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2006-03-31

NIILISMO 1971

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NEM TUDO É NIILISMO (PARA UM MANIFESTO DA CONTRA-CULTURA)

1-4-1971 - Niilistas somos nós todos, ou ainda menos, e o termo niilismo ajuda pouco a esclarecer.
No fundo, e apesar de toda a (nossa) revolta radical, continuamos nisto e a verdade é que, quem distingue, sabe muito bem distinguir a Abjecção do que não é: apesar da hipertrofia monstruosa da Porcaria, muita coisa bela se lhe opõe.
Para já, todas as culturas que estão fora da órbita europeia, dos aztecas aos egípcios, dos chineses aos indianos, dos persas aos índios, da Índia à Ásia.
Depois, os profetas de algumas religiões, de Buda a Lao Tse.
Depois, os que, embora dentro do Sistema, fizeram tudo para o dinamitar: mestre Eckardt, Sade, Genet, Guénon, Henry Miller, Chestov, Daumal, Baudelaire, Rimbaud, Breton, Freud, etc.
Depois, as seitas iniciáticas que, em nome da religião, foram mergulhadas na sombra e chamadas então "ocultistas" pelos espertalhões que as ocultaram.
Depois, as próprias ciências para-científicas: parapsicologia, física atómica, psicanálise, etc., que meteram a bomba-relógio no sistema e marcaram a hora do apocalipse e esperaram.
Depois, as próprias ciências humanas que, avançando no terreno maldito que são as outras culturas além da ocidental, se viram enredadas numa contradição que ainda estão a deglutir e continuarão, sob o nome de estruturalismo ou arredores.
Depois, os visionários William Blake (dito também místico, para suscitar rancores dos ateus), Bosch, Malangatana, Charles Fort, Jorge Luís Borges, Teilhard de Chardin.
Depois, os profetistas (Nostradamus, Bandarra).
Depois, as minorias activistas: a criança, o louco, o homossexual, o doente, o criminoso, o ladrão, minorias rácicas, minorias sexuais, minorias psico-patológicas, todo o lumpen que exerce resistência passiva contra as estruturas que o vomitam.
Depois, as novas civilizações que se anunciam - extintas(?) há séculos ou em outras Galáxias.
Depois, os funcionários que, apesar do Sistema e ao serviço dele, o criticam: Edgar Morin, Garaudy, Sartre, Aldous Huxley, Henri Lefèbvre, Georges Gurvitch, António José Saraiva.
Quer dizer: não parece pouco o que ainda vale a pena amar-se e para contrariar a onda de Porcaria que avança sobre nós.
O sistema passará, todos os profetas falaram de Apocalipse, ele está a dar-se, e depois será a entrada na Era do Aquário em que o Universo - e não esta coelheira mal cheirosa chamada Europa, chamada civilização - será a nossa verdadeira Pátria.
O desgosto, o niilismo, é apenas o do "contemporâneo do futuro" e a sua impaciência. São as dores de um parto cósmico. São os sintomas de uma transição.
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