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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-03-30

J.ELKINGTON 1991

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31-3-1991

MECENATO PRÓ-AMBIENTALISTA - CAPITALISTAS VERDES ESTÃO A CHEGAR

Os «capitalistas verdes» estão a chegar até nós, trazidos pela mão do britânico John Elkington(*), mas também, como é natural e fisiológico, atraídos pelo cheiro da poluição. Como dizia, profeticamente, um nosso efémero ministro, Eng. Nobre da Costa, o cheiro a celuloses, por exemplo, é o cheiro a dinheiro, de que as populações tanto gostam, até porque significa «postos de trabalho».
Mas como já no princípio da década de 70 fora profetizado por Michel Bosquet/André Gorz (um fundamentalista do ecologismo político que trabalhou muitos anos em «Le Nouvel Observateur», quando este ainda era genuinamente pró-socialista), a antipoluição seria a indústria do século XXI, e, para que ela prosperasse, nada melhor do que poluir cada vez mais e melhor. Por cada maré negra no Golfo, uma nova indústria nasce e prospera no horizonte.
Tudo tem sido feito, portanto, nesse sentido, durante estas duas décadas, com particular carinho e atenção, pelas respectivas indústrias que se preparam para a grande reconversão do próximo milénio. Negócio a que os fundamentalistas da ecologia chamam perversão. Ainda o último número da renovada revista «Scala», que traduz, em língua portuguesa, as notícias da Alemanha agora unificada, dedicava várias páginas coloridas ao tema: «A Ecologia pode dar lucros» era o título.
E embora isto já se soubesse desde 1969, quando o mensário «Le Monde Diplomatique» dedicou à poluição um número em exclusivo, vinte anos bastaram para que se passasse da teoria à prática. E só os puristas do realismo ecológico -- uma espécie em vias de extinção -- acham perverso que sejam hoje os maiores poluidores aqueles que mais fortemente estão apostando não só nas indústrias despoluentes -- onde ganham por dois carrinhos -- mas, até, nas próprias energias infinitas e limpas como é o caso da energia solar, na qual uma famosa multinacional petrolífera(óbvio) tem investido grandemente. Não vejo onde esteja nisto qualquer perversão, antes pelo contrário: a lógica do lucro é a lógica capaz de desafiar todas as lógicas aristotélicas do mundo.

WELCOME JOHN ELKINGTON

Justifica-se, portanto, o livro do inglês John Elkington, cuja primeira edição apareceu em Londres, em 1987. Graças ao Círculo de Leitores e à sua preciosa colecção em defesa do ambiente, temos agora em língua portuguesa, com revisão técnica do Dr. Nuno Galopim, o panorama completo sobre o que a grande indústria está a realizar, neste momento, em todo o lado onde há progresso (quer dizer, poluição) para defender o ambiente e preservar as espécies.
Abespinham-se os radicais livres, os fundamentalistas do ecoanarquismo e do ecocomunismo, hoje defuntos, com esta recuperação que a indústria faz de si própria e de que a expressão «produtos de substituição» passasse a ser palavra de ordem e motor do neocapitalismo galopante.
Chamam perversidade ao mecenato cultural e próambientalista. Repare-se, por exemplo, que os cientistas só descobriram o buraco do ozono na estratosfera, quando a senhora Thatcher declarou urbi et orbi que a indústria já estava preparada para lançar o produto de substituição dos célebres clorofluorcarbonetos.
Uma empresa com um olho no presente e outro no futuro tem agora uma forma estupenda de melhorar a imagem de marca através dos produtos «verdes» que lançar ou apoiar, solucionando o grande problema que pode eventualmente ser a saturação do mercado com determinada linha de produtos. Que melhor pretexto para a reconversão do que a defesa do ambiente? Uma grande multinacional de computadores, por exemplo, lançou milhares de monitores com ecrãs prejudiciais às grávidas. Anos após, estava lançando uma nova linha de ordenadores sob o grito de guerra «estes ecrãs não afectam grávidas», seja de que sexo forem.

E VAI DAÍ?

Isto que já foi entendido a nível do neocapitalismo vicejante, esperemos que o seja também entre nós, onde a social-democracia, enquanto ideologia reformista do ambiente, continua a deixar o lugar vago para quem o quiser ocupar (atenção PPM).
Toda a gente sabe que a social-democracia foi, exactamente, a política inventada para salvar in extremis o capitalismo, propincuando a sua reconversão pacífica através do proteccionismo ambientalista e de uns alegados direitos ecológicos do consumidor. Assim fez, profeta que foi, o primeiro-ministro Sá Carneiro.
Carlos Pimenta creio que é agora, entre os vivos, o único a compreendê-lo, mas ficou sozinho e abandonado, no Parlamento europeu, lutando contra os moinhos de vento das hormonas no gado, sem que ninguém, em Lisboa, lhe pegasse nas hormonas que, está bem de ver, incutem à política uma inesperada fertilidade.
Lendo agora, no livro de John Elkington, os magníficos exemplos de mecenato pró-ambientalista em que as empresas estão a apostar, nomeadamente se entraram em período de recessão, é provável que se comecem a abrir os olhos socialistas dos sociais-democratas e os olhos sociais- democratas dos socialistas, em matéria de ambiente. Acordem, rapazes. A madrugada já vai alta por essa Europa fora.
Quem irá empalmar o movimento ecológico, perguntava em 1976 um franco-atirador do dito.
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(*) John Elkington e Tom Burke -- «Os Capitalistas Verdes» -- Ed. Círculo de Leitores
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