ORDER BOOK

*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-03-31

NIGREDO 1993

10975 caracteres daa-3- Diário de um Aprendiz


1/Abril/1993


PIÈGES E TENTAÇÕES DE MAGA

2
E aí começou a grande prova. Primeiro, deixei-me embalar pelas sereias das boas intenções: «Se sair o prémio , o que a gente vai poder fazer de bem, aos outros ... e a nós, os sonhos que vamos poder realizar, enfim, que brutal mudança vai haver nas nossas vidas»
Ora era esta brutal mudança que, no dia seguinte, quarta-feira, já começava em mim a constituir matéria de reflexão obsessiva: tem alguém o direito de deixar que alguém ou alguma coisa altere de forma brutal o seu destino ou o destino seja de quem for? O que se pode esconder atrás disto? Que forças estão a propor-me esta prova, prova que pode ser uma cilada?
3
A Patricia estava exactamente falando, nas cassetes que eu estava ouvindo, nas «pièges» de uma muito grande subtileza. Esta, para já, podia ser uma «piège» de grande subtileza.
E depois, quem sabe? Não seria uma cilada para me meter a alma no inferno? Não seria uma nova versão da história do Fausto que vendeu a alma ao Diabo? Mas também não era certo que, caso ganhássemos esse dinheiro, eu podia dedicar-me em full time à Radiestesia, que é o meu sonho?  E que eu próprio me podia libertar do campo de concentração de Cabo Ruivo onde estou aprisionado?
Mas novas questões se começaram a pôr: e se em vez de «forças do Bem» - para que eu pusesse o dinheiro a render ao serviço do Bem... - fossem apenas forças «negras» para me cortar, definitiva e irremediavelmente, o acesso ao Espírito? A verdade é que eu estava trabalhando as letras e as letras derivam directamente do ADN vibratório, e o que eu tinha feito, a princípio como um jogo, acabaria por ser uma infiltração muito subtil no ADN e portanto no meu trabalho com as letras.
Enfim, perguntava-me eu já no terceio dia de aflição: onde é que eu estou metido? Como é que eu vou impedir este processo de se consumar? Felizmente, a filha  ainda não tinha entregado o Totoloto, pois o prazo é até sexta-feira e ela gosta de guardar tudo para a última hora. Desta vez, foi benéfico...esse seu hábito.
E tratava-se agora de, sem a magoar, a desconvencer de levar o processo por diante. É que, inclusive, eu já a avisara de que ela teria de guardar segredo de todo o processo e, caso ganhasse, que nunca viria a revelar o processo como tinha conseguido os números.
Outro pensamento meteórico me assustou: e se ela vai a caminho de meter o Totoloto e lhe acontece qualquer acidente? Aqui surgiu-me mesmo pânico. Porque não é preciso estudarmos Radiestesia para sabermos, de intuição, que tudo se paga. E quer sejam as forças do Bem, quer sejam as forças do Mal, se recebemos muito é óbvio que temos também que dar muito. Lei de Causa-Efeito que a lei de ressonância vibratória não anula. E como a vida não é só matéria, quem sabe se, como o Diabo fez a Fausto, em troca de muito dinheiro não se lhe pede alma, vida, saúde ou qualquer coisa de igualmente tão precioso mesmo para uma pessoa materialmente ambiciosa e que só pensa em interesses materiais?
4
Nesta altura já estava consciente de que uma simples brincadeira se estava a transmutar, podia transmutar-se num dos maiores problemas de consciência da minha vida: fosse a mudança para o Bem, fosse a mudança para o Mal, ou fosse a mudança para as duas coisas, eu sentir-me-ia eternamente responsável de ter alterado uma série de destinos. E não precisava de ter lido nos livros de Radiestesia que ninguém pode nem deve interferir no destino de cada um, para perceber de que eu não posso nem devo interferir no destino de ninguém. ATÉ NO MEU PRÓPRIO.
Claro que, no meio destas aflições, tive de apelar para o meu guia e pedir-lhe ajuda, conselho, discernimento. Não o consegui encontrar durante sexta feira, mas como iria ao consultório dele, essa tarde, acompanhar uma pessoa de família, só nessa altura eu poderia pedir-lhe conselho.  Porque - supondo que saía premiado - é evidente que o processo se tornaria irreversível. Ninguém, no mundo, teria coragem moral de rejeitar 380 mil contos... E essa é de facto a prova das provas contidas nesta história divertida, que começa numa brincadeira inocente e quase se abeira da tragédia.
5
Neste momento, o prémio ainda não saiu (só será anunciado amanhã, sábado) mas continuo a recear que eu próprio me deixe tentar pelo mistério e pela atracção do desconhecido: quando esse desconhecido ameaça com um ganho de 380 mil contos...
Uma vez passada esta prova, veremos então: se o número for aquele, é de tal modo preciosa a lição que valeu a pena perder os 380 mil contos; se não sair, também não será isso que diminuirá a verdade da Radiestesia: antes pelo contrário, só prova de que, se a fonte da acção é MAGA, o resultado só pode ser MAGA. Creio poder perceber, por parte do Cosmos, uma certa neutralidade em relação ao livre arbítrio das pessoas.
Porque o principal protagonista desta história continua a ser o que se guarda, o que se oculta atrás de um acontecimento: e porque é que a vida - especialmente a vida do Espírito - é um mistério. O mistério, neste caso concreto, consistiria em nunca ninguém saber, caso o Número saísse premiado, o que é que vinha atrás disso e que série de acontecimentos - ao nível MAGA - se sucederiam. Seria abrir a Caixa de Pandora.
Lembro aqui uma queixa muito comum em pessoas totalmente dominadas por MAGA: «Não tenho tido sorte nenhuma». Pois é: mas o «ter sorte» pode ser não ter sorte e o ter sorte pode ser o não ter sorte...
Nesse dia, depois de o meu guia, entre fortes risadas, me dizer: «Olha do que tu te livraste», logo a seguir me diz que eu poderia ir trabalhar com ele para o seu consultório novo. Acontece que este seria um dos meus mais gratos sonhos... Posso agora ler a história ao contrário e deduzir que foi tudo uma cilada, foi tudo uma armadilha, foi tudo uma prova de exame. E que durante três dias julguei passar o limiar da loucura. Ele contou-me que lhe sucedera uma idêntica e que teve de resolver tudo sózinho. Eu afinal encontrara uma ajuda e aí sim, devo pensar com gratidão nas forças do Bem que me ajudaram a discernir as tentações do MAL e do MAGA. As ciladas. As provações.
6
Difícil de dizer e difícil de aceitar é o problema da gratidão cósmica. Por mais que nos sintamos «infelizes» e «pobres», temos de compreender aquilo que, apesar de tudo, somos «protegidos» dos deuses e que devemos estar gratos. É natural que ela queira ajudar a tirar a mãe de um emprego onde a vê sofrer. Mas é necessário que ela veja, por exemplo, que toda a gente que trabalhe, afinal, sofre de uma maneira ou de outra, e que veja também como a Radiestesia a tem ajudado, as tem ajudado, no aspecto de saúde. A posição correcta, face ao Cosmos, não é pedir sempre mais do que já estamos recebendo, queixando-nos de ter tão pouco, mas reconhecermos que podíamos ter ainda menos. Ou seja: é bom não fazermos nada, no Trabalho com o Pêndulo, que não venha retirar-nos a protecção que ele nos dá. Protecção que raramente reconhecemos, por ser tão subtil e profunda, mas em relação à qual é nossa obrigação moral estarmos gratos. Por pior que seja o nosso destino, é o nosso e não devemos querer modificá-lo sem pedir nada em troca. Em vez de nos carpirmos pelos cantos, dizendo «não tenho sorte nenhuma», «que infeliz que eu sou», é melhor que digamos, agradecidos: «Saiu-me a grande taluda quando encontrei a Radiestesia». Porque, tarde ou cedo, iremos ver que ela foi a grande taluda e a maior riqueza que nos poderia ter acontecido. Que nos poderá ajudar a ter êxito material na vida mas que não podemos trocar, num pacto com o Diabo, por qualquer riqueza material.
7
À filha , que começou este jogo, tenho de explicar que o poder do pêndulo deverá ser posto ao serviço dos seres humanos e nunca ao serviço do egoísmo particular de uma só pessoa, por mais legítimas que aparentemente sejam as suas aspirações e ambições. Terei de explicar que o mundo das compensações materiais só faz sentido se, ao mesmo tempo, não perdermos o Espírito e não metermos a Alma no Inferno. A ordem deverá ser outra: fazer com que a nossa vida na terra melhore materialmente, é justo, é lícito, mas essa melhoria não deverá jamais desligar-se da «vida eterna». Não posso, com a vida que levo neste mundo, atrasar a minha, a nossa evolução no outro. A isso chamaria «pecado mortal». É justo, com o método do Pêndulo, ajudar ao nosso aperfeiçoamento interior e dos outros. Se com isso ganharmos dinheiro, então sim: mas nunca o inverso, deixarmo-nos aprisionar espiritualmente por uma quantidade de dinheiro que vá alterar brutalmente o nosso destino e, portanto, a nossa evolução na outra vida. Muito dinheiro aprisiona, pouquíssiomo dinheiro aprisiona também. Talvez os que estejam no meio termo, nem muito-muito nem muito pouco, devam congratular-se com isso.
***