POLUIÇÃO 1991
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LÁGRIMAS DE CROCODILO SOBRE A POLUIÇÃO
18/9/1991 - Lágrimas amargas são vertidas, nos países do centro e norte da Europa, por causa das chuvas ácidas que vão destruindo as florestas. «A danificação das florestas ameaça ruir lentamente as bases da indústria madeireira, que dá ocupação a 800.000 pessoas» - queixava-se um articulista, na revista «Scala», de Outubro de 1984.
Com o mesmo cinismo com que levaram uma década a fabricar as «chuvas ácidas», os mandarins da indústria mandam agora o articulista «alertar» as populações para as árvores mortas e proclamar que é preciso a ajuda dos empresários (novas indústrias), para despoluir o meio ambiente. No caso das «chuvas ácidas», o argumento da «despoluição» é duplamente cínico, pois o processo é irreversível e não há já hipótese de dar vida aos milhões de árvores mortas. Triplamente cínico é o anunciado «negócio da despoluição» relativamente ao holocausto dos incêndios de Verão em Portugal, igualmente irreversíveis, tão irreversíveis como os milhares de eucaliptos que irão ser plantados nas áreas ardidas.
As empresas salivaram de contentamento quando se anunciou que o Koweit ia ser reconstruído, após os bombardeamentos cirúrgicos aliados. As empresas salivaram de contentamento quando os jornais relembraram que a poluição está cada vez mais uma porcaria e que era preciso, era urgente despoluir. Ora não se despolui à mão. É preciso montar sistemas, aparelhos, modernos e caros, de despoluição, e isso constitui um negócio.
As empresas não salivaram quando se anunciaram as passagens aéreas em toda a linha de Sintra e de Cascais (para começar) porque quando as empresas portuguesas acordaram já o monopólio do negócio estava dado a um consórcio, vindo da CEE e estimulado por quem sabia do projecto.
As empresas ficaram menos zangadas quando, às 13 horas de 18/9/1991, o Dr. Macário Correia, mais brilhante de bochechas e com um sedutor bronzeado algarvio, veio dizer que a despoluição é o grande negócio do futuro, expressão que até hoje, dia 18/9/1991, era clandestina e já fora proferida por terroristas do ecologismo radical não reformista. O que tipifica este nosso tempo de pós-perestroika, é que o cinismo do capitalismo triunfante se exibe às claras e já não usa estratagemas. Com a derrocada dos socialismos (que nunca foram) reais (e daí a minha estranheza por ouvir designá-los de reais embora entre aspas), o capitalismo entra numa paranóia exibicionista do seu triunfalismo de merda.
Sempre que mais uma alternativa se fecha, o sistema capitalista dá urros de contentamento, refina o cinismo e dá coices de excitação. Nem é preciso que John Updike, talentoso escritor, escreva um refinado romance «S» para colocar a ridículo (e no banco dos réus) um «asharam» de esoterismo hindu. As comunidades -- de inspiração ióguica -- são um alvo privilegiado, não porque tencionem derrubar o sistema mas porque são alternativas de vida possíveis ao canibalismo capitalista, adoptando inclusive alguns dos seus defeitos. É preciso fechar portas atrás de portas e fazer com que o desespero dos felizes consumidores desemboque numa única solução: o suicídio ou a droga.
Os cientistas não podiam adivinhar -- porque não são bruxos -- quando puseram detergentes com fosfatos no mercado. E agora que o mercado está saturado de detergentes não biodegradáveis e o ambiente, coitado, geme sob toneladas de espuma --agora, sim, os cientistas previdentes e cautelosos, colocam à nossa disposição, amigos que são do Ambiente, detergentes biodegradáveis. Será que não vamos agradecer-lhes?
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LÁGRIMAS DE CROCODILO SOBRE A POLUIÇÃO
18/9/1991 - Lágrimas amargas são vertidas, nos países do centro e norte da Europa, por causa das chuvas ácidas que vão destruindo as florestas. «A danificação das florestas ameaça ruir lentamente as bases da indústria madeireira, que dá ocupação a 800.000 pessoas» - queixava-se um articulista, na revista «Scala», de Outubro de 1984.
Com o mesmo cinismo com que levaram uma década a fabricar as «chuvas ácidas», os mandarins da indústria mandam agora o articulista «alertar» as populações para as árvores mortas e proclamar que é preciso a ajuda dos empresários (novas indústrias), para despoluir o meio ambiente. No caso das «chuvas ácidas», o argumento da «despoluição» é duplamente cínico, pois o processo é irreversível e não há já hipótese de dar vida aos milhões de árvores mortas. Triplamente cínico é o anunciado «negócio da despoluição» relativamente ao holocausto dos incêndios de Verão em Portugal, igualmente irreversíveis, tão irreversíveis como os milhares de eucaliptos que irão ser plantados nas áreas ardidas.
As empresas salivaram de contentamento quando se anunciou que o Koweit ia ser reconstruído, após os bombardeamentos cirúrgicos aliados. As empresas salivaram de contentamento quando os jornais relembraram que a poluição está cada vez mais uma porcaria e que era preciso, era urgente despoluir. Ora não se despolui à mão. É preciso montar sistemas, aparelhos, modernos e caros, de despoluição, e isso constitui um negócio.
As empresas não salivaram quando se anunciaram as passagens aéreas em toda a linha de Sintra e de Cascais (para começar) porque quando as empresas portuguesas acordaram já o monopólio do negócio estava dado a um consórcio, vindo da CEE e estimulado por quem sabia do projecto.
As empresas ficaram menos zangadas quando, às 13 horas de 18/9/1991, o Dr. Macário Correia, mais brilhante de bochechas e com um sedutor bronzeado algarvio, veio dizer que a despoluição é o grande negócio do futuro, expressão que até hoje, dia 18/9/1991, era clandestina e já fora proferida por terroristas do ecologismo radical não reformista. O que tipifica este nosso tempo de pós-perestroika, é que o cinismo do capitalismo triunfante se exibe às claras e já não usa estratagemas. Com a derrocada dos socialismos (que nunca foram) reais (e daí a minha estranheza por ouvir designá-los de reais embora entre aspas), o capitalismo entra numa paranóia exibicionista do seu triunfalismo de merda.
Sempre que mais uma alternativa se fecha, o sistema capitalista dá urros de contentamento, refina o cinismo e dá coices de excitação. Nem é preciso que John Updike, talentoso escritor, escreva um refinado romance «S» para colocar a ridículo (e no banco dos réus) um «asharam» de esoterismo hindu. As comunidades -- de inspiração ióguica -- são um alvo privilegiado, não porque tencionem derrubar o sistema mas porque são alternativas de vida possíveis ao canibalismo capitalista, adoptando inclusive alguns dos seus defeitos. É preciso fechar portas atrás de portas e fazer com que o desespero dos felizes consumidores desemboque numa única solução: o suicídio ou a droga.
Os cientistas não podiam adivinhar -- porque não são bruxos -- quando puseram detergentes com fosfatos no mercado. E agora que o mercado está saturado de detergentes não biodegradáveis e o ambiente, coitado, geme sob toneladas de espuma --agora, sim, os cientistas previdentes e cautelosos, colocam à nossa disposição, amigos que são do Ambiente, detergentes biodegradáveis. Será que não vamos agradecer-lhes?
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