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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-04-21

ESTOCOLMO 1972

72-04-21-di> = diário de um idiota feliz - diário de um sobrevivente

ESTOCOLMO 1972 (*)

21/4/1972 - Procurando remendar o pano cada vez mais esburacado da chamada «civilização» - que mete água por todos os lados - sábios eminentes e outros representantes do saber oficial costumam encontrar-se com regularidade para discutir os temas mais prementes e concluir, regra geral, pela impossibilidade de agir a curto prazo e de solucionar os problemas.
Sobre a degradação do meio ambiente - problema que apoquenta, cada vez mais, grandes e pequenos países, governos e cidadãos, homens de ciência e homens práticos, elites e massas - de todos os congressos previstos o mais importante será o de Estocolmo, a realizar durante o corrente ano, com o patrocínio das Nações Unidas e para o qual têm sido divulgadas na, Imprensa, notícias da actividade que representantes portugueses estão a desenvolver no sentido de levar àquele encontro uma presença condigna.
Haverá ainda alguma coisa a fazer para evitar a catástrofe, para impedir que (simplesmente) a humanidade se suicide?
Quando a História confirma (geralmente de maneira trágica) o que fora previsto pelos contemporâneos do futuro, então os homens práticos decidem-se a enfrentar os urgentes problemas com soluções de improviso. Mas já hoje, os que têm por função saber o que irá passar-se em futuro próximo, estão a colocar problemas que igualmente não são ouvidos nem atendidos. Repetir-se-ão os mesmos erros de cálculo e tratar-se-á de resolver num dia o que podia ter sido estudado num ano.
A Prospectiva continuará a ser considerada como uma ocupação de ociosos e de nada servirá alertar, desde já, os responsáveis dos perigos que amanhã recairão sobre a Humanidade. A pretexto do que o presente oferece de urgente e calamitoso, poucos querem olhar o futuro com olhos (prospectivos) de ver.
Os mais cépticos ou prudentes só darão algum crédito e reconhecerão importância ao Congresso Mundial contra a Poluição, que a UNESCO prepara para Junho de 1972, em Estocolmo (1200 delegados de 120 países), se as incoerências e as dissonâncias entre prática e teoria, objectivos e meios de acção, constituírem matéria básica de debate.
Se o Congresso de 1972 pretende, realmente, pôr em evidência a considerável extensão da tarefa perante a qual a Humanidade se encontra, e se pretende, com ela, encorajar os governos nacionais e as organizações internacionais a orientar os esforços no sentido de encontrarem soluções concretas para os problemas do meio humano, nada lhe poderá ser indiferente, até mesmo o que ainda agora se considera quimera de poetas, angústia de filósofos, ou incomodidade existencial de incorrigíveis inadaptados, de incuráveis inadaptados, de incuráveis irreconciliados com a brilhante civilização industrial.
Terá o Congresso de Estocolmo de dar ouvidos, finalmente, aos que de há muito denunciam o pesadelo climatizado em que vivemos.
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(*) Publicado no jornal “Diário de Coimbra”, 21/4/1972, numa rubrica designada “diário de um sobrevivente”
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