ANIMAIS 1998
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21/abril/1998
PARA UM MANIFESTO DO SER HUMANO - ANIMAIS NOSSOS AMIGOS
21/Abril/1998 - Antes que, na Assembleia da República, seja agendada a discussão do projecto-lei sobre direitos dos animais, é o momento de lançar algumas achas para a fogueira, algumas sugestões, ideias e críticas que animem o debate e atiçem os excelentíssimos senhores deputados.
Em direitos de animais, estamos ainda mais atrasados do que em direitos humanos. O que quer dizer que, em nível cultural e civilizacional, nos aproximamos das cavernas.
Há cem anos que a campanha naturovegetariana, privilegiando os aspectos moralistas do problema, não tem conseguido mobilizar as consciências e as vontades. É preciso passar dos sermões moralistas para a exigência ética e esse salto está longe de ter sido dado.
No que à Ética ecológica respeita, a passividade impera e a revolta silencia-se. Os próprios ambientalistas têm ajudado a silenciar os aspectos mais gritantes de ecologia humana e animal. As organizações particulares de protecção e defesa dos animais têm uma vida difícil e algumas acabam por desaparecer. É preciso, no entanto, que proliferem como cogumelos. Quantas mais, melhor.
A moda dos «animais de estimação», em boa hora incentivada pelas grandes marcas de alimentos enlatados, é apenas uma moda. Mas é melhor que nada.
Fazendo contra-vapor a todas as boas intenções e boas vontades em favor dos animais nossos irmãos - como S. Francisco de Assis cantou - há os poderosos interesses corporativos, as poderosas classes daqueles que, na caça e na pesca, encontram o seu desporto favorito. Mas não é a pena de morte para humanos moeda corrente ainda hoje em muitos países que se dizem civilizados?
Há os interesses das indústrias que utilizam em laboratório os animais como cobaia de experiências, sempre atrozes. Mas no campo da medicina humana, por exemplo, não são os diagnósticos cruentos, por vezes, também de uma enorme crueldade, com a desculpa da utilidade necessária? E não se experimentam medicamentos em humanos?
Em matéria de agitação mediática, a opinião pública é aturdida com a doença das vacas loucas, com a peste dos aviários, com a brucelose, com a peste suína, com os mil e um vírus que decidem, de uma hora para a outra, infestar o mundo dos humanos coitadinhos.
Já que não há consciência e se mantêm durante dez anos cabras com brucelose para empochar os subsídios de um governo sempre manso e sempre benemérito, haja ao menos vergonha: e reconheça-se que todo esse holocausto a que estamos a assistir - com abates que evocam os grandes genocídios da História - é da pura e simples responsabilidade do nosso comportamento para com os animais nossos companheiros de viagem no planeta Terra. Do nosso carnivorismo devorador. A famosa fome do 3º Mundo, em grande parte, deriva também daí: o abismo entre pobres e ricos, mantido pelos blocos hegemónicos que disputam os recursos da Terra, é agravado pelos absurdos hábitos alimentares que colocam a carne no topo da alimentação proteica, quando ela devia e podia estar apenas como um complemento a ser usado em último recurso e em condições especiais de necessidade de sobrevivência (o caso tão conhecido dos esquimós). Nem só de hamburgers morre o homem.
Os naturo-vegetarianos já provaram , pelas ideias e pelo comportamento, que as alternativas vegetais, nomeadamente a Soja, à proteína cárnea são simultaneamente mais saudáveis e mais económicas. Bastava desperdiçar menos recursos e haveria proteína para todos. Mas como o desperdício acciona os mecanismos do lucro, o busílis reside aí e os animais continuarão a ser sacrificados assim como a Amazónia, o tal pulmão verde da terra que está no centro desta problemática «proteica», com os hamburgers à espreita.
Curiosa e inesperadamente, o Notícias Magazine (12/4/1998) inseria um artigo de Fernanda Câncio, a vários títulos insólito no panorama mediático deste país sempre mais virado para as tagarelices habituais do futebol, fado e circo. Fernanda Câncio - a quem endereçamos daqui a nossa homenagem - inventariava em termos apaixonados, mandando às malvas a famosa objectividade jornalística, as atrocidades e barbaridades cometidas secularmente contra os animais mas principalmente aquelas que se praticam em nome do progresso.
É um panorama aterrador, o do progresso, que coloca o bípede dito humano no fim da escala dos seres vivos. No entanto, todos os sistemas ideológico-filosóficos, colocam-no no topo: inversão de valores caricata.
A Natureza acaba por responder aos atentados ecológicos contra as espécies - esperam alguns - mas responde devagar e mansamente. Vacas loucas, peste de aviário, brucelose, peste suína, não são epidemias suficientes que travem a perversidade humana relativamente às espécies que neste Planeta são seus companheiros de eleição. Um mundo sem animais seria mais aterrador ainda do que é. Mas nunca deixará de ser aterrador enquanto não houver uma viragem de 180 graus nos hábitos de relacionamento inter-espécies, a começar nos hábitos alimentares. Viragem que é o famoso Novo Paradigma que alguns hoje propõem como única saída para o holocausto.
A sociedade de consumo está cheia de «necessidades» artificialmente criadas ou de coisas supérfluas que se institucionalizam como necessárias. O desperdício do luxo e do lixo é o que está matando o Planeta e tudo o que nele vive.
As razões invocadas para justificar a violência e tortura de animais são tudo apriorismos e sofismas do velho paradigma, hábil malabarista em justificar o crime. E nem sequer deveria haver discussão entre gente que se considere adulta e vacinada. Razões dos fortes contra o fraco são razões ignóbeis. Como Fernanda Câncio referia no já citado artigo do «Notícias Magazine», a experiência científica e laboratorial pretende ser uma forma «útil» de tortura. Esta hipocrisia liofilizada da liofilizada ciência (sempre com as mãos limpas porque usa luvas de borracha) é uma falsidade sem nome.
O curioso é que o referido «Notícias Magazine» nunca perde ocasião de exaltar o Velho paradigma (com artigos comprados à revista «Science et Vie») . Caso para dizer que Fernanda Câncio conseguiu meter uma lança em África, ou seja, publicar um artigo onde a ciência não sai tão limpa e ilesa como se costuma ler no magazine da D. Isabel Stilwell. Não esquecemos a campanha que ali tem sido movida contra a medicina natural e os produtos naturais. Mais uma vez, o forte batendo no fraco, cena triste , ignóbil e abjecta.
Depois da lei 92/95 de 12 de Setembro, de iniciativa do deputado do PSD António Maria Pereira, ter sofrido tratos de polé e ficado sujeita às risadas e troças das esquerdistas bancadas, é o Partido Socialista que em Setembro do ano passado, perdendo a vergonha e já sem medo de ser apelidado de direitista, apresenta na AR um projecto-lei, por iniciativa da deputada Rosa Maria Albernàs.
É pouco mas que sirva, ao menos, para atanazar os fortalhaços pais da pátria para quem os animais não são assunto prioritário. Os tais que, falando em direitos dos animais, perguntam sempre se as pulgas e as moscas também vão ficar abrangidas.
Este tipo de piada talvez não se ouça, mas como alertava a Maria do Céu Sampaio, presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal, precisamos de começar a ridicularizar os que ridicularizam os animais e os seus direitos.
É urgente instituir penas (e penas duras) de multa e prisão para os que desrespeitam os direitos dos animais . E embora, quando sair, já esteja desactualizada, é urgente aprovar a lei que reequilibre, neste campo, a correlação de forças entre opressores e oprimido.
Os direitos do animal só serão total e absolutamente respeitados quando os seres humanos tiverem uma concepção ética , quer dizer religiosa e espiritual, da vida e decidirem ser humanos começando por se respeitar a si próprios. A evolução que se exige e espera, portanto, é espiritual. Obviamente. E só com os animais, com a sua presença, ajuda e cooperação, o ser humano conseguirá dar o salto para a tão cantada Era do Aquário, tão inevitável a nível cósmico como a lei da gravidade a nível terráqueo e do sistema solar.
Um lei, por moderada que ainda seja à luz desta ética exigente, é apenas um pequeno passo. Não tardem em dar esse passinho, senhores deputados. Só lhes fica bem. E vão ganhar votos. Porque se há unanimidade absoluta é nisto: todos os portugueses amam os animais... nem que seja de churrasco.
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21/abril/1998
PARA UM MANIFESTO DO SER HUMANO - ANIMAIS NOSSOS AMIGOS
21/Abril/1998 - Antes que, na Assembleia da República, seja agendada a discussão do projecto-lei sobre direitos dos animais, é o momento de lançar algumas achas para a fogueira, algumas sugestões, ideias e críticas que animem o debate e atiçem os excelentíssimos senhores deputados.
Em direitos de animais, estamos ainda mais atrasados do que em direitos humanos. O que quer dizer que, em nível cultural e civilizacional, nos aproximamos das cavernas.
Há cem anos que a campanha naturovegetariana, privilegiando os aspectos moralistas do problema, não tem conseguido mobilizar as consciências e as vontades. É preciso passar dos sermões moralistas para a exigência ética e esse salto está longe de ter sido dado.
No que à Ética ecológica respeita, a passividade impera e a revolta silencia-se. Os próprios ambientalistas têm ajudado a silenciar os aspectos mais gritantes de ecologia humana e animal. As organizações particulares de protecção e defesa dos animais têm uma vida difícil e algumas acabam por desaparecer. É preciso, no entanto, que proliferem como cogumelos. Quantas mais, melhor.
A moda dos «animais de estimação», em boa hora incentivada pelas grandes marcas de alimentos enlatados, é apenas uma moda. Mas é melhor que nada.
Fazendo contra-vapor a todas as boas intenções e boas vontades em favor dos animais nossos irmãos - como S. Francisco de Assis cantou - há os poderosos interesses corporativos, as poderosas classes daqueles que, na caça e na pesca, encontram o seu desporto favorito. Mas não é a pena de morte para humanos moeda corrente ainda hoje em muitos países que se dizem civilizados?
Há os interesses das indústrias que utilizam em laboratório os animais como cobaia de experiências, sempre atrozes. Mas no campo da medicina humana, por exemplo, não são os diagnósticos cruentos, por vezes, também de uma enorme crueldade, com a desculpa da utilidade necessária? E não se experimentam medicamentos em humanos?
Em matéria de agitação mediática, a opinião pública é aturdida com a doença das vacas loucas, com a peste dos aviários, com a brucelose, com a peste suína, com os mil e um vírus que decidem, de uma hora para a outra, infestar o mundo dos humanos coitadinhos.
Já que não há consciência e se mantêm durante dez anos cabras com brucelose para empochar os subsídios de um governo sempre manso e sempre benemérito, haja ao menos vergonha: e reconheça-se que todo esse holocausto a que estamos a assistir - com abates que evocam os grandes genocídios da História - é da pura e simples responsabilidade do nosso comportamento para com os animais nossos companheiros de viagem no planeta Terra. Do nosso carnivorismo devorador. A famosa fome do 3º Mundo, em grande parte, deriva também daí: o abismo entre pobres e ricos, mantido pelos blocos hegemónicos que disputam os recursos da Terra, é agravado pelos absurdos hábitos alimentares que colocam a carne no topo da alimentação proteica, quando ela devia e podia estar apenas como um complemento a ser usado em último recurso e em condições especiais de necessidade de sobrevivência (o caso tão conhecido dos esquimós). Nem só de hamburgers morre o homem.
Os naturo-vegetarianos já provaram , pelas ideias e pelo comportamento, que as alternativas vegetais, nomeadamente a Soja, à proteína cárnea são simultaneamente mais saudáveis e mais económicas. Bastava desperdiçar menos recursos e haveria proteína para todos. Mas como o desperdício acciona os mecanismos do lucro, o busílis reside aí e os animais continuarão a ser sacrificados assim como a Amazónia, o tal pulmão verde da terra que está no centro desta problemática «proteica», com os hamburgers à espreita.
Curiosa e inesperadamente, o Notícias Magazine (12/4/1998) inseria um artigo de Fernanda Câncio, a vários títulos insólito no panorama mediático deste país sempre mais virado para as tagarelices habituais do futebol, fado e circo. Fernanda Câncio - a quem endereçamos daqui a nossa homenagem - inventariava em termos apaixonados, mandando às malvas a famosa objectividade jornalística, as atrocidades e barbaridades cometidas secularmente contra os animais mas principalmente aquelas que se praticam em nome do progresso.
É um panorama aterrador, o do progresso, que coloca o bípede dito humano no fim da escala dos seres vivos. No entanto, todos os sistemas ideológico-filosóficos, colocam-no no topo: inversão de valores caricata.
A Natureza acaba por responder aos atentados ecológicos contra as espécies - esperam alguns - mas responde devagar e mansamente. Vacas loucas, peste de aviário, brucelose, peste suína, não são epidemias suficientes que travem a perversidade humana relativamente às espécies que neste Planeta são seus companheiros de eleição. Um mundo sem animais seria mais aterrador ainda do que é. Mas nunca deixará de ser aterrador enquanto não houver uma viragem de 180 graus nos hábitos de relacionamento inter-espécies, a começar nos hábitos alimentares. Viragem que é o famoso Novo Paradigma que alguns hoje propõem como única saída para o holocausto.
A sociedade de consumo está cheia de «necessidades» artificialmente criadas ou de coisas supérfluas que se institucionalizam como necessárias. O desperdício do luxo e do lixo é o que está matando o Planeta e tudo o que nele vive.
As razões invocadas para justificar a violência e tortura de animais são tudo apriorismos e sofismas do velho paradigma, hábil malabarista em justificar o crime. E nem sequer deveria haver discussão entre gente que se considere adulta e vacinada. Razões dos fortes contra o fraco são razões ignóbeis. Como Fernanda Câncio referia no já citado artigo do «Notícias Magazine», a experiência científica e laboratorial pretende ser uma forma «útil» de tortura. Esta hipocrisia liofilizada da liofilizada ciência (sempre com as mãos limpas porque usa luvas de borracha) é uma falsidade sem nome.
O curioso é que o referido «Notícias Magazine» nunca perde ocasião de exaltar o Velho paradigma (com artigos comprados à revista «Science et Vie») . Caso para dizer que Fernanda Câncio conseguiu meter uma lança em África, ou seja, publicar um artigo onde a ciência não sai tão limpa e ilesa como se costuma ler no magazine da D. Isabel Stilwell. Não esquecemos a campanha que ali tem sido movida contra a medicina natural e os produtos naturais. Mais uma vez, o forte batendo no fraco, cena triste , ignóbil e abjecta.
Depois da lei 92/95 de 12 de Setembro, de iniciativa do deputado do PSD António Maria Pereira, ter sofrido tratos de polé e ficado sujeita às risadas e troças das esquerdistas bancadas, é o Partido Socialista que em Setembro do ano passado, perdendo a vergonha e já sem medo de ser apelidado de direitista, apresenta na AR um projecto-lei, por iniciativa da deputada Rosa Maria Albernàs.
É pouco mas que sirva, ao menos, para atanazar os fortalhaços pais da pátria para quem os animais não são assunto prioritário. Os tais que, falando em direitos dos animais, perguntam sempre se as pulgas e as moscas também vão ficar abrangidas.
Este tipo de piada talvez não se ouça, mas como alertava a Maria do Céu Sampaio, presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal, precisamos de começar a ridicularizar os que ridicularizam os animais e os seus direitos.
É urgente instituir penas (e penas duras) de multa e prisão para os que desrespeitam os direitos dos animais . E embora, quando sair, já esteja desactualizada, é urgente aprovar a lei que reequilibre, neste campo, a correlação de forças entre opressores e oprimido.
Os direitos do animal só serão total e absolutamente respeitados quando os seres humanos tiverem uma concepção ética , quer dizer religiosa e espiritual, da vida e decidirem ser humanos começando por se respeitar a si próprios. A evolução que se exige e espera, portanto, é espiritual. Obviamente. E só com os animais, com a sua presença, ajuda e cooperação, o ser humano conseguirá dar o salto para a tão cantada Era do Aquário, tão inevitável a nível cósmico como a lei da gravidade a nível terráqueo e do sistema solar.
Um lei, por moderada que ainda seja à luz desta ética exigente, é apenas um pequeno passo. Não tardem em dar esse passinho, senhores deputados. Só lhes fica bem. E vão ganhar votos. Porque se há unanimidade absoluta é nisto: todos os portugueses amam os animais... nem que seja de churrasco.
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