MILITANTE 1983
83-04-20-dm> = diário de um militante boquiaberto – diário das siglas – os dossiês do silêncio – inédito ac de 1983 – colóquio em rio maior?
QUATRO NOTÍCIAS, QUATRO SILÊNCIOS
4ª feira, 20 de Abril de 1983 - O meu velho amigo Dr. Hernâni de Matos teve a ideia de me pedir que viesse para este convívio convosco. Agradeço ao Hernâni e aos professores que nesta escola aceitaram a sugestão, mas desejo esclarecer que não sou técnico nem perito em Ecologia Científica. Apenas me têm ocupado e preocupado, enquanto jornalista de profissão, os problemas ecológicos gravíssimos que este país e este povo sofrem.
Viver aqui é cada vez mais adoecer e morrer. Sobre esses problemas e este biocídio lento escrevi centenas de artigos e dezenas de livros. É nessa qualidade de escriba, ou de jornalista, que estou à vossa disposição para dialogar sobre o que entenderem mais produtivo.
Como isto de escrever notícias é de facto um vício, gostaria, para abrir o colóquio, de vos transmitir algumas.
a) Para já , temos connosco a pessoa mais indicada para vos falar das minas que brevemente irão ser exploradas em Rio Maior. O Dr. Pereira Viana é um técnico da Ferrominas, empresa pública que irá explorar as minas de Rio Maior. E é ele a pessoa encarregada de estabelecer contactos desta empresa com a população, no sentido de que tudo se faça em colaboração com esta e de maneira a que as minas venham a prejudicar o menos possível as pessoas e o ambiente. Pela minha parte, agradeço ao Dr. Pereira Viana ter vindo, pois sentir-me-ia extremamente embaraçado num assunto tão pontual e especializado como é o do impacto ambiental das lenhites para vos informar convenientemente.
b) Outra notícia diz respeito a alguns dos papéis que vos trago e que tenho o maior gosto em vos oferecer. É o primeiro número de um jornal que deixou de se publicar por dificuldades económicas, como é óbvio, mas também porque a Direcção Geral de Informação não nos concedeu o chamado porte pago, regalia que até a jornais pornográficos tem concedido. O referida jornal "Ecologia em Diálogo" (título de um apontamento radiofónico que às tantas também foi saneado da Antena 1) publicou esse primeiro número sobre a energia da esperança para um futuro mais humano: é o biogás ou biometano, obtido como sabem a partir de excremento de animais e que, na vossa zona rica de pecuária, deveria merecer a melhor atenção dos jovens interessados pelos problemas da sua terra. O caso da Benedita, que muitos conhecem pelos insuportáveis cheiros das pocilgas, ilustra bem como o incómodo de uma poluição insuportável se pode transformar, por magia ecológica, em fonte de energia e de riqueza. Gostaria que pudéssemos reflectir em conjunto sobre isso - o biogás - como alternativa à famigerada crise energética e aos adubos químicos
c) Outra notícia que gostaria de vos transmitir respeita a uma riqueza natural da vossa região : o sal gema. Seria curioso avançarem aqui no estudo do sal, em que medida este inocente tempero das nossas comidas pode vir a ser, na sociedade megalómana, a matéria-prima de indústrias perigosas como a que a Quimigal se prepara para instalar em Estarreja . Lembram-se o caso da Dioxina em Seveso? Pois é uma fábrica igual que se quer montar em Estarreja.
d) Outra notícia diz respeito a um folheto que se chama Carta à Geração do Apocalipse . É uma tentativa para dizer às novas gerações que a questão ecológica é uma questão de ideias e de moral. Da posição crítica e coerente que os jovens possam vir a tomar face à sociedade industrial que simboliza o progresso num triste recorde: um cancro por pessoa. Será esta sociedade que os jovens querem? A este desafio só os jovens podem responder.
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QUATRO NOTÍCIAS, QUATRO SILÊNCIOS
4ª feira, 20 de Abril de 1983 - O meu velho amigo Dr. Hernâni de Matos teve a ideia de me pedir que viesse para este convívio convosco. Agradeço ao Hernâni e aos professores que nesta escola aceitaram a sugestão, mas desejo esclarecer que não sou técnico nem perito em Ecologia Científica. Apenas me têm ocupado e preocupado, enquanto jornalista de profissão, os problemas ecológicos gravíssimos que este país e este povo sofrem.
Viver aqui é cada vez mais adoecer e morrer. Sobre esses problemas e este biocídio lento escrevi centenas de artigos e dezenas de livros. É nessa qualidade de escriba, ou de jornalista, que estou à vossa disposição para dialogar sobre o que entenderem mais produtivo.
Como isto de escrever notícias é de facto um vício, gostaria, para abrir o colóquio, de vos transmitir algumas.
a) Para já , temos connosco a pessoa mais indicada para vos falar das minas que brevemente irão ser exploradas em Rio Maior. O Dr. Pereira Viana é um técnico da Ferrominas, empresa pública que irá explorar as minas de Rio Maior. E é ele a pessoa encarregada de estabelecer contactos desta empresa com a população, no sentido de que tudo se faça em colaboração com esta e de maneira a que as minas venham a prejudicar o menos possível as pessoas e o ambiente. Pela minha parte, agradeço ao Dr. Pereira Viana ter vindo, pois sentir-me-ia extremamente embaraçado num assunto tão pontual e especializado como é o do impacto ambiental das lenhites para vos informar convenientemente.
b) Outra notícia diz respeito a alguns dos papéis que vos trago e que tenho o maior gosto em vos oferecer. É o primeiro número de um jornal que deixou de se publicar por dificuldades económicas, como é óbvio, mas também porque a Direcção Geral de Informação não nos concedeu o chamado porte pago, regalia que até a jornais pornográficos tem concedido. O referida jornal "Ecologia em Diálogo" (título de um apontamento radiofónico que às tantas também foi saneado da Antena 1) publicou esse primeiro número sobre a energia da esperança para um futuro mais humano: é o biogás ou biometano, obtido como sabem a partir de excremento de animais e que, na vossa zona rica de pecuária, deveria merecer a melhor atenção dos jovens interessados pelos problemas da sua terra. O caso da Benedita, que muitos conhecem pelos insuportáveis cheiros das pocilgas, ilustra bem como o incómodo de uma poluição insuportável se pode transformar, por magia ecológica, em fonte de energia e de riqueza. Gostaria que pudéssemos reflectir em conjunto sobre isso - o biogás - como alternativa à famigerada crise energética e aos adubos químicos
c) Outra notícia que gostaria de vos transmitir respeita a uma riqueza natural da vossa região : o sal gema. Seria curioso avançarem aqui no estudo do sal, em que medida este inocente tempero das nossas comidas pode vir a ser, na sociedade megalómana, a matéria-prima de indústrias perigosas como a que a Quimigal se prepara para instalar em Estarreja . Lembram-se o caso da Dioxina em Seveso? Pois é uma fábrica igual que se quer montar em Estarreja.
d) Outra notícia diz respeito a um folheto que se chama Carta à Geração do Apocalipse . É uma tentativa para dizer às novas gerações que a questão ecológica é uma questão de ideias e de moral. Da posição crítica e coerente que os jovens possam vir a tomar face à sociedade industrial que simboliza o progresso num triste recorde: um cancro por pessoa. Será esta sociedade que os jovens querem? A este desafio só os jovens podem responder.
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