PROGRESSO 1990
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-ct de hernâni lopes, ministro das finanças - ecologia na perspectiva do realismo
A METÁFORA DA DOENÇA NA LEITURA ECOLÓGICA DA REALIDADE SOCIAL - O PROGRESSO DO CANCRO
+ 3 PONTOS
21/9/1990 - Entendida a sociedade como um corpo orgânico e os «males sociais» como doenças desse corpo, abre-se um método de diagnóstico social que tem provado, na perspectiva do realismo ecológico, uma interessante fecundidade.
Mau grado os que possam ver nesse método reminiscências de um organicismo que, segundo eles, fez época e está ultrapassado, mau grado a aparente falta de rigor que uma metáfora pode conter, a verdade é que, na prática, a «metáfora predilecta» - crise como doença e doenças como sintoma dela - se tem mostrado, além de útil, de grande rigor.
Se o sintoma nos leva até às causas, a démarche é científica. Isolar o sintoma e combatê-lo como tal, a jusante, é anticientífico, pouco progressista e nada revolucionário.
Se a poluição, o desemprego, a inflação, o terrorismo, a desabitação, o cancro, o bairro da lata, o hospital, a delinquência, a criminalidade, o suicídio, a droga, o alcoolismo, [todos os indicadores, enfim, contidos na lista elaborada e publicada pela «Frente Ecológica» ] nos servirem como aviso que são para uma leitura ecológica da realidade, quer dizer, se nos remeterem, enquanto sintomas às causas que os provocam, o diagnóstico da doença está certo e é possível.
É provável que a terapêutica resulte certa também.
[Aliás o discurso oficial usa parcialmente a mesma nomenclatura, visto que fala em diagnóstico e terapêutica. O Ministro das Finanças do IX Governo, Ernâni Lopes, largamente tem glosado o tema das terapêuticas leves, de choque, radicais ou mesmo sintomáticas...]
II
A questão política é evidentemente uma questão de diagnóstico. E o que distingue uma ecopolítica de uma política tout court, à Esquerda, à Direita ou ao Centro, é que uma leitura ecológica teima em ir às raízes, ainda que saiba nem sempre poder aplicar uma terapêutica causal ou radical.
Se incluirmos o tabagismo, por exemplo, na lista dos sintomas, consequências, avisos ou indicadores, não só se corrige a relativa hipertrofia que tem sido dada, por uma certa retórica-propaganda pseudomoralista e predicante, a esse sintoma entre outros -polarizando na luta antitabágica as energias que podiam aplicar-se em lutas bem mais incómodas para o sistema - como se notará melhor a atrofia que outros sintomas, bem graves, sofrem junto da opinião pública.
Como acontece com todos os consumos provocantes - e é nesta categoria que o tabaco deve ser lido, interpretado, diagnosticado, compreendido -, muito mais que a vontade ou deliberação do consumidor, são as leis do mercado o que está em causa, o modo como esse produto é consumido e as modas que o determinam.
Cada produto ou consumo provocante é acompanhado por toda uma mitologia de felicidade paradisíaca, o que a propaganda e a publicidade naturalmente executam com «marketing» e «savoir faire».
III
O «novo» e a «moda» são os mitos, os motores míticos que conduzem o cidadão a consumir tudo o que o mercado lhe vende.
Se desses consumos resultam doenças (doenças do consumo são outros tantos indicadores do estado geral do sistema) é muito possível que a propaganda acabe por demonstrar que essas doenças são saúde ou, na variante, que essas doenças são o «preço a pagar» pelos paraísos artificiais e até, in extremis, que determinadas doenças, exactamente porque exigem consumos caros específicos da classe rica, se poderão exibir em sociedade como um sinal de status.
Daí que a moral da quantidade abranja também a própria doença, as próprias doenças provocadas por consumos: mais, mais, mais, é sempre para o sistema um sinal de progresso. Mais doença sê-lo-á também, ou mais armas, mais bombas, mais centrais nucleares, mais desastres, mais catástrofes, mais acidentes rodoviários.
Como Philippe Saint Marc notou, os desastres rodoviários são considerados pela engrenagem logarítmica um «progresso» porque aumentam o produto nacional bruto e tudo o que aumente o produto nacional bruto, na perspectiva desenvolvimentista e na visão estritamente economicista, é progresso. Até hoje, os adeptos do PNB como critério de progresso, ainda não responderam satisfatoriamente a esta questão. Ou seja: se devem ou não sentir-se orgulhosos do progresso que representa o cancro e todas as doenças da civilização.
Progresso é progresso. E coerência deve ser coerência.
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-ct de hernâni lopes, ministro das finanças - ecologia na perspectiva do realismo
A METÁFORA DA DOENÇA NA LEITURA ECOLÓGICA DA REALIDADE SOCIAL - O PROGRESSO DO CANCRO
+ 3 PONTOS
21/9/1990 - Entendida a sociedade como um corpo orgânico e os «males sociais» como doenças desse corpo, abre-se um método de diagnóstico social que tem provado, na perspectiva do realismo ecológico, uma interessante fecundidade.
Mau grado os que possam ver nesse método reminiscências de um organicismo que, segundo eles, fez época e está ultrapassado, mau grado a aparente falta de rigor que uma metáfora pode conter, a verdade é que, na prática, a «metáfora predilecta» - crise como doença e doenças como sintoma dela - se tem mostrado, além de útil, de grande rigor.
Se o sintoma nos leva até às causas, a démarche é científica. Isolar o sintoma e combatê-lo como tal, a jusante, é anticientífico, pouco progressista e nada revolucionário.
Se a poluição, o desemprego, a inflação, o terrorismo, a desabitação, o cancro, o bairro da lata, o hospital, a delinquência, a criminalidade, o suicídio, a droga, o alcoolismo, [todos os indicadores, enfim, contidos na lista elaborada e publicada pela «Frente Ecológica» ] nos servirem como aviso que são para uma leitura ecológica da realidade, quer dizer, se nos remeterem, enquanto sintomas às causas que os provocam, o diagnóstico da doença está certo e é possível.
É provável que a terapêutica resulte certa também.
[Aliás o discurso oficial usa parcialmente a mesma nomenclatura, visto que fala em diagnóstico e terapêutica. O Ministro das Finanças do IX Governo, Ernâni Lopes, largamente tem glosado o tema das terapêuticas leves, de choque, radicais ou mesmo sintomáticas...]
II
A questão política é evidentemente uma questão de diagnóstico. E o que distingue uma ecopolítica de uma política tout court, à Esquerda, à Direita ou ao Centro, é que uma leitura ecológica teima em ir às raízes, ainda que saiba nem sempre poder aplicar uma terapêutica causal ou radical.
Se incluirmos o tabagismo, por exemplo, na lista dos sintomas, consequências, avisos ou indicadores, não só se corrige a relativa hipertrofia que tem sido dada, por uma certa retórica-propaganda pseudomoralista e predicante, a esse sintoma entre outros -polarizando na luta antitabágica as energias que podiam aplicar-se em lutas bem mais incómodas para o sistema - como se notará melhor a atrofia que outros sintomas, bem graves, sofrem junto da opinião pública.
Como acontece com todos os consumos provocantes - e é nesta categoria que o tabaco deve ser lido, interpretado, diagnosticado, compreendido -, muito mais que a vontade ou deliberação do consumidor, são as leis do mercado o que está em causa, o modo como esse produto é consumido e as modas que o determinam.
Cada produto ou consumo provocante é acompanhado por toda uma mitologia de felicidade paradisíaca, o que a propaganda e a publicidade naturalmente executam com «marketing» e «savoir faire».
III
O «novo» e a «moda» são os mitos, os motores míticos que conduzem o cidadão a consumir tudo o que o mercado lhe vende.
Se desses consumos resultam doenças (doenças do consumo são outros tantos indicadores do estado geral do sistema) é muito possível que a propaganda acabe por demonstrar que essas doenças são saúde ou, na variante, que essas doenças são o «preço a pagar» pelos paraísos artificiais e até, in extremis, que determinadas doenças, exactamente porque exigem consumos caros específicos da classe rica, se poderão exibir em sociedade como um sinal de status.
Daí que a moral da quantidade abranja também a própria doença, as próprias doenças provocadas por consumos: mais, mais, mais, é sempre para o sistema um sinal de progresso. Mais doença sê-lo-á também, ou mais armas, mais bombas, mais centrais nucleares, mais desastres, mais catástrofes, mais acidentes rodoviários.
Como Philippe Saint Marc notou, os desastres rodoviários são considerados pela engrenagem logarítmica um «progresso» porque aumentam o produto nacional bruto e tudo o que aumente o produto nacional bruto, na perspectiva desenvolvimentista e na visão estritamente economicista, é progresso. Até hoje, os adeptos do PNB como critério de progresso, ainda não responderam satisfatoriamente a esta questão. Ou seja: se devem ou não sentir-se orgulhosos do progresso que representa o cancro e todas as doenças da civilização.
Progresso é progresso. E coerência deve ser coerência.
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