a dignidade e a justiça dentro de si e dos que estão próximos de si, isso é que ninguém quer ver que sou.
Julgam os ricos da minha terra que eu e outros como eu lhes querem arrombar os cofres! Qua falta de cristandade a dos católicos ricos e a dos ricos católicos da minha terra!
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2597 caracteres - [Rigorosamente inédito]

# Textos AC datados
# Notícias da resistência
# Papéis subversivos
# Páginas polémicas
# Manuscritos da juventude
# Dossiê do refractário
# Fala um jovem de 20 anos antes de entrar na tropa
# Desabafos de um recruta em Vendas Novas

Ou será que ainda esperamos alguma coisa de alguém? Será que ainda cremos no futuro, na carreira, nos filhos, na felicidade? Será que ainda temos vergonha de ter vergonha? Será que ainda temos ideais? Será que ainda não notámos o  que nos cobre ? Será que, depois de tudo nos ter sido negado e sonegado, censurado e proibido, vaiado e esvaziado, ainda sonhamos a liberdade? Será que ainda acreditamos na acção, depois de nos amarrarem e manietarem? Será que ainda cremos na salvação do mundo (da pátria)? E nas pátrias do mundo? Será que esperamos ainda alguém? Ou alguma coisa? Será que ainda não estamos suficientemente saturados, informados, convencidos do máximo divisor comum do que nos cerca? Será que ainda não vimos de onde vem e até onde vai a ditadura - a da plutocracia e a da burocracia, a da aristocracia e a da democracia, a da teocracia e a da tecnocracia? Será que ainda desconfiamos de uns para confiar nos outros? Será que ainda queremos falar a surdos?  Será que não temos coragem de, entre teólogos e políticos, líricos e críticos, estetas e juízes, banqueiros e legistas, militares e papas, dar apenas o nosso virar de costas?
Nós, apenas nós, os dos vinte anos, temos direito a legislar. Não procuramos amigos, mas cúmplices: o camelo neste deserto, o desertor de todas as guerras que não forem a nossa, o fora da lei do presídio nacional e internacional, o homem de coração nesta sacristia, em qualquer parte do mundo ou da eternidade, o irmão do mesmo sangue e do mesmo espírito. Nós, apenas nós, os dos vinte anos, temos direito à revolta. revolta que não é, com certeza, a do político, disto, daquilo ou daquiloutro; revolta que não é revolta com isto mas conformismo com aquilo, que não é crítica aqui e apologia acolá; revolta que vale por três porque é contra três estados de coisas - nacional, capitalista e humanista. Nós, apenas nós, os dos vinte anos, podemos dizer: estamos na luta, mas não estamos na lua: e isto em todas as línguas, em todas as latitudes, em todas as políticas. Não vamos reformar coisa nenhuma, porque não somos reformistas. O reformista reforma, o revoltado revolta-se. Nós, os que não somos profissionais da história, nada temos a reformar: nem pátrias, nem europas, nem ocidentes. Apenas subverter.
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# Para a história de uma estranha perestroika
# Para o Dia do Juízo Final
# Diário de um Vencido incurável
# Crónica de uma Resistência Crónica
# Crónica dos Anos Sombrios
# Diário do Gulag
# Forum dos Aflitos: Queixas de um pequeno-burguês
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eu-ana-4

O BOCEJO NACIONAL - ESSE SUICÍDIO QUE É SER ANARQUISTA - DEUS PERDOE AOS DONOS DO PODER

30/Dezembro/1989 - O poder tem medo. Tem medo das abstenções. Tem medo do desinteresse e do bocejo. O poder tem medo que se saiba: o povo está farto do poder.
Por isso o poder obriga, multa, constrange. Por isso faz de uma festa cívica - o recenseamento - um acto drástico. Por isso torna um direito - o direito de votar - num dever coercivo.
«Hão-de pagar multa que se lixam...»
O mínimo de inteligência crítica é assim incompatível com a política.
A política é, de facto, o grande campo onde se torna obrigatório aceitar jogos que repugnam ao mínimo de consciência moral e de lucidez mental.
É o reino deles. Mas eles sentem-se sós e querem o rebanho lá. Por isso obrigam o rebanho, sob pena de pagar multa. Multa-se o rebanho para o obrigar a ser rebanho.
Delito em Mediocracia é ter personalidade. Há que pagar multa por não ser medíocre.
Que lindas são as tiranias da liberdade. Que lindos os direitos do homem transformados em obrigações. Que lindas demagogias e que lindo funeral é tudo isto a que chamam entrada no Mercado dos Nove. Mais que mercado, feira. 
Ser anarquista não resolve nada - dizem os desanarquistas. Mas foi a incurável aberração dos políticos profissionais - vejo agora bem - que empurrou milhares de pessoas para esse beco, para esse suicídio que é ser anarquista. É-se anarquista por não poder mais suportar os poderosos.

Pobres deles a quem foi distribuído tão triste papel neste triste palco da vida. Que Deus lhes perdoe. E só Deus sabe como um anarquista acredita em Deus.
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Responsáveis não respondem
Responsável é, por etimologia, o que responde. Ou devia ser.
Em Portugal,  o responsável, regra geral, não responde. Mudo e quedo, só no palco dos grandes momentos solenes, bota palavra, desinibe o pio. Pergunta mais indiscreta ou mais directa que vá das populações até lá - ao trono - leva «sopa».
Vamos, por isso, nesta profissão bisbilhoteira de perguntar como é, para contar como foi, coleccionando «perguntas que ficaram sem resposta». Já fazem lista, nos nosso arquivos implacáveis. Sem que os responsáveis acusem o toque ou, como seria obrigação, respondam.
Deixo algumas interrogações enviadas para as estrelas (na esperança de que sejam os extra-terrestres a responder), deste tonto Planeta Terra e já que por aqui os responsáveis são, solene e silenciosamente, irresponsáveis.
(Ver «Perguntas ao Poder» ).
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Começou a época da caça. Os «caçadores» são a imagem do heroísmo português. E os acidentes de inocentes crianças com armas de fogo dos caçadores, o triste fado do nosso triste fado de cada dia.
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A neutral objectividade do noticiarista.
Mais uma rapariga de 14 anos colhida na Linha do Estoril, desta vez na passagem de nível de Santo Amaro de Oeiras.
Mais um facto banal, de rotina, que o jornalista deve noticiar seca e objectivamente, sem fazer comentário nem literatura. A morte, para o jornalista, é a vida dele de cada dia.
É a rotina. E quanto não lhe agradecem os outros  tão profícua e obediente objectividade? Manuais progressistas do jornalismo a ensinam. Está, a letras de oiro, no livro de estilo da ANOP. Tomar partido, é só para quem tenha partido. Tomar partido pela consciência é fazer literatura, é sectarizar a notícia, é imiscuir opinião nos factos.
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A morte nas passagens de nível deixou de ser escândalo. Providencialmente já conquistou o estatuto de rotina, para isso ajudou o noticiarista a que chamam jornalista. A morte continua, nas passagens de nível e nem só, mas se não fosse a morte diária do que iríamos viver?
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Banalizemos a morte
Continuam a desaparecer crianças de Portugal e um conhecido semanário foi sensacional a descrever pormenores de tão inocente tráfico.
Mas os raptos continuam e o Poder, inocente, lava como Pilatos as suas mãos. E quando um facto deixa de ser sensacional, deixa de ser manchete, entra na rotina.
O rapto de crianças portuguesas exportadas para o Estrangeiro está a tornar-se rotina.

Do escândalo à rotina: banalizemos a morte!
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DIÁRIO POLÍTICO

Lisboa, 25/6/1992 -
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