SOFÍSTICA 1976
76-04-01-ie> terça-feira, 19 de Novembro de 2002 – scan
PARTIDOS E PILRITEIROS (*)
1-4-1976 - Vergonhosa se pode considerar a posição dos partidos, ora burgueses, ora de esquerda dita revolucionária, quanto ao terror tecnoburocrático, quanto ao crime tecnofas-cista, quanto ao discurso tecno-sofístico.
Igualmente vergonhosa é a estratégia dos partidos quanto às lutas e reivindica-ções populares na frente ecológica. Quando não as abafam, desviam-nas e, quando não a-s desviam nem abafam, instrumentalizam-nas para serviço partidário próprio.
Se se trata de um movimento popular espontâneo – resposta a uma agressão - e se não podem suprimi-lo à nascença, a táctica consiste então, e depois, em anexar como iniciativa de partido aquilo que é de iniciativa popular contra o tecnofascismo.
Enquanto os partidos não apresentarem, no seu miserável programa, uma alínea onde se defina a linha estratégica para uma luta ecológica consequente, não têm moral nem direito de anexar as conquistas e lutas populares nesse campo, quando elas surgem nesse campo.
E surgem, apesar de todos os partidos terem decretado, a priori, que a "ecologia é reaccionária" ou que "não há problemas ecológicos em Portugal" ou, ainda, de que a "questão ecológica não é de forma alguma (sic) prioritária", etc., etc.
Enquanto os partidos políticos se mantiverem na fase de proclamarem estas e outras "leis" por eles inventadas, escusam de se fazer ao piso quando são exacta-mente problemas ecológicos a conclamar as reclamações populares e a mobilizar a sua unidade revolucionária.
Vergonhosa tem sido - e como tal a denunciamos - a actuação dos partidos nestas matérias, pela ignorância, pela demagogia, pelo oportunismo e pela vileza.
Pilriteiro que dá pilritos, porém, a mais será obrigado?...
ELES COMEÇAM A SENSIBILIZAR-SE POR VIA DA CLOROFILA...
Para os partidos e sua "moral" tão fortemente utilitária, tão americanamente pragmática, quando a luta (ecológica) de classes visa a qualidade de vida, a conquista de um espaço habitável, a saúde, a segurança, o silêncio, a paisagem e a tranquilidade, o recreio e o divertimento, tudo isso é "platónico", "estético", "gratuito", não imediatamente útil e, portanto, nada disso é prioritário lá na (terminologia) deles.
Quando são surpreendidos, porém, pelas factos, e quando sucede que as popula-ções também se mostram sensíveis à sensibilidade, à beleza, ao silêncio, ao gratuito, ao poético, ao afectivo, à vida e à qualidade, eis que os partidos, à pressa, muito à pressa tentam enquadrar as comissões de moradores na sua acção revolucionária por um ambiente ou habitat globalmente habitável,
Lixo (recolha, selecção, reciclagem) parece sempre e por exemplo, para o tal pragmatismo partidário, um luxo.
Tanto mais que eles - partidos - , quer pelo mau hálito que exalam, quer pelos cartazes diarreicamente produzidos e colados, quer pelas folhas volantes que deitam à calçada e as enxurradas piedosamente levam - são hoje um dos principais fabricantes - desse mesmo lixo.
Convém, portanto, desviar as massas trabalhadoras deste supérfluo.
No entanto, já é mais fácil ao partido dar amen à comissão de moradores que luta por espaços verdes, demagogia clorofilica que ainda é das poucas a suscita-r a ampla compreensão dos partidos "revolucionários", até porque é com espaços veres e outros sofismas congéneres que se vai adiando a revolução urbana , a descentralização que ela implica e todo o plano autogestionário que dela advém.
BOJARDA À PORTUGUESA - TEMOS OU NÃO TEMOS PROBLEMAS DE AMBIENTE?
Para amortecer a consciência ecológica da classe explorada, enquanto detonador da consciência de classe - a burguesia serve-se constantemente dos seus mitos e mitólogos, mas principalmente serve-se do Ambiente, dos ideólogos oficiais do Ambiente, dos políticos profissionais do Ambiente, dos organismos internacionais do Ambiente para anestesiar, com informação corrompida, viciada, intoxicada, o desabrochar revolucionário da consciência ecológica...
Data de 1970 a Conferência Europeia para a Conservação da Natureza, realizada para reforçar uma opinião muito corrente entre os ambientologistas afectos ao sistema, opinião mais ou menos expressa nestes termos:
" Portugal, dados o baixo índice de industrialização e o atraso na agricultura (menos pesticidas e adubos) tem dos índices de poluição mais baixos da Europa e a existência entre nós de uma Secretaria de Estado do Am-biente prova que o Governo reconhece a importância do problema: muito depende agora da atitude individual.
" Se todos colaborarem, integrando-se em comissões de moradores, autarquias e grupos sócio-culturais, e empenhando-se na tarefa de sobrevivên-cia que é a conservação dos recursos naturais, estamos na situação invejável de poder evitar erros cometidos por países mais desenvolvidos, e assim cons-truir um Portugal mais saudável." (In jornal " A Nossa Terra", 15/Maio/1975)
Serve este tipo de discurso para dar uma no cravo e trinta na ferradura. É o que se chama um chorrilho de sofismas, de mentiras, de falsos dilemas.
Serve este tipo de discurso para nos convencer de que o caminho é seguir os mais avançados, os que têm maiores índices de poluição, embora corrigindo (sic) alguns excessos.
Nada disto, porém, tem nada a ver com o problema ecológico português e é bom que
se diga isso de uma vez para sempre.
- - - -
(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter sido publicado, talvez na data indicada, no jornal «Frente Ecológica» (Paço de Arcos). Ou num dos opúsculos edição da «Frente Ecológica»
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PARTIDOS E PILRITEIROS (*)
1-4-1976 - Vergonhosa se pode considerar a posição dos partidos, ora burgueses, ora de esquerda dita revolucionária, quanto ao terror tecnoburocrático, quanto ao crime tecnofas-cista, quanto ao discurso tecno-sofístico.
Igualmente vergonhosa é a estratégia dos partidos quanto às lutas e reivindica-ções populares na frente ecológica. Quando não as abafam, desviam-nas e, quando não a-s desviam nem abafam, instrumentalizam-nas para serviço partidário próprio.
Se se trata de um movimento popular espontâneo – resposta a uma agressão - e se não podem suprimi-lo à nascença, a táctica consiste então, e depois, em anexar como iniciativa de partido aquilo que é de iniciativa popular contra o tecnofascismo.
Enquanto os partidos não apresentarem, no seu miserável programa, uma alínea onde se defina a linha estratégica para uma luta ecológica consequente, não têm moral nem direito de anexar as conquistas e lutas populares nesse campo, quando elas surgem nesse campo.
E surgem, apesar de todos os partidos terem decretado, a priori, que a "ecologia é reaccionária" ou que "não há problemas ecológicos em Portugal" ou, ainda, de que a "questão ecológica não é de forma alguma (sic) prioritária", etc., etc.
Enquanto os partidos políticos se mantiverem na fase de proclamarem estas e outras "leis" por eles inventadas, escusam de se fazer ao piso quando são exacta-mente problemas ecológicos a conclamar as reclamações populares e a mobilizar a sua unidade revolucionária.
Vergonhosa tem sido - e como tal a denunciamos - a actuação dos partidos nestas matérias, pela ignorância, pela demagogia, pelo oportunismo e pela vileza.
Pilriteiro que dá pilritos, porém, a mais será obrigado?...
ELES COMEÇAM A SENSIBILIZAR-SE POR VIA DA CLOROFILA...
Para os partidos e sua "moral" tão fortemente utilitária, tão americanamente pragmática, quando a luta (ecológica) de classes visa a qualidade de vida, a conquista de um espaço habitável, a saúde, a segurança, o silêncio, a paisagem e a tranquilidade, o recreio e o divertimento, tudo isso é "platónico", "estético", "gratuito", não imediatamente útil e, portanto, nada disso é prioritário lá na (terminologia) deles.
Quando são surpreendidos, porém, pelas factos, e quando sucede que as popula-ções também se mostram sensíveis à sensibilidade, à beleza, ao silêncio, ao gratuito, ao poético, ao afectivo, à vida e à qualidade, eis que os partidos, à pressa, muito à pressa tentam enquadrar as comissões de moradores na sua acção revolucionária por um ambiente ou habitat globalmente habitável,
Lixo (recolha, selecção, reciclagem) parece sempre e por exemplo, para o tal pragmatismo partidário, um luxo.
Tanto mais que eles - partidos - , quer pelo mau hálito que exalam, quer pelos cartazes diarreicamente produzidos e colados, quer pelas folhas volantes que deitam à calçada e as enxurradas piedosamente levam - são hoje um dos principais fabricantes - desse mesmo lixo.
Convém, portanto, desviar as massas trabalhadoras deste supérfluo.
No entanto, já é mais fácil ao partido dar amen à comissão de moradores que luta por espaços verdes, demagogia clorofilica que ainda é das poucas a suscita-r a ampla compreensão dos partidos "revolucionários", até porque é com espaços veres e outros sofismas congéneres que se vai adiando a revolução urbana , a descentralização que ela implica e todo o plano autogestionário que dela advém.
BOJARDA À PORTUGUESA - TEMOS OU NÃO TEMOS PROBLEMAS DE AMBIENTE?
Para amortecer a consciência ecológica da classe explorada, enquanto detonador da consciência de classe - a burguesia serve-se constantemente dos seus mitos e mitólogos, mas principalmente serve-se do Ambiente, dos ideólogos oficiais do Ambiente, dos políticos profissionais do Ambiente, dos organismos internacionais do Ambiente para anestesiar, com informação corrompida, viciada, intoxicada, o desabrochar revolucionário da consciência ecológica...
Data de 1970 a Conferência Europeia para a Conservação da Natureza, realizada para reforçar uma opinião muito corrente entre os ambientologistas afectos ao sistema, opinião mais ou menos expressa nestes termos:
" Portugal, dados o baixo índice de industrialização e o atraso na agricultura (menos pesticidas e adubos) tem dos índices de poluição mais baixos da Europa e a existência entre nós de uma Secretaria de Estado do Am-biente prova que o Governo reconhece a importância do problema: muito depende agora da atitude individual.
" Se todos colaborarem, integrando-se em comissões de moradores, autarquias e grupos sócio-culturais, e empenhando-se na tarefa de sobrevivên-cia que é a conservação dos recursos naturais, estamos na situação invejável de poder evitar erros cometidos por países mais desenvolvidos, e assim cons-truir um Portugal mais saudável." (In jornal " A Nossa Terra", 15/Maio/1975)
Serve este tipo de discurso para dar uma no cravo e trinta na ferradura. É o que se chama um chorrilho de sofismas, de mentiras, de falsos dilemas.
Serve este tipo de discurso para nos convencer de que o caminho é seguir os mais avançados, os que têm maiores índices de poluição, embora corrigindo (sic) alguns excessos.
Nada disto, porém, tem nada a ver com o problema ecológico português e é bom que
se diga isso de uma vez para sempre.
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter sido publicado, talvez na data indicada, no jornal «Frente Ecológica» (Paço de Arcos). Ou num dos opúsculos edição da «Frente Ecológica»
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