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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-04-19

PROGRESSO 1966

progresso-3> ecos – inédito ac de 1966

A NOSTALGIA DA ABUNDÂNCIA

19/Abri1/1966 - Anunciam as agências, em telegrama de Matllock (Inglaterra), que os trogloditas voltaram. E as notícias não escondem o júbilo que lhes vai na alma. Nem nós, leitores das notícias: tanta civilização, tanto progresso e tanta abundância também cansa.
Mas saber que os trogloditas, embora fingidos, devoram a comida que saqueiam aos habitantes dos arredores (pacatos e desprevenidos), tem o seu aspecto inquietante: não fossem os nossos avós e os avós dos nossos avós, ainda estaríamos nas cavernas a lascar a pedra.
Não fosse o ânimo e o idealismo que inspirou tanta realização - do fogo à roda, da roda à máquina, da máquina ao sputník - ainda hoje não gozávamos sequer do essencial: casa para habitar, refeições quentes e a horas, chuveiro, telefone, ócios, televisão, garantia dos nossos direitos cívicos, livros para ler, teatro para ver, transportes rápidos, imprensa e auto-estradas desimpedidas, trabalho garantido e bem remunerado, clemência da lei, arte, leite pasteurizado, seguro social, etc - ainda hoje não gozávamos de tudo isto que constitui o progresso, o essencial do progresso.
Por isso o regresso ao "paraíso perdido" - mito que mais ou menos tem persistido no meio da marcha dos homens para a Luz - praticam-no agora centenas de jovens que preferem a cama de folhas, os frutos silvestres e uma ou outra rez de caça que lhes passe ao alcance das "garras" - ao "home", ao chá das cinco, à BBC, ao trabalhismo.
Nem se despedem da família. Esta amena e pitoresca forma que alguma juventude britânica encontrou de se estar nas tintas para os princípios, a coroa, o Shakespeare, já não pode afligir os que, vivendo igualmente em cavernas, tão habituados estão ao paraíso perdido que dele não sofrem a nostalgia.
Ninguém procura o que já tem; dai o júbilo das agências internacionais, ao telegrafar o que a juventude dos grandes países faz (e principalmente o que não faz), tão enjoada anda de progresso, de civilização e de abundância.
Se os tais jovens querem caverna, porque não emigram (sugerem as agências) para o Nordeste do Brasil?
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