J. MADDOX 1973
1-3- 73-04-08-ls-ie> = leituras selectas = ideia ecológica - terça-feira, 24 de Dezembro de 2002-scan
JOHN MADDOX CONTRA-ATACA(*)
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado, com o pseudónimo de A. Mendes Pereira, no livro «Os Últimos Dias da Terra», Nº 2 da colecção Dossiê Zero, Ed. Arcádia, Lisboa e faz parte do conjunto que passei no scan com o título 73-05-16-IE-ET> - Leva a data em que foi escrito, indicada no manuscrito dactilografado que ainda consegui encontrar: 8-4-1973 – O original manuscrito, classificado de «antológico», chamava-se «As Tripas do Sistema – Uma opinião sobre o famoso relatório do M.I.T.».
8-4-1973 - As acusações ao famoso relatório do M. I. T. e, de uma maneira geral, a todos os que, pelo número ou pela profecia, pela teoria ou pela prática, pela intuição ou pela dedução, pela imaginação ou pela inteligência, anunciam o Apocalipse e a catástrofe, têm pelo menos uma virtude: obrigam a definir-se os verdadeiros inimigos da humanidade, aqueles que a humanidade deve pôr definitivamente no tribunal da história.
O Apocalipse foi profetizado em todas as épocas por quantos perceberam no «sistema que rege a economia mundial» a sua raiz fundamentalmente homicida e violenta, suicida o autodestrutiva. Nada de humano e de capaz poderia criar-se num ambiente definido pelo gosto sádico da (auto-)destruição. Não faltaram os poetas, que ao longo dos séculos representaram a Resistência ao Sistema, anunciando o fim da história e do mundo.
A novidade consiste só em que hoje os profetas do Apocalipse e da Utopia se servem dos computadores para comprovar com números os factos e pressentimentos de até agora. Isto tem o condão de impressionar os funcionários do Sistema, para quem a linguagem do Número é sagrada e de cujo prestígio vivem, em grande parte, seus negócios.
Num dos órgãos mais distintos da cerebração mundial - Selecções do Reader's Digest, na sua edição em língua portuguesa de Abril de 1973 pode ler-se o artigo onde John Maddox retoma o freio nos dentes para contra-atacar as profecias do Apocalipse.
Os argumentos são conhecidos; em todo o caso, vale a pena analisá-los, trabalho que permite uma retrospectiva útil do nosso trabalho, marcar o ponto em que se encontra a resistência ao ecocídio e tomar o pulso aos porta-vozes mundiais da Reacção, aos panglosses dos anos setenta.
Antes do famoso relatório do M. I. T., um senhor chamado Louis Pauwels causou surpresa aos seus admiradores, proclamando um «optimismo» que, como todos os optimismos sem consciência ecológica, sem noção da catástrofe, sem dimensão abjeccionista, é uma razão mais, e a mais forte, para o pessimismo dos resistentes, que em princípio não são nem uma nem outra coisa, nem optimistas nem pessimistas.
Por muito que se acredite numa viragem de última hora, numa mutação brusca, é desencorajante ver os que, como Louis Pauwels, John Maddox, Norman Borlaug, Suvana Puma e alguns outros ilustres ideólogos, em nome do optimismo o que apenas pretendem é deitar poeira nos olhos da humanidade e obrigá-la a manter, como eles, o pescoço debaixo da areia, à espera que a tormenta passe.
Quem ilude, quem pretende iludir o povo e a humanidade não são os que, conscientes do ecocídio, profetas do Apocalipse, construtores da utopia como única alternativa para a catástrofe, cumprem o estrito dever de humanidade, pensando.
Feita a síntese de factos, movimentos e fluxos contraditórios do nosso tempo, a evidência manifesta-se aos olhos de todos. Delinquentes de delito comum contra a humanidade são os que se voltam contra os profetas do novo Apocalipse, como faz John Maddox no artigo já referido, com argumentos ainda por cima suspeitos, o que só nos obriga a acreditar que o fazem não por exigência intelectual e de coerência ideológica, não por disponibilidade e honestidade de carácter e por um propósito crítico límpido, isento, mas obedecendo a inconfessáveis interesses.
Analisemos esta 1ª parte. Até que ponto e a quem servem os artigos como o do sr. Maddox? Ricardo G. Zaldivar, na revista espanhola Triunfo ( 11 de Novembro de 1972 ) tentava provar ( e não serei eu a contestar a tese), todo apoiado em números, que a campanha contra a poluição comandada pelo capitalismo vai redundar a favor dos grandes monopólios e acelerar a tendência para a concentração, visto que só os colossos da indústria estão aptos a investir em antipoluentes. E visto que os fabricantes de antipoluentes são eles próprios, através de sucursais, filiadas ou associadas, os maiores poluidores mundiais do planeta.
É uma tese.
Porque surge então, em artigo de fundo dum órgão defensor de capitais como é o Reader's Digest, um senhor John Maddox nada interessado em fazer o jogo dos antipoluentes e do relatório do M. I. T. que é deles a cobertura pseudocientífica, estatística, informática?
O artigo do Reader's Digest - eis a hipótese de trabalho que proponho - serve um capitalismo (ainda) não monopolista, serve os milhares de empresas que não têm dimensão, ainda, nem lucros para entrar na maratona dos antipoluentes, para aceitar o desafio da concentração. Agrada, portanto, aos menos poderosos mas a maior número deles.
À parte os argumentos anémicos de certa esquerda academizada, cuja esclerose se irmana na necrose dos seus métodos e da sua problemática ( essa esquerda domina ainda o panorama português da «crítica» à Ecologia), à parte os franco-atiradores, demasiado líricos para poderem ser críticos e que, sem se darem conta, alinham (por essa ausência crítica) na mesma
esclerose pseudo-esquerdizante (profundamente reaccionária), as únicas acusações que aparecem no mercado contra as preocupações do ecologista, cifram-se nessa guerra civil entre capitalismos: a pequena burguesia arrivista, liberalesca e do médio capital não gosta quando lhe anunciam o apocalipse ecológico, a catástrofe, o fim do ciclo e a explosiva madrugada da Utopia, mas os porta-vozes ou ideólogos do grande capital, no fundo, também não, porque sabem que a ecologia é problema bem mais duro de resolver do que as poluições e respectivos slogans; simplesmente finge ignorar e procura recuperar, no que pode, a acção do verdadeiro ecologista para servir os seus propósitos exclusivos de vendas de antipoluentes ao mundo.
No fundo, necrose esquerdista, reacção direitista, ou ingenuidade, ignorância, bluff lírico do centro, encontram-se todos num ponto: a recusa de radicalizar a situação mundial em termos de utopia revolucionária. Unem-se todos no reformismo: quer o dos antipoluentes, quer o reformismo que pura e simplesmente recusa o facto ecológico e julga poder ir melhorando o mal.
A recusa a radicalizar o sistema é que os distingue ( optimistas e pessimistas num molho só) dos que, nem optimistas nem pessimistas, são apenas lúcidos e conscientes. Todos os reformistas preconizam, como o sr. Maddox, o mesmo tipo de remendagem in extremis: «estes problemas» (refere-se Maddox à poluição, claro), «são passíveis de solução, num futuro previsível, se forem gastos com eles tempo e dinheiro suficientes.»
«O perigo», mastiga ainda Maddox - «é que o síndroma do Dia do Juízo provoque o contrário das suas intenções. Em vez de nos alertar para os problemas, ele dispersa a nossa atenção do trabalho que poderia ser realizado agora.»
O perigo que o sr. Maddox não diz mas em que está a pensar é que o síndroma do juízo final radicalize as atitudes e os comportamentos, é que faça desencadear uma greve geral ao sistema, é que os grupos minoritários deixem de ir ao super-mercado e num relâmpago se tornem maioritários nessa atitude de irrespeito básico contra a segurança do Sistema...
O perigo é que as alternativas ao totalitarismo do sistema abram, neste, brechas insanáveis de contestação.
O perigo é que a civilização plural dê lugar ao monopólio da verdade única.
O perigo é que a qualidade da existência seja reivindicada e que o Sistema - todo ele baseado no aviltamento quantitativo da existência humana - fique denunciado e de tripas à mostra.
O perigo de radicalizar, de insistir no Apocalipse é, de facto, que as indústrias fiquem um bocado às moscas porque as pessoas decidiram ir viver um bocadinho a ver como era e gostaram e decidem abandonar as cidades e decidem emigrar desses lugares comuns do suplício colectivista, ideais para concentrar a repressão de toda a ordem e voltam às comunas rurais, à experiência do individualismo comunitário, às soluções da variedade e da metamorfose, à agricultura biológica porque a química matou os solos e ameaça matar-nos a todos. Esse o perigo que o sr. Maddox teme e não explicita.
De notar em cientistas tão solenes é como rapidamente perdem a compostura e entram no palavrão.
Ficou famosa a intervenção do sr. Borlaug, prémio Nobel da «Revolução» verde, quando chamou histéricos aos defensores da Natureza e aos que defendem a humanização do ambiente contra a histeria dos DDT. O sr. Maddox não é menos delicado de gesto.
Referindo-se a Paul Ehrlich, considera-lhe a obra «The Population Bomb» uma «retórico furiosa». Nem mais nem menos.
Aliás, os Ehrlich não deixam de servir também ao primeiro tipo de propaganda (pró antipoluente e pró grande capital) a que aludi acima. São aliás os desta facção - meia dúzia de guardas do mundo - os mais interessados no neo-maltusianismo de que Ehrlich é expressão bastante conveniente. Para cada General Motors ou cada ITT há sempre um Ehrlich de serviço.
Lisboa, Maio/1973
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado, com o pseudónimo de A. Mendes Pereira, no livro «Os Últimos Dias da Terra», Nº 2 da colecção Dossiê Zero, Ed. Arcádia, Lisboa e faz parte do conjunto que passei no scan com o título 73-05-16-IE-ET> - Leva a data em que foi escrito, indicada no manuscrito dactilografado que ainda consegui encontrar: 8-4-1973 – O original manuscrito, classificado de «antológico», chamava-se «As Tripas do Sistema – Uma opinião sobre o famoso relatório do M.I.T.».
JOHN MADDOX CONTRA-ATACA(*)
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado, com o pseudónimo de A. Mendes Pereira, no livro «Os Últimos Dias da Terra», Nº 2 da colecção Dossiê Zero, Ed. Arcádia, Lisboa e faz parte do conjunto que passei no scan com o título 73-05-16-IE-ET> - Leva a data em que foi escrito, indicada no manuscrito dactilografado que ainda consegui encontrar: 8-4-1973 – O original manuscrito, classificado de «antológico», chamava-se «As Tripas do Sistema – Uma opinião sobre o famoso relatório do M.I.T.».
8-4-1973 - As acusações ao famoso relatório do M. I. T. e, de uma maneira geral, a todos os que, pelo número ou pela profecia, pela teoria ou pela prática, pela intuição ou pela dedução, pela imaginação ou pela inteligência, anunciam o Apocalipse e a catástrofe, têm pelo menos uma virtude: obrigam a definir-se os verdadeiros inimigos da humanidade, aqueles que a humanidade deve pôr definitivamente no tribunal da história.
O Apocalipse foi profetizado em todas as épocas por quantos perceberam no «sistema que rege a economia mundial» a sua raiz fundamentalmente homicida e violenta, suicida o autodestrutiva. Nada de humano e de capaz poderia criar-se num ambiente definido pelo gosto sádico da (auto-)destruição. Não faltaram os poetas, que ao longo dos séculos representaram a Resistência ao Sistema, anunciando o fim da história e do mundo.
A novidade consiste só em que hoje os profetas do Apocalipse e da Utopia se servem dos computadores para comprovar com números os factos e pressentimentos de até agora. Isto tem o condão de impressionar os funcionários do Sistema, para quem a linguagem do Número é sagrada e de cujo prestígio vivem, em grande parte, seus negócios.
Num dos órgãos mais distintos da cerebração mundial - Selecções do Reader's Digest, na sua edição em língua portuguesa de Abril de 1973 pode ler-se o artigo onde John Maddox retoma o freio nos dentes para contra-atacar as profecias do Apocalipse.
Os argumentos são conhecidos; em todo o caso, vale a pena analisá-los, trabalho que permite uma retrospectiva útil do nosso trabalho, marcar o ponto em que se encontra a resistência ao ecocídio e tomar o pulso aos porta-vozes mundiais da Reacção, aos panglosses dos anos setenta.
Antes do famoso relatório do M. I. T., um senhor chamado Louis Pauwels causou surpresa aos seus admiradores, proclamando um «optimismo» que, como todos os optimismos sem consciência ecológica, sem noção da catástrofe, sem dimensão abjeccionista, é uma razão mais, e a mais forte, para o pessimismo dos resistentes, que em princípio não são nem uma nem outra coisa, nem optimistas nem pessimistas.
Por muito que se acredite numa viragem de última hora, numa mutação brusca, é desencorajante ver os que, como Louis Pauwels, John Maddox, Norman Borlaug, Suvana Puma e alguns outros ilustres ideólogos, em nome do optimismo o que apenas pretendem é deitar poeira nos olhos da humanidade e obrigá-la a manter, como eles, o pescoço debaixo da areia, à espera que a tormenta passe.
Quem ilude, quem pretende iludir o povo e a humanidade não são os que, conscientes do ecocídio, profetas do Apocalipse, construtores da utopia como única alternativa para a catástrofe, cumprem o estrito dever de humanidade, pensando.
Feita a síntese de factos, movimentos e fluxos contraditórios do nosso tempo, a evidência manifesta-se aos olhos de todos. Delinquentes de delito comum contra a humanidade são os que se voltam contra os profetas do novo Apocalipse, como faz John Maddox no artigo já referido, com argumentos ainda por cima suspeitos, o que só nos obriga a acreditar que o fazem não por exigência intelectual e de coerência ideológica, não por disponibilidade e honestidade de carácter e por um propósito crítico límpido, isento, mas obedecendo a inconfessáveis interesses.
Analisemos esta 1ª parte. Até que ponto e a quem servem os artigos como o do sr. Maddox? Ricardo G. Zaldivar, na revista espanhola Triunfo ( 11 de Novembro de 1972 ) tentava provar ( e não serei eu a contestar a tese), todo apoiado em números, que a campanha contra a poluição comandada pelo capitalismo vai redundar a favor dos grandes monopólios e acelerar a tendência para a concentração, visto que só os colossos da indústria estão aptos a investir em antipoluentes. E visto que os fabricantes de antipoluentes são eles próprios, através de sucursais, filiadas ou associadas, os maiores poluidores mundiais do planeta.
É uma tese.
Porque surge então, em artigo de fundo dum órgão defensor de capitais como é o Reader's Digest, um senhor John Maddox nada interessado em fazer o jogo dos antipoluentes e do relatório do M. I. T. que é deles a cobertura pseudocientífica, estatística, informática?
O artigo do Reader's Digest - eis a hipótese de trabalho que proponho - serve um capitalismo (ainda) não monopolista, serve os milhares de empresas que não têm dimensão, ainda, nem lucros para entrar na maratona dos antipoluentes, para aceitar o desafio da concentração. Agrada, portanto, aos menos poderosos mas a maior número deles.
À parte os argumentos anémicos de certa esquerda academizada, cuja esclerose se irmana na necrose dos seus métodos e da sua problemática ( essa esquerda domina ainda o panorama português da «crítica» à Ecologia), à parte os franco-atiradores, demasiado líricos para poderem ser críticos e que, sem se darem conta, alinham (por essa ausência crítica) na mesma
esclerose pseudo-esquerdizante (profundamente reaccionária), as únicas acusações que aparecem no mercado contra as preocupações do ecologista, cifram-se nessa guerra civil entre capitalismos: a pequena burguesia arrivista, liberalesca e do médio capital não gosta quando lhe anunciam o apocalipse ecológico, a catástrofe, o fim do ciclo e a explosiva madrugada da Utopia, mas os porta-vozes ou ideólogos do grande capital, no fundo, também não, porque sabem que a ecologia é problema bem mais duro de resolver do que as poluições e respectivos slogans; simplesmente finge ignorar e procura recuperar, no que pode, a acção do verdadeiro ecologista para servir os seus propósitos exclusivos de vendas de antipoluentes ao mundo.
No fundo, necrose esquerdista, reacção direitista, ou ingenuidade, ignorância, bluff lírico do centro, encontram-se todos num ponto: a recusa de radicalizar a situação mundial em termos de utopia revolucionária. Unem-se todos no reformismo: quer o dos antipoluentes, quer o reformismo que pura e simplesmente recusa o facto ecológico e julga poder ir melhorando o mal.
A recusa a radicalizar o sistema é que os distingue ( optimistas e pessimistas num molho só) dos que, nem optimistas nem pessimistas, são apenas lúcidos e conscientes. Todos os reformistas preconizam, como o sr. Maddox, o mesmo tipo de remendagem in extremis: «estes problemas» (refere-se Maddox à poluição, claro), «são passíveis de solução, num futuro previsível, se forem gastos com eles tempo e dinheiro suficientes.»
«O perigo», mastiga ainda Maddox - «é que o síndroma do Dia do Juízo provoque o contrário das suas intenções. Em vez de nos alertar para os problemas, ele dispersa a nossa atenção do trabalho que poderia ser realizado agora.»
O perigo que o sr. Maddox não diz mas em que está a pensar é que o síndroma do juízo final radicalize as atitudes e os comportamentos, é que faça desencadear uma greve geral ao sistema, é que os grupos minoritários deixem de ir ao super-mercado e num relâmpago se tornem maioritários nessa atitude de irrespeito básico contra a segurança do Sistema...
O perigo é que as alternativas ao totalitarismo do sistema abram, neste, brechas insanáveis de contestação.
O perigo é que a civilização plural dê lugar ao monopólio da verdade única.
O perigo é que a qualidade da existência seja reivindicada e que o Sistema - todo ele baseado no aviltamento quantitativo da existência humana - fique denunciado e de tripas à mostra.
O perigo de radicalizar, de insistir no Apocalipse é, de facto, que as indústrias fiquem um bocado às moscas porque as pessoas decidiram ir viver um bocadinho a ver como era e gostaram e decidem abandonar as cidades e decidem emigrar desses lugares comuns do suplício colectivista, ideais para concentrar a repressão de toda a ordem e voltam às comunas rurais, à experiência do individualismo comunitário, às soluções da variedade e da metamorfose, à agricultura biológica porque a química matou os solos e ameaça matar-nos a todos. Esse o perigo que o sr. Maddox teme e não explicita.
De notar em cientistas tão solenes é como rapidamente perdem a compostura e entram no palavrão.
Ficou famosa a intervenção do sr. Borlaug, prémio Nobel da «Revolução» verde, quando chamou histéricos aos defensores da Natureza e aos que defendem a humanização do ambiente contra a histeria dos DDT. O sr. Maddox não é menos delicado de gesto.
Referindo-se a Paul Ehrlich, considera-lhe a obra «The Population Bomb» uma «retórico furiosa». Nem mais nem menos.
Aliás, os Ehrlich não deixam de servir também ao primeiro tipo de propaganda (pró antipoluente e pró grande capital) a que aludi acima. São aliás os desta facção - meia dúzia de guardas do mundo - os mais interessados no neo-maltusianismo de que Ehrlich é expressão bastante conveniente. Para cada General Motors ou cada ITT há sempre um Ehrlich de serviço.
Lisboa, Maio/1973
----
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado, com o pseudónimo de A. Mendes Pereira, no livro «Os Últimos Dias da Terra», Nº 2 da colecção Dossiê Zero, Ed. Arcádia, Lisboa e faz parte do conjunto que passei no scan com o título 73-05-16-IE-ET> - Leva a data em que foi escrito, indicada no manuscrito dactilografado que ainda consegui encontrar: 8-4-1973 – O original manuscrito, classificado de «antológico», chamava-se «As Tripas do Sistema – Uma opinião sobre o famoso relatório do M.I.T.».
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